Theología, segundo o étimo helênico, é a ciência que estuda sobre Deus e todos os assuntos pertinentes à fé e à religião. O Theólogo é tanto o que fala a Palavra de Deus quanto aquele a quem Deus fala. A fé, do ponto de vista da theologia, é axioma indispensável à compreensão do Inefável.
Temo ser um teólogodescompromissado com a minha gente, o meu povo, com a vida.
Temo ser um teólogo que, afastado do povo, não sinta suas dores, seus medos e angústias.
Temo ser um teólogo que, amando mais a teologia, ame menos as pessoas.
Temo ser um teólogo que avalia o outro pela teologia que defende, no lugar de sua devoção a Deus e compromisso com o outro.
Temo ser um teólogo fatalista, que vê o futuro como evento inexorável, determinista, incapaz de ser transformado por ações mais humanas do que divinas.
Temo ser um teólogo sem Deus, que ame mais a teologia de Deus do que o Deus da teologia.
Temo ser um teólogo que não encontra sentido para sua presença no mundo.
Temo ser um teólogo adaptado à cultura de meu tempo, incapaz de refletir a respeito dela.
Temo ser um teólogo sem teologia.
Temo ser um teólogo caduco em um mundo em constante transformação.
Afinal o que é a teologia e qual o papel do teólogo no mundo? Por que fazemos teologia? Para quem teologizamos?
Palmas, Tocantins - às 23hs42m - Por ocasião da 19 Conferência de Escola Dominical
Os teólogos pentecostais, desde o primeiro período de formação da teologia pentecostal estadunidense e brasileira, mantiveram-se reticentes com o estudo crítico do Novo Testamento, principalmente com as asseverações que suspeitavam da originalidade, autoridade e inspiração das perícopes bíblicas. De um lado, questionavam o liberalismo teológico e, de outro, a tradição e o dogmatismo católico concernente a Mateus 16.18.
A aproximação do pentecostalismo com o método histórico-crítico sempre esteve em busca do enlace e do divórcio. Atualmente, contudo, há mais aproximação dos teólogos pentecostais com o estudo crítico da Bíblia, mas a leitura é cuidadosa e crítica [1].
Modernamente, a posição da teologia pentecostal a respeito do logion mateano ainda é controversa. A ênfase não recai sobre a identidade da igreja mateana, mas principalmente acerca da posição de Pedro no cristianismo primitivo. Três correntes ainda se mantêm estabelecidas entre os teólogos pentecostais clássicos:
(1) a de que Jesus é a Pedra – interpretação tradicional –;
(2) a de que a pedra é a confissão de Pedro – interpretação reformada –;
(3) a de que Pedro é a pedra – interpretação moderna.
A primeira é uma herança do fundamentalismo teológico. Porém, as outras duas interpretações jamais negaram a verosimilidade desta asseveração, pelo contrário, estão cônscias de que o problema exegético de Mateus 16.18 não se resolve através do dogma, mas da análise, hermenêutica e exegese.
A segunda, origina-se de uma releitura exegética de Mateus 16.18 e da constatação das dificuldades gramaticais e contextuais em manter a interpretação anterior; razão pela qual busca-se na história da exegese do texto, um equilíbrio entre a primeira e segunda interpretação.
A terceira, apesar de ainda encontrar resistência da parte de alguns teólogos pentecostais brasileiros, ocupa mais e mais os centros de formação dos pastores e teólogos assembléianos [2]. Essa última posição é fruto do amadurecimento acadêmico, da aproximação com as línguas originais e com a erudição bíblica protestante [3]. Os biblicistas pentecostais desta última escola não apenas aceitam a originalidade do logion mateano como também reconstroem o contexto original a partir do cenário vívido da narrativa e da língua aramaica.
Contudo, esta corrente admite, assim como as anteriores, que não é Pedro O fundamento da Igreja, mas Cristo, entretanto, avança na interpretação histórico-gramatical em relação às outras. A figura histórica de Pedro é interpretada de acordo com sua confissão, “homem-confessante”, em vez de em seu caráter e suposta posição no cristianismo primitivo, “homem-rocha”. Assim, mesmo que essa escola admita através da gramática e do contexto que a “pedra” de Mateus 16.18 seja a “pessoa-confessante” de Pedro, não admite a proeminência deste sobre os apóstolos e o senhorio petrino sobre a igreja. Esse personagem é interpretado como primus inter pares, assim como exige o macro contexto das Escrituras. Portanto, em cada uma das três correntes, aceita-se como fundamento inquestionável e inabalável que Cristo Jesus é o Edificador da igreja e a Rocha sob a qual a Igreja está fundada.
Alguns teólogos ortodoxos de várias tradições, no entanto, preferem ficar à margem da pesquisa historiográfica e tão-somente aceitar a inspiração verbal e plenária como fato e fim de toda controvérsia (Jo 16.13; 2 Tm 3.16; 1 Pe 1.12; 2 Pe 1.21). **
NOTAS
* Para uma discussão mais profunda, veja nossa mais nova obra: Igreja – Identidade e Símbolo, lançamento em maio de 2010, pela CPAD.
[1] Veja, por exemplo, a aproximação feita pelo teólogo pentecostal estadunidense Anthony D. Palma, com o método histórico-crítico, crítica da redação e histórico-salvífico inO Batismo no Espírito Santo e com fogo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, pp. 11, 28, 37, etc. Os teólogos pentecostais brasileiros ainda são mais reticentes com o método histórico-crítico do que os americanos.
[2] A referência exclusivamente aos teólogos assembléianos deve-se ao interesse cada vez mais crescente da denominação (AD) em desenvolver uma teologia mais acadêmica e crítica. O mesmo não ocorre com outros herdeiros do pentecostalismo clássico e muito menos com os neopentecostais. A editora oficial da denominação, CPAD, é a principal responsável por essa transformação à medida que publica obras de referência, como por exemplo, o excelente comentário exegético de autoria de renomados teólogos pentecostais estadunidenses modernos (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003).
[3] O Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento, editado pela CPAD em 2003, faz parte desta última escola.
O nome Jeremias, do hebraico “Yirmeyahu”, aparentemente significa “O Senhor Estabelece”. Segundo Archer, o nome do profeta se relaciona ao verbo “ramah” (lançar) e pode ser entendido no sentido de lançar alicerces [1]. A profecia de Jeremias projeta-se sobre o nome do seu autor, como afirma Ellisen, pois embora suas profecias fossem contestadas, eram Palavras divinas, sendo que o próprio título anuncia tal certeza [2].
Jeremias nasceu aproximadamente em 647 a.C., na cidade benjamita de Anatote, terra da família sacerdotal de Abiatar (1 Rs 2.26), localizada a 5 Km a nordeste de Jerusalém. Era filho de Hilquias, sacerdote no período da reforma do rei Josias e bisavô de Esdras (Ed 1.1).
Aproximadamente em 626 a.C., no décimo-terceiro ano de Josias, Jeremias iniciou o seu ministério profético quando ainda possuía cerca de vinte anos (1.6), muito embora fosse vocacionado à profeta desde o ventre materno (1.5).
Resistiu inicialmente o chamado profético, sua desculpa, segundo Willmington, era em razão de sua pouca idade [3], entretanto, Harrison acredita que, muito embora o termo usado possa significar “menino”, “criança”ou “adolescente” (Êx 2.6; 1 Sm 4.21), o termo hebraico quer dizer “jovem” ou “rapaz” [4].
Jeremias profetizou cerca de quase um século depois de Isaías [5], e ambos levaram mensagens de condenação ao reino de Judá em decorrência de seu pecado. Para entendermos um pouco da pessoa e da mensagem de Jeremias, podemos compará-lo com Isaías, como vários autores modernos têm feito.
Não contraiu matrimônio, pois fora proibido pelo Senhor como sinal à nação (16.2).
Durante cerca de 40 anos (627-586 a.C.) desenvolveu seu ministério profético na capital de Judá, Jerusalém, e por cerca de cinco anos ministrou no Egito (Jr 43-44). Durante o governo do piedoso rei Josias, cerca de trinta e um anos, Jeremias não sofreu qualquer tipo de perseguição, uma vez que mantinha estreitas e amistosas relações com o rei. Na morte do rei Josias, em Megido, Jeremias compôs uma elegia fúnebre (2 Cr 35.25).
Quanto ao caráter, Jeremias era meigo, humilde e introspectivo, mas recebeu da parte de Deus a incumbência de profetizar aos seus contemporâneos. Segundo Baxter, a figura do profeta impressiona pela perseverante paciência [id.ibid.].
Quanto ao público, o profeta Jeremias era impopular. Foi desprezado e perseguido pelos reis devido à mensagem grave de suas profecias contra a monarquia, os falsos profetas, os sacerdotes e contra os injustos. Foi acusado de traição, por ordenar, a mando do Senhor, que Judá se rendesse aos babilônicos. Contudo, nutria grande afeição pelo seu povo e todas essas lutas o aproximava cada vez mais de Deus. O livro de Jeremias revela algo de seus tocantes diálogos com o Senhor (11.18-23; 12.1-6; 15.1-21; 18.18-23; 20.1-18).
Ao que parece, o profeta Jeremias possuía certa condição financeira que possibilitava a compra da fazenda empenhorada de um parente falido.
Durante os quarenta anos em que profetizou teve pouquíssimos convertidos, e, mui provavelmente, além de seu amanuense Baruque, não tenha tido conhecimento de qualquer outra pessoa que tenha acreditado em suas profecias, a ponto de segui-lo.
As obras da pena de Jeremias, o livro que leva o seu nome, e Lamentações, não dizem qualquer coisa concernente a morte do profeta. Aqueles que se propõem a discursar sobre o tema, apenas apresentam a tradição que atesta a morte do profeta no Egito, outros na Babilônia por morte violenta, ou na tranquilidade de sua velhice, entretanto, não sabemos quais dessas tradições são as mais confiáveis. Porém, podemos citar Francisco que afirma: “o profeta morreu como viveu: de coração quebrantado, pregando a um povo irresponsável” [6].
Data e local em que o livro de Jeremias foi escrito
O livro foi escrito entre 627 a 580 a. C. O ministério de Jeremias teve início no reinado de Josias e prosseguiu em Jerusalém durante os 18 anos de reforma e os 22 anos de colapso nacional. Forçado a ir para o Egito com os rebeldes, profetizou ali 5 anos (44.8).
O que não pode passar desapercebido quando estudamos o livro do profeta, é que os fatos que constam neste escrito não estão em ordem cronológica. Os capítulos 35 e 36, por exemplo, são anteriores ao tempo do capítulo 31. Lembremos que o formato primitivo dos escritos do profeta Jeremias era o rolo. É provável que Jeremias e Baruque depois de escreverem uma mensagem, se lembrassem de outra que havia sido entregue antes daquela já registrada. Assim, era acrescentada uma nova mensagem à anterior. Essa mistura de mensagens novas e antigas torna difícil ao leitor saber qual a sequência certa em que foram entregues.
Contexto histórico e monárquico do livro de Jeremias
Jeremias profetizou cerca de um século após Isaías; seus contemporâneos foram: Sofonias e Habacuque (no começo) e Daniel (mais tarde).
Jeremias iniciou seu ministério profético no reinado de Josias, mas seu ofício perpassou o reinado dos últimos cinco reis de Judá (11-3): Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias. O fato de Jeremias relacionar-se com cinco dos reis de Judá, fornece a porção essencialmente histórica do seu livro. Vejamos um pouco do relacionamento de Jeremias com os cinco reis de Judá:
Josias
640 - 609 a.C.
Caps. 1-20
Jeremias mantinha relações cordiais com Josias e, ao que parece, o ajudou na sua política reformadora (2 Rs 23.1). O trecho de Jeremias 11.1-8, refere-se provavelmente ao seu entusiasmo em favor das reformas implementadas por Josias. Josias foi morto ao oferecer resistência ao Faraó Neco (610 - 594 a.C.). Jeremias lamentou profundamente a morte do rei-reformador de Judá (Jr 22.10).
Jeoacaz
609 a.C.
3 meses
Jeoacaz governou por apenas três meses e nada sabemos a respeito do relacionamento de Jeremias com esse rei. (Nada foi escrito em seu tempo).
Jeoaquim
609-597 a.C.
11 anos
Caps. 12.7; 13.27; 21; 25; 27; 28; 33; 35; 36; 45
Jeoaquim reinou de 608 a 597 a.C. e foi apenas um vassalo do poder egípcio. Esse rei destruiu as profecias escritas de Jeremias e também permitiu sua prisão pelos nobres. Chegou a propor a pena de morte a Jeremias (Jr 26.11). Mais tarde foi raptado e levado para o Egito por alguns judeus.
Joaquim
597 a.C.
3 meses
Caps. 13.18 ss; 20.24-30; 52.31-34
Joaquim sucedeu ao seu pai Jeoaquim no reino de Judá, mas colheu os péssimos frutos plantados pelos governantes anteriores. Tinha apenas dezoito anos de idade quando subiu aotrono, onde permaneceu apenas três meses. Joaquim foi levado para a Babilônia em decorrência do cativeiro (Jr 13.15-19), e libertado 36 anos mais tarde pelo filho e sucessor de Nabucodonosor (2 Rs 25.27-30).
Zedequias
597-587 a.C.
11 anos.
Caps. 24; 29; 37; 38; 51.59,60
Zedequias era o filho mais novo de Josias e foi o último rei de Judá. Governou por dez anos pagando tributos aos babilônicos e, quando deixou de pagá-los, firmou um acordo com o Egito. Nabucodonosor ficou furioso e enviou um exército para destruir a cidade de Jerusalém. Jeremias opôs-se à rebelião de Zedequias, e por causa do cumprimento de suas predições, foi acusado de favorecer ao inimigo e lançado na masmorra (Jr 27.1-22) [7].
Notas
1. Cf. ARCHER, Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 298.
2. ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento: esboços e gráficos interpretativos. São Paulo: Vida, 1991, p. 229.
3. WILLMINGTON, Harold L. Auxiliar bíblico portavoz. 5.ed., Grand Rapids: Editorial Portavoz, 1995, p. 223.
4. HARRISON, R.K. Jeremias e Lamentações: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1980, Série Cultura Bíblica, p.40. Cf. FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. 2. ed., Rio de Janeiro: JUERP, 1979, p. 173.
5. Cf. Preferimos definir por “quase um século” pela falta de concordância entre os autores, por exemplo, Champlin afirma que entre as profecias de Jeremias e Isaías há um intervalo de 60 anos; Baxter propõe 80 a 100 anos e outros autores seguem períodos distintos. Confira as bibliografias já citadas.
6. Cf. FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1979, p. 170.
7.Outros gráficos que resumem este aspecto histórico do livro do profeta Jeremias são: HARRISON, R. K. Jeremias e Lamentações: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1980, Série Cultura Bíblica, p.27; ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento: esboços e gráficos interpretativos. São Paulo: Vida, 1991, p. 236-7; Cf. ANGUS, Joseph. História, doutrinária e interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 2º volume, 1953, p. 113.