DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Criação, Evolucionismo e Teoria da Lacuna



Criacionismo
O criacionismo, tal como compreendido pelas Escrituras, é a crença de que Deus formou o homem do pó da terra. E que o homem não se originou do acaso, mas da vontade e atividade do Deus-Oleiro.

Teorias Criacionistas
Embora a Escritura seja clara concernente à origem do Universo e do homem, e afirme categoricamente que estes procedem da ação divina, muitos teólogos procurando conformar o relato religioso com o científico acabam produzindo labirintos teóricos que obscurecem a simplicidade do texto bíblico.

Vejamos os dois grupos pelos quais se dividem o criacionismo.

O CRIACIONISMO DIRETO

Acredita que o homem originou-se como descrito em Gênesis 2:7. Adão foi feito do pó da terra e Eva de sua costela, mediante atos especiais de criação divina.

Fundamentos da teoria

O criacionismo direto acredita que existem evidências paleontológicas referentes ao desenvolvimento das espécies e que o relacionamento do homem com esse processo é justificado em várias bases:


1) - Através da “teoria do dilúvio”:
argumentam que as repercussões catastróficas do dilúvio de Noé justificam os materiais fósseis;


2) - Por meio da “teoria da lacuna ou dos intervalos”:
argumentam com base em Gênesis 1.2, que o ato inicial da criação foi seguido de uma catástrofe global que justificam as realidades geológicas como presentemente observadas e isto foi seguido, por sua vez, por um novo ato de criação que produziu a terra como a conhecemos agora. Não há meios de comprovar essa teoria na Bíblia.


O CRIACIONISMO PROGRESSIVO

Afirma que Gênesis 1 narra em breves registros, os atos criadores sucessivos de Deus - do primeiro ao sexto dia. Acredita que o Universo foi criado através de vários estágios a partir do ato inicial, até o aparecimento do homem (Gn 1.27), que é visto como um novo estágio da criação divina.

Fundamentos da Teoria

Reconhece certos desenvolvimentos evolutivos dentro de cada espécie principal; admite intervalos entre as espécies indicando atos criadores sucessivos, desenvolvimentos estes que podem não ter ocorrido na ordem precisa de Gênesis 1 que, em qualquer caso, diferem de Gênesis 2. Timothy Munyon afirma que os adeptos do criacionismo progressivo “acreditam que Deus criou vários protótipos de plantas e animais, em etapas diferentes e parcialmente coincidentes, a partir dos quais os processos de microevolução produziram a variedade de flora e fauna que observamos hoje”.

O ENSINO DAS ESCRITURAS


A
Bíblia descreve duas narrações da criação do homem. A primeira em Gênesis 1.26,27 e a segunda em Gênesis 2.7. Não são duas descrições antagônicas e precisam ser entendidas uma à luz da outra. Em Gênesis 1 o homem é descrito como ser existencial e moral, enquanto em Gênesis 2 ,o objetivo é a história pessoal do homem.

O narrador do capítulo 1 é um narrador universal, ele conhece a história pessoal do homem (capítulo 2), tanto que em 1.27 a mulher é descrita como criada segundo à imagem de Deus, ainda que no capítulo 2 ela seja descrita como criada por Deus, mas procedente diretamente do homem. Pela narrativa criacional no capítulo 1, mulher e homem são descritos como seres que ocupam perante Deus as mesmas responsabilidades e possuem os mesmos atributos morais e naturais.

Em Gênesis 2.7 o Criador trabalha à semelhança de um oleiro, que do barro forma o corpo do homem, como há de formar o dos irracionais (v.19). Todavia a produção do homem não termina como a dos animais, com a formação do corpo: o Criador sopra em suas narinas para lhe dar a vida: “e o homem tornou-se alma vivente”. O termo hebraico “nepesh” ou “alma vivente” é um
termo que possui diversos sentidos nas Escrituras e deve ser entendido de acordo com o significado sugerido pelo contexto e pelos matizes e gênio da linguagem semítica.

De forma alguma o texto refere-se à alma como elemento distinto do espírito e corpo, como entendido em 1 Ts 5.23, mas sim, a totalidade da vida humana como mortal sobre a terra. Observando os textos de Gn 6.17; 7.15,22 chegar-se-á à verossímil conclusão de que “alma vivente” na Almeida, no texto em apreço, refere-se ao “sopro ou hálito de vida” que simplesmente designa a vida. Alguém é dito viver na medida em que respira, e o Deus-Oleiro, em Gênesis 2.7, comunica a vida pelas narinas porque por estas é que o homem respira: “Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes retiras a respiração, morrem, e voltam ao pó. Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra “ (Sl 104.29,30 cf Jó 34.14-16).

Os hagiógrafos não vêem qualquer controvérsia ou paradoxo nas duas narrativas. Em Gênesis 1 é descrito o homem racional e moral, que pensa, age, determina a sua vontade a fazer aquilo que esteja coerente com a sua natureza moral e natural, enquanto em Gênesis 2 é descrita a manifestação dessa natureza que o distingui dos seres irracionais.


Filologia Bíblico-Antropológica

A filologia antropológica do Antigo e Novo Testamentos jamais identifica o homem como procedente de uma ordem inferior de vida. Tantos os hebreus quanto os escritores neotestamentários usaram termos que descrevem o homem como ser único, singular, especial. Vejamos:

1. Hebraico

a) - adam: Refere-se tanto a homem como ser “da terra” quanto a humanidade, homens e mulheres, ou ao homem como ser terreno ou mortal (Gn 1.26). Igualdade e diferença são notáveis no texto em apreço: distinção dos demais seres criados e teomorfia em relação à Divindade. Provavelmente seja o termo mais importante da antropologia-bíblica, ocorrendo cerca de 562 vezes. Nota-se um jogo de palavras muito fino: do solo ou da “adamâ” é tirado um ser chamado “adam”, homem. Para a mentalidade semítica dos hagiógrafos, as relações entre palavras são relações entre os seres designados; se pois, o homem deve viver sobre a terra (adamâ), cultivar a terra e se tornar um dia poeira da terra (Gn 2.15;3.17-19), é lógico que se chame “adam”.

b) - ’Îsh:
Indivíduo do sexo masculino (Gn 2.24). O termo aparece por cerca de 2.160 vezes no conteúdo do Antigo Testamento. É possível que haja uma correspondência semântica, ainda que seja discutida pelos hebraístas e filólogos entre os vocábulos homem e mulher. O termo mulher ou esposa, “’îshshâ”, provavelmente se deriva de “’îsh”, “porquanto do varão foi tomada”. Há os que advogam a correspondência assonântica ou paranomástica entre os termos, e os que negam. Entretanto, o texto é implícito em afirmar que o homem e a mulher são destinados a se completar mutuamente, sob o ponto de vista tanto físico quanto psíquico, pois tornam-se “uma só carne”.

c) - ’enôsh:
Raça humana como mortais, isto é, como seres finitos ou temporais (Gn 6.1). Encontra-se cerca de 44 vezes nas Escrituras Veterotestamentárias e o significado primário é “humanidade” (Jó 28.13; Sl 90.3; Is 13.12). O termo designa a condição fraca e vulnerável do homem. Particularmente esse conceito parece sobressair nas comparações que são feitas entre o homem e Deus (Jó 33.12; Sl 9.19.20). Entretanto, o sentido de “espécie humana” também é evidente nos textos de Jó 28.13; 36.24 e Salmos 90.3.

d) - Geber:
O termo hebraico geber, procede de uma raiz hebraica cujo conceito é “forte”, “ser forte”, “poderoso”. O vocábulo distinto do termo genérico adam e ’îsh, representa o homem na sua robustez, ou na sua maturidade. É usado cerca de 66 vezes nas Escrituras Hebraica, dentre eles Êxodo 10.11. O contexto imediato refere-se a afirmação de Moisés para que fosse permitido a saída de todo o povo, desde os mais jovens, até o mais maduros. Faraó, entretanto, assinala a ida somente dos indivíduos maduros ou em sua robustez. Segundo Oswalt, giber “descreve a humanidade em seu nível máximo de competência e capacidade”. Um termo cognato é “gibbôr”, que tipicamente é traduzido por homens fortes, guerreiros.

2- Grego

a) - Aner:
Homem na idade madura, ou na idade de se casar. É esse o sentido especializado usado em Marcos 10.2,12, traduzido por marido, em Apocalipse 21.2, por noivo. Raramente o termo é traduzido por pessoa, como ocorre com anthrÇpos. Nesse sentido, tanto o termo “geber” quanto o termo “aner”, refere-se ao indivíduo capaz de tomar decisões. “Aner” é oposto ao infante, neófito, indivíduo incapaz de agir com maturidade (Lc 1.27; 1 Co 13.11). Um outro termo correlato é andrós, isto é, “homem” ou “varão”.

b) - Anthropos:
Anthropos, segundo a visão dos filósofos gregos refere-se ao homem em seu sentido ético-filosófico, acentuando todas as suas características personalógicas opostas aos irracionais. É o indivíduo capaz de pensar e tomar decisões, que encontra impingido em seu ser atributos morais e naturais que distingue a sua existência dos demais seres criados. Anthropos, ainda se refere ao indivíduo em busca de sua auto-realização, capaz de procurar e buscar um
sentido superior ao temporal (Mt 4.4; Tg 3.7).

c)- Arsen:
O vocábulo arsen é cerca de 7 vezes nas páginas do Novo Testamento. Duas das sete refere-se ao episódio a respeito do divórcio, e conseqüentemente, da sexualidade humana (Mt 19.4; Mc 10.6). No terceiro caso, o termo é traduzido por “primogênito” na ARA, “primogênito do sexo masculino” na NVI, e “menino primogênito” na TEB (Lc 2.23), sentido este que pode traduzir perfeitamente Apocalipse 12.5,13. Em Romanos 1.27 e Gálatas 3.28, arsen é traduzido por homem , para diferencia-lo do sexo feminino. Arsen, denota o homem com forte conotação sexual: macho, viril, homem.



sábado, 23 de junho de 2007

Criação, Evolucionismo e Teoria da Lacuna

d) Obra de ConsumaçãoTal qual a obra da criação (1.1-2), diz respeito ao mundo inteiro: o autor refere que Deus descansou de todas as suas obras e abençoou o sétimo dia de descanso (2.1-3). [1] Segundo as Escrituras a criação ocorreu em seis dias sucessivos:
Dia Texto Tema
Primeiro Dia (1.2-5): Criação da Luz
Segundo Dia (1.6-8): Separação das Águas
Terceiro Dia (1.9-13): Criação da Vida Vegetal
Quarto Dia (1.14-19): Criação do Sol, da Lua e das Estrelas
Quinto Dia (1.20-23): Criação dos Peixes e das Aves
Sexto Dia (1.24-31): Criação dos Animais da Terra e do Homem
Sétimo Dia (2.1-3): Deus Descansa.


Uma minuciosa investigação revelará que as palavras forma e vazia, são os conceitos precípuos da história da criação. Os atos do 1º, 2º e 3º dia ocupam-se especificamente do verbo formar, enquanto o 4º, 5º e 6º dia do conteúdo pleno dessa forma.

FORMA CONTEÚDO PLENO

1º Dia Luz e Trevas 4º Dia Luzeiro do Dia e da Noite
2º Dia Mar e Céus 5º Dia Criatura das Águas e dos Ares
3º Dia Terra Fértil 6º Dia Criaturas da Terra
[2]

Existe uma grande simetria entre o 3º e o 6º dia, pois se referem a produção de dois, e não de um só gênero de criaturas. Oito são, pois, as produções ou obras que o hexaémeron narra distintamente.


II – Evolucionismo e Criacionismo.

1. Evolucionismo

O Progresso do evolucionismo deve-se em grande parte:

1. Ao problema moral.
2. Ao desejo do homem iluminista de contrapor-se às concepções religiosas da época. 3. A aceitação da evolução como um dogma filosófico.

Com o abandono da filosofia clássica, o progresso do racionalismo e o desejo premente do iluminismo de lançar em águas abissais a Idade das Trevas, o homem secular elaborou para si teorias e novas cosmovisões do mundo. Foi a época do progresso da civilização, que se livrava das pegajosas teias da Idade Média. Neste percurso, surge o racionalismo, o cientificismo, o positivismo, o humanismo, e também, o evolucionismo.

Se o evolucionismo ficasse apenas no campo da perquirição científica, seria apenas uma teoria que necessitaria de comprovações; e com certeza, as inúmeras fraudes de restos fósseis empreitados pelos adeptos da teoria, já a teria relegado ao logro científico. Contudo, não é o que aconteceu! Isto porque o evolucionismo é mais do que uma hipótese ou teoria científica é um dogma filosófico.

1.2. SinopseO evolucionismo não é uma teoria nova. No corredor da história da filosofia grega encontramos entre os filósofos aqueles que elaboraram teorias das quais podemos considerar como a gênese do darwinismo.
a) O naturalista Tales de Mileto[3], por exemplo, postulava certo grau de evolução das espécies a partir das águas, pois constatava que todos os seres vivos são de natureza úmida.

b) Heráclito de Éfeso [4], outro naturalista pré-socrático, afirmava “que tudo se move”, tudo escorre”, e que nada permanece imóvel e fixo, mas ao contrário tudo muda e se transmuta, sem exceção. Muito tempo depois da teoria evolucionista ter passado de uma ou de outra forma pela consideração de filósofos como Aristóteles, Leibniz, Herder, Hegel[5] e até mesmo pelo avô de Darwin[6], o naturalista Erasmus Darwin, é que surge Charles Darwin.


1.3. Charles Darwin e a origem das espécies.
Charles Darwin nasceu em 1809 em Shrewsbury na Inglaterra e morreu em 1882. Estudou em Cambridge e dedicou sua vida ao naturalismo. Em 1831 viajou nas ilhas do Oceano Atlântico e Pacífico, esteve também no Brasil, pesquisando sobre as espécies e anotando os informes colhidos. Somente em 24 de novembro de 1859 é que a obra de Darwin, “A Origem das Espécies”, que divulgava entre outras coisas, a antiguidade da terra em milhões de anos e a teoria sobre a origem e evolução das espécies, foi lançada.

Nessa obra, Darwin afirmava que a vida evoluiu de organismos unicelulares para o seu estado mais elevado, o ser humano, através de uma série de transformações biológicas complexas que ocorreram durante milhões de anos; e que o ancestro mais próximo do homem era os símios. O livro de Darwin foi recebido como nitroglicerina sobre o conceito criacionista e ortodoxo do mundo de então. Não se necessitava mais de um agente metafísico para responder ao homem de onde ele veio.
[7] Foi nessa perspectiva que o evolucionista Sir Julian Huxley, expressou no centenário darwiniano em Chicago, em 1959: “Na evolução não há lugar para o sobrenatural. A terra e seus habitantes não foram criados, eles evoluíram...A evolução é a base de todo o nosso pensar”.[8]

1.4. A Reação da Igreja

A igreja se posicionou de vários modos em relação a teoria evolucionista. Para se conformar aos grandes períodos da antiguidade da terra, o erudito escocês, George H. Pemper, formulou a teoria da terra caótica ou da lacuna. Os teólogos liberais criaram a “teoria das fontes”, abordaram as Escrituras com a ênfase da “história das religiões comparadas” e com a aceitação do “naturalismo como uma visão filosófica do mundo”. Negaram o nascimento virginal de Cristo, a natureza divina de Cristo, e até mesmo a ressurreição corpórea do Senhor. Por outro lado, a reação da ortodoxia não demorou. Foram reafirmadas as doutrinas fundamentais das Escrituras, especificamente o criacionismo e a origem divina do homem.[9]


1.5. Evolucionismo Ateísta e Teísta

As teorias acerca da criação do homem são as mais variadas possíveis. As duas teorias principais são: O Criacionismo e o Evolucionismo.
A teoria evolucionista que defende a hipótese do desenvolvimento inferior de vida até a evolução em seu estágio completo como observamos atualmente, está dividida em dois grupos:

  • Evolucionismo ateísta:
    Essa forma de evolução é conhecida também como evolução naturalista. Ela defende através da seleção natural, ou seja, da “sobrevivência dos mais fortes e aptos”, que as diversas espécies e formas de seres chegaram a ser o que são através de uma evolução do acaso. Basicamente, quase todos os tipos de documentários sobre a origem das espécies, dinossauros e do homem vinculados na mídia são dessa categoria. O evolucionismo ateísta defende que o homem evoluiu de um antepassado parecido com o macaco, mas não indica a época definida em que se deu o último passo do processo. Nega totalmente a existência de Deus como Ser Supremo ou como a Causa Primeva da Criação. Nega as Sagradas Escrituras como Revelação de Deus, e não aceita a criação do homem como parte da vontade divina. É materialista e fatalista.
    [10]

    Evolucionismo teísta:Ao contrário do ateísta, é pseudocristão ou apenas cristão nominal. Segundo a crença do evolucionista teísta Deus foi a causa primeva da matéria, criou-a em um estado que fosse ela mesma capaz de auto evoluir ou transformar-se até o seu estágio definitivo – o homem. Embora concebam a existência de Deus como a “causa” primeira da criação, impugnam a natureza e os atributos de Deus. Aceitam a hipótese de que os homens evoluíram de uma forma inferior de vida impressa na matéria pelo Criador. Sua forma de interpretação bíblica é liberal e simbólica. Isto posto, o evolucionismo teísta é improdutivo como teoria teológica, pois propõe o mesmo modelo da evolução ateísta, acrescentando apenas que Deus é o agente que criou a matéria da qual tudo evoluiu. Essa forma de evolucionismo, assim como a anterior, é insustentável à luz das Escrituras.
    [11] É provável que o mentor epigênico[12] da evolução, Darwin, tenha sido um evolucionista teísta.

1] Id.Ibidem, 1955, p.38.
[2] KIDNER, Derek. Gênesis: introdução e Comentário.São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1991, p.43.[3] Tales de Mileto foi o pensador que se atribui o princípio da filosofia grega. Era procedente da Jônia, e viveu provavelmente nas últimas décadas do século VII a.C. Ele sustentava que a água é o princípio (arkh‘) ou a origem de todas as coisas. O princípio é aquilo do qual todas as coisas derivam.
[4] Viveu entre os séculos VI e V a.C.
[5] Uma visão resumida dos conceitos pré darwiano de cada um desses filósofos e também de outros não alistados confira CHAMPLIN, R.N.; BENTES, J.M. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. V.2 (D-G). São Paulo: Editora Candeia, 1991, p.609.[6] No século XVIII, o avô de Darwin e o cientista francês Comte de Buffon, acreditavam que quando uma planta ou um animal adquire do seu meio ambiente um caráter novo, pode transmiti-lo à sua progênie, resultando em mudanças que explicam a evolução. Cf. Veio o homem a existir por evolução ou por criação? New York, U.S.A.: International Bible Students Association, 1967, p. 12.
[7] Caberia aos filósofos seguintes darem sua contribuição à antropologia: Marx, com sua teoria do homem econômico, Freud (homem instintivo), Kierkegaard (homem angustiado); Haidegger (homem existente), Gadamer (homem hermenêutico), Luckmann (homem religioso), e assim sucessivamente.
[8] Times de Nova Iorque, EUA, 29 de novembro de 1959 apud Veio o homem a existir por evolução ou por criação? New York, U.S.A.: International Bible Students Association, 1967, p. 7.
[9] Informações detalhadas sobre alguns aspectos relacionados a teoria da lacuna e da teoria das fontes, confira: EPOS. Antigo Testamento I. Mod. I.V.6. Santa Catarina: Faculdade Teológica Refidim, 2002, p.17-30;43-45.
[10] O fatalismo é a filosofia ou a doutrina que admite que o curso da vida humana está, em graus e sentidos diversos, previamente fixados, sendo à vontade ou a inteligência impotente para dirigi-lo ou alterá-lo. O homem está destinado a morte e ao caos.
[11] Confira outros detalhes sobre o evolucionismo teísta in BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz Para o Caminho, 1992, p.162.
[12] Isto é, um teorista que se ocupa em apresentar as mudanças que ocorrem durante o processo de desenvolvimento dos seres.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Criação Divina, Evolucionismo e Teoria da Lacuna

b) Obra de distinção:
Estabelece as três regiões do mundo que a cosmologia judaica admitia, três regiões que correspondem exatamente aos três elementos caóticos sobrepostos (trevas, águas, terra).
  • No primeiro dia (1.3-5), constitui a região dos céus. Deus age sobre a camada superior do caos, restringindo a duração das trevas; estas deverão, a intervalos, ceder À luz. Eis a primeira distinção: a de trevas e luz, dia e noite, que sucederão no domínio do mundo;

    No segundo dia (1.6-8), constitui-se a região das águas. Deus intervém agora na segunda camada do caos, ordenando que parte das águas se transfira para a região do céu, onde é guardada em reservatórios especiais; entre águas do céu e águas da terra o Senhor cria uma abóbada aparentemente sólida, chamada o firmamento. São as águas do céu que por meio de canais caindo sobre a terra, produzem chuva, nevem geada, etc. (cf. Jó 38.37);

    No terceiro dia (1.9-13), o Criador atinge a terra, recolhendo as águas que ainda a recobrem em lugares próprios, que são os mares e os rios (cf. Jó 38.11). A terra, ao aparecer, é logo revestida de plantas. O fato de que judeus concebiam vegetação como forro da terra, explica que a constituição da terceira região devia compreender duas obras: a produção da terra nua, arcabouço, e ao seu estrado verde aderente.
    [1]

c) Obra de Ornamentação:

  • Assim concluído a formação as três regiões do mundo nos três primeiros dias (obra de distinção), o hagiógrafo mostra como o Criador, nos três dias seguintes, deu a cada uma os seus habitantes ou a sua ornamentação; estes habitantes, sendo todos móveis, formam como que um magnífico exército, sempre pronto a executar as ordens do seu Senhor, como se diz em Gênesis 2.1: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército”. Portanto:

    a) Na região do céu, Deus colocou os astros nos quais grande quantidade de luz se concentrou (4º dia; 1.14-19); à distinção feita no primeiro dia entre dia e noite, correspondem agora o sol, que rege o dia; a lua e as estrelas, que regem a noite;

    b) Na região das águas, o Senhor estabeleceu os monstros marinhos, os peixes e os voláteis (os quais povoam o ar, espaço entre as águas inferiores e superiores), (5º dia; 1.20-23);

    c) A região da terra começou a ser habitada pelos demais animais e pelo homem, que é a coroa da criação, destinado a dominar o mundo terrestre (6º dia; 1.24-31). Por fim, aos animais e ao homem foram dados como alimento os vegetais oriundos no terceiro dia, o que estabelece perfeita correspondência entre as obras do terceiro e do sexto dia.
    [2]

A Criação e a Imagem de Deus no Homem

Uma das posições teológicas sobre a imagem de Deus no homem, é aquela que admite com base nos versículos 27 e 28, que essa imagem é constituída pelo domínio que o homem exerce sobre a natureza. Ele é capaz de mudar o curso dos rios, domesticar os animais selvagens, de retirar e controlar a energia elétrica ou a eólica. Aos consideramos as narrações da criação do homem entendemos que:

1- A criação do homem foi precedida por um conselho divino: "Façamos... Nossa semelhança". Fica patente que esta descrição salienta um conselho divino para a formação do homem, e este conselho é formado pela Trindade. Pelo menos duas decisões são unânimes quanto à criação do homem pela Trindade:
1º. Que o homem fosse criado à imagem e semelhança divina.
2º. Que se tornasse senhor da criação.

2- A criação do homem liga-se a um tempo determinado: 6º dia. Depois de criado o Universo orgânico e inorgânico, (Gn 1.25), Deus coroa toda a sua criação com a formação do homem.

3- A criação do homem quanto à importância: o homem é distinguido como uma nova ordem na criação e aferido como coroa de todos os seres criados. A ele é entregue o domínio sobre a vida selvagem, doméstica, vegetal, etc...

4- A criação do homem como uma nova existência: o homem distingue-se dos seres irracionais, como uma nova ordem de existência racional, volitiva e sentimental. A criação do homem é distinta das criaturas inferiores. Não existiu qualquer sucessão evolutiva de seres inferiores até a formação superior do homem como atesta a teoria da evolução. A criação dos seres irracionais distingue-se da criação do homem pelo relato bíblico. Primeiro, o homem procede de Deus. Segundo, Ele é criado à imagem de Deus. Terceiro, ele é o rei da criação. Cada um é livre, não em depender de Deus, mas de escolher como padroeiro a quem quiser. O evolucionista prefere o macaco, nós, cristãos, escolhemos a Deus.

Isto posto, o homem foi criado conforme um tipo divino. A todos Deus criou segundo sua espécie, numa forma típica dos mesmos. O homem não foi criado assim, e muito menos um tipo inferior (Gn 1.26).

5. O ensino geral sobre a formação da natureza somática e racional do homem, é como se segue:

  • a)-No que tange ao somático, o homem foi criado por mediação;
  • b)-No que se refere à vida psíquica e espiritual, foi criação imediata ou de originação, estando correta no aspecto doutrinário à posição ortodoxa, de que Deus transmitiu (não criou) a natureza espiritual do homem.


Duas palavras hebraicas são usadas para designar esses dois atos formativos: "asah" fazer de coisas que já existem (Gn 1.26;2.7), e "bara" que significa "fazer do nada". Em Isaias 43.7, essas duas palavras são usadas para designar dois atos formativos distintos: "os criei (bara) para minha glória, e os formei e os fiz (asah)".

O ensino específico depreendido destes atos formativos à luz de Ec 7.29 é que:

1- A origem do homem é o próprio Deus (Gn 2.7; Mt 19.4; Mc 10.6);

2- O Homem foi criado integralmente:

a- Inocente em si mesmo e à vista de Deus;
b- Em comunhão com o Criador;
c- Em feliz harmonia com a criação;
d- Livre da morte;
e- Como coroa da criação;
f- Dotado de faculdades inerentes à sua natureza.

3 - O Homem Foi Criado Responsavelmente (Gn 2.28).
a- Para multiplicar-se e encher a terra;
b- Para dominar e conquistar.

4 - O Homem Foi Criado Destinadamente.
a- A desfrutar de comunhão íntima com o Criador;
b- A todas as bênçãos terrenas;
c- A viver vida santa.

[1] Id. Ibidem, 1955, p.37. Bettencourt assinala que os judeus possuíam outras concepções cosmológicas que interessam a narrativa do Gênesis: “imaginavam a terra sobre a forma de um grande disco cercado das águas (Sl 71.8) e sustentado sobre as águas inferiores por meio de colunas (Sl 17.16; 23.2; 74.4); destas águas inferiores, subterrâneas, julgavam provir as fontes e os rios que cortam a terra (cf. Gn 7.11; 8.2; Is 24.19). Os capitéis das colunas que emergiam eram as montanhas; as bases de tais colunas pousavam sobre uma região escura e misteriosa (Sheol), onde habitavam os mortos. Na linha do horizonte erguia-se o firmamento, cúpula gigantesca de metal fino ou cristal (cf. Jó 37.18), que suportava os reservatórios das águas superiores (chuva, neve, geada...) e da qual pendiam as numerosas estrelas; nela tinham seu roteiro fixo o sol e a lua”.
[2] Id.Ibidem, 1955, p.38.

sábado, 16 de junho de 2007


A Teoria da Lacuna
A teoria da lacuna foi proposta inicialmente por C.H.Pember em 1876, na obra "As Idades mais Remotas da Terra e a Conexão delas com o Espiritualismo Moderno e a Teosofia”.
[1]
A teoria que afirma que entre o versículo 1 e 2 do primeiro capítulo de Gênesis existe uma lacuna onde existiu uma raça pré-adâmica e onde foi a habitação original dos homens pré-históricos e dos antigos dinossauros, foi popularizada depois pela Bíblia de Referência de C.I.Scofield em 1917[2], mais tarde pelo pentecostal assembléiano Finis Jennings Dake em sua Bíblia de estudos anotada “Dake’s Annotated Reference Bible” e no Brasil por Lawrence Olson em sua obra “Plano Divino Através dos Séculos”.[3]
Entretanto, a teoria da lacuna apresenta várias fragilidades. Entre elas podemos citar aquela que está relacionada à língua hebraica.
  • Gramática hebraica. Primeiro, a gramática hebraica não permite uma lacuna de milhões ou bilhões de anos entre os dois primeiros versículos de Gênesis. O hebraico tem uma forma especial, que indica seqüência e introduz aquela forma a partir de 1.3. Nada indica uma falta de seqüência entre 1.1 e 1.2; pelo que, os versículos devem ser interpretados em seu sentido óbvio e próprio. “O céu e a terra” é uma expressão consagrada em hebraico para designar o universo (Gn 2.1,4; 11.19,22; Sl 68.35; 114.15). O versículo 1 e 2a descreve o estado em que se achava o universo nos seus primórdios: a terra, informe e vazia (tohu-wa-bohu), era toda recoberta de águas (tehom, abismo cheio de águas), sobre as quais se estendia as trevas.
  • Cultura. Em segundo lugar o autor sagrado falava de acordo com os matizes de seu tempo, para significar que anteriormente à ordem e à harmonia existentes no mundo, havia, de fato, o caos; este, porém, não constava de deuses ou monstros mitológicos como se costumava pensar na cultura mesopotâmica[4] dos quais um teria suplantado os demais e plasmados tanto o mundo visível como o homem; constava, ao contrário, dos elementos mesmos do mundo atual, os quais não tem existência indefinida nem eterna (como eterno é o único verdadeiro Deus), mas foram tirados do nada por um Criador. E, para descrever essa matéria dependente do Senhor, o hagiógrafo usou de termos que tinham ressonâncias nas mitologias orientais, onde significam divindades: assim bohu (vazio), lembrava Baaú, O caos personificado dos Fenícios; tehom (abismo oceânico, águas), o monstro Tiamat dos Babilônicos[5]; tais divindades pagãs eram sutilmente apresentadas pelo hagiógrafo como meras e impotentes criaturas.

Quanto ao estado preciso em que Deus suscitou a matéria, quanto às idades geológicas que esta atravessou, o autor nada quis dizer, pois isto é do domínio científico e não interessava diretamente a finalidade religiosa do livro sagrado[6].

Portanto, a teoria da lacuna, apresenta-se como uma teoria débil, sem qualquer valor teológico ou bíblico. Entre as diversas considerações do teólogo Willmington sobre a teoria em apreço ele conclui afirmando que ela não é científica, não é bíblica e não é necessária.[7]

O Tríplice Problema da Teoria da Lacuna

NÃO É CIENTÍFICA: Foi um intento do cristianismo de reconciliar o relato da criação com os longos períodos geológicos da teoria da evolução. A evolução, porém, não é científica e contraria a segunda lei da termodinâmica.

NÃO É BÍBLICA: A teoria descreve Adão andando sobre um grande cemitério de animais fossilizados, além é claro de admitir uma raça pré-adâmica.

NÃO É NECESSÁRIA:
A interpretação mais natural de Gênesis 1.1,2 é tomada pelo seu valor literário e próprio, sem qualquer acréscimo ou subtrações. Gênesis 1.1 é uma declaração resumida da criação: No versículo 1 diz o que Deus fez; No versículo 2 nos diz como foi feito.


[1] Earth’s Earliest Ages and Their Connection with Modern Spiritualism and Theosoph. Nova York: Fleming H. Revell Co., 1876, p. 19-28.
[2] A Comissão Executiva das Assembléias de Deus nos EUA proibiram durante dois anos (1924-1926) a propaganda da Bíblia de Referência de Scofield no Pentecostal Evangel, devido aos comentários antipentecostais. Ver McGEE, Gary B., Panorama Histórico, in HORTON, Stanley M., Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.23.
[3] Segundo Pember e seus seguidores em Gênesis 1.1 Deus criou o universo completo e perfeito, e Satanás era o arcanjo que habitava e governava essa Terra pré-adâmica, um reino originalmente perfeito. Então, Satanás e os habitantes pré-adâmicos dessa Terra se rebelam contra o Criador de todas as coisas, de tal forma que ele e a primitiva população foram amaldiçoados e destruídos por uma inundação. Segundo os defensores dessa teoria os resultados dessa inundação são vistos em Gênesis 1.2. Alegam ainda que a expressão “sem forma e vazia” quer dizer “tornou-se sem forma e vazia” aludindo a expansão arruinada e devastada como resultado de um julgamento e que deve, portanto, ser interpretada como “uma ruína e uma desolação”.
[4] Muito menos de uma raça anterior aos céus e a terra que agora se vêem.
[5] BETTENCOURT, op.cit., p.47, chama atenção para o fato de que a raiz do nome Tiamat “thw (t)”, é a mesma que corresponde a tohu (informe), pertencentes à linguagem mitológica dos Ugaritas (thw (t) > tiamat, e thw > tohu).
[6] Id.Ibidem, p.47.
[7] WILLMINGTON, op.cit., p.39.

CRIAÇÃO BÍBLICA, EVOLUCIONISMO E TEORIA DA LACUNA

I - Pré-história bíblica (1-11)
Os primeiros onze capítulos do livro de Gênesis podem ser divididos em quatro termos que descrevem a essência de sua história inicial: Criação, Corrupção, Condenação e Confusão.

Cada um desses termos relata quatro histórias específicas:

História da Criação (1-2);
História da Queda e Corrupção (3-5);
A Condenação Através do Dilúvio (6-9);
Confusão e o Nascimento das Nações.

Essas quatro divisões ressaltam personagens distintos: na primeira etapa, Deus, na segunda, Adão, na terceira Noé, e por último, os descendentes de Noé.


Texto: GN 1-2
Palavra-chave: Criação
História da Criação
Personagem: Deus


Texto: GN 3-5
Palavra-chave: Corrupção
História da Queda
Personagem: Adão



Texto: GN 6-9
Palavra-chave: Condenação
História de Noé
Personagem: Noé


Texto: GN 10-11
Palavra-chave: Confusão
História das Nações
Nações



1) A criação (1-2).
O capítulo 1 do livro de Gênesis está distribuído em oito parágrafos principais: 1.1-2; 3-5; 6-8; 9-13; 14-19; 20-23; 24-25; 26.31. A ênfase característica de cada uma dessas unidades é o poder criador de YaHWeH.

Deus é o agente ou o sujeito ativo na criação: “No princípio, criou Deus”, Ele cria através de seu poder “os céus e a terra”, por esta razão Deus é designado pelo nome de Elohim
[1], que significa “O Forte”, “Líder Poderoso” ou “Deidade Suprema”. Seu ato criador[2] está em seu poder (Elohim), pelo qual os céus e a terra vêem a existência sem qualquer matéria existente. Os termos hebraicos que designam a atividade criadora e ressaltam a onipotência de Deus além de bara é ‘ãsâ, isto é, “fazer” e yasar “formar”. A imagem metafórica que é expressiva da ação criadora é o “Deus Oleiro”.

As etapas da criação
As etapas da criação são chamadas em grego de hexaémeron
[3], isto é, a obra dos seis dias, pois descreve a criação do mundo em seis dias, conforme uma ordem claramente traçada.[4]
A narração desses seis dias criacionais está disposta de forma lógica e simétrica com propósito religioso e não científico. O autor apresenta o texto em quatro fases: a obra da criação, de distinção, de ornamentação e de consumação.

a) Obra da Criação (1.1,2):
Nessa etapa o autor apresenta como Deus criou a matéria em estado caótico, o caos primitivo, de onde, aos poucos, havia de tirar ou distinguir as diversas regiões do mundo; esse caos constava de uma massa de terra (“a terra informe e vazia” [1.2]), envolvida de águas (“abismos”, “águas”) sendo tudo isso cercado de trevas (1.2). Após esses eventos é que decorre o hexaémeron, ou a obra dos seis dias: obras de distinção e de ornamentação.

[1] No hebraico , Deus ou deuses. A terminação plural é normalmente descrita como um plural de majestade, não tendo a intenção de ser um plural comum quando usado para se referir a Deus. Isto pode ser visto no fato de que o nome elohim é coerentemente usado com o verbo no singular, bem como com adjetivos e pronomes também no singular. Ver HARRIS, R. Laird (et alii), Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 998, p.72.

[2] O termo criar, no hebraico bara’, é usado também nos versículos 26 e 27, seu sentido primário é trazer a existência. Nas Sagradas Escrituras, bara’ só ocorre com Deus como sujeito ou agente, e sempre para significar que o objeto produzido é algo que transcende a ordem natural das coisas (Nm 16.30), ou é algo de novo (Jr 31.22). Este verbo assim põe em relevo a onipotência de Deus. Em Gn 1.1, bara’ insinua a criação a partir do nada (“Deus criou”, e não apenas “Deus plasmou”), com efeito, na sua narrativa o hagiógrafo nada parece conhecer de anterior ao céu e à terra senão o próprio Deus. Cf. BETTENCOURT, Estevão. Ciência e Fé na História dos Primórdios. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1955, p. 46.

[3] Procedente de três termos: hex (seis); heméra (dia) e érgon (obra). Literalmente obra dos seis dias.
[4] BETTENCOURT, Estevão. Ciência e Fé na História dos Primórdios. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1955, p.35.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Evidências Externas da Autoria Mosaica (Fim)

Evidências Externas

A Tradição Judaica
  • a) - O Eclesiástico, um dos livros da coletânea apócrifa, que foi escrito por volta de 180 a.C., presta o seguinte testemunho: “Isso tudo é o livro da aliança do Deus Altíssimo, a lei que Moisés baixou para ser a herança das assembléias de Jacó”.

  • b) - O Talmude, um comentário judaico sobre a Lei (Torá), que data de aproximadamente 200 a.C., e a MISHNAH, uma interpretação e legislação rabínica, que data de mais ou menos 100 a.C., atribuem como sendo Moisés o escritor da Torá.

  • c) - Flávio Josefo, historiador Judeu do século 1º d.C., declarou em sua obra, Contra Apion: “Pois não temos conosco uma multidão incontável de livros, discordando uns dos outros e contradizendo-se uns aos outros, mas somente vinte e dois livros que com justiça são aceitos como divinos; e desses, cinco pertencem a Moisés, contendo as suas leis e as tradições da origem da humanidade, até a sua morte”.

Testemunho Histórico de Cristo e dos Apóstolos

Cristo e os apóstolos igualmente deram testemunho inequívoco de que Moisés foi o autor da Torá: Jo 1.17; 5.45-47; 7.19-23.

Os apóstolos também ratificaram a autoria mosaica: At 3.22 (cf Dt 18.15); Rm 10.5: “Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça...".

Mas a teoria JEDS, de Wellhausen, e a crítica moderna racionalista, negam que Moisés tenha escrito quaisquer dessas coisas. Isto significa que Cristo e os apóstolos estavam totalmente enganados ao julgarem que Moisés as tenha escrito de fato. Um erro dessa categoria, tratando-se de fatos históricos que podem ser atestados, levanta séria dúvida quanto a poderem os ensinos teológicos que tratam de assuntos metafísicos - fora de nossa capacidade de comprovação, serem aceitos como dignos de confiança ou dotados de autoridade.

Assim, vemos que a questão da autenticidade de Moisés como escritor do Pentateuco é assunto da maior importância para o cristão. A autoridade do próprio Cristo está em jogo nessa questão.


Em síntese, Moisés é o autor do Pentateuco. Para provar este fato, apresentamos:
a) - Jesus confirmou a autoria de Moisés ao Pentateuco (Jo 5.46; 7.19; Mc 7.10; 12.26);
b) - As evidências internas da autoria de Moisés (Êx 24.4; Nm 33.2; Dt 31.9,24-26; Jo 1.17).

............................................................. fim .............................................................................................

O próximo assunto é: Pós-modernidade!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

COMUNICADO

Do dia 07 de junho até 10 do mesmo mês, estaremos em Salvador, Bahia, ministrando no Congresso de Escola Dominical, realizado pela CPAD.
Estaremos ministrando dois temas técnicos: Interdisciplinaridade e Avaliação Escolar. Por esta razão, não publicaremos novos post até o dia 10 de junho.

No dia 11 de junho daremos prosseguimento com nosso estudo sobre o Antigo Testamento.

Muito obrigado pela vossa postagem e participação.
Ore a favor de cada um dos preletores.

Nos laços do Calvário,
Esdras Bentho

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Introdução à Teologia do Antigo Testamento (V)


A questão principal não é “a unidade do Pentateuco”, e sim “como se realizou essa unidade”. Em outras palavras, a seção literária que vai do Gênesis ao Deuteronômio inclusive, é uma narrativa contínua? A pergunta que queremos formular aqui é: “Como veio à existência essa narrativa contínua?” Foi escrita por Moisés, conforme o cristianismo tradicional e a Bíblia ensina, ou foi compilada por outrem, séculos mais tarde? A questão inteira põe em dúvida a confiabilidade de Jesus, a exatidão dos escritores do AT e NT e a integridade do próprio Moisés.

5. Evidências Internas ou Acumulativas
A autoria mosaica do Pentateuco pode ser comprovada por acumulação, isto é, reunindo os diversos textos do AT que comprovam a autoria da obra. Algumas coincidências podiam imaginar-se acidentais; muitas tomadas separadamente, seriam de pouca força, mas elas combinadas são irresistíveis.

5.1 - Pentateuco, Históricos e Proféticos
O Pentateuco com freqüência se refere a Moisés como seu autor, a começar por Êxodo 17.14; 24.4,7; 34.27; Nm 33.1,2; Dt 31.9, das quais, na última temos: “Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes...”. Mais tarde (Js 1.8), após a morte de Moisés, o Senhor deu instruções a Josué, sucessor de Moisés, para que “..não cesses de falar deste livro da lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito”.
Negar a autoria mosaica significa que todos os versículos acima citados são infundados e indignos de aceitação. Josué 8.32-34 registra que a congregação de Israel estava reunida fora da cidade de Siquém, no sopé do monte Ebal e do monte Gerizim, quando Josué leu em voz alta a lei de Moisés, escrita em tábuas de pedra, e os trechos de Levítico e de Deuteronômio referente às bênçãos e às maldições, como Moisés havia feito (Dt 27; 28).
Se a Hipótese Documentária estiver correta, esse relato também deve ser rejeitado por se tratar de mera invencionice. Outras referências do AT à autoria mosaica do Pentateuco são: 1 Rs 2.3; 2 Rs 14.6; 21.8; Ed 6.18; Ne 13.1; Dn 9.11-13; Ml 4.4. Todos esses testemunhos também deveriam ser totalmente rejeitados.


5.2. Profetas do Reino de Israel

  • a) - Oséias:
    1.10 (cf. Gn 22.17); 4.10 (cf. Lv 26.26); 4.13 (cf. Dt 12.2); 5.6 (cf. Êx 10.9); 8.12, uma notável passagem que pode ser assim traduzida: “escrevi-lhes milhares de coisas da minha lei”; 11.1 (cf. Êx 4.22); 11.3 (cf. Dt 1.31); 11.8,9 (cf. Dt 29.22,23);12.3 (cf. Gn 25.26; 32.24-32);
  • b) - Amós:
    2.2 (cf. Nm 21.28); 2.7 (cf. Êx 23.6,); 4.4 (cf. Nm 28.3); 9.13 (cf. Lv 26.5);

5.3. Profetas do Reino de Judá

  • a) - Joel:
    2.2 (cf. Êx 10.14); 2.23,26,27 (cf. Lv 26.4,5,11-13);
  • b) - Isaías:
    11.9 (cf. Nm 14.21); 12.2 (cf. Êx 15.2);
  • c) - Jeremias:
    4.23 (cf. Gn 1.2); 44.2 (cf. Dt 32.15; 33.5,26; 52.12); (Êx 12.33,39).

6 - Evidências Internas da Composição Mosaica
Além dos testemunhos diretamente oriundos dos trechos do Pentateuco acima mencionados, temos o testemunho desde alusões fortuitas, acontecimentos e questões da época, à situações políticas ou assuntos relacionados ao clima ou à geografia. Quando todos esses fatores são pesados de modo imparcial e correto, chega-se à seguinte conclusão: o autor desses livros e seus leitores devem ter vivido originalmente no Egito.


6.1 - Clima
O clima e as condições atmosféricas mencionados no Êxodo são tipicamente egípcios, não palestinos (cf. a referência à seqüência da colheita, em Êx 9.31,32).

6.2 - Árvore e Animais
As árvores e os animais a que se faz referência de Êxodo a Deuteronômio são todos naturais do Egito ou da Península do Sinai e nenhum deles é peculiar à Palestina. A árvore chamada acácia é nativa do Egito e do Sinai, mas dificilmente se encontra em Canaã, exceto ao redor do Mar Morto. As peles com que o exterior do Tabernáculo foi recoberto eram de um animal chamado tahas, ou dudongo, que é estranho à Palestina, mas encontrado nos mares adjacentes ao Egito e ao monte Sinai. Quanto à lista de animais limpos e imundos que encontramos em Levítico 11 e em Deuteronômio 14, alguns são peculiares à Península do Sinai, como o dîson, ou ovelha montês (Dt 14.5); o ya 'anah, ou avestruz (Lv 11.16); e o te'ô, ou antílope selvagem (Dt 14.5). É difícil imaginar como uma lista desse tipo poderia ter sido feita nove séculos depois, após o povo de Israel ter vivido todo esse tempo numa terra que não tinha nenhum desses animais.


6.3. Geografia
Mais contundentes ainda são as referência geográficas que anunciam perspectivas de uma pessoa não familiarizada com a Palestina, mas conhecedora do Egito.
Em Gênesis 13.10, em que o autor deseja transmitir aos leitores como era verde o vale do Jordão, ele o compara a uma localidade bem conhecida da região oriental do delta do Nilo, perto de Menfis, entre Busiris e Tânis. Declara ele que o vale do Jordão era “como a terra do Egito, como quem vai para Zoar”. Nada poderia ser mais evidente com base nessa referência casual que o fato de o autor estar escrevendo para um grupo de pessoas não familiarizadas com a aparência da Palestina, mas pessoalmente familiarizados com a geografia do baixo Egito. Tal familiaridade só poderia crescer no próprio e isso se enquadra muito bem numa datação mosaica para a composição do livro de Gênesis.

6.4. Dicção
O autor de Gênesis e Êxodo usou uma variedade de termos egípcios, conforme escreveu Archer, do que em qualquer outra parte do AT. Por exemplo:

  • a) - A expressão ’abhrêkh (Gn 41.43 - traduzida como “inclinai-vos”) ao que parece é a expressão egípcia 'b rk' (Ó coração, prosta-te!), embora muitas outras explicações tenham sido aventadas;
  • b) - Pesos e medidas como zereth (um palmo), de drt - mão; ’êyphâh (décima parte de um ômer), de 'pt; hín (correspondentes a cerca de 4,75 1).

O autor sagrado também fez uso de numerosos nomes distintamente egípcios:

  • Potífera:
    (Gn 41.45; 46.20) e sua forma mais breve, Potifar (Gn 37.36; 39.1), o qual significa “a quem Rá (o Deus sol) deu”.
  • Zafenate-Panéia:
    (Gn 41.45), com que Faraó adotou José. A LXX interpretou esse nome como “salvador do mundo”, um título apropriado para quem livrou o Egito da fome.
  • Asenate:
    (Gn 41.45,50), a esposa de José;
  • On:
    (Gn 41.45,50; 46.20), o antigo nome egípcio de Heliópolis;
  • Ramessés:
    (Gn 47.11; Êx 1.11;12.37; Nm 33.3,5);
  • Pitom:
    (Êx 1.11), provavelmente o nome egípcio;
  • Pi-Tum:
    Mencionado pela primeira vez em monumentos da 19ª dinastia, tal como o livro de Êxodo faz o registro.


7. Falta de Coerência da Divisão em Fontes
Até mesmo versículos isolados têm sido destacados como se fossem “fontes”. Por exemplo, o trecho de Gênesis 21.1,2:

1.“Visitou o Senhor (Yahweh) a Sara, como lhe dissera, e cumpriu o que lhe havia prometido.

2. Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão, na sua velhice, no tempo determinado de que Deus (Elohim) lhe falara.”


Ora, de acordo com os críticos as palavras “Visitou o Senhor (Yahweh) a Sara, como lhe dissera” são atribuídas à fonte J; mas as palavras que se seguem de imediato, “e cumpriu o que lhe havia prometido”, são atribuídas por eles à fonte S (a despeito da insistência dos peritos documentários de que a fonte S nunca usa o nome Yahweh antes de Êxodo 6.3). De igual modo, as palavras “Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão, na sua velhice”, são atribuídas à fonte J; mas as palavras “no tempo determinado de que Deus (Elohim) lhe falara”, são atribuídas à fonte S.

Bibliografia desta seção
ANGUS, Joseph. História, doutrina e interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1953.
ARCHER JR. Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1991.
GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia hegbraica. Rio de Janeiro: Edições Paulinas, 1998.
MAcDOWELL, Josh. Evidências que exige um veredito. São Paulo: Candeia, Vl. II, 1993.
VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: ASTE, Vl. I, 1973.
* Contrários a HD
* A favor da HD

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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