DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tessalonicenses II (Προς Θεσσαλονικεις β) - Um ensaio.



Introdução
Na magnífica capital da Macedônia, Tessalônica, floresceu na Via Ignatia uma comunidade de fiéis como fruto do labor do apóstolo Paulo em sua segunda viagem missionária. O apóstolo dos gentios, impedido de continuar ministrando pessoalmente, escreve à igreja com o propósito de fortalecer a fé, instruí-la quanto à santidade cristã, e alertá-la quanto à apostasia (1 Ts 3.1). A fim de instruir os crentes a permanecerem firmes na fé até a volta do Senhor (1 Ts 3.2), o apóstolo Paulo trata da Vinda de Cristo em cada capítulo da Primeira Epístola aos Tessalonicenses. Por esse motivo, as duas epístolas de Paulo aos cristãos macedônios são denominadas de O Evangelho do Advento ou Cartas Escatológicas. II Tessalonicenses foi escrita da cidade de Corinto pelo apóstolo Paulo, pouco depois da primeira epístola, aproximadamente em 51 d.C. Veja o gráfico.



A epístola está dividida em três capítulos, nos quais o tema “o Dia do Senhor”, ou “parousia” (παρουσία), ocupa a maior parte. A estrutura literária da epístola pode ser assim dividida:

(1) Saudações e Ação de Graças (1.1-3);
(2) Encorajamento (1.4-12);
(3) O Dia do Senhor (2.1 – 3.5);
(4) Restauração dos ociosos (3.6-18);
(5) Considerações finais (3.16-18).

Assim, em perspectiva temos:

No capítulo 1
Arrebatamento do Senhor
Alento Pastoral
Glorificação

No capítulo 2
A Ira do Senhor
Iluminação Profética
Tribulação
No capítulo 3
A Vontade do Senhor
Exortação Prática
Consagração


Distribuição do tema da παρουσία em Tessalonicenses:
  • A vinda de Cristo anunciada (1 Ts 2.19);
  • A vinda de Cristo com todos os santos (1 Ts 1.13);
  • A vinda de Cristo, a ressurreição e o arrebatamento (1 Ts 4.13-18);
  • A vinda de Cristo é repentina (1 Ts 5.1-10);
  • A vinda de Cristo exige completa santidade (1 Ts 5.23);
  • A vinda de Cristo e o julgamento dos ímpios (2 Ts 1.7-10);
  • A vinda de Cristo e a reunião de todos os salvos (2 Ts 2.1);
  • A vinda de Cristo e o Anticristo (2 Ts 2.3-12).

Não muito tempo depois de enviar a primeira epístola, escrita para suprir à falta de fé dos tessalonicenses (1 Ts 3.10), Paulo, por meio de uma fonte desconhecida,[1] é informado que alguns problemas ainda persistem entre os irmãos, a saber:

(1) heresias a respeito do Dia do Senhor, falsamente atribuídas a Paulo (2 Ts 2.1,2); e,
(2) ociosidade entre os crentes (2 Ts 3.8-12).

Para dirimir tais controvérsias, o apóstolo escreve II Tessalonicenses (2 Ts 3.14).

Estrutura do Capítulo 1
O presente capítulo está dividido em dois parágrafos: vv. 1,2 e vv. 3-12. Estas seções seguem a divisão original do grego, exceto o Texto Majoritário e o Texto Recebido, que subdividem o primeiro parágrafo em dois: v.1 e v.2. Todavia, a Almeida Corrigida (1995), cujo texto neotestamentário é baseado no Texto Recebido, conserva a divisão em dois parágrafos, conforme o Texto Crítico. Assim, podemos classificar os dois blocos em:

(1) Apresentação e Saudação (vv.1-2);
(2) Ação de Graças e Encorajamento (vv.3-12).

Comentário do Capítulo 1

(1) Apresentação e Saudação (vv.1-2).
O versículo 1 divide-se em: remetentes e destinatário (1.1).

Os remetentes. Paulo, Silvano e Timóteo são os três apóstolos dos gentios que endereçam o estenógrafo à igreja tessalonicense, no entanto, a autoria é reservada unicamente a Paulo, que se despede com a doxologia tradicional de “própria mão”, ou “de próprio punho” (3.17). Silvano (Σιλουανός) e Silas são as mesmas pessoas, sendo Silas a contração de Silvano. Ele era judeu helenista, “uma vez que seu nome é a forma grega do nome aramaico She’ila’, equivalente ao hebraico Sha’ul ou Saulo”.[2] Este discípulo de Jesus desfrutava de grande confiança dos apóstolos, motivo pelo qual foi comissionado pelos de Jerusalém para comunicar o decreto do Concílio de jerosolimitano aos fiéis de Antioquia (At 15.22,27,32). Timóteo (Θιμόθεος), nome composto, provavelmente formado por timē (τιμή) e theós (θεός), literalmente “que honra ou adora a Deus”. A forma carinhosa como Paulo se refere a ele, teknon mou agapēton (τέκνον μου αγαπητόν - 1 Co 4.17), sugere se tratar do discípulo que Paulo mais amava.

(1.2) Os destinatários. A missiva é dirigida “à igreja dos tessalonicenses” (τη εκκλεσία Θεσσαλονικέων), isto é, à comunidade dos remidos que está em Tessalônica, conforme o uso dativo grego. O uso de ekklēsia neste texto é particular e antropológico (v.4). Todavia, o locativo “em Deus” sugere que a εκκλεσία dos tessalonicenses era o resultado da ação de Deus na história. A Igreja de Deus é a “comunidade salvífica” do Novo Testamento. É o Senhor que chama os homens do mundo para constituí-los “povo de Deus”. A Igreja é o ‘ām ’Ĕlohîm (עם אלהים ) – povo de Deus (Nm 11.29; 16.41; Jz 20.2; 2 Sm 14.13). Esta fórmula de aliança, tão comum ao Antigo Pacto, é empregada e aplicada de modo inovador em o Novo Testamento, referindo-se à Igreja como laos Theou (λαός Θεου) – o povo de propriedade exclusiva de Deus (Tt 2.14; 1 Pe 2. 9,10). A saudação kharis kai eirēnē, “graça e paz” (χάρις και ειρήνη), não se trata da saudação comum dos gregos, mas do “favor imerecido do Senhor que sobeja em paz”. É tanto a “paz com Deus”, quanto “a paz de Deus” (Rm 5.1; Fp 4.7). Está além da ataraxia dos estóicos.

(2) Ação de Graças e Encorajamento (vv.3-12).
Embora não haja qualquer divisão nessa perícope, várias doutrinas se entrecruzam formando uma unidade em torno do eixo sofrimento-julgamento-glorificação. Os assuntos desta seção:

(1) Ação de graças pela crescente fé dos crentes, apesar das tribulações (vv.3,4);
(2) A tripulação comprova a fidelidade dos crentes (v.5);
(3) O castigo dos ímpios não tardará, pois a Vinda do Senhor será julgamento para os incrédulos, mas glorificação para os santos (vv.6-10);
(4) Súplica e doxologia final (vv.11,12).

O crescimento da fé (vv.3,4). O texto diz literalmente “prospera intensamente a vossa fé”. À medida que os crentes progrediam na fé, também cresciam no amor “uns para com os outros”. Fé (πίστις) e amor (αγάπη) são binômios necessários à vida cristã integral. Alguns crentes têm fé “como grão de mostarda”, mas são incapazes de amar e ter relacionamentos fraternos, afáveis. Esse logion paulino apresenta três paradoxos com a realidade da igreja moderna.

Primeiro, a verdadeira fé redunda em completo amor fraterno.
Segundo, o sofrimento é a argamassa que une o crente a Jesus e uns para com os outros.
Terceiro, a tribulação autentica a fé e o amor do cristão (v.5).

Há dois tipos de julgados e duas formas de sofrimentos mencionados em toda a perícope (vv.5-10): Os perseguidos (v.5) e os perseguidores (v.6); o sofrimento dos perseguidos (v.5) e o sofrimento dos perseguidores (vv.6-10). A Tribulação ajudará:
1. A Crescer na Fé (v.3a);
2. A Crescer em Amor (v.3b);
3. A Crescer em Constância (v.4);
4. Preparar-se para o Reino de Deus (v.5)
5. Fará com que o Nome de Cristo seja Glorificado (v.12).

Em todos os dois casos, Deus é intuitivamente o agente principal. A perseguição e sofrimento por amor a Jesus são indícios “da justiça de Deus ao julgar os crentes como candidatos dignos de seu reino” (v.11).[3] Mas o sofrimento e o julgamento dos ímpios são a manifestação da ira e da vingança divinas.

Contudo, há que se aguardar o καιρός divino por ocasião da παρουσία a Vinda de Cristo, para glorificar os salvos e retribuir o justo castigo aos ímpios. Afirma Glubish que “saber que qualquer tipo de injustiça cometida um dia terá seu julgamento, é um grande incentivo que gera um sentimento de bem-estar”. Paulo inicia e termina com ação de graças (v.12).
Notas
[1] GLUBISH, Brian. II Tessalonicenses. In: ARRINGTON, F.L.; STRONSTAD, R. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1411.
[2] BROOMALL, Wick. Verbete: Silas. In: PFEIFFER, C.F. (et al) Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 1813.
[3] GLUBISH, Brian, id.ibid., p.1414.

6 comentários:

Marcello de Oliveira disse...

Shalom!

1. Nobre Pr "Ezra", simplismente celébre esta exposição. O que dizer dessas palavras que encantam os olhos, aquecem o coração e enriquecem a alma? Simplismente louvar ao Eterno por sua vida e profícuo ministério.

2. Dr William Barclay relata que o nome original dessa cidade era Thermai, que significa "fontes quentes". Em 315 a.C, Cassandro reedificou a cidade e colocou nela o nome de Tessalônica, em homenagem a sua mulher, filha de Filipe da Macedônia e irmã de Alexandre Magno.

3. Com a sua permissão, permita-me destacar o Cap 1 verso 8, onde Paulo diz que a vida e o exemplo da igreja de Tessalônica ecoaram e repercutiram não apenas nas províncias de Macedônia e Acaia, mas também, por outras paragens além fronteiras. A palavra empregada por Paulo para descrever o verbo "repercutiu" é eksechetai, que significa soar como uma trombeta. Esta palavra deriva-se de eksecheo, que significa "fazer ressoar", "repercutir" como um sino que faz todos ouvirem seu sonido forte. Essa é a palavra de onde vem o vocábulo moderno "eco".

4. Como o verbo está no pretérito perfeito, denota uma atividade continuada do som. Os próprios cristãos tessalonicenses foram uma ESPéCIE DE CAIXA ACÚSTICA por meio da qual espalharam o evangelho pelas áreas em derredor.

Lehi traót, Pr Marcello de Oliveira

I Ts 1.8

Marcello de Oliveira disse...

SHALOM!

1. Amado Pr "Ezra", parabéns pela excelente exposição. Louvo ao Eterno por sua vida e dedicação as Escrituras.

2.Segundo o Dr William Barclay, o nome original dessa cidade era Thermai, que significa "fontes quentes". Em 315 a.C, Cassandro reedificou a cidade e colocou nela o nome de Tessalônica, em homenagem a sua mulher, filha de Filipe da Macedônia e irmã de Alexandre Magno.

3. Permita-me citar uma preciosidade de I Ts 1.8 - onde Paulo diz que a vida e o exemplo da igreja de Tessalônica ecoaram e repercutiram não apenas nas províncias da Macedônia e Acaia, mas também, por outras paragens além fronteiras.

3.a - A palavra empregada por Paulo para descrever o verbo "repercutiu" é eksechetai, que significa soar como um trombeta. Ela deriva de eksecheo. Essa é a palavra de onde vem o vocábulo modeerno "eco". Como o verbo está no pretérito perfeito, denota uma atividade continuada do som. Os próprios cristãos tessalonicenses foram uma espécie de CAIXA ACÚSTICA por meio da qual espalharam o evangelho pela áreas em derredor. Que exemplo magnífico!


Um abraço, Pr Marcello de Oliveira

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Texte: POr alguma razão os comentários não estão sendo publicados.Desculpe

daladier.blogspot.com disse...

Gostaria de sugerir a colocação da pronúncia dos vocábulos em grego e hebraico, isto ajuda os leitores leigos nestas línguas.

Abraços!

Marcello de Oliveira disse...

SHALOM!

1. Parabéns por esta excelente exposição. Louvo ao Eterno por sua vida e ministério.

2. Segundo o Dr. William Barclay, o nome original dessa cidade era Thermai, que significa "fontes quentes". Em 315 a.C, Cassandro reedificou a cidade e colocou nela o nome de Tessalônica, em homenagem a sua mulher, filha de Filipe da Macedônia e irmã de Alexandre MAgno.

3. Permita-me falar da preciosidade do texto de I Ts 1.8, onde o apóstolo Paulo disse que a vida e o exemplo da igreja de Tessalônica ecoaram e repercutiram não apenas nas províncias de Macedônia e Acaia, mas também, por outras paragens além fronteiras. A palavra empregada por Paulo para descrever o verbo "repercutiu", é eksechetai, que significa soar como uma trombeta. Essa palavra deriva-se de eksecheo, que significa "fazer ressoar". Dessa palavra vem o vocábulo moderno "eco".


4. Como o verbo está no pretérito perfeito, denota uma atividade continuada do som. Os próprios cristãos tessalonicenses foram uma espécie de CAIXA ACÚSTICA por meio da qual espalharam o evangelho pelas áreas em derredor. Que exemplo magnífico! O exemplo deles ecoou longe!

Nele, Pr Marcello de Oliveira

Elenilda Gramiscelli Sales disse...

A Paz seja contigo, Pr Esdras!
Fiquei muto feliz em encontrar o seu Blog. Temos aqui o seu livro Hermenêutica Fácil e Descomplicada que nos é de grande valia. Deus o abençoe e o prospere em teu trabalho. Ainda quero ter tempo pra ler todos estes posts aqui...
Grande abraço!
Elenilda.

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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