DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Teologia e Reducionismo Antropológico


O eminente teólogo holandês, Edward Schillebeeckx (1914-2009), diante das ameaças do secularismo e do existencialismo, buscou resgatar a dimensão religiosa do homem de seu tempo.

Schillebeeckx defendia o conceito de que o homem é antes de tudo um ser-no-mundo, mas que transcende o mundo tanto no plano horizontal, como também em uma trans-ascendência, definida pelo teólogo como uma abertura para Deus.

Schillebeeckx lutava contra a indiferença religiosa de seu tempo que, fundamentada no existencialismo heideggeriano e no secularismo, reduzia o homem às dimensões física, lógica e mundana sem qualquer abertura para Deus.

Em sua antropologia teológica entendia que o ser não pode ser reduzido à horizontalidade com o mundo, ao plano da mundanidade, limitado à concepção da filosofia do Daseinser-aí. Mesmo que ser-aí implique em uma abertura e possibilidade para o mundo, não pode o homem ser particularizado às dimensões terrenal e secular. O homem não se reduz à matéria e mundanidade, mas sublima a horizontalidade na verticalidade, entendida como uma abertura para Deus.

O existencialismo e secularismo afirmavam o fim da metafísica e a independência do homem de sua dimensão espiritual, o início do engajamento humano nas realidades existenciais e terrenas, e a indiferença religiosa. Schillebeeckx, no entanto, afirmava a existência e realidades terrenas (ser-no-mundo), mas enfatizava a trans-ascendência do homem sobre o mundo ao abrir-se para Deus. O homem não se reduz a ser-no-mundo, mas transcende os limites terrenos através de sua verdadeira identidade e dimensão espiritual.

Para compreendermos essa assertiva, permita-me o letor a uma breve digressão. Segundo a Bíblia, na criação entraram em processo duas importantes dimensões humanas: a mundanidade e a transcendência. Criado do “pó da terra” e posto em um paraíso terreno, o ser-aí estava aberto para se lançar compreensivelmente sobre o seu mundo; aberto à descoberta, cultura, ciência, existência e humores, entretanto, não estava reduzido à mundanidade.

A dimensão terrena foi criada a partir de matéria já presente na criação, tornando o homem um ser terrenal. Todavia, o fôlego de vida, a natureza e verdadeira identidade do homem, os elementos que o constituem diferente de todos os seres vivos, não foram criados por mediação (matéria existente), mas por imediação e doação graciosa. Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida e o homem foi feito ser vivente – cônscio de si, do mundo (horizontalidade) e de Deus (verticalidade). Foi uma doação livre, espontânea. Deus tirou de si e doou ao homem. Criaram-se, por originação, a real identidade e natureza do homem.

O homem foi criado aberto para o mundo e para Deus. Portanto, limitar o homem à dimensão terrenal é reducionismo antropológico. Portanto, é necessário que a teologia cristã resgate a dimensão religiosa do homem e vença a indiferença religiosa de nosso tempo.

A história encarregou-se de provar que as teorias filosóficas, psicológicas, sociológicas ou antropológicas, entre muitas outras correntes do pensamento humano, de fato, à parte das Sagradas Escrituras, não são capazes de responder as mais profundas indagações existenciais do homem moderno. O problema não se circunscreve à exterioridade: falta de moradias, de educação, de trabalho, de cultura, mas à interioridade, ao distanciamento do homem de seu Criador.

Longe do Criador restaram ao homem apenas o vazio e a espera. O vazio em razão de perder o sentido da vida autêntica dada por Cristo, e a espera, porque vive na expectativa de amuletos tecnológicos e religiosos que preencham o vazio existencial. O vazio e a inquietação humana serão plenamente preenchidos e satisfeitos na relação certa com o Criador, através de Cristo – a pessoa divino-humana.

Em 1968 Schillebeeckx foi alvo de processo da Congregação para a Doutrina da Fé em razão de sua defesa positiva e aproximação com o secularismo, mas isso é outra história.....

De Schillebeeckx estou lendo A História Humana e meu amigo, Pr. César Moisés, Jesus a História de um Vivente. Depois é só trocar ideias em um diálogo dialético-dialógico!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Beijo na Bíblia

“Mel e leite estão debaixo da tua língua”

(Ct 7.9).

No Antigo Testamento o substantivo beijo, do hebraico neshîqâ, procede de uma raiz primitiva (nashaq) cujo significado básico é pegar fogo, queimar, acender, com a ideia de fixar, amarrar. No hebraico, o verbo beijar significa literalmente tocar levemente. No grego do Novo Testamento, o vocábulo para beijo deriva-se de phileo, amor, amizade, afeição.

O beijo era um costume presente em diversas situações e com significados variados, a saber: No círculo familiar era uma forma de carinho e afeto entre os parentes (Gn 31.28; Rt 1.9). O beijo também era símbolo da adoração e devoção religiosas falsas (1Rs 19.18). Nos relacionamentos entre as pessoas era símbolo de respeito (Êx 4.27; 1 Sm 10.1), saudação (Gn 29.13; 2Sm 19.39), lealdade e dignidade (2 Sm 19.39), lamento (Gn 33.4; Rt 1.14), traição (Mt 26.49), mas também de amor entre os cônjuges (Ct 1.2; 8.1).

A Bíblia também o descreve como expressão da concupiscência e da sedução ao pecado (Pv 7.13). Ele representava também a maior expressão do amor romântico, de acordo com Provérbios 24.26, como também do amor fraterno entre os membros da igreja de Cristo (Rm 16.16). A Bíblia refere-se ao beijo nos lábios (Pr 24.26), nas mãos (Jó 31.27), nos pés (Lc 7.38,45),...

Na literatura poética de Cantares, o beijo romântico é melhor do que o vinho (Ct 1.2) e se faz acompanhar de odores e sabores (Ct 1.2,3; 2.3; 4.3; 5.13; 7.9).

Como afirmara Ben Johnson

“Deixa um beijo no cálice para mim,
E não solicitarei vinho”.
A combinação de mel e leite e o cheiro dos pós aromáticos tornavam o beijo dos amásios mais apreciável (Ct 3.6 ver 4.11). Para eles, o amor é uma combinação de aromas e sabores. É a própria personificação do “amor em delícias” (Ct 7.6).

Junto aos elogios à compleição física dos amásios estava a apreciação da beleza e sedução dos lábios: “os teus lábios são como um fio de escarlata, e tua boca é formosa” (Ct 4.3;1.2); cantava o amado. Ele não apenas elogia as sábias palavras dos lábios de sua amada, como faz a ARC, mas inclina-se à tentação carnuda dos lábios da parceira.

Declamava Ovídio

“Ele viu os lábios dela,
uma coisa tão doce”.
Os dentes sempre alvos, perfeitos (Ct 4.2; 6.6), destacavam a pureza e a apreciação pelos lábios dos amásios. É o amor na estação da primavera, com todo frescor e vitalidade da estação (Ct 2.11-13; 7.13). Eis, portanto, o beijo como símbolo da paixão, do amor, do eros. O beijo envolve algumas zonas erógenas do corpo, o que significa que ele é um canal ou fonte de prazer, que estimula a libido dos amásios. Provérbios 6.28 a esse respeito é categórico: "Andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés"?

Todavia, o beijo nos lábios de outrem poderia ter um propósito distinto. O beijo de Jacó ao encontrar-se com Raquel, segundo Gower, foi nos lábios (Gn 29.11), assim como o de Judas, o traidor, no Getsêmani (Lc 22.48). Ambos demonstravam afeição, cortesia, no entanto, distinguiam-se quanto ao propósito.

Embora o beijo estivesse presente na cultura do Antigo e Novo Testamentos, parece-me que publicamente a troca de carinho ou carícias entre namorados ou noivos de famílias piedosas não era facilmente tolerado. Digo publicamente, porque o homem sempre foi um transgressor das normas, costumes e tradições humanas.

Durante a ocupação de Canaã, principalmente da Conquista ao final do tempo dos juízes, temos poucas referências ao beijo. Acredito que os hebreus procuravam manter a discrição, para contrastar com a imoralidade e licenciosidade pagãs presente no Antigo Testamento, como afirmo em meu livro A Família no Antigo Testamento.

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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