DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Os Decretos de Deus e a Origem do Mal (III)



Mysterion

Fabris [1], traduz mysterion por “projeto secreto”. Este projeto oculto é especificado em Colossenses pelo genitivo “mistério de Deus, Cristo” (2.2) e “mistério de Cristo” (4.3). Em 1.27, Paulo explica esta fórmula técnica dizendo: “isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.” Segundo Paulo (Cl 1.26), esse mistério esteve “ oculto dos séculos e das gerações”, mas sempre existiu no plano divino. A esse projeto existente, anterior a criação do próprio tempo é que chamamos de decreto divino, pois “vindo, porém, a plenitude do tempo (ou seja, cumprindo-se o tempo determinado por Deus), Deus enviou seu Filho” (Gl 4.4), “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Cl 1.26).

Os protagonistas do mistério são: Deus, que tem a iniciativa de projetar ou decretar o plano salvífico; o Messias que está no centro do mistério revelado, constituindo ele mesmo, o "mistério oculto-revelado"; os cristãos aos quais é revelado o mistério, ou que dele devem tomar “conhecimento”; e o apóstolo Paulo como mediador histórico encarregado por Deus de revelar e proclamar o mistério [2]. O mysterion, de fato, está associado a duas áreas semânticas bem definidas: a da “revelação”, delimitada pelos verbos afins – “manifestar” (ephanerothe - Cl 1.26); “dar a conhecer” (gnorísai – 1.27) – e a do “anúncio ou proclamação”, delimitada pelos verbos “anunciar” (katangelo – 1.28 [4.3]), e “falar, proclamar” (laleo – 4.3,4).

Isto posto, o decreto divino foi auto-revelado na pessoa de Cristo, anunciado aos homens, e registrado nas Escrituras, ao cumprir-se o tempo determinado, isto é, “a plenitude dos tempos”.


Proorizo
O semantema
[3] do vocábulo proorizo (pro), significa “prévio”; o verbo proorao quer dizer “ver previamente” (At 21.29), “prever” (At 2.31;Gl 3.8), “ver adiante de si; ter à frente dos olhos” (At 2.25). Proorizo traduz-se literalmente por “decidir previamente”, ou ainda, “predestinar” (At 4.28; Rm 8.29s; 1 Co 2.7; Ef 1.5,11)[4].

Fabris, traduz a expressão de Ef 1.5, por “Ele tinha estabelecido tornar-nos seus filhos”[5]. O vocábulo indica uma atividade ou um plano que foi feito antes de sua execução. Deus, por um ato livre de sua incomensurável bondade, determinou previamente que todos os que foram eleitos em Cristo, participassem da co-filiação com o Filho (Ef 1.5 [6]). Essa participação depende da posição do indivíduo em Cristo, e não independente dEle, pois a preposição genitiva diá, isto é, “por meio de” subordina o acusativo “adoção”, ao genitivo Jesus Cristo.

Portanto, em Cristo, fomos:

a) Escolhidos ou eleitos, “antes da fundação do mundo” - que equivale a dizer que a eleição se alicerça sobre a vontade divina, ou seja, é estabelecida segundo o projeto divino e não sobre o mérito humano, pois a escolha foi feita antes do tempo, na eternidade, a fim de sermos “santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1.4);

b) Predestinados para sermos filhos de adoção (adoção, filiação, herdeiro) – Deus estabeleceu previamente que todos os eleitos em Cristo seriam também filhos, gozando da mesma relação filial que possui o Primogênito, “modelo e fonte da filiação de todos os demais filhos” (Ef 1.5). Esta “predestinação filial”, não se baseia em qualquer ato e mérito humano, ao contrário, “segundo o beneplácito de sua [Deus] vontade”. Dois termos sinonímicos são combinados a fim de reforçar a posição de que a “predestinação filial” baseia-se unicamente num ato soberano de Deus: beneplácito (eudokian), pode ser traduzido por “boa vontade” (Fp 1.15; 2.13) ou “favor” (Mt 11.26; Lc 10.21; Ef 1.5) e, thelêmatos, que significa “vontade” (Mt 6.10; Ef 1.9), ou “desejo” (1 Co 7.37). O vocábulo boule é termo geral para designar os decretos de Deus, indicando o fato de que baseiam-se no propósito e desígnio do próprio Deus, isto é, ato deliberativo (At 2.23; 4.28). O termo thelema, entretanto, aplicada aos decretos de Deus, dá ênfase ao elemento volitivo em vez do deliberativo. O vocábulo eudokia, por outro lado, acentua, segundo Berkhof [7], “mais particularmente a liberdade do propósito de Deus”. Por conseguinte, a predestinação consiste no estabelecimento do propósito do próprio Deus. Origina-se do amor divino, sendo mediada pelo Senhor Jesus e, sua aplicação recai sobre aqueles que estão em Cristo. Somos, então, predestinados gratuitamente para o Senhor através de Cristo, segundo a vontade do próprio Deus e louvor da sua glória.

c) Redimidos e remidos dos nossos pecados. A terceira bênção concedida pela iniciativa de Deus em nos eleger em Cristo, é a redenção através do sangue de Cristo.

Natureza e Alcance dos Decretos Divinos
Os atributos de Deus classificam-se em transcendentes e imanentes. Os transcendentes pertencem a Deus como Espírito Infinito e Eterno, enquanto os imanentes, chamados também de morais, revelam-se no mundo moral e existencial. Enquanto os transcendentes caracterizam-se, em essência, naquilo que Deus é internamente e, por isso, incomunicáveis – apesar da obra da criação vir a existência através da ação de alguns destes – os imanentes, manifestam-se externamente no trato com as obras da criação, sobretudo, o homem. No que diz respeito a obra geral da criação, os decretos divinos estão relacionados com essa segunda ordem de atributos.


Continua...

Notas
[1] Ibid. p. 147
[2] Ibid., p.115
[3] é o elemento significativo da palavra, isto é, a raiz.
[4] Gingrich & Danker, Léxico do N.T. Grego/Potruguês
[5] As Cartas de Paulo (III), passim
[6] Fabris, p.151
[7] Teologia Sistemática, p.103

8 comentários:

daladier.blogspot.com disse...

Agora, meu irmão! Eu tive que copiar o outro post para poder ler. As letras estavam muito pequenas.
O conteúdo está excelente e, como sempre digo, está trazendo algo novo para nós.

Silas Daniel disse...

Caro Esdras,

Parabéns pelas postagens recentes. O tema "Os decretos de Deus e a origem do mal" está sendo bem trabalhado. Aliás, os estudos e as reflexões deste blog são sempre preciosos.

Amplexos!

Pastor Geremias Couto disse...

Caro Esdras:

Como sempre, suas intervenções são brilhantes e enriquecem o debate. Parabéns!

Aproveito o ensejo para lhe abraçar neste final de ano e lhe desejar, ao irmão e sua família, os melhores votos de um abençoado 2008, na certeza de que o Senhor conintuará a ser a razão suprema do nosso viver continuamente.

Deus lhe abençoe.

Anônimo disse...

Pr. Esdras,

Essa série de posts sobre os Decretos de Deus e a origem do mal é uma verdadeira benção, uma fonte rica de estudo. Assim, salvá-los-ei para pesquisa.

No mais, aproveitando a oportunidade, agradeço a Deus por tê-lo conhecido nesse ano de 2007.
Assim, desejo a ti e a toda tua família um FELIZ NATAL em Cristo Jesus, e que em 2008 todos os seus propósitos sejam alcançados.

Em Cristo

Valmir

Paulo Silvano disse...

Caro pastor Esdras,
É sempre bom passar por aqui para apreciar a pontualidade exegética dos seus textos. Desejo ao irmão um bom final de ano e que 2008 revele um tempo em que o labor mais importante na nossa comunicação continue sendo a busca da afirmação dos nossos blogs como espaços de koinonia.

Um abraço

Unknown disse...

Pastor Esdras, um feliz 2008 e que no próximo ano o amado irmão possa continuar enriquecendo a blogosfera com suas análises exegéticas.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Esdras Costa Bentho disse...

kharis kai eirene

Prezados irmãos e amigos muito obrigado pelas palavras motivacionais e pelas felicitações.
Continuaremos com o assunto, há muitas coisas para serem discutidas.
Feliz 2008 a todos!!!
Deus abençoe a todos!

Anônimo disse...

Parabens muito bom seu Post,muito interesante!!!!Fik c paz d cristo!!!
Abs!
Faculdade Teológica

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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