Nas Escrituras judaicas, as experiências
de Yahweh estão ligadas a pessoas e acontecimentos históricos. Neste sentido, o
Espírito torna real e presente a presença de Deus na assembleia santa, quer se
nomeie ‘ēdâh yiśra’el (Êx 12.3,6,47;
16.1,2,9), quer se descreva como qāhāl
Yahweh (Nm 16.3; 20.4; 27.17). Nas escrituras veterotestamentárias a
congregação do Senhor é a totalidade dos eleitos reunidos na presença de Yahweh
para prestar-lhe culto, adoração e reverência. Deus, portanto, não está fora do
mundo e muito menos se confunde com ele, mas é Redentor do mundo e da história
pela mediação do Ruah Yahweh. Por essa razão, o Espírito é
identificado no AT como o Espírito de Yahweh ou Elohim. Pelo fato de o termo ruah ligar-se em diversas perícopes à
força vital, dinâmica e criativa de Deus, o Espírito é designado como “Espírito
da vida” (Gn 1.2; Sl 104.29), embora ocorra o uso profano e antropológico de ruah.
As primeiras experiências do Espírito
estão relacionadas à unidade do povo de Yahweh e a experiência e confissão de
que Deus livrou o povo do Egito e o conduziu à terra da promissão (Dt 26). A
confissão de fé da ação salvífica do Senhor está presente nas mais remotas e
singulares tradições judaicas da Escritura. De igual modo a presença do Ruah
está presente nos líderes, sejam quais forem os apelativos que os descrevem: nāśi’ (príncipe), nāgîd (líder militar), śar (chefe), šōterîm (oficiais),
rō'sh (cabeça), zāqēn (ancião), nādhîbh (nobre).
Tais títulos descrevem
a magistratura e autoridade civil exercidas pelos líderes hebreus antes do
estabelecimento da monarquia em Israel pela ação do Ruah sobre eles. Por meio
deles, compreendermos que a governança de Yahweh não anulava a liderança civil,
mas a instituía, como uma extensão visível e humana da liderança divina.
Nalguns casos, o Eterno apenas reconheceu a liderança existente, dando-lhes
autoridade para julgar e agir em seu nome (Êx 3.16). A governança do Senhor
sobre Israel também não era menos influente pelo fato de líderes carismáticos
dirigirem os negócios da nação emergente (Nm 11.16-17).
Por líderes
carismáticos entende-se, segundo a concepção weberiana, indivíduos separados
dos homens ordinários e dotados de qualidades e poderes sobrenaturais por Deus
para o desenvolvimento de atividades excepcionais de liderança. Era uma
experiência profundamente pneumatológica que os diferenciava dos homens e das
atividades comuns. O Eterno os instituiu como sua voz, vontade e representante
entre o povo. Resistir a esses líderes, divinamente consagrados, era opor-se a
Deus (Êx 3.11 – 4.1-17; 19.7-8; 24; Nm 12; 1Sm 8.7).
Por meio
desses oficiais, Yahweh reinava sobre o povo sem a figura de um rei e da
instituição monárquica: ’elōhîm
era o Rei de Israel (1Sm 8.7; Sl 10.16). Todavia, os dignitários carismáticos
exerciam autoridade local, na maioria das vezes, situado no contexto de sua
própria tribo ou clã e, noutras, na liderança e organização militar de todas as
tribos em momentos de crises, que impunham uma premente necessidade de se unir
o orbe tribal em um mesmo bloco militar.
No período dos juízes, o
Espírito age de modo inesperado e de repente como a Ruah, vento misterioso e guerreiro, habilitando a Sansão (Jz
13,25), Otniel (Jz 3,10) e os demais libertadores, levando-os a agirem de modo
prodigioso.
O Espírito se apodera de indivíduos e capacita-os para resistir aos
inimigos. Trata-se de uma experiência de libertação promovida e incentivada
pela habilitação que o Espírito concede aos sophetim.
Além de o Espírito estar relacionado à tradição das guerras de Yahweh, situa-se
no contexto da experiência monárquica (1Sm 10,10), profética (Ez 11,5), exílica
(Ez 36,24-28). Desta forma, a pneumatologia veterotestamentária prepara e
fundamenta aquela experiência do Espírito que se revelará na vida de Jesus, dos
apóstolos e da Igreja.