DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O medo adâmico

Introdução

O temor de Deus é o único temor que remove todos os outros. Com esta frase, Jay Adams sintetiza a verdade bíblica a respeito do medo [1]. Deus criou o homem perfeito, sem medo e sem culpa. Na criação primitiva do homem, havia completa harmonia entre espírito, alma e corpo. O homem era integral, inteiriço, sem qualquer transtorno espiritual, psíquico, emocional e fisiológico.

'Ĕlohîm criara o homem refletindo sua imagem e semelhança (Gn 1.27,28). Existia completa harmonia entre a imagem moral e natural. Todavia, essa conformidade entre a natureza moral e natural, entre espírito, alma e corpo, entre o espiritual e o somático foi interrompida pelo pecado.

Primeiro registro bíblico

O primeiro registro bíblico da palavra "medo", "temor" ou "pavor" acha-se em paralelo ao problema do mal moral, do pecado, da Queda, do pecado original. Diz a Bíblia: E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. (Gn 3.9,10). O medo, segundo o literato de Gênesis, é produto do pecado, ou melhor, da perda da comunhão com Deus. Não há medo quando o crente está na relação certa com o Criador! Enquanto Adão mantinha-se em harmonia e comunhão com Deus, nada o atemorizava. O medo não existia antes da Queda, mas assumiu o posto da emoção humana quando o homem foi suficientemente corajoso para desobedecer o mandamento divino!

O primeiro medo

O primeiro medo não foi o de pecar, de ouvir a serpente, ou o medo da morte, mas o de ouvir a suave voz de Deus: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. O pecado afetou tanto a comunhão com Deus, que o homem temera a voz de seu Criador. Quão diferente é o temor de Habacuque: Ouvi, Senhor, a tua palavra e temi (3.1). O temor do profeta o motiva a clamar ainda mais ao Senhor: aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira lembra-te da misericórdia. Na relação certa com Deus, o temor se torna em oração suplicante e intercessória.

Porém, rompida a comunhão com 'Ĕlohîm, o medo se torna em desespero e transferência de culpa: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi (Gn 3.12). O medo é desagregador, assim como o pecado. Faz com que o indivíduo desconfie do outro, que lhe é semelhante. Ao contrário do amor que não "suspeita mal ... [e] tudo crê" (1 Co 13.4-7), o medo desconfia das pessoas, suspeita mal até das boas ações.

O medo também impede o indivíduo de assumir suas responsabilidades e o seu papel como homem ou mulher. Adão, como cabeça de sua esposa, deveria protegê-la não apenas da tentação, mas também da responsabilidade da culpa. Pelo contrário, transferiu à mulher a responsabilidade da Queda. Nesse momento, Eva, provavelmente, sentiu-se desprotegida; seu marido, com medo das conseqüências do pecado, tenta, inutilmente transferir a culpa para ela. A tensão estava presente. A brisa suave cedera ao rubro das circunstâncias. Antes confiança, agora medo! Outrora afeto, agora desconfiança! O medo presente em todas as emoções humanas. Inutilmente transferiram a culpa à uma. Deus responsabilizou-os individualmente.

O medo adâmico o fez esquecer de suas responsabilidades e missão como chefe de família. Desesperado pela própria segurança, ninguém se preocupa com a do outro. É necessário altruísmo e alteridade para preocupar-se com o outro quando você sente o mesmo perigo. Adão esqueceu-se de sua mulher, quando se viu no mesmo perigo. O medo impede que a pessoa enfrente os seus problemas e as pessoas, pois se trata de uma auto-proteção, capaz de impedir que você se mova em direção ao outro. Já o amor é muito diferente. O amor aproxima você não apenas das pessoas, mas o faz encarar seu próprio problema e medo. Quantas mães, embora frágeis, já enfrentaram terríveis animais para livrar os seus filhos! O medo afugenta, mas o amor encoraja.

Termos Bíblicos

No Antigo Testamento. O primeiro termo para medo em Gênesis 3.10 é yārē', cujo significado é "temer", "ter medo", "ter grande temor", mas também "reverenciar". No original, a palavra é usada, segundo Vine, por volta de 330 vezes [2]. Este vocábulo, o mais comum no Antigo Testamento, é usado em cinco categorias: a) a emoção do medo; b) a previsão intelectual do mal; c) reverência ou respeito; d) comportamento íntegro ou piedade; e) adoração religiosa formal [3].

Um segundo termo em Gêneses 9.2 é chath, usado para descrever o "pavor", "medo" ou " o desmaiar de medo". Neste texto o medo é relacionado a um agente externo que causa pânico e temor. Este vocábulo é usado mais uma vez em Jó 41.33 para descrever que a coragem do leviatã, pois "foi feito para estar sem pavor" (ARC). Nada na terra se compara a coragem do leviatã, pois ao contrário dos outros animais, como ocorre em Gn 9.2, ele não teme o homem. De qualquer forma, apesar de outros vocábulos hebraicos serem usados para descrever a palavra medo, yārē' é a mais comum e transmite todo o conceito que o vocábulo possui em língua portuguesa. Um outro termo significativo é môrā' que aparece em Is 8.12 referindo-se ao medo externo: "não temais o seu temor", descrevendo um assombro externo.

Em o Novo Testamento. Nas páginas do Novo Testamento o principal termo para medo já é um velho conhecido da língua portuguesa: fobia, de phobos, "terror", "medo", "pânico", "susto"; phoberós, ou seja, "temível", "assustador". O uso do termo descreve várias reações da emoção humana, bem como diversas situações que amedrontam o homem, entre elas: o aparecimento de seres celestiais (Lc 1.12; 2.9); os eventos catastróficos futuros (Lc 21.26); o medo mais comum de todos, a morte (Hb 2.15); e até mesmo das autoridades (Rm 13.13).


NOTAS

[1] ADAMS, Jay E. O manual do conselheiro cristão. São Paulo: Editora Fiel, 1982, p. 378.

[2] VINE, W.E. (et al) Dicionário Vine. 7.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 301.

[3] HARRIS, R. Laird (et al). Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 655.

16 comentários:

Anônimo disse...

a paz do Senhor

os seus artigos enriquecem muito uma aula de escola dominical tenho sido muito abençoado por eles
espero que continue até a ultima lição.

Casamento Eduarda e Gutierres disse...

Pastor Esdras Bentho, a paz do Senhor!

Parabéns pela abordagem analítica sobre o medo adâmico. Gostei muito de suas analogias do amor x medo, sendo um assunto que nos leva a compreensão de I Jo 4.18.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Ademir Ferreira, muito obrigdo por suas palavras motivacionais. Faremos o possível para inserir alguns comentários, mas não posso garantir um comentário para cada lição em função de nossas outras atividades.

Um abraço

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Caro Gutierres, muito obrigado por sua participação. Sei que os debates em seu blog estão cada vez mais rubros, e mesmo assim, o amigo arruma um tempinho para deixar uma mensagem no Teologia com Graça.

Infelizmente, por falta de tempo, não consegui explorar um pouco mais a antítese entre medo e amor, conforme o texto-áureo da lição. Entretanto, ministrei o assunto no domingo pela manhã em nossa EBD, explorando principalmente o contraste entre o medo e o amor.
Segundo 1 João 4.18: "Quem muito ama, pouco teme; e o que muito teme pouco ama!"

Um abraço

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

A paz do Senhor, irmão Esdras.
Quem escreve é a irmã Fátima de Acreúna - GO, lhe conheci através da irmã nicinha no CAPED realizado aqui na igreja.
Irei ministrar aulas da disciplina Sociologia da Religião no curso de Teologia de nossa faculdade. Gostaria, se o irmão pudesse, me enviar por e-mail ou indicar algum material para que eu tenha acesso imediato ainda esta semana sobre o assunto, para complementar tal aula.

Desde já agradeço e aguardo sua resposta.

A paz do Senhor.

Maria de Fátima Soares

juberd2008 disse...

Pr. Esdras,

Seus artigos são como sempre, enriquecedores e com uma rica abordagem. Acredito que terei o prazer de conhecê-lo pessoalmente, pois entre os dias 16 a 18 de Agosto, o irmão estará ministrando junto com outros, no Seminário da Escola Dominical na minha igreja, em Uberlândia/MG.

Abraço.

Anônimo disse...

Artigo realmente enriquecedor e esclarecedor. Amei.

Passando para conhecer seu fantástico espaço e desejar uma linda terça feira e paz.

Graça e paz!

Edimar Suely
jesusminharocha.blig.ig.com.br

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Geziel, muito ob rigado pela confiança, pretendo responder o questionário, mas no momento estou muito ocupado com atividades acadêmicas e cuidando ded meu novo filho |Philipe que nasceu nestes dias. Assim que eu possa responderei o questionário.
Um abraço

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezada irmã Maria de Fátima, estou lendo hoje a sua mensagem (09/08/08), acredito que não seja mais possível enviar o material. Devo lembrá-la, contudo, que pouco posso ajudar neste momento, pois esta disciplina é complexa e a leitura apenas de materiais avulsos não ajuda muito muito. O caminho é ler mesmo a obra clássica de J. Wach, Sociologia da Religião ou O Sagrado de R. Otto. Talverz ler alguns textos de P. Tillich ajude.

Um abraço

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado irmão Juber, será uma alegria poder conhecê-lo pessoalmente! Hoje estou na Bahia, precisamente - Feira de Santana - e tive a oportunidade de conhecer alguns irmãos blogueiros.
Espero também conhecê-lo em breve.
Um abraço
Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Edimar Suely, muito obrigado por sua participação no Teologia com Graça. Esse espaço é dedicado ao estudo da teologia. "Sinta-se em casa!"

Um abraço
Esdras Bentho

Unknown disse...

A paz pr Esdras, obrigado pelo retorno, e parabéns pelo filho, quando puder nos atenda, desde de já muito obrigado.

Abraços

Anônimo disse...

Excelente e esclarecedor artigo!

Um abraço fraternal!!!

Anônimo disse...

A Paz do Senhor, Mestre.

Parabéns pelo nascimento de mais um herdeiro.

Estou precisando falar com o senhor com uma certa urgência.

Há...Publicou um artigo meu no "Ensinador Cristão".

UM ABRAÇO

MARNIX

Anônimo disse...

Parabens muito bom seu Post!!!!Fik c paz d cristo!!!
Abs!
Faculdade Teológica

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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