O criacionismo, tal como compreendido pelas Escrituras, é a crença de que Deus formou o homem do pó da terra. E que o homem não se originou do acaso, mas da vontade e atividade do Deus-Oleiro.
Teorias Criacionistas
Vejamos os dois grupos pelos quais se dividem o criacionismo.
O CRIACIONISMO DIRETO
Acredita que o homem originou-se como descrito em Gênesis 2:7. Adão foi feito do pó da terra e Eva de sua costela, mediante atos especiais de criação divina.
Fundamentos da teoria
O criacionismo direto acredita que existem evidências paleontológicas referentes ao desenvolvimento das espécies e que o relacionamento do homem com esse processo é justificado em várias bases:
1) - Através da “teoria do dilúvio”: argumentam que as repercussões catastróficas do dilúvio de Noé justificam os materiais fósseis;
2) - Por meio da “teoria da lacuna ou dos intervalos”: argumentam com base em Gênesis 1.2, que o ato inicial da criação foi seguido de uma catástrofe global que justificam as realidades geológicas como presentemente observadas e isto foi seguido, por sua vez, por um novo ato de criação que produziu a terra como a conhecemos agora. Não há meios de comprovar essa teoria na Bíblia.
O CRIACIONISMO PROGRESSIVO
Afirma que Gênesis 1 narra em breves registros, os atos criadores sucessivos de Deus - do primeiro ao sexto dia. Acredita que o Universo foi criado através de vários estágios a partir do ato inicial, até o aparecimento do homem (Gn 1.27), que é visto como um novo estágio da criação divina.
Fundamentos da Teoria
Reconhece certos desenvolvimentos evolutivos dentro de cada espécie principal; admite intervalos entre as espécies indicando atos criadores sucessivos, desenvolvimentos estes que podem não ter ocorrido na ordem precisa de Gênesis 1 que, em qualquer caso, diferem de Gênesis 2. Timothy Munyon afirma que os adeptos do criacionismo progressivo “acreditam que Deus criou vários protótipos de plantas e animais, em etapas diferentes e parcialmente coincidentes, a partir dos quais os processos de microevolução produziram a variedade de flora e fauna que observamos hoje”.
A Bíblia descreve duas narrações da criação do homem. A primeira em Gênesis 1.26,27 e a segunda em Gênesis 2.7. Não são duas descrições antagônicas e precisam ser entendidas uma à luz da outra. Em Gênesis 1 o homem é descrito como ser existencial e moral, enquanto em Gênesis 2 ,o objetivo é a história pessoal do homem.
O narrador do capítulo 1 é um narrador universal, ele conhece a história pessoal do homem (capítulo 2), tanto que em 1.27 a mulher é descrita como criada segundo à imagem de Deus, ainda que no capítulo 2 ela seja descrita como criada por Deus, mas procedente diretamente do homem. Pela narrativa criacional no capítulo 1, mulher e homem são descritos como seres que ocupam perante Deus as mesmas responsabilidades e possuem os mesmos atributos morais e naturais.
Em Gênesis 2.7 o Criador trabalha à semelhança de um oleiro, que do barro forma o corpo do homem, como há de formar o dos irracionais (v.19). Todavia a produção do homem não termina como a dos animais, com a formação do corpo: o Criador sopra em suas narinas para lhe dar a vida: “e o homem tornou-se alma vivente”. O termo hebraico “nepesh” ou “alma vivente” é um
termo que possui diversos sentidos nas Escrituras e deve ser entendido de acordo com o significado sugerido pelo contexto e pelos matizes e gênio da linguagem semítica.
De forma alguma o texto refere-se à alma como elemento distinto do espírito e corpo, como entendido em 1 Ts 5.23, mas sim, a totalidade da vida humana como mortal sobre a terra. Observando os textos de Gn 6.17; 7.15,22 chegar-se-á à verossímil conclusão de que “alma vivente” na Almeida, no texto em apreço, refere-se ao “sopro ou hálito de vida” que simplesmente designa a vida. Alguém é dito viver na medida em que respira, e o Deus-Oleiro, em Gênesis 2.7, comunica a vida pelas narinas porque por estas é que o homem respira: “Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes retiras a respiração, morrem, e voltam ao pó. Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra “ (Sl 104.29,30 cf Jó 34.14-16).
Os hagiógrafos não vêem qualquer controvérsia ou paradoxo nas duas narrativas. Em Gênesis 1 é descrito o homem racional e moral, que pensa, age, determina a sua vontade a fazer aquilo que esteja coerente com a sua natureza moral e natural, enquanto em Gênesis 2 é descrita a manifestação dessa natureza que o distingui dos seres irracionais.
Filologia Bíblico-Antropológica
A filologia antropológica do Antigo e Novo Testamentos jamais identifica o homem como procedente de uma ordem inferior de vida. Tantos os hebreus quanto os escritores neotestamentários usaram termos que descrevem o homem como ser único, singular, especial. Vejamos:
1. Hebraico
a) - adam: Refere-se tanto a homem como ser “da terra” quanto a humanidade, homens e mulheres, ou ao homem como ser terreno ou mortal (Gn 1.26). Igualdade e diferença são notáveis no texto em apreço: distinção dos demais seres criados e teomorfia em relação à Divindade. Provavelmente seja o termo mais importante da antropologia-bíblica, ocorrendo cerca de 562 vezes. Nota-se um jogo de palavras muito fino: do solo ou da “adamâ” é tirado um ser chamado “adam”, homem. Para a mentalidade semítica dos hagiógrafos, as relações entre palavras são relações entre os seres designados; se pois, o homem deve viver sobre a terra (adamâ), cultivar a terra e se tornar um dia poeira da terra (Gn 2.15;3.17-19), é lógico que se chame “adam”.
b) - ’Îsh: Indivíduo do sexo masculino (Gn 2.24). O termo aparece por cerca de 2.160 vezes no conteúdo do Antigo Testamento. É possível que haja uma correspondência semântica, ainda que seja discutida pelos hebraístas e filólogos entre os vocábulos homem e mulher. O termo mulher ou esposa, “’îshshâ”, provavelmente se deriva de “’îsh”, “porquanto do varão foi tomada”. Há os que advogam a correspondência assonântica ou paranomástica entre os termos, e os que negam. Entretanto, o texto é implícito em afirmar que o homem e a mulher são destinados a se completar mutuamente, sob o ponto de vista tanto físico quanto psíquico, pois tornam-se “uma só carne”.
c) - ’enôsh: Raça humana como mortais, isto é, como seres finitos ou temporais (Gn 6.1). Encontra-se cerca de 44 vezes nas Escrituras Veterotestamentárias e o significado primário é “humanidade” (Jó 28.13; Sl 90.3; Is 13.12). O termo designa a condição fraca e vulnerável do homem. Particularmente esse conceito parece sobressair nas comparações que são feitas entre o homem e Deus (Jó 33.12; Sl 9.19.20). Entretanto, o sentido de “espécie humana” também é evidente nos textos de Jó 28.13; 36.24 e Salmos 90.3.
d) - Geber: O termo hebraico geber, procede de uma raiz hebraica cujo conceito é “forte”, “ser forte”, “poderoso”. O vocábulo distinto do termo genérico adam e ’îsh, representa o homem na sua robustez, ou na sua maturidade. É usado cerca de 66 vezes nas Escrituras Hebraica, dentre eles Êxodo 10.11. O contexto imediato refere-se a afirmação de Moisés para que fosse permitido a saída de todo o povo, desde os mais jovens, até o mais maduros. Faraó, entretanto, assinala a ida somente dos indivíduos maduros ou em sua robustez. Segundo Oswalt, giber “descreve a humanidade em seu nível máximo de competência e capacidade”. Um termo cognato é “gibbôr”, que tipicamente é traduzido por homens fortes, guerreiros.
2- Grego
a) - Aner: Homem na idade madura, ou na idade de se casar. É esse o sentido especializado usado em Marcos 10.2,12, traduzido por marido, em Apocalipse 21.2, por noivo. Raramente o termo é traduzido por pessoa, como ocorre com anthrÇpos. Nesse sentido, tanto o termo “geber” quanto o termo “aner”, refere-se ao indivíduo capaz de tomar decisões. “Aner” é oposto ao infante, neófito, indivíduo incapaz de agir com maturidade (Lc 1.27; 1 Co 13.11). Um outro termo correlato é andrós, isto é, “homem” ou “varão”.
b) - Anthropos: Anthropos, segundo a visão dos filósofos gregos refere-se ao homem em seu sentido ético-filosófico, acentuando todas as suas características personalógicas opostas aos irracionais. É o indivíduo capaz de pensar e tomar decisões, que encontra impingido em seu ser atributos morais e naturais que distingue a sua existência dos demais seres criados. Anthropos, ainda se refere ao indivíduo em busca de sua auto-realização, capaz de procurar e buscar um
sentido superior ao temporal (Mt 4.4; Tg 3.7).
c)- Arsen: O vocábulo arsen é cerca de 7 vezes nas páginas do Novo Testamento. Duas das sete refere-se ao episódio a respeito do divórcio, e conseqüentemente, da sexualidade humana (Mt 19.4; Mc 10.6). No terceiro caso, o termo é traduzido por “primogênito” na ARA, “primogênito do sexo masculino” na NVI, e “menino primogênito” na TEB (Lc 2.23), sentido este que pode traduzir perfeitamente Apocalipse 12.5,13. Em Romanos 1.27 e Gálatas 3.28, arsen é traduzido por homem , para diferencia-lo do sexo feminino. Arsen, denota o homem com forte conotação sexual: macho, viril, homem.