DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sábado, 21 de julho de 2012

Superando os Traumas da Violência Social


1. Argumentos para o tópico: A Violência Impera sobre a Terra

Para a maioria dos cristãos, a origem da violência está relacionada, inicialmente, ao problema do pecado e o pecado ao problema do mal. Os redatores de Lições Bíblicas corretamente inserem o tema dentro da perspectiva do livro de Gênesis, a Obra das Origens. Primeiro relacionam a violência ao pecado (Gn 3.4-25; 6.5; Rm 3.23), depois descrevem a multiplicação da violência no cenário humano com exemplos pré e pós-diluviano (Sl 14.1-3; Rm 3.10-18; Gn 6). Somente a seguir faz uma breve alusão à violência na sociedade moderna. Para clarificar esse primeiro tópico, considero necessário o professor destacar dois vocábulos hebraicos que apresentam a violência, o mal e o pecado como elementos indissociáveis embora possam ser distinguidos quanto a natureza. O primeiro deles é:

a)‘Āsôn, literalmente “dano”, “mal”, “prejuízo”, “ferimento”. O termo é traduzido por “desastre” (Gn 42.2, 8) e “dano” (Êx 21.22,23), e refere-se não apenas ao dano físico-congênito, mas também ao provocado ou procedente das catástrofes naturais. Neste aspecto, a violência, ou aquilo que provoca o mal, o dano, o prejuízo ou o ferimento tem uma origem natural, exterior, acidental, incontrolável e, por vezes, inevitável, como os tsunamis, furacões, terremotos, em fim, todo e qualquer tipo de catástrofe natural.

É claro que na sociedade hodierna muitos dessas calamidades já possuem certa participação humana, provocada pela ocupação desordenada, exploração de rapinagem das reservas hídricas, minerais, fósseis, etc. Para se evitar, na medida do possível tais males, é indispensável um planejamento urbano mais inteligente, o desenvolvimento sustentável e uma nova visão entre o relacionamento do homem com a natureza. Infelizmente a teologia positivista que apresenta o homem como “rei da criação”, “senhor do mundo criado”, em parte, foi responsável pelo sucateamento da criação. O homem não é rei, mas mordomo, administrador – sua relação com o mundo criado não deveria ser de explorador, mas cooperador.

b) Chāmās, literalmente “violência”, “mal”, “injustiça”. Embora o vocábulo seja usado cerca de 67 vezes, o contexto sempre se refere à violência física, psicológica, constrangimento. As modernas formas de violência, da física ao constrangimento, são incluídas aqui. Esta palavra tem sido assinalada com o sentido de “violência pecaminosa”; isto é, proposital, maligna, fruto da vileza humana em vez de uma ação espiritual ou catastrófica. Chāmās não se refere à violência das catástrofes naturais, muito menos às ocasionadas por desastres, mas a extrema impiedade provocada pelo indivíduo.

Essa é a violência por meio da tirania, do abuso da força e do poder, das guerras, conflitos étnico-religiosos e do moderno bullyings. Por meio dessa forma ímpia de violência os velhos, as crianças, os negros, os nordestinos, os índios, os indefesos, os pobres, todos têm sofrido às mãos de homens/mulheres vis. Essa forma de violência foi responsável pela destruição do povo pré-diluviano (Gn 6.11,13). E sem dúvida, prenuncia a destruição da geração presente. Nossa geração no mesmo instante em que está febril se decompõe moral, social e espiritualmente na violência extrema e impiedosa. Por todos os lados ouve-se, através da mídia, a respeito da violência praticada na sociedade.

Lembro-me que, ao evangelizar em uma comunidade (favela) no Rio de Janeiro, entreguei um folheto para um jovem que estava bebendo cerveja com os companheiros em um botequim. Enquanto o evangelizava, fui interrompido e o evangelizando disse-me: “ – Você salvou uma vida, e o preço que eu cobrei para tirá-la foi essa cerveja que estou bebendo”! Esses sintomas são o megafone divino que anuncia a aproximação da parousia e a crise de nossa sociedade.

A expressão cunhada pela filósofa política Hannah Arendt, "a banalidade do mal", mais uma vez reveste-se de contemporaneidade! Após discutir a respeito da complexidade da natureza humana, a mais importante aluna de Heidegger, abismada com as violentas mortes de seus compatriotas israelitas na Segunda Guerra, alerta para a necessidade de que cada homem evite e esteja atento à "banalidade do mal". Pessoas normais, assevera Arendt, à semelhança de Adolf Eichmann, são capazes de agirem com extrema crueldade!

c) Ra’. Segundo William White, a raiz deste termo tem conotação tanto passiva quanto ativa: “infortúnio”, “calamidade”, de um lado, e “perversidade” do outro. Pode ocorrer em contextos profanos, “ruim”, “repulsivo”, e em contextos morais, “mal”, “impiedade”. O termo, em seus diversos usos, designa as atividades contrárias à vontade de Deus. O Senhor rejeita o mal em qualquer sentido, seja ele físico, filosófico, moral ou metafísico. Nesse aspecto a fórmula técnica “fez o que é mal aos olhos do Senhor” (literalmente, “fazer mal aos olhos de Iavé”) está basicamente associada às deficiências morais dos indivíduos: “Os olhos do Senhor estão em todo lugar contemplando os maus e os bons” (Pv 15.3). Embora o mal moral seja inato ao indivíduo, ele não é a única opção. O bem contrasta com o mal, e mesmo que a natureza humana vil procure sempre aquilo que é mal “aos olhos do Senhor”, o bem deve ser o ideal pelo qual o homem aspira. Deus exortou ao povo de Israel a se desviar do mal, não somente isto, mas uma vez “entrado” nele, ordena ao povo que “saia” do turbilhão de maldade e regresse ao supremo bem: “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois que haveis de morrer, ó casa de Israel?” (Ez 33.11 cf. Dt 13.12; 2 Rs 17.13; 2 Cr 7.14; Zc 1.4).

Problematização. Sugestões para estudos e debates

  • Como a igreja deve falar de Deus em um mundo dominado pelo mal?
  • Por que Deus-Pai não criou um mundo sem a possibilidade do mal?
  • Por que Deus ordenou o genocídio cananeu?
  • Devemos atribuir todos os atos de violência à ação demoníaca? Qual a responsabilidade e o papel do humano nisto?
  • Existe relação entre mídia e violência? Como a violência é tratada peça mídia (mass media)?


2. Argumento: Violência um Problema de Todos

Maria Cecília de S. Minayo, do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública do Rio de Janeiro (Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (supl. 1): 07-18, 1994) classifica a violência em:

Violência Estrutural: Entende-se como aquela que oferece um marco à violência do comportamento e se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte.

Violência de Resistência: Constitui-se das diferentes formas de resposta dos grupos, classes, nações e indivíduos oprimidos à violência estrutural. Esta categoria de pensamento e ação geralmente não é “naturalizada”; pelo contrário, é objeto de contestação e repressão por parte dos detentores do poder político, econômico e/ou cultural. [...] Na realidade social, a violência e a justiça se encontram numa complexa unidade dialética e, segundo as circunstâncias, pode-se falar de uma violência que pisoteia a justiça ou de uma violência que restabelece e defende a justiça.

Violência da Delinquência: É aquela que se revela nas ações fora da lei socialmente reconhecida. A análise deste tipo de ação necessita passar pela compreensão da violência estrutural, que não só confronta os indivíduos uns com os outros, mas também os corrompe e impulsiona ao delito. A desigualdade, a alienação do trabalho e nas relações, o menosprezo de valores e normas em função do lucro, o consumismo, o culto à força e o machismo são alguns dos fatores que contribuem para a expansão da delinquência. Portanto, sadismos, seqüestros, guerras entre quadrilhas, delitos sob a ação do álcool e de drogas, roubos e furtos devem ser compreendidos dentro do marco referencial da violência estrutural, dentro de especificidades históricas.

Problematização. Sugestões para estudos e debates

  • Qual o papel da Igreja diante da violência na cidade ou bairro em que está inserida?
  • Como a Igreja resolve os problemas de violência na comunidade cristã local?
  • Quais formas de violência são observadas na igreja?
  • A quem deve o papel de ajudar na superação da violência (igreja, estado, escola)?
Boa Aula

sábado, 14 de julho de 2012

A Morte para o Verdadeiro Cristão



ROTEIRO DE ESTUDO
Título: A Morte para o Verdadeiro Cristão
Síntese
Texto Áureo: Sl 23.4. Leitura Bíblica em Classe: Jó 14.7-15
Verdade Prática: Para o crente, a morte não é o fim da vida, mas o início de uma plena, sublime e eterna comunhão com Deus.
Estrutura
Introdução
1. O que é a morte
1.1. Conceito.
1.2. O que as Escrituras dizem?
1.3. É a separação da alma do corpo.
2. A vida após a morte
2.1. O que diz o Antigo Testamento.
a) Sheol. b) A esperança da ressurreição.
2.2. O que diz o Novo Testamento.
3. Morte, o início da vida eterna
3.1. Esperança, apesar do luto.
3.2. A morte de Cristo e a certeza da vida eterna.
3.3. A morte: o desfrutar da vida eterna.
Conclusão
Questionário
O tema da morte perpassa toda a Escritura. Não é possível estudá-la desassociada da (1) Teologia da Criação, da Teologia da Vida. O homem foi criado por mediação (Gn 2.7a) e originação (Gn 2.7b). A influência dualista das filosofias platônica (dualismo antropológico) e cartesiana (interacionismo antropológico) foi responsável em dividir o homem em espírito e matéria, enquanto nas Escrituras ele é visto como ser integral. A pessoa humana é corpórea. A pessoa humana é espiritual. A corporeidade é tão própria do homem quanto a sua espiritualidade. O homem é um espírito com corpo; um espírito sozinho, descorporificado, não pode ser considerado homem. Os seres espirituais (rûach), tanto bons quanto maus, não são chamados “homem” (’ādhām), uma vez que lhes falta corporeidade (bāśār, Gn 6.17). Se é verdadeiro que o homem é pó, barro (‘āphār [poeira] Gn 3.19; Ec 3.20) seus antônimos “alma vivente” (nepheš, Gn 2.7) e “espírito” (rûach, Is 26.9) igualmente o são. É necessário ainda estudar o tema em sua estreita relação com (2) a Hamartiologia. De acordo com o registro de Gênesis (2.17; 3.22) e a interpretação paulina do relato (Rm 5.12; 1Co 15.21), a morte (mûth, Gn 3.4) é consequência do pecado (hamartia). Neste aspecto, a morte é tanto a cessação da vida biológica (Gn 6.3), quanto o banimento da presença de Deus (Gn 3.22-24), por isso, física (Gn 5.5) e espiritual (Gn 3.8-11 [o fato], 21 [ provisão], 22-24 [banimento] cf. Ef 2.1; Ap 3.1), podendo ser kairótica (Jo 5.24,25; 1Jo 5.12) e eterna (Mt 25.46; Ap 2.11; 20.6; 21.8). Importante é pesquisar o assunto de acordo com a (3) Teontologia. O Eterno não é Deus dos mortos, mas dos vivos (dzōē, Mt 22.32; Êx 3.6.15-16 cf. Js 3.10; Sl 42.2, ver Rm 14.9). Assim a morte biológica dos filhos de Deus não é o fim, mas o início de uma nova vida com Ele por meio da ressurreição de Cristo (Lc 23.43; Jo 14.1-2). Devemos salientar a (4) Doutrina da Vida Futura no AT e (4) Reino de Deus e Vida Futura no NT. No AT dois conceitos escatológicos perpassam todo conteúdo: o reino futuro de Deus na terra (escatologia da comunidade nacional), e o da vida futura do homem para além da morte (escatologia do indivíduo). O primeiro está relacionado ao propósito do Senhor com Israel e o segundo ao še’ōl como habitação dos mortos (Gn 37.35; 42.38; Nm 16.30,33; 1Sm 2.6, Is 14.9-11, neste aspecto também como “sepultura”, “inferno”) e, depois apenas como lugar de punição dos ímpios (Sl 9.17,18; 31.17,18; Is 57.9; Ez 31.15; 32.21,27). A esperança na vida para além da morte é mais claramente apresentada por Jó (17.13-16; 19.25-27). Contudo, à medida que a Teologia do AT desenvolvia-se, na transição do reino político para a assembleia do remanescente fiel, os teólogos hebreus perceberam que o destino do ímpio não será semelhante ao do justo: a justiça divina fará as devidas retribuições, distinguindo entre o fim dos justos e dos ímpios. O próprio salmista entende que o vale da sombra da morte (salmāweth, Sl 23.4) não é tão escuro e nada há o que temer (yārē’, Jó 38.17).
Esdras Bentho

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pergunta: Quem era Melquisedeque? Como entender esse personagem que a Bíblia diz ter existido "sem genealogia"?



Melquisedeque, personagem histórico citado como rei e sacerdote nas perícopes de Gênesis 14.18-20 e Salmos 110.4, é interpretado em Hebreus 5.6,10; 6.20 e 7.1-10 conforme os midrashim (comentários) hebraicos e os tipos bíblicos. 

No primeiro texto, Abraão encontra-se com Melquisedeque após a vitória contra quatro reis no campo de vitória. Melquisedeque, rei e sacerdote do Deus Altíssimo, cumprimentou Abraão e o abençoou, recebendo dele o dízimo de todos os despojos. Aqui os leitores judeus são convocados à reflexão a respeito da superioridade de Melquisedeque sobre o pai das bênçãos salvíficas e fundador da nação israelita, Abraão (Hb 7.4, 6-8). 

No segundo excerto, o Messias-Sacerdote procede de outra estirpe sacerdotal claramente oposta à levítica – a ordem de Melquisedeque. Nada é dito a respeito dos antepassados de Melquisedeque, de seu nascimento ou de sua morte (Hb 7.3). Ele é uma figura histórica, mas enigmática. 

Todavia, para o hagiógrafo não é tão importante os poucos fatos a respeito dessa figura misteriosa, mas o significado cristológico e salvífico que os relatos assumem. É inegável que o autor aos Hebreus tem como pressupostos, em sua exegese, a inspiração das Escrituras, a pessoa de Jesus como chave para a interpretação do Antigo Testamento (Lc 24.44), e o entendimento de que a história do povo eleito é fonte da revelação divina. 

A salvação, portanto, não é fuga da realidade e da temporalidade, mas realiza-se no plano histórico e cotidiano. Deus não somente se revela no plano religioso como também na esfera pública. Aprendemos com o anônimo autor, que as ações de Deus ultrapassavam os limites da religião judaica, assim como excedem as fronteiras do cristianismo contemporâneo. Abraão fora chamado de sua religiosidade para viver de conformidade com a revelação histórica. 

Recorre o escritor à etimologia do nome Melquisedeque para relacioná-lo imediatamente ao Messias, que também é chamado de “rei de justiça” e “rei de paz” (cp. Hb 7.2; Jr 23.6; Is 9.5). A seguir, interpreta, à maneira rabínica, os dois gestos em relação a Abraão: o dízimo recebido e a bênção dada ao patriarca (Hb 7.3-9), evidências da preeminência de Melquisedeque  sobre Abraão e seus descendentes, os levitas. 

Observe, no entanto, que não é Jesus que é feito à semelhança de Melquisedeque, mas este à semelhança de Cristo (v.3). O primeiro é o antítipo. O segundo o tipo. O tipo revela-se no Antigo Testamento, mas o antítipo em o Novo. Melquisedeque, assim como Adão, era “figura daquele que havia de vir” (Rm 5.14). Logo, os tipos são uma forma de profecia. A profecia consiste numa predição verbal, ao passo que o tipo é a predição feita pela correspondência entre duas realidades — o tipo e o antítipo. O tipo contém traços de predição, descrição e simbolismo. Ele antevê e chama atenção para o antítipo. O tipo é uma sombra que indica outra realidade (Cl 2.17). O tipo não é fantasia humana; ao contrário, responde ao programa da revelação estabelecida por Deus desde o princípio.

  • Esdras Costa Bentho é mestrando em Teologia pela PUC – RJ, pedagogo e autor das obras: Hermenêutica Fácil e Descomplicada e A Família no Antigo Testamento, ambos editados pela CPAD.
  • Publicado no jornal Mensageiro da Paz, maio 2012, coluna A Bíblia tem Resposta, p.17.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pergunta: Qual o significado da expressão registrada em 1 Coríntios 10.2: Todos foram batizados em Moisés na nuvem e no mar?



O texto de 1 Coríntios 10.2,“e todos foram batizados em Moisés na nuvem e no mar”, é parte da seção que se inicia no versículo 1 e termina no 13. Nessa perícope, Paulo faz uma aplicação moral da doutrina do capítulo 9, onde havia exortado a respeito da autodisciplina que o cristão deve exercer para não ser desqualificado (9.27, no grego adokimos, traduzido na ARC por “reprovado”), assim como o faz o atleta grego (vv.24-27). 

O capítulo 9, entretanto, integra os argumentos “a respeito das coisas sacrificadas aos ídolos” iniciados em 8.1 (perì dè tõn eidõlothýtõn). Observe que a partir do versículo 14 do capítulo 10, Paulo retoma o tema da idolatria: fugi da idolatria. Logo, o capítulo 8 descreve a doutrina; o 9 a explica com base na liberdade e disciplina cristãs; e o 10 a exemplifica e a conclui. Essa interessante construção argumentativa é chamada na exegese do Novo Testamento de argumentação simbulêutica

Definido assim a estrutura de nossa passagem, passemos rapidamente aos elementos textuais. Paulo emprega a fórmula costumeira “não desejo que sejais ignorantes” (v.1), a fim de chamar a atenção do leitor e introduzir um novo elemento à pregação, seja prático, seja afetivo ou histórico (cf. Rm 1.13; 11.25; 2Co 1.8; 1Ts 4.13). Não deixe escapar à vista a repetição proposital de “todos” (gr. pántes) nos versículos 1 a 4 – que descreve a participação de “todos” os israelitas na experiência salvífica do êxodo – e, da expressão negativa do versículo 5, “não se agradou da maior parte deles”; que aponta para o comportamento pecaminoso da “maior parte” na economia da salvação. A isto considere que a atitude negativa dos hebreus é condenada entre os cristãos por meio da fórmula “e não” (gr. medè), nos vv.7-10. Acrescente o fato de que Paulo esclarece que os eventos da história soteriológica dos israelitas servem como typos (v.6) ou prefigurações (typikõs, v.11) para a Igreja. 

A história tipológica de Israel, como afirmo na obra, Hermenêutica Fácil e Descomplicada (CPAD), assume duplo caráter: antecipar e advertir. Penso que agora estamos aptos para compreendermos a pergunta. A expressão usada por Paulo identifica a experiência israelita no êxodo como um tipo da prática cristã do Batismo e da Santa Ceia do Senhor, nossas duas principais Ordenanças (vv.14-21). A nuvem, o mar, o maná, a rocha e a figura de Moisés, elementos da epopeia israelita, são considerados na perspectiva da doutrina das Ordenanças cristãs. A passagem pelo mar Vermelho é tipo do batismo cristão; o maná e a água extraída da rocha são símbolos do pão e do suco da vide; a rocha é o próprio Cristo; o batismo dos israelitas em Moisés é figura do batismo dos fiéis em Cristo (vv. 1-4; cf.Rm 6.3; Gl 3.27). 

Assim, a libertação dos hebreus do Egito e a saga pelo deserto são experiências soteriológicas análogas, tipologicamente semelhantes, à experiência cristã do batismo e da Santa Ceia do Senhor. Lembre-se, portanto, que Paulo reconhece a veracidade dos fatos em Êxodo, mas emprega a exegese tipológica, o argumento moral e a anagogia para lograr êxito em sua exortação aos crentes coríntios. No primeiro, ensina em que e como se deve crer nos eventos passados. No segundo, explica como se deve viver diante desse esclarecimento. No terceiro, descreve o caminho de nossa união com Deus.

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



Related Posts with Thumbnails