Introdução
Nos estudos proféticos é necessário distinguir os principais períodos e tempos de que tratam as Sagradas Escrituras. Ao lermos as páginas do Cânon Sagrado constatamos o uso de uma linguagem tanto histórica quanto profética que discorre sumariamente sobre os tempos, estações, dias, e assim sucessivamente. Muitos dos fatos que ocorrem dentro desses períodos são considerados sinais. Nos estudos proféticos, "sinal" é tudo aquilo que serve de advertência e, que possibilita prever ou reconhecer a aproximação de um acontecimento profético relevante.
No grego, o vocábulo sēmeion (shmei/on), traduzido por sinal [não confundir com sēmeron (sh,meron), isto é, "hoje", "neste dia"], tanto pode significar "atos milagrosos", quanto ‘sinalizar um evento profético’ (Mt 12.38; 24.3), podendo, às vezes, os dois sentidos serem combinados (At 2.19,22).
Quando a Escritura fala de "últimos tempos", "últimos dias", "sinais dos tempos", "tempos dos séculos" entre outros, a que se refere? Vejamos inicialmente a problemática apresentada por Jesus em resposta aos seus discípulos em Atos 1.7: "E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder". Antes de sua morte vicária e sacrifical Jesus respondeu aos fariseus em Mateus 16.2: "Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro [...] hipócritas, sabeis diferençar a face do céu e não conheceis os sinais dos tempos?". Em outra ocasião com os seus discípulos, estes lhe perguntaram: "Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?" (Mt 24.3).
Portanto, um resumo e organização dos principais termos e expressões usados nas páginas do Novo Testamento, possibilitará o entendimento sobre o sentido de tempo nas Escrituras.
1. Tempos Proféticos
a) Sinais dos Tempos (sēmeia tōn kairōn/shmei/a tw/n kairw/n). Mateus 16.3: “E pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis diferençar a face do céu e não conheceis os sinais dos tempos?”.
b) Tempo dos Gentios (kairoi ethnōn/kairoi. evqnw/n). Lucas 21.24: “E cairão a fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.”
c) Últimos Tempos (Hysterois Kairois/u`ste,roij kairoi/j). 1 Timóteo 4.1: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios”.
d) Últimos Dias (Eskhatais hēmerais/ evsca,taij h`me,raij). 2 Timóteo 3.1: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”.
e) Tempos da Restauração (Chronōn apokatastaseōs/cro,nwn avpokatasta,sewj). Atos 3.21:“o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio”.
f) Tempos e Estações (Chronōn kai kairōn/cro,nwn kai. tw/n kairw/n). 1 Tessalonicenses 5.1:“Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva”. [Dentro do contexto da epístola é provável que ‘tempos’ (chronōn - cro,nwn) se refira as etapas escatológicas em geral, enquanto ‘estações’ ou ‘tempos fixados’ (kairōn - kairw/n), a períodos específicos da escatologia referida por toda a epístola].
2. Tempo Histórico
a) Tempos Antigos (geneōn archaiōn/genew/n avrcai,wn). Atos 15.21: “Porque Moisés, desde os tempos antigos [literalmente gerações antigas], tem em cada cidade quem o pregue e, cada sábado, é lido nas sinagogas”.
b) Tempos Passados (Parōkhēmenais geneais/parwchme,naij geneai/j). Atos 14.16: “o qual, nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus próprios caminhos”.
3. Tempo Salvífico
a) Tempos dos Séculos (Khronōn aiōniōn/cro,nwn aivwni,wn). 2 Timóteo 1.9: “que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos [literalmente ‘tempos eternos’]” (Tt 1.2).
b) Tempos Eternos (Khronois aiōniois/cro,noij aivwni,oij). Romanos 16.25: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto”.
c) Tempos do Refrigério (Kairoi anapsykseōs/kairoi. Avnayu,xewj). Atos 3.19,20: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos [fixados] do refrigério pela presença do Senhor”.
d) Plenitude dos Tempos (Plērōma tou Khronou/plh,rwma tou/ cro,nou). Gálatas 4.4: “mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. (Ef 1.10)
4. Tempo "A Era Messiânica"
a) Últimos Dias (Eskhatou tōn hēmerōn/evsca,tou tw/n h`merw/n). Hebreus 1.1[2]:“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho”.
b) Últimos Tempos (Eschatou tōn Khronōn/evsca.tou tw/n cro,nwn). 1 Pedro 1.20:“ o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós”.
5. Tempo Natural
a) Tempos Estações [Frutíferas] (Kairous karpophorous/kairou.j karpofo,rouj). Atos 14.17: “contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração”.
b) Tempos Ordenados (Prostetagmenous kairous/prostetagme,nouj kairou.j). Atos 17.26: “e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos [literalmente ‘posto em ordem os tempos fixados’] já dantes ordenados e os limites da sua habitação”.
c) Tempos Fixados (Kairous/kairou.j). Gálatas 4.10: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos”.
Um dos sinais proféticos, a apostasia, fora descrita por Paulo em 1 Timóteo 4.1: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios”. É necessário observar que últimos tempos (hysterois kairois/u`ste,roij kairoi/j) nesse contexto, refere-se à palavra profética persuasiva comunicada pelo Espírito Santo. O uso de kairois no lugar de khronos designa um tempo do qual não podemos administrar ou evitar; ele é certo, determinado ou fixado por Deus e infalivelmente ocorrerá. É um tempo que somente Deus tem o controle. Neste caso específico, a apostasia antecederia os últimos dias (eskhatais hēmerais), ou seja, é um sinal que precede e demarca o final do tempo dos gentios (kairoi ethnōn), segundo Lucas 21.24: “E cairão a fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.”
Sejamos, pois, atentos aos sinais que Deus estabeleceu como sinalização da aproximação de sua vinda.
Parabéns por mais este artigo tão rico em conhecimento, nos mostrando uma perspectiva mais abrangente sobre o tempo.
ResponderExcluirDeus te abençoe, um forte abraço e fique na paz de Cristo.
www.gqlgeracaoquelamba.blogspot.com
Prezado Pr Esdras, excelente análise.
ResponderExcluirGostaria de aproveitar a discussão do assunto para dar relevo a determinados padrões criados pelos estudiosos do grego no Brasil. Alguns desses estudiosos na verdade pouco conhecem do assunto, ficando à mercê de interpretações de terceiros.
Me refiro á colocações que associam, por exemplo, o amor ágapê, única e exclusivamente, ao amor de Deus (colocação rechaçada por Carson, em seu brilhante A Exegese e Suas Falácias). Assim como kairós a tempos exclusivamente pelo Senhor determinados. Vê-se nos exemplos citados em seu post que várias vezes tempos determinados por Deus são mencionados por outros termos, caso clássico de Atos 3:21.
Outrossim, há várias outras referências a tempos sem ligação com completude ou plenitude, como se kairós fosse "o tempo de Deus". Exemplos: At 3:20, 7:20, 12:1, 19:23, 24:25, Rm 8:18, Hb 9:9,15 entre outros.
É lícito registrar que o tempo está no controle de Deus, logo todo e qualquer tempo está sob seu domínio. A questão é a restrição de ocorrências à sua atuação. Como se faz com o verbo agapaô e seus cognatos, contrariando ocorrências como Lc 7:5, 11:43; Jo 3:19, 12:43; Ef 1:25,28,33 entre outras referências.
Ressinto-me apenas que posts assim sejam tão pouco debatidos nos blogs de nossa blogosfera cristã.
Abraços!
A paz de Cristo Jesus.
ResponderExcluirNão quero ser inconveniente, mas gostaria, Esdras, se possível, que você entrasse em meus dois blogs: Eclésia Contemporânea e Páginas Incadernadas. No primeiro estou fazendo comentários bíblicos e no segundo gostaria de saber o seu pensamento sobre 2 postagens: "Uma refutação - Relativismo" e " Erros e racionalidade - Ciência, naturalismo e evolucionismo.
Creio, ficarei bem contente de ver um comentário teu expondo tua visão.
um abraço.
A paz de nosso Senhor e Salvador, e Mestre, Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Ah, creio pelo meu nome poder Encontrar um de meus blogs, pelo menos, mas para evitar equívocos e facilitar:
ResponderExcluirEclésia Contemporânea - http://eclesiacontemporanea.blogspot.com
Páginas Incadernadas -
http://paginca.blogspot.com
Se julgar meus comentários inconvenientes, sinta-se à vontade para deletá-los, irmão em Cristo. Escrevo-os para te comunicar; feita a comunicação...
Fica com Deus.
olá, a paz do Senhor.
ResponderExcluirGostaria de lhe fazer uma pergunta que no entanto não tem muito a ver com o assunto( é que não obtive outra forma de poder contactar-lhe pedindo que não venha a publica-lo.)
Sobre Mateus 28:52,53; que fala a respeito dos santos que ressuscitaram :("e tidos por alguns teólogos como uma representação dos santos ressuscitados por Cristo no futuro").
*Eles ressuscitaram na hora da morte de Jesus?
*Eles ficaram na terra para depois morrer?
*O que o original realmente nos diz?
* Tipificam os salvos ressurretos?
Gostaria que você me respondesse atravez do meu email (ianneoliveir@yahoo.com.br)
ou produzisse algum estudo sobre esse assunto.
ficarei grata por sua atenção;
Desculpe-me por qualquer incoveniente.
Aguardo a resposta.
Fica na Paz do Senhor!
Ianne de Oliveira A. silva
Graça e Paz
ResponderExcluirOlá irmão, estou aqui novamente, mas agora p/ convidá-lo a conhecer o meu mais novo espaço na net (“Graça Diária”); juntamente c/ o irmão Firmino Jr. (companheiro nos tempos de seminário), levaremos aos sedentos e famintos: o Pão e a Água da vida!
Trata-se de um blog onde a santa Palavra do nosso Senhor e Deus Jesus Cristo será exposta e exortada de forma inteligente!
Espero sua visita e comentário!
Um abraço!
Eduardo Neves e Firmino Jr.
http://vcejesus.blogspot.com
Kharis kai eirene
ResponderExcluirPrezado Ev. Carlos, muito obrigado por suas palavras motivacionais.
Foi uma honra conhecê-lo na Conferência no Amapá.
Espero vê-lo pessoalmente em outra ocasião.
Felicidades!
Kharis kai eirene
ResponderExcluirPrezado Daladier, obrigado por sua nobre participação no Teologia & Graça.
Concordo com suas assertivas. Muitos anacronismos semânticos e paralogismos verbais prejudicam a correta interpretação do texto bíblico.
Em nosso livro Hermenêutica Fácil e Descomplicada, discutimos alguns perigos do uso inadequado do estudo dos vocábulos, principalmente análises históricos-culturais que ignoram os hapax legoumenon e dão ao termo sentidos não pretendidos pelo hagiográfo.
Por esta razão estou organizando um seminário de Hermenêutica Bíblica para pastores e professores.
Um abraço
Esdras Bentho
Kharis kai eirene
ResponderExcluirPrezado irmão Rouver Jr., só tive tempo de responder o comentário dos amigos hoje, 17/11, pois estávamos nas ministrando hermenêutica nas conferências de Escolas Dominicais promovidas pela CPAD. Assim que for possível farei uma visita ao seu blog e deixarei um comentário.
Um abraço
Esdras Bentho
Kharis kai eirene
ResponderExcluirPrezado (ianneoliveir@yahoo.com.br), assim que possível farei uma exegese do texto.
Fique atento em nosso blog.
Um abraço
Esdras Bentho
Kharis kai eirene
ResponderExcluirPrezado irmãos Eduardo & Firmino, assim que possível farei uma visita e um comentário em vosso blog.
Deus os abençoe pela iniciativa.
Um abraço
Esdras Bentho