Considerações gerais. A Bíblia honra o velho, mas não o velhaco. O Senhor ordenou que os anciãos fossem honrados e respeitados: "Diante das cãs [śêbâ] te levantarás, e honrarás a face do velho [zāqēn], e terás temor do teu Deus. Eu sou o Senhor" (Lv 19.32). Um dos maiores símbolos de infelicidade, desventura e declínio nacional para o povo de Israel era um menino opor-se a um ancião. O profeta Isaías usa essa figura para retratar a desgraça espiritual e política da nação: "E o povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um, contra o seu próximo; O MENINO SE ATREVERÁ CONTRA O ANCIÃO [zāqēn], e o vil, contra o nobre" (Is 3.5).
O ancião é tão importante em Israel que aparece juntamente com o valente, o soldado, o juiz, o profeta, o conselheiro, o respeitável, etc. (Is 3.2). Embora o contexto de Isaías seja negativo do ponto de vista profético, resguarda-se à respeitabilidade das categorias envolvidas.
De acordo com Jesus, sustentar os pais na velhice era tão importante quanto ofertar (Mc 7.11-13). A responsabilidade de sustentar os pais na velhice era dos filhos e não do templo ou dos oficiais do templo. O Novo Testamento ensina o apreço e consideração pelos anciãos. Timóteo foi proibido por Paulo a repreender asperamente um ancião. Deveria admoestar os idosos como a pais e mães (1 Tm 5.1,2) e, as viúvas, com mais de sessenta anos deveriam ser registradas na lista oficial de viúvas da igreja (vv.9,11). Entretanto, a responsabilidade de cuidar dos pais idosos era dos parentes próximos: "Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel" (v.8).
Ancião no Antigo Testamento. No Antigo Testamento há várias palavras para definir o termo "ancião", "velho", ou "velhice", alguns com matizes teológicos, outros nem tanto. Por conseguinte, pretendo destacar um vocábulo hebraico (zāqēn) e outro aramaico ('ătîd), muito embora façamos referências a outros termos. Cabe aqui, portanto, uma breve distinção: os anciãos como classe e como um estado de maturidade.
Ancião como um estado de maturidade. Zāqēn aparece em inúmeras passagens (Gn 43.27; Lv 19.32; Is 3.2,5) e, figuradamente, algumas vezes é chamada de cãs (Gn 21.7; 42.38; 1 Sm 12.2; Pv 16.31). A estes anciãos justos e tementes a Deus, a Sagrada Escritura promete longevidade feliz e frutífera: "Os que estão plantados na Casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice [śêbâ] ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto" (Sl 92.13-15 – ARC).
Observe, professor, o verbo "estar", reforçado pelas figuras "plantar" e "florescer", traduzidos pela ARA por "cheios de seiva" e "verdor". É uma promessa para os anciãos justos, que temem a Deus e, particularmente, vivem na Casa do Senhor. "Plantar", ou "cheio de seiva" é a tradução do termo hebraico dāshēm, vocábulo estudado na lição anterior neste blog (vide) que se refere à prosperidade abundante. "Florescer", ou "verdor", no original, é ra'ănān, literalmente "exuberante", "viçoso" ou "fresco". Procede de rā'an, "vicejar", "ser viçoso", "reverdecer". Este vocábulo é usado em Jó 15.32 designando o infortúnio e a velhice infeliz dos ímpios: "Antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo não reverdecerá" (ARC).
O termo śêbâ, traduzido por "velhice" no Sl 92 [cf. Gn 15.15; 25.8; Jz 8.32; 1 Rs 14.4], procede da raiz śîb, isto é, "ser grisalho". Em 1 Samuel 12.2, o profeta e juiz afirma: "Já envelheci (zāqēn) e encaneci (śîb)", o que significa "já estou velho e meus cabelos grisalhos". Em Jó 15.10, a relação entre śîb, "cabelos grisalhos" e velhice é patente. No entanto, encontramos nesse texto mais um vocábulo para "velhice". Trata-se de yāshîsh, isto é, "homem muito idoso" (Cf. Jó 12.12; 15.10; 29.8). No Salmo 71.9 o poeta clama ao Senhor dizendo: "Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares" (ARA). Neste verso, "velhice" é a tradução da palavra 'ēt, isto é, "tempo". A tradução da ARC, neste texto, é muito melhor do que da ARA. ARC traduz/interpreta por "Não me rejeites no tempo ['ēt] da velhice". Tanto este vocábulo quanto yôn, "dia", "tempo", "ano", em Jó 15.10 ("mais idoso do que teu pai"), referem-se à longevidade, à velhice que supera a de outros anciãos. Outros termos para velhice são encontrados no Antigo Testamento, e muito embora sejam de raízes distintas das palavras até aqui analisadas, pouco acrescentam ao significado já perlustrado.
Vejamos, inicialmente, o significado aramaico de 'ătîd e posteriormente o hebraico zāqēn.
'Ătîd: o Legislador eterno. O vocábulo aramaico 'ătîd é usado apenas no livro do profeta Daniel (7.9, 13,22) e designa unicamente a Deus. Convencionalmente as Bíblias portuguesas traduzem 'ătîd por "Ancião de Dias" (ARA), "ancião de dias" (ARC) e "Ancião" (NVI/TEB), entretanto, literalmente quer dizer "um avançado em dias". A Septuaginta (LXX), versão grega do original hebraico, traduz 'ătîd por palaios hēmerōn, "Ancião de Dias", conforme as traduções ARA e ARC.
Um termo semelhante, "Cabeça de dias", foi usado na literatura apócrifa (Enoque 47:3) para designá-lo como "a fonte do tempo". Trata-se de uma teofania (manifestação divina) cuja representação era, de acordo com Mesquita, "não propriamente um velho, mas uma pessoa idosa, respeitável e venerável, como cabe a um magistrado." [1]
O ancião é tão importante em Israel que aparece juntamente com o valente, o soldado, o juiz, o profeta, o conselheiro, o respeitável, etc. (Is 3.2). Embora o contexto de Isaías seja negativo do ponto de vista profético, resguarda-se à respeitabilidade das categorias envolvidas.
De acordo com Jesus, sustentar os pais na velhice era tão importante quanto ofertar (Mc 7.11-13). A responsabilidade de sustentar os pais na velhice era dos filhos e não do templo ou dos oficiais do templo. O Novo Testamento ensina o apreço e consideração pelos anciãos. Timóteo foi proibido por Paulo a repreender asperamente um ancião. Deveria admoestar os idosos como a pais e mães (1 Tm 5.1,2) e, as viúvas, com mais de sessenta anos deveriam ser registradas na lista oficial de viúvas da igreja (vv.9,11). Entretanto, a responsabilidade de cuidar dos pais idosos era dos parentes próximos: "Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel" (v.8).
Ancião no Antigo Testamento. No Antigo Testamento há várias palavras para definir o termo "ancião", "velho", ou "velhice", alguns com matizes teológicos, outros nem tanto. Por conseguinte, pretendo destacar um vocábulo hebraico (zāqēn) e outro aramaico ('ătîd), muito embora façamos referências a outros termos. Cabe aqui, portanto, uma breve distinção: os anciãos como classe e como um estado de maturidade.
Ancião como um estado de maturidade. Zāqēn aparece em inúmeras passagens (Gn 43.27; Lv 19.32; Is 3.2,5) e, figuradamente, algumas vezes é chamada de cãs (Gn 21.7; 42.38; 1 Sm 12.2; Pv 16.31). A estes anciãos justos e tementes a Deus, a Sagrada Escritura promete longevidade feliz e frutífera: "Os que estão plantados na Casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice [śêbâ] ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto" (Sl 92.13-15 – ARC).
Observe, professor, o verbo "estar", reforçado pelas figuras "plantar" e "florescer", traduzidos pela ARA por "cheios de seiva" e "verdor". É uma promessa para os anciãos justos, que temem a Deus e, particularmente, vivem na Casa do Senhor. "Plantar", ou "cheio de seiva" é a tradução do termo hebraico dāshēm, vocábulo estudado na lição anterior neste blog (vide) que se refere à prosperidade abundante. "Florescer", ou "verdor", no original, é ra'ănān, literalmente "exuberante", "viçoso" ou "fresco". Procede de rā'an, "vicejar", "ser viçoso", "reverdecer". Este vocábulo é usado em Jó 15.32 designando o infortúnio e a velhice infeliz dos ímpios: "Antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo não reverdecerá" (ARC).
O termo śêbâ, traduzido por "velhice" no Sl 92 [cf. Gn 15.15; 25.8; Jz 8.32; 1 Rs 14.4], procede da raiz śîb, isto é, "ser grisalho". Em 1 Samuel 12.2, o profeta e juiz afirma: "Já envelheci (zāqēn) e encaneci (śîb)", o que significa "já estou velho e meus cabelos grisalhos". Em Jó 15.10, a relação entre śîb, "cabelos grisalhos" e velhice é patente. No entanto, encontramos nesse texto mais um vocábulo para "velhice". Trata-se de yāshîsh, isto é, "homem muito idoso" (Cf. Jó 12.12; 15.10; 29.8). No Salmo 71.9 o poeta clama ao Senhor dizendo: "Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares" (ARA). Neste verso, "velhice" é a tradução da palavra 'ēt, isto é, "tempo". A tradução da ARC, neste texto, é muito melhor do que da ARA. ARC traduz/interpreta por "Não me rejeites no tempo ['ēt] da velhice". Tanto este vocábulo quanto yôn, "dia", "tempo", "ano", em Jó 15.10 ("mais idoso do que teu pai"), referem-se à longevidade, à velhice que supera a de outros anciãos. Outros termos para velhice são encontrados no Antigo Testamento, e muito embora sejam de raízes distintas das palavras até aqui analisadas, pouco acrescentam ao significado já perlustrado.
Vejamos, inicialmente, o significado aramaico de 'ătîd e posteriormente o hebraico zāqēn.
'Ătîd: o Legislador eterno. O vocábulo aramaico 'ătîd é usado apenas no livro do profeta Daniel (7.9, 13,22) e designa unicamente a Deus. Convencionalmente as Bíblias portuguesas traduzem 'ătîd por "Ancião de Dias" (ARA), "ancião de dias" (ARC) e "Ancião" (NVI/TEB), entretanto, literalmente quer dizer "um avançado em dias". A Septuaginta (LXX), versão grega do original hebraico, traduz 'ătîd por palaios hēmerōn, "Ancião de Dias", conforme as traduções ARA e ARC.
Um termo semelhante, "Cabeça de dias", foi usado na literatura apócrifa (Enoque 47:3) para designá-lo como "a fonte do tempo". Trata-se de uma teofania (manifestação divina) cuja representação era, de acordo com Mesquita, "não propriamente um velho, mas uma pessoa idosa, respeitável e venerável, como cabe a um magistrado." [1]
O simbolismo reflete a importância do ancião na cultura semita. Seus cabelos alvos refletem seu caráter, sabedoria e idoneidade para executar o juízo e reger o universo, razão pela qual está assentado sobre o trono. Lembremos que, Provérbios 20.29, atribui ao jovem como ornato "a força", mas aos anciãos, "as cãs", ou "cabelos brancos". Este último são símbolos de dignidade, ornato de longevidade, sabedoria, experiência e capacidade para exercer liderança.
Zāqēn: Idoneidade e sabedoria provenientes de uma vida farta de dias. O termo hebraico mais comum para ancião ou velho nas Escrituras Hebraicas é zāqēn; vocábulo que procede do cognato zāqān, cujo significado básico deste último é barba. Em função de os idosos usarem barbas crescidas é que a palavra começou a designar a "velhice", ou "ancião". Este termo, zāqēn, é muito comum nas Escrituras da Antiga Aliança, sendo por diversas vezes traduzido pela Septuaginta (LXX) por presbyteros.
Os anciãos como uma classe. Na ARA, o plural anciãos aparece cerca de 167 vezes enquanto o singular, ancião, nove vezes. Este grupo social hebreu, como afirmamos em nossa obra, A Família no Antigo Testamento, liderava o clã (mishpācha), sendo os líderes ou cabeças das famílias hebréias. Essa categoria social era conhecida pelos sábios conselhos, prudência, vivência e capacidade para julgar situações embaraçosas. Estes são chamados de “anciãos de Israel” (Êx 3.16,18; 12.21; 17.6), “anciãos dos filhos de Israel” (Êx 4.29;), “anciãos do povo” (Êx 19.7; Nm 11.24), “anciãos da congregação” (Lv 4.5), “anciãos da cidade” (Dt 19.12; 21.3). Esta composição social também era comum entre os moabitas e midianitas (Nm 22.7). Os anciãos auxiliavam na resolução de problemas ligados à virgindade (Dt 22.15), homicídios (Dt 19.12; 21.1), in passim. Números 11.25 menciona setenta anciãos que profetizaram quando sobre eles o Espírito do Senhor desceu. Segundo H. Schmidt, o clã, dos quais os anciãos são os líderes, parece incluir um grupo de mil homens com capacidade para guerrear (Mq 5.1; 1 Sm 8.12; 23.23). [2]
Zāqēn: Idoneidade e sabedoria provenientes de uma vida farta de dias. O termo hebraico mais comum para ancião ou velho nas Escrituras Hebraicas é zāqēn; vocábulo que procede do cognato zāqān, cujo significado básico deste último é barba. Em função de os idosos usarem barbas crescidas é que a palavra começou a designar a "velhice", ou "ancião". Este termo, zāqēn, é muito comum nas Escrituras da Antiga Aliança, sendo por diversas vezes traduzido pela Septuaginta (LXX) por presbyteros.
Os anciãos como uma classe. Na ARA, o plural anciãos aparece cerca de 167 vezes enquanto o singular, ancião, nove vezes. Este grupo social hebreu, como afirmamos em nossa obra, A Família no Antigo Testamento, liderava o clã (mishpācha), sendo os líderes ou cabeças das famílias hebréias. Essa categoria social era conhecida pelos sábios conselhos, prudência, vivência e capacidade para julgar situações embaraçosas. Estes são chamados de “anciãos de Israel” (Êx 3.16,18; 12.21; 17.6), “anciãos dos filhos de Israel” (Êx 4.29;), “anciãos do povo” (Êx 19.7; Nm 11.24), “anciãos da congregação” (Lv 4.5), “anciãos da cidade” (Dt 19.12; 21.3). Esta composição social também era comum entre os moabitas e midianitas (Nm 22.7). Os anciãos auxiliavam na resolução de problemas ligados à virgindade (Dt 22.15), homicídios (Dt 19.12; 21.1), in passim. Números 11.25 menciona setenta anciãos que profetizaram quando sobre eles o Espírito do Senhor desceu. Segundo H. Schmidt, o clã, dos quais os anciãos são os líderes, parece incluir um grupo de mil homens com capacidade para guerrear (Mq 5.1; 1 Sm 8.12; 23.23). [2]
Portanto, os anciãos, como uma classe na pirâmide social hebréia, eram líderes consagrados por Deus para auxiliarem a Moisés na liderança do povo de Israel e administrarem os territórios divididos entre as doze tribos em Canaã, entre outras importantes funções. O uso do termo como uma classe, designa a sabedoria que procede da idade madura.
O caráter dos anciãos encontra-se expresso nas palavras de Jetro, sogro de Moisés: "E tu, dentre todo o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta e maiorais de dez; para que julguem este povo em todo o tempo, e seja que todo negócio grave tragam a ti, mas todo negócio pequeno eles o julguem" (Êx 18.21,22 ver Dt 31. 9, 28; 32.7). Os anciãos participavam integralmente da liderança do povo, recebendo para isto autoridade divina. Setenta deles receberam um derramamento sobrenatural do Espírito Santo, dando-lhes, também, funções carismáticas (Nm 11.16-26).
Notas
[1] MESQUITA, A. Neves de. Estudos no livro de Daniel. Rio de Janeiro: JUERP, 1978, p. 55.
[2] SCHMIDT, Werner H. Introduccion al Antiguo Testamento. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1983, p. 49.
Notas
[1] MESQUITA, A. Neves de. Estudos no livro de Daniel. Rio de Janeiro: JUERP, 1978, p. 55.
[2] SCHMIDT, Werner H. Introduccion al Antiguo Testamento. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1983, p. 49.