DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Introdução à Teologia do Antigo Testamento (IV)


Wellhausen e Graf denominaram os supostos documentos da seguinte forma:
  • O Javista (J) que prefere o nome Yahweh e teria sido redigido possivelmente no reinado de Salomão e é considerado o mais antigo;

  • O Eloísta (E) que designa Deus com o nome comum de Elohim e teria sido escrito depois do primeiro documento, por volta do século VIII (a.C.);

  • O Código Deuteronômico (D) que compreenderia todo o livro de Deuteronômio e teria sido escrito no reinado de Josias pelos sacerdotes que usaram esta fraude para promover um despertamento religioso (2 Rs 22.8). O documento "D" ou deuteronômico teria como propósito estabelecer certas reformas nas práticas religiosas;

  • O Código Sacerdotal (S) é o que coloca especial interesse na organização do Tabernáculo, do culto e dos sacrifícios e forneceu o plano geral do Pentateuco.1 Esse escritor teria sido o último compilador a trabalhar na formação do Antigo Testamento, tendo dado ao mesmo os toques finais (cerca de 621 a. C.). “S” caracteriza-se por ter usado o nome Elohîm para indicar Deus e pelo seu estilo ácido. Segundo afirmam os adeptos da teoria, "a linguagem do código S é própria de um jurista, e não necessariamente de um historiador".
Estava lançada a semente para o movimento posterior que pregava a morte da Teologia do Antigo Testamento.
5. Conseqüências da aceitação da Hipótese Documentária.

1. Negação da autoria mosaica do Pentateuco, ficando apenas pequenos trechos do atribuídos ao período mosaico;

2. Negação da historicidade e realidade de muitos fatos e personagens bíblicos, pois segundo a teoria, muitos heróis bíblicos foram apenas seres irreais e imaginários;

3. O Pentateuco não fornece um relato veraz dos tempos passados, mas apenas reflete a história do reino dividido até o período pós-exílico de Israel;

4. As narrativas que tratam a respeito de Deus e de sua revelação e comunicação com vários homens é mentirosa. Jamais Deus falou com os homens como a Bíblia afirma, mas os sacerdotes e levitas é que deram, segundo eles, essa falsa impressão;

5. Nenhum dos fatos culturais narrados no Pentateuco pertence àquele período;

6. Os primeiros israelitas jamais tiveram um tabernáculo, tal qual afirma o Pentateuco;

7. São inverdades, segundo os adeptos da teoria, todas às reivindicações bíblicas concernentes aos atos miraculosos e remidores de Deus no Pentateuco;

8. Aceitar essa teoria é acreditar que o Pentateuco é um amálgama de idéias e concepções heterogênias; sem unidade e contradizente;

9. A inspiração divina das Escrituras é anulada, mesmo que alguns teóricos tentem conciliar a doutrina da inspiração à hipótese documentária;

10. Essa teoria torna o próprio Jesus mentiroso, pois o próprio Cristo afirmou ser o Pentateuco também de autoria mosaica;

11. Essa teoria nega as evidências internas e cumulativas que atestam a autoria mosaica.

12. Essa teoria induz ao erro e ataca a autoridade das Sagradas Escrituras, pois se a Bíblia não é segura em matéria histórica e literária, como poderá ser nos aspectos salvíficos e eternos? Aceitar a Hipótese Documentária simplesmente para conciliar o cristianismo ao racionalismo moderno é improdutivo quanto à fé.

A Hipótese Documentária já foi contestada em seu próprio berço, a Europa. Muitas obras foram escritas condenando não apenas os conceitos, às sutilezas, mas também os seus fundamentos teóricos. No entanto, alguns teólogos e seminários brasileiros insistem nessa teoria. Para alguns, infelizmente, a hipótese documentária é muito mais do que uma teoria, mas um dogma e um método de interpretação das Escrituras.


1 O código Sacerdotal também é conhecido como “P”, pois em inglês, “sacerdotal” é Priestly.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Introdução à Teologia do Antigo Testamento (III)


4.1. Fundamentos Filosóficos da Hipótese Graf-Wellhausen
Um outro nítido exemplo pode ser visto na influência da filosofia hegeliana (Hegel), sobre a Teologia do Antigo Testamento, principalmente no que concerne à concepção de Hegel sobre o desenvolvimento da religião.
Hegel concebia a religião em quatro etapas distintas:
  • religião natural ou animismo caracterizado pela adoração a natureza;
  • religião antropomórfica, cuja ênfase estava na representação da divindade em forma humana1;
  • religião cristã ou cristianismo;
  • o último estágio de desenvolvimento da religião é a reformulação das crenças do cristianismo em conceitos da filosofia especulativa.
Esse conceito idealista (isto é, apenas a mente é real) 2 da história da religião baseava-se nas três leis do raciocínio lógico-filosófico (lógica dialética):
  • do movimento – “tudo é movimento, e está em processo de mudança continuamente”;
  • da contradição – onde “a contradição é a base de todo movimento e toda manifestação vívida”;
  • da transformação qualitativa – que é “o resultado do encadeamento lógico das duas primeiras”.

Procede dessa conseqüência lógica (tese, antítese e síntese), que a história revela progressivamente o absoluto, e tudo o que acontece na história é de caráter racional, pois tudo tem uma justificativa racional. Segundo Reale: “Hegel pode ser considerado o primeiro “modernista” (para usar uma terminologia posterior), no sentido que adequou sistematicamente o dogma cristão tradicional ao pensamento moderno e o mudou radicalmente em função de suas exigências especulativas”.3

O idealismo hegeliano expandiu-se como movimento filosófico alemão, e após a morte de Hegel, a escola se dividiu a respeito da correta interpretação da doutrina religiosa, nascendo assim o que Mondin chama de direita e esquerda hegeliana.4 A esquerda representada por J.K.F. Rosenkranz e G. Herdermann, que alterando a doutrina de Hegel, procuraram se coadunar com a ortodoxia e com a fé cristã tradicional, conservando a crença na imortalidade da alma, a união da natureza divina e humana na pessoa de Cristo, a personalidade e a transcendência de Deus.5 Já os hegelianos da esquerda, tais como L. Feuerbach e K.Marx desenvolveram a filosofia de Regel como radical negação dos fenômenos sobrenaturais e naturais da vida religiosa.6

Quando o discípulo de Hegel, Wilhelm Vatke lançou em 1835 a sua Teologia Bíblica (Biblische Theologie) com base na filosofia de seu mestre, lançou as sementes para Julius Wellhausen, em 1895, desferir seu golpe contra a autoria mosaica do Pentateuco, por meio da Hipótese Documentária.

Embora não tenha sido o pioneiro da teoria evolucionária da história religiosa de Israel, e o patrono da Hipótese Documentária, Wellhausen, de modo habilidoso e eloqüente deu nova roupagem a teoria a partir de uma releitura do teólogo Karl H. Graf, conferindo-lhe a sua expressão clássica, que lhe deu proeminência na maioria dos círculos eruditos europeus e, mais tarde, norte-americanos. Mais tarde essa teoria ficou conhecida como Hipótese Graf-Wellhausen, que foi aceita como base fundamental da Alta Crítica.


Segundo Wellhausen, o Pentateuco não é de autoria mosaica, mas a reunião de diversos documentos escritos por diversos autores, escritos em épocas distintas. Wellhausen fez repousar a Hipótese Documentária sobre o ponto de vista evolutivo da história, prevalecente nos círculos filosóficos da época. Usava a teoria da evolução religiosa de Israel como um dos meios para distinguir os supostos documentos que constituiriam o Pentateuco. Também a utilizou para datar esses documentos. Por exemplo, se lhe parecia que determinado documento tinha uma teologia mais abstrata do que outro, chegava à conclusão de que havia sido redigido em data posterior, já que a religião cada vez mais se tornava complicada. Por isto, estabeleceu datas segundo a medida de desenvolvimento religioso que ele imaginava. Relegou o livro do Gênesis, em sua maior parte, a uma coleção de mitos cananeus, adaptados pelos hebreus.


1 Onde Deus era representado na forma humana com templos e imagens edificados em sua homenagem.
2 O conceito idealista de Hegel era que somente a mente é real, e o que é real é racional, e tudo aquilo que é racional é real.
3 REALE, Giovane; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do Romantismo até nossos dias. 3.ed. São Paulo: Paulus. Volume III. 1990, p.99.
4 Cf. MONDIN, Battista. Curso de filosofia: os filósofos do Ocidente. 5. ed. São Paulo: Edições Paulinas.Volume 3. 1981-1983, p.46.
5 Id.Ibid.,p.47.
6 Id.Ibid.,p.47.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Introdução à Teologia do Antigo Testamento II


4. História da Teologia do Antigo Testamento
Os teólogos que se ocupam da Teologia do Antigo Testamento datam o início dessa disciplina em 30 de março de 17871, e atribuem a paternidade moderna da disciplina a Johann Philpp Gabler. Gabler discursou na Universidade de Altdorf, Alemanha, sobre “Da distinção correta entre as teologias bíblica e dogmática e da determinação adequada dos alvos de cada uma delas”. Nesta ocasião Gabler distinguiu a Teologia do Antigo Testamento da Teologia Dogmática e da Teologia do Novo Testamento. Atualmente acredita-se que a primeira obra a usar o título “Teologia do Antigo Testamento” saiu da pena de G. L. Bauer, publicado em Leipzig, Alemanha, em 1796, sob o título Teologia do Antigo Testamento (Theologie des Alten Testaments).

Entretanto, tanto Gabler quanto Bauer eram adeptos dos métodos racionalistas aplicados aos textos (racionalismo alemão), e destacaram como teologia, sobretudo, a abordagem sobre aquilo que eles compreendiam como elementos mitológicos ou lendários do Antigo Testamento. Tudo quanto não se podia explicar, como por exemplo, os milagres; e os eventos que uma mente racionalista não podia compreender, como a interferência divina na história do povo eleito, eram considerados por eles como mitológico ou lendário, ou como símbolos literários que representavam uma realidade política ou histórica.

A base da Teologia do Antigo Testamento nesse período centralizava-se, sobretudo no racionalismo alemão, do qual J.D. Michaelis (1717-1791) e J. D. Semler (1725-1792), foram responsáveis pela aplicação dos fundamentos e métodos racionais às Escrituras. Embora cressem na existência de Deus, aceitavam a doutrina do determinismo e deísmo que afirmavam que Deus não intervinha na história do homem.

Esses estudiosos eram anti-sobrenaturalistas, trabalhavam sob a pressuposição de que Deus não intervem na história do homem. Portanto, rejeitavam qualquer evidência que indicasse a presença de fatores sobrenaturais na história do povo eleito e da igreja. Tanto Gabler, Michaelis, Semler e os que vieram após ele aplicavam ao estudo do Antigo Testamento o método histórico-gramatical de interpretação. O método histórico-gramatical ou léxico-sintático, embora seja um ótimo método de interpretação, recebeu ênfase e pressuposições anti-sobrenaturalista, que negava a intervenção de Deus na história humana. Infelizmente, esse conceito, incapaz de traduzir a verdadeira teologia, influenciou teólogos e universidades cristãs em todo o mundo.

No excelente artigo de Dreyfus, “Exegese Acadêmica e Exegese Pastoral” (Exégèse em Sorbonne, exégèse em Église”, o rapsodo alerta que a crítica literária (hermenêutica crítica) ter-se-ia tornado um câncer no seio da exegese.4 Dreyfus considera as Escrituras uma obra com uma mensagem clara, e por isso mesmo, não é necessário uma pesquisa acadêmica com refinados métodos, basta ler com atenção e boa vontade para compreender a mensagem. Não somos escusados de frisar que as afirmações do teólogo francês é uma provocação dirigida a crítica literária, ao seu método puramente científico, que nada acrescenta a fé. A visão hermética das Escrituras deve ser reavaliada, e isso deve ser realizado através do equilíbrio entre teoria, prática e edificação.

Não somos escusados de frisar, contudo, que boa parte da Teologia do Antigo Testamento na Alemanha desenvolveu-se sob as tutelas da filosofia de Friedrich Schleiermacher (1768-1834), Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), e Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855).2 Embora, em certos aspectos, a Teologia do Antigo Testamento tenha se formado com as bases dos discursos filosóficos desses pensadores e de outros não registrados aqui, atualmente se discute os avanços e retrocessos propiciados por essas escolas filosóficas na formação de uma Teologia do Antigo Testamento.
Para percebermos a gravidade da situação da Teologia do Antigo Testamento dentro do contexto do racionalismo alemão, não é apenas necessário quanto também plausível, que perlustremos um pouco mais sobre o tema.

Nas bases ulteriores desse cenário surgiu Hermann Samuel Reimarus (1694-1768) com a defesa da religião natural e a rejeição da religião revelada. Segundo Reimarus, na obra lançada em 1754 (Tratado sobre as principais verdades da religião cristã), a razão é suficiente para provar a existência de Deus como criador do mundo e a imortalidade da alma. Segundo Reale, para Reimarus:


"Deus é o criador do mundo e da ordem do mundo, então o único milagre verdadeiro é a criação, sendo impossíveis os milagres proclamados pela religião positiva, porque Deus não tem por que mudar nem corrigir as suas obras. Apenas a religião natural é verdadeira e, como a religião bíblica é contrária à religião natural, então isso significa que a religião bíblica é simplesmente falsa."3


Essa consideração foi assimilada por muitos teólogos que procuravam conformar a Bíblia às concepções iluministas daquele período. Pouco tempo depois viria a ascensão do evolucionismo que acabaria agravando muito mais a situação das teologias bíblicas vigentes.


1 Cf. CRABTREE, A.R. Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro:JUERP, 1977,p.35; SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo:Vida Nova, 2001, p.29.
2 Schleiermacher foi um influente pastor em Berlim que, ainda hoje é considerado o pai da teologia moderna. Hege era um teólogo e filosofo que negava a limitação da razão e a considerava como a base das operações do Absoluto em todas as coisas. Kierkegaard, o “Dinamarquês Melancólico”, considerado o patrono do existencialismo.
3 REALE, Giovane; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do humanismo a Kant. 3.ed. São Paulo: Paulus. Volume 2, 1990, p.831.
4 DREYFUS, F. Reoulé-F. Exégèse em Sorbonne, exegese Église, apud SIMIAN-YOFRE, Horácio (et.al.). Metodologia do Antigo Testamento. Bíblica Loyola 28. São Paulo: Edições Loyola, 2000,p.13-18.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Introdução à Teologia do Antigo Testamento I


1. Conceito e Definição

O conceito de Teologia do Antigo Testamento está enlaçado ao conceito de “teologia”. Por definição, se entendermos “teologia” como sendo “o estudo de Deus e de sua revelação ao homem”, conseqüentemente a Teologia do Antigo Testamento será “o estudo de Deus e de sua revelação ao homem no Antigo Testamento”. Ao considerarmos que “do” refere-se à “pertencendo a”, o substantivo “teologia” estaria subordinado ao Antigo Testamento, levando-nos a considerar uma “teologia que pertence singularmente ao Antigo Testamento”. Entretanto, o título “Antigo Testamento”, possuiu uma identidade especial, pois se reconhece o “Antigo Testamento” como uma unidade na Escritura Sagrada na qual os cristãos combinam e contrastam com o Novo Testamento. Portanto, Teologia do Antigo Testamento “é o estudo de Deus e de sua revelação ao povo eleito segundo os escritos desse mesmo povo e que, por conseguinte, se difere da revelação de Deus por meio de Cristo”.

É sabido, porém, que o Antigo Testamento é um conjunto de 39 livros no cânon cristão, escritos em épocas distintas por diferentes hagiógrafos. Quanto à literatura, o Antigo Testamento possui diversificadas características literárias que vão desde a prosa até ao gênero apocalíptico. Conseqüentemente, uma Teologia do Antigo Testamento deve contemplar todas essas extensões quer sejam temporais, culturais ou literárias.

Não somos escusados de frisar de que a Teologia do Antigo Testamento se insere dentro da divisão da Teologia conhecida como Teologia Bíblica. Esta por sua vez, se ocupa também da Teologia do Novo Testamento. O propósito da Teologia Bíblica, segundo Ladd “é de expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio contexto histórico, com seus principais termos, categorias e formas de pensamentos”. 1 Isto posto, uma teologia bíblica do Antigo Testamento deve considerar os graus de desenvolvimento da revelação divina no Antigo Testamento e ser mais descritiva do que prescritiva, isto é, descrever o conteúdo teológico do Antigo Testamento e, não diretamente ocupar-se de sua aplicação, atualização ou acomodação bíblica.2

O encadeamento lógico dessas proposições leva-nos a seguinte definição: “Teologia do Antigo Testamento é a disciplina da Teologia Bíblica que estuda a pessoa, atributos, revelação de Deus, e sua aliança com o povo eleito considerando a progressividade da revelação, os escritos e estilos literários do cânon judaico do Antigo Testamento”.
Embora redundante, urge ressaltar que a Teologia do Antigo Testamento difere-se do estudo denominado de Introdução ao Antigo Testamento. Enquanto o primeiro se ocupa da teologia bíblica nos livros veterotestamentários, o segundo trata dos aspectos pertinentes ao cânon, texto, data, autoria, composição, estrutura e comentário descritivo de cada livro sem deter-se em sua teologia específica. As duas disciplinas formam uma díade e são igualmente necessárias para a compreensão das Escrituras.

2. Definição e Conceito Segundo Alguns Teólogos
  • O Dr. Asa Routh Crabtree define a Teologia do Antigo Testamento como: A Teologia do Velho Testamento é o estudo dos atributos de Deus e o propósito das suas atividades na história e na vida do povo de Israel, de acordo com a doutrina da revelação divina nos livros sagrados deste povo.3
  • R. K. Harrison, professor de Antigo Testamento do Wycliffe College, define a disciplina nos seguintes termos: A Teologia do Antigo Testamento esforça-se para expor, do modo mais ordenado possível, as grandes declarações da verdade divina que ocorrem nesses escritos. Tais afirmações podem incluir revelação direta ou proposicional da parte de Deus a respeito da Sua natureza e Seus propósitos, proclamações feita por profetas e outros de temas ou aspectos específicos da Torá e do seu significado para os receptores.4
  • Segundo Paul Francis Porta, a Teologia Bíblica do Antigo Testamento enfatiza a importância teológica de diversos livros ao revelarem-se no desenrolar gradual da mensagem redentora.5

Outros autores que tratam da Teologia do Antigo Testamento preferem definir Teologia Bíblica em vez de considerar especificamente o título, pois existem muitas controvérsias a respeito do tema. Ralph L. Smith afirma que a literatura básica da disciplina nos últimos 50 anos tem demonstrado pouca concordância quanto à natureza, tarefa e metodologia dessa disciplina.6 De acordo com John McKenzie, na obra “A Teologia do Antigo Testamento” a Teologia bíblica é a única disciplina ou subdisciplina no campo da teologia que carece de princípio, métodos e estrutura que recebam aceitação geral. Nem mesmo existe uma definição geral de seu escopo.7
Concernente a definição, escopo e metodologia, o teólogo Gerhard von Rad, afirma que a Teologia do Antigo Testamento ainda é uma ciência jovem, uma das mais jovens dentre as ciências bíblicas. (...) Predomina a característica de não ter ainda havido um acordo perfeito quanto ao domínio que lhe é próprio.8

Essa falta de consenso entre os teólogos a respeito do assunto têm suscitado calorosas disputas. Um exemplo vislumbra-se no “Prefácio da Quarta Edição” de von Rad onde ele justifica o seu método diacrônico e responde ao teólogo W. Eichrodt e F. Baumgärtel as críticas ao seu método.9 Conseqüentemente, a delimitação e definição do tema conduzem a outra controvérsia não menos importante: o método empregado para se chegar a uma Teologia do Antigo Testamento.

3. Excurso sobre os Métodos de Teologia do Antigo Testamento

De acordo com o teólogo K.H. Harrison uma teologia do Antigo Testamento para ser formulada com sucesso precisa considerar:

  • O significado que as palavras e os escritos tinham para aqueles que os receberam originalmente;
  • Deve estar firmemente baseada numa tradição tão fiel ao texto original quanto possível, considerando os problemas de transmissão textual e o fato de algumas palavras hebraicas ainda terem significados desconhecidos;
  • Manter o devido equilíbrio entre um método de investigação histórico e objetivo e o conceito de uma revelação autorizada e definitiva de Deus em forma escrita;

Por fim, o pensamento dos escritores do Antigo Testamento não deve restringir-se aos interesses que dizem respeito à religião ou à vida dos hebreus antigos. Deve considerar parte da revelação contínua de Deus que chega ao seu ponto culminante na proclamação neotestamentária da Sua graça redentora em Cristo.10

Segundo o teólogo Kaiser Jr. a teologia do Antigo Testamento é a disciplina mais exigente dos estudos vétero-testamentários, e que o escopo dessa disciplina tem desencorajado a maioria dos estudiosos, até mesmo aqueles que estão no fim das suas carreiras acadêmicas.11


1 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. 2. ed., Rio de Janeiro: JUERP, 1985, p.25.
2 Acomodação Bíblica é o termo usado em exegese e hermenêutica para descrever a atualização da mensagem das Escrituras.
3 CRABTREE, A.R. Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro:JUERP, 1977,p.32
4 HARRISON, R.K. Teologia do Antigo Testamento. In ELWELL, Walter A. (ed.) Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1990, V.III (N-Z), p. 458.
5 PORTA, Paul Francis. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: EETAD, FAETAD, 1989, p.18.
6 SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo:Vida Nova, 2001, p.67.
7 McKENZIE, John. A Theology of the Old Testament, Garden City: Doubleday, 1974, p.15 apud SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo:Vida Nova, 2001, p.67.
8 RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento: teologia das tradições históricas de Israel. São Paulo: ASTE, 1986, p.11.
9  RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento: teologia das tradições históricas de Israel. São Paulo: ASTE, 1986, p.14-7.
10 HARRISON, R.K. Teologia do Antigo Testamento. In ELWELL, Walter A. (ed.) Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1990, V.III (N-Z), p. 458.
11 KAISE JR., Walter C. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1984, p.vii.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Meus irmãos e companheiros em Cristo...
Durante esses meses estudamos concernente à eclesiologia neotestamentária. Ainda estou em dúvidas concernente o próximo tema: Pós-modernidade, R.Bultmann, Hermenêutica ou Grego. Se você desejar opinar a respeito de um dos temas, deixe o seu recado.

Nos laços do Calvário,

Esdras Costa Bentho

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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