DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Enigmático Sansão

Carl Heinrich Bloch "Sansão" óleo s/tela

Apesar de Sansão ser alistado no rol dos Heróis da Fé (Hb 11.37), está longe de ser um paradigma da fé neotestamentária. O jovem Sansão, no hebraico, “pequeno sol”, perfila no livro de Juízes como um personagem enigmático. Não somente pelo fato de gostar de propor enigmas, mas antes porque só tarde resolveu o mistério de sua própria vida.

Sansão era nazireano. O voto de nazireu (heb. “abster-se”), obrigava o israelita a consagrar-se a Deus por um período ou por tempo vitalício, como foi o deste (Nm 6). No pacto, a pessoa era proibida de beber vinho (Nm 6.3,4), cortar o cabelo (Nm 6.5), ou de aproximar-se de um cadáver (Nm 6.6,7). A dedicação e consagração a Deus era solene. A partir de então, o sujeito era “nazireu de Deus” (Jz 13.5c).

As sete maravilhas de Sansão

A mitologia grega classifica e atribui doze trabalhos a Hércules. Porém, deixando o lendário para o histórico e o ficto para o real, a Bíblia não descreve doze, mas sete maravilhas feitas por Sansão: o estrangulamento manual de um leão (Jz 14.6); a morte de trinta homens em Asquelom (v.9); a destruição da seara dos filisteus com ajuda de trezentas raposas (Jz 15.4,5); a matança de mil homens com a queixada de um jumento (Jz 15.15); o genocídio e vingança de Sansão (vv.7,8); a destruição dos portões de bronze de Gaza (Jz 16.2); e a destruição do templo de Dagom, principal divindade dos Filisteus.

Sansão é símbolo de força e coragem; juventude e disposição. Todavia, tais qualidades contrastam com a falta de temperança, domínio próprio e obediência desse personagem. O que faltava de sobriedade sobrava em virilidade. Uma juventude plena de energia desperdiçada nas avenidas, tabernas e ruelas escuras das cidades dos gentios. O raro era a paciência e o vulgar a condescendência aos desejos latentes. A virtude e o vício impunham-se como tiranos, aguardando apenas uma decisão.

O exemplo de Sansão

Sansão é uma figura exacerbada em contrastes: destruiu um leão que rugia à sua frente, mas não conseguira vencer o ego que urrava dentro de si; extinguiu a vinha dos adversários, no entanto, não fora capaz de viver longe dos vícios das cidades; propôs enigmas para outros, mas, de fato, jamais resolvera os mistérios de sua própria vida e juventude; carregou nos ombros os fortes ferrolhos de Gaza, mas fora arrastado pelos seus costumes condenáveis; matara tantos com a queixada de um animal impuro, contudo, deixou-se vencer pelas impurezas que deveria subjugar; embora forte o suficiente para matar trinta homens, não fora corajoso o bastante para dominar sequer três vícios que silenciosamente o desafiavam no coliseu íntimo da consciência e do desejo; o apetecia olhar as linda mulheres dos inimigos e, por esta razão, seus olhos foram vazados, arrancados como protesto.

Sansão... o mais forte guerreiro nas batalhas e o jovem mais admirado nas praças. Era temido pelos inimigos, cobiçado pelas donzelas de Israel, paparicado pelos pais, mas jamais compreendera sua missão. Um bonifrate levado ao talante das circunstâncias!

Dominava tantos inimigos, mas não conseguia dominar e conquistar a si mesmo. Cedeu aos vícios dos inimigos até ser cativo deles. Rodeou a vida impudica de Gaza até girar um moinho no cárcere da cidade. Brincava de se deixar amarrar por Dalila e, por fim, ficara amarrado nas colunas de Dagom. Gostava tanto de seus lindos cabelos trançados que ficou calvo. Era um jovem alegre, brincalhão, mas acabou divertindo os inimigos com pilhérias e momices – ele próprio.

Todavia, em certo momento, por um ato soberano e gracioso de Javé, coloca a mão sobre a cabeça e, com o crescimento paulatino do cabelo, percebe que a aliança de Javé permanecia firme. Seu cabelo crescera... o voto fora renovado... sua oração ouvida...e o resto virou história e seu retrato posto na galeria dos Heróis da Fé!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Jezabel, a Rainha Pagã


Jezabel é uma das personagens femininas mais intrigantes do Antigo Testamento. Inteligente, dominadora e hedonista, ela viveu contrário a tudo o que o seu nome significa. No hebraico, 'Iyzebel quer dizer “casta”, todavia essa rainha é conhecida na história bíblica como mulher impudica e idólatra.

Jezabel era uma princesa sidônia, filha do poderoso Etbaal (no hb. “com Baal”) – um poderoso rei da Fenícia – adoradora de Baal-Melcarte, um falso deus fenício, e rainha de Israel durante o reinado de Acabe, cerca de 870-853 a.C. (1Rs 16.29-31; 18.19). Conjecturo que Jezabel era alta sacerdotisa da deusa Astarte, divindade, que, conforme crido na época, era esposa de Baal. No culto a esses deuses eram praticados todos os tipos de orgias, como explico em minha obra A Família no Antigo Testamento.

Embora a Lei Mosaica proibisse o casamento com os povos pagãos, o incrédulo Acabe casou-se com a mais poderosa e vil mulher da Fenícia. Este casamento não fora realizado pelos sacerdotes diante do Senhor, mas pelos sacerdotes de Baal, diante desta mesma divindade (1Rs 16.31). A confiança de Acabe não estava em Iavé, mas nos acordos diplomáticos feitos por Onri, seu pai.

Esta união, no entanto, trouxe a ruína moral, espiritual e social do reino do norte, Israel. A capital Samaria tornara-se a partir de então o centro religioso do culto a Baal e a Astarte, contendo no palácio 450 profetas de Baal e 400 sacerdotisas de Astarote ou Asera (1Rs 18.4). Isto significa que não apenas foram mortos os profetas, mas também muitos sacerdotes fiéis a Iavé.

Neste período lúgubre, o palácio transformou-se em antro de luxúria, malandragem, excessos e vícios sexuais. Tudo com a participação do rei Acabe, da rainha Jezabel e dos profetas e sacerdotisas de Baal e Astarte. O paganismo de Jezabel unia prostituição e homossexualismo com religião e religiosidade. Esta é uma das principais razões pelas quais Jezabel é conhecida como prostituta. E na verdade o era, entretanto, uma hieródula, ou prostituta sagrada.

É impossível desassociar o culto pagão ao casal herogâmico Baal e Astarte da prostituição sagrada, da falolatria, dos sacrifícios de crianças, das ervas alucinógenas, feitiçaria entre outros desvios (2Rs 9.22). E, segundo a tradição fenícia e canaanita, o rei e a rainha eram elementos indispensáveis nessas festividades, pois a presença deles assegurava o favor das divindades cultuadas. A rainha Jezabel incitava o rei Acabe para fazer o que era “mau aos olhos do Senhor”, diz o redator das crônicas dos reis (1 Rs 21.25).

Uma das primeiras iniciativas da rainha Jezabel foi exterminar os profetas do Senhor e colocar no palácio os sacerdotes, sacerdotisas e profetas de Baal e Astarte. Depois, preocupou-se em matar os poucos servos de Deus que lhe resistiam o poder inconteste. Assim, começa a perseguir Elias, o único profeta ainda a lhe resistir o poder publicamente (1Rs 18 e 19) e, mais tarde, o indefeso Nabote (1Rs 21.14).

A vida impudica de Jezabel recebeu a justa retribuição divina pelo modo como morreu. Leia 2 Reis 9.30-37. O nome desta mulher tornou-se sinônimo de idolatria, falsos profetas, prostituição, falsos ensinos, tolerância ao pecado, perseguição aos servos de Deus, heresias entre outros. É com esse sentido que o nome Jezabel aparece em Apocalipse 2.20.

No entanto, a associação de Jezabel com ornamentos femininos e com o chamado “kit Jezabel”, é uma brincadeira de mau gosto. Provavelmente resulta de má compreensão do texto de 2 Rs 9.30 que relata a visita de Jeú e o fato de a rainha se pintar e se adornar para receber o profeta.

Todavia no Antigo Testamento era muito comum as mulheres se adornarem com artefatos de ouro, prata e cobre, além é claro, de usarem maquiagem. A imagem caricata que se faz dessa personagem é jocosa e não representa a realidade, mas apenas tenta exprimi-la.

A Bíblia está repleta de exemplos de mulheres santas que usavam esses artefatos e que se adornavam, conforme o costume da época. Todavia, o apodo “jezabel” é usado mais freqüentemente para descrever os costumes imorais e a impiedade que crassa na religião e, infelizmente, adentrou numa comunidade cristã nos idos do primeiro século depois de Cristo.


Modernamente, os nomes “Jezabel” e “Balaão” são associados aos pecados morais, à apostasia, à ganância financeira, à simonia, e amor ao dinheiro. Infelizmente, não poucos cristãos e líderes que estão presos pelos tentáculos que acorrentaram Jezabel e Balaão. Fujamos em tempo oportuno!



Sinete (espécie de carimbo pessoal) de Jezabel encontrado pela pesquisadora holandesa Marjo Korpel, especialista da Universidade de Utrecht.

Leia reportagem completa no link plugadoscomdeus,blogspot.com

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Meditações Crepusculares

Segunda Vinda

A promessa da segunda vinda de Jesus é uma santa e alvissareira mensagem. Por meio dessa bendita promessa, o crente encontra consolo e alívio em sua peregrinação neste mundo (1 Ts 4.18). O som ruidoso das intempéries espirituais e morais deste mundo tenebroso não é maior do que o alarido celeste que convocará os santos à glória (1 Ts 4.16). Neste glorioso dia, a incredulidade será vencida pela fé; o medo dará lugar à esperança e, a morte, será vencida pela vida eterna (1 Co 15. 51-56). "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor" (1 Co 15.58).

Sozinho?

Deus está presente mesmo quando não o vemos. Ele age mesmo quando não vislumbramos os seus atos. Alguns imaginam que o Senhor não se importa com os perigos que eles costumam atravessar. Mas, como de fato passaram pelo vale da sombra da morte? Como saíram incólume do deserto? Como suas vestes não se desgastaram e o calor não desidratou o espírito abatido? Por quanto tempo, filho de Deus, estarás errante à murmurar que estás sozinho na batalha? Olhe para trás e veja que as pegadas que contemplas não são tuas, mas do Senhor! Que a brisa que soprava acalentando as tuas feridas era o alento divino enquanto Ele te carregava em seus braços. O crespúsculo e a aurora que lhe enchiam de esperança a cada manhã e tarde não era nada menos do que os olhos de El Roi, o Senhor que tudo vê. Como achaste mel em solo rochoso? E água em pleno deserto? Você não está sozinho!

Peregrino

Abraão peregrinou por terras longínquas e inóspitas. Enfrentou todas as dificuldades comuns aos viajantes nômades. Para as caravanas que cruzavam a estrada, lá estava mais um pastor nômade vagando pelo ermo. Porém, Abraão via o invisível e conhecia o incognoscível! Ele caminhava em direção à Terra Prometida – ao seu lar de inefável alegria! O ardor do estio que crestava-lhe a tez, não era mais forte do que a fé rubra que incendiava-lhe a alma! Assim também peregrinamos pelos vales desse mundo. Os que atravessam o caminho não vêem o que vemos; não discernem o que conhecemos! Estamos caminhando em direção ao nosso lar celeste. O flamívono das vicissitudes não são maiores do que a nossa esperança no Sol da Justiça. Permaneça firme até o encontro celestial.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Gustav Adolf Deissmann e o Estudo da Koine

(1866-1937)

  • O estudo moderno da koinē deve-se ao labor, erudição e persistência do papirologista e pastor Gustav Adolf Deissmann (1866-1937).

  • Durante muitos anos, especialistas estudaram o grego neotestamentário considerando-o uma língua sagrada, enquanto outros acreditavam que se tratava do ático ou clássico. Os primeiros liam o Novo Testamento considerando o grego uma língua reservada, sagrada, especificamente usada pelo Espírito Santo para comunicar a vontade de Deus aos homens. Os últimos, no entanto, estudavam-no aplicando ao texto a gramaticalidade dos aticistas.

  • O próprio Deissmann afirmou que desde que o grego bíblico se transformou assunto de ocupação teológica, o texto sagrado recebera as mais conturbadas opiniões a respeito de sua identidade (1901, p. 63).

  • Porém, em 1895, na obra Bibelstudien (Estudos Bíblicos), Deissmann divulgara que o grego neotestamentário não era o ático e muito menos uma língua hermética. Segundo o erudito "Paulo não falou a língua do poeta Homero, dos tragedistas ou de Demóstenes", mas o grego koinē, semelhante ao da Septuaginta.

  • Essas conclusões não ocorreram fortuitamente. Enquanto estava fazendo as pesquisas que lhe era comum na biblioteca da Universidade de Heidelberg, o perspicaz papirólogo percebeu que a linguagem dos recentes manuscritos publicados em Berlim era perfeitamente similar a do Novo Testamento, chegando à conclusão de que a linguagem neotestamentária era o koinē, a língua pós-clássica.

  • Em sua monumental obra Bibelstudien, Deissmann discorreu pormenorizadamente a respeito da similaridade entre o grego neotestamentário e a língua comum do período alexandrino.

  • Não se tratava do grego clássico e muito menos de um dialeto hermético usado pelo Espírito para comunicar a revelação bíblica, mas tão somente de um dialeto com matiz variada da cultura popular e das variações dialetais helênicas.

  • Ainda assim, alguns gramáticos entendiam que o grego usado para escrever o Novo Testamento deveria ser considerado "um grego bíblico". Porém, as descobertas de fragmentos e manuscritos neotestamentários e seculares provaram mais e mais a relação entre os vocábulos do "grego bíblico" com a linguagem comum da agorá. A linguagem era a hē (re) koinē, usada pelos inúmeros comerciantes em suas permutas na Síria, Galiléia, Egito ou Roma.

  • Desde então estudiosos de todos os continentes, entre eles, Moulton e Robertson presentearam os acadêmicos de teologia com suas gramáticas e sínteses filológicas do grego neotestamentário.

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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