DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Leitura como Ato Político e Cognitivo

Leitura- Renoir

Neste ensaio ressaltamos, entre as várias construções do ato de ler, a leitura como ato político e como processo de crescimento cognitivo, e algumas possibilidades educativas para despertar novos leitores, estimular a leitura e o estudo de livros e da Sagrada Escritura desde a infância.

Ler como ato político

Paulo Freire (1987) afirmara que “a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo”. Na concepção freireana, ler é interpretar a si mesmo e ao mundo. Não se trata de mera decodificação de sinais gráficos e códigos lingüísticos, mas de apropriação de uma ação libertadora.

Ler é exercício de cidadania e de práxis do indivíduo no mundo. A verdadeira função da escrita e leitura é capacitar o sujeito a aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto em uma relação dinâmica que vincula linguagem e realidade, alfabetização e leitura, dizia Freire (1987).

A verdadeira leitura não é aquela que manipula mecanicamente o texto, mas a que implica em percepção crítica das relações entre o texto e o contexto do ledor.

Assim, portanto, a educação freireana prioriza a leitura e a alfabetização como um ato político libertador. A educação, assim como a leitura, não deve estar dissociada da realidade e do contexto dos aprendentes, muito menos ser alienante.

Quem lê deve ser capaz de interpretar o seu mundo, de pensar e cogitar sobre o lido, de criticar e repensar a leitura, de rever cosmovisões e construir novos caminhos.

Certo axioma atribuído a Albert Einstein diz que “a leitura após certa idade distrai excessivamente o espírito humano das suas reflexões criadoras. Todo o homem que lê de mais e usa o cérebro de menos adquire a preguiça de pensar.”

A crítica de Einstein não é contra a leitura, mas contra aqueles que usam a leitura como alienação e fuga. Talvez, Mario Quintana desejasse afirmar a mesma coisa quando escreveu que “os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”. Analfabeto não é aquele que não sabe ler, mas o que nunca se apropriou da função social e política da leitura e da escrita.

Nas palavras de Foucambert (1994), a leitura e a escrita são os instrumentos pelos quais o sujeito alcança a democracia e o poder individual que, segundo ele, “é a capacidade de compreender por que as coisas são como são” (p.123). Lê-se, portanto, para interpretar e transformar a realidade.

A leitura, nesse aspecto, traduz-se em direito individual e coletivo que acompanha a alfabetização de crianças, jovens e adultos. Não se dissocia a leitura da alfabetização e, portanto, ambos constituem-se em ato político. Sonia Kramer (2001) afirma que o acesso à alfabetização – enquanto desenvolvimento de uma postura reflexiva sobre a língua – à leitura e à escrita é direito assegurado que exige um projeto de toda sociedade para a democratização e a plena realização da justiça social.

Ler como processo de crescimento cognitivo

Atribui-se ao filósofo Sêneca o aforismo que afirma: “A leitura nutre a
inteligência”. Todavia, Machado de Assis, com a pujança e ironia que lhe são próprios, na Teoria do Medalhão (1882), recomenda ao seu estimado filho, Janjão, que se afaste das idéias, das leituras e atividades que exercitam o cérebro. Dizia ao mancebo que, ao dirigir-se à livraria, deveria ir não para aguçar as idéias através de excelentes leituras, mas para

[...] falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer cousa [...] uma tal monotonia é grandemente saudável. Com este regímen, durante oito, dez ou dezoito meses – suponhamos dois anos –, reduzes o intelecto, por mais pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina, ao equilíbrio comum. Não trato do vocabulário, porque ele está subentendido no uso das idéias; há de ser naturalmente simples, tíbio, apoucado, sem notas vermelhas, sem cores de clarim... (2001, p.15).

Crítico da sociedade de seu tempo, Machado desfere sua crítica ferina contra aqueles que usavam de artifício, sim, o artifício do medalhão, para manter as aparências numa sociedade hipócrita.

Contudo, o contrário é verdadeiro. A leitura estimula novas idéias, desenvolve a criatividade e o intelecto, além de alargar o vocabulário.

Mas para que isto seja potencialmente possível, é necessário, como afirma Solé (1988), de estratégias de leituras. Estratégias de leituras, segundo Solé, “são capacidades cognitivas ligadas à metacognição, que permitem uma atuação inteligente e planejada da atividade de leitura” (FERREIRA & DIAS, 2002, p.46).

Para o pleno desenvolvimento cognitivo do leitor, Solé (1998, p.70) afirma que: (1)
As estratégias leitoras precisam ser ensinadas; (2) O ensino de estratégias leitoras deve privilegiar o desenvolvimento de estratégias que possam ser generalizadas a outras situações e não se atenham a técnicas precisas, receitas infalíveis ou habilidades específicas.

Possibilidades de Estímulo à Leitura e à Formação de Novos Leitores

Da parte da Escola Dominical

1. Implantação de projetos de incentivo à leitura com a presença de autores, editores e educadores;

2. Implantação de uma biblioteca com literatura diversificada que atenda das crianças ao adulto;

3. Criação do “Clube da Leitura”;

4. Premiar os alunos e professores com literatura;

5. Criar feiras de livros, com vendas, trocas e doações.

Da parte da Família

1. Propiciar um ambiente doméstico que valorize a leitura, a cultura e os livros;

2. Estimular os filhos a montar uma pequena biblioteca que atenda exclusivamente o interesse da criança;

3. Ler e contar histórias para os filhos;

4. Levar as crianças, adolescentes, jovens e adultos às livrarias e bibliotecas;

5. Participar de feiras de livros;

6. Dar certa quantia em dinheiro para que o leitor compre o seu próprio livro;

7. Os pais devem ser os primeiros a ler;

8. Criar “cantinhos” de leitura para as crianças;

9. Instruir as crianças a reservarem um “tempinho” para a leitura;

10. Controlar o tempo gastos na televisão e dedicar mais tempo à leitura.

"A leitura deve ser para o espírito como o alimento para o corpo,
moderada, sã e de boa digestão."
(Marquês de Maricá)

Referências Bibliográficas
ASSIS, M. de. Teoria do medalhão. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.
FERREIRA, S. P. A. and DIAS, M. B.B. A escola e o ensino da leitura. Psicol. estud. [online]. 2002, vol.7, n.1, pp. 39-49. ISSN 1413-7372. Disponível em <<>> Consultado em 26 de out de 2009.
FOUCAMBERT, J.. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas,1994.
FREIRE, P. A importância do ato de ler. 18.ed.,São Paulo: Cortez Editora, 1987.
KRAMER, S. Alfabetização, leitura e escrita. Formação de professores em curso. São Paulo: Ática, 2001.
SOLÉ, I.. Estratégias de leitura. 6ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

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