O semantema [3] do vocábulo proorizo (pro), significa “prévio”; o verbo proorao quer dizer “ver previamente” (At 21.29), “prever” (At 2.31;Gl 3.8), “ver adiante de si; ter à frente dos olhos” (At 2.25). Proorizo traduz-se literalmente por “decidir previamente”, ou ainda, “predestinar” (At 4.28; Rm 8.29s; 1 Co 2.7; Ef 1.5,11)[4].
Fabris, traduz a expressão de Ef 1.5, por “Ele tinha estabelecido tornar-nos seus filhos”[5]. O vocábulo indica uma atividade ou um plano que foi feito antes de sua execução. Deus, por um ato livre de sua incomensurável bondade, determinou previamente que todos os que foram eleitos em Cristo, participassem da co-filiação com o Filho (Ef 1.5 [6]). Essa participação depende da posição do indivíduo em Cristo, e não independente dEle, pois a preposição genitiva diá, isto é, “por meio de” subordina o acusativo “adoção”, ao genitivo Jesus Cristo.
Portanto, em Cristo, fomos:
a) Escolhidos ou eleitos, “antes da fundação do mundo” - que equivale a dizer que a eleição se alicerça sobre a vontade divina, ou seja, é estabelecida segundo o projeto divino e não sobre o mérito humano, pois a escolha foi feita antes do tempo, na eternidade, a fim de sermos “santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1.4);
b) Predestinados para sermos filhos de adoção (adoção, filiação, herdeiro) – Deus estabeleceu previamente que todos os eleitos em Cristo seriam também filhos, gozando da mesma relação filial que possui o Primogênito, “modelo e fonte da filiação de todos os demais filhos” (Ef 1.5). Esta “predestinação filial”, não se baseia em qualquer ato e mérito humano, ao contrário, “segundo o beneplácito de sua [Deus] vontade”. Dois termos sinonímicos são combinados a fim de reforçar a posição de que a “predestinação filial” baseia-se unicamente num ato soberano de Deus: beneplácito (eudokian), pode ser traduzido por “boa vontade” (Fp 1.15; 2.13) ou “favor” (Mt 11.26; Lc 10.21; Ef 1.5) e, thelêmatos, que significa “vontade” (Mt 6.10; Ef 1.9), ou “desejo” (1 Co 7.37). O vocábulo boule é termo geral para designar os decretos de Deus, indicando o fato de que baseiam-se no propósito e desígnio do próprio Deus, isto é, ato deliberativo (At 2.23; 4.28). O termo thelema, entretanto, aplicada aos decretos de Deus, dá ênfase ao elemento volitivo em vez do deliberativo. O vocábulo eudokia, por outro lado, acentua, segundo Berkhof [7], “mais particularmente a liberdade do propósito de Deus”. Por conseguinte, a predestinação consiste no estabelecimento do propósito do próprio Deus. Origina-se do amor divino, sendo mediada pelo Senhor Jesus e, sua aplicação recai sobre aqueles que estão em Cristo. Somos, então, predestinados gratuitamente para o Senhor através de Cristo, segundo a vontade do próprio Deus e louvor da sua glória.
c) Redimidos e remidos dos nossos pecados. A terceira bênção concedida pela iniciativa de Deus em nos eleger em Cristo, é a redenção através do sangue de Cristo.
Natureza e Alcance dos Decretos Divinos
Os atributos de Deus classificam-se em transcendentes e imanentes. Os transcendentes pertencem a Deus como Espírito Infinito e Eterno, enquanto os imanentes, chamados também de morais, revelam-se no mundo moral e existencial. Enquanto os transcendentes caracterizam-se, em essência, naquilo que Deus é internamente e, por isso, incomunicáveis – apesar da obra da criação vir a existência através da ação de alguns destes – os imanentes, manifestam-se externamente no trato com as obras da criação, sobretudo, o homem. No que diz respeito a obra geral da criação, os decretos divinos estão relacionados com essa segunda ordem de atributos.
Continua...
Notas
[1] Ibid. p. 147
[2] Ibid., p.115
[3] é o elemento significativo da palavra, isto é, a raiz.
[4] Gingrich & Danker, Léxico do N.T. Grego/Potruguês
[5] As Cartas de Paulo (III), passim
[6] Fabris, p.151
[7] Teologia Sistemática, p.103
8 comentários:
Agora, meu irmão! Eu tive que copiar o outro post para poder ler. As letras estavam muito pequenas.
O conteúdo está excelente e, como sempre digo, está trazendo algo novo para nós.
Caro Esdras,
Parabéns pelas postagens recentes. O tema "Os decretos de Deus e a origem do mal" está sendo bem trabalhado. Aliás, os estudos e as reflexões deste blog são sempre preciosos.
Amplexos!
Caro Esdras:
Como sempre, suas intervenções são brilhantes e enriquecem o debate. Parabéns!
Aproveito o ensejo para lhe abraçar neste final de ano e lhe desejar, ao irmão e sua família, os melhores votos de um abençoado 2008, na certeza de que o Senhor conintuará a ser a razão suprema do nosso viver continuamente.
Deus lhe abençoe.
Pr. Esdras,
Essa série de posts sobre os Decretos de Deus e a origem do mal é uma verdadeira benção, uma fonte rica de estudo. Assim, salvá-los-ei para pesquisa.
No mais, aproveitando a oportunidade, agradeço a Deus por tê-lo conhecido nesse ano de 2007.
Assim, desejo a ti e a toda tua família um FELIZ NATAL em Cristo Jesus, e que em 2008 todos os seus propósitos sejam alcançados.
Em Cristo
Valmir
Caro pastor Esdras,
É sempre bom passar por aqui para apreciar a pontualidade exegética dos seus textos. Desejo ao irmão um bom final de ano e que 2008 revele um tempo em que o labor mais importante na nossa comunicação continue sendo a busca da afirmação dos nossos blogs como espaços de koinonia.
Um abraço
Pastor Esdras, um feliz 2008 e que no próximo ano o amado irmão possa continuar enriquecendo a blogosfera com suas análises exegéticas.
Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com
kharis kai eirene
Prezados irmãos e amigos muito obrigado pelas palavras motivacionais e pelas felicitações.
Continuaremos com o assunto, há muitas coisas para serem discutidas.
Feliz 2008 a todos!!!
Deus abençoe a todos!
Parabens muito bom seu Post,muito interesante!!!!Fik c paz d cristo!!!
Abs!
Faculdade Teológica
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