DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Igreja: Identidade e Símbolo


Prezados amigos da blogsfera cristã, neste post compartilho com vocês o texto introdutório de nossa mais recente obra: Igreja: Identidade e Símbolos, que será lançada pela CPAD ainda neste ano.

Grandes teólogos e biblicistas de nosso tempo escreveram a respeito da eclesiologia. Emil Brunner, Karl Barth e Jürgen Moltmann, por exemplo, deixaram letras lapidárias na história da doutrina da igreja cristã.

Brunner insistira que a essência da igreja neotestamentária era a comunhão do crente com Cristo, por meio da fé, e a fraternidade cristã no amor. O tom ácido da eclesiologia do teólogo dialético dirigia-se contra o “eclesiasticismo clerical”. Condenava ferreamente o clericalismo e a forma de poder e domínio advindos desta forma de governo cristão. Para o teólogo suíço, o Espírito Santo não cria cargos por meio dos quais o homem governa, mas serviços através dos quais o líder serve.

Outro teólogo dialético, Karl Barth, ocupou-se mais especificamente com o ministério da igreja no mundo. De acordo com Barth, a igreja efetua sua missão mediante a palavra e a ação. O primeiro termo desse binômio congrega a missão querigmática da igreja: pregação, catequese, evangelização, missões, teologia e adoração. O segundo concentra-se nas ações da igreja a favor da restauração completa do ser humano, como por exemplo, a diaconia, a intercessão, e a ação profética da igreja no mundo.

À semelhança de J. Moltmann, Barth acreditava que a igreja é a comunidade de Deus quando é comunidade para o mundo. O que justifica a existência da igreja no mundo é o cumprimento da missão que Deus a delegou para cumprir. Se a igreja não cumprir o mandato de Cristo, deixará de ser o seu corpo glorioso e tornar-se-á mera instituição. Se cumprir parcialmente sua missão, jamais desfrutará da essência de sua natureza e identidade.

Jürgen Moltmann, patrono da teologia da esperança e da teologia da cruz, justificara que a natureza e a função da igreja ocorrem no entrecruzamento de sua identidade com Cristo, na obediência à missão, na apostolocidade, e na práxis cristã nas áreas política, econômica, educacional e cultural. A igreja é agente de transformação espiritual e social.

Teólogos do quilate de A. Strong, Lewis Chafer, Stanley Horton, Charles Hodge, Wayne Grudem, entre outros ilustres brasileiros, já lapidaram a doutrina da igreja com tanta mestria que, talvez, não se justifique mais uma obra sobre eclesiologia.

Todavia, a obra que o leitor tem em mãos não é um tratado sistemático e histórico da eclesiologia. Igreja: Identidade e Símbolo é uma análise conscienciosa a respeito do termo ekklēsia nas páginas do Novo Testamento, com interface no texto hebraico do Antigo Testamento e do grego da Septuaginta. Trata-se de uma obra cujo objetivo não é substituir os manuais de eclesiologia, mas servir de leitura complementar aos estudantes de teologia interessados em conhecer o contexto, a semântica e o desenvolvimento do termo até os dias hodiernos.

O método usado e predominante nesta obra é o léxico-sintático, entretanto, quando necessário, empregamos alguns recursos do método histórico-crítico, a exegese e o Sitz im Leben Kirche (contexto vital da igreja).

Essa última abordagem iniciou-se mais concretamente com o exegeta germânico Hermann Gunkel quando aplicara aos estudos de Genesis e dos Salmos o método dos gêneros literários, Formgeschichte, ou Críticas das Formas. Nesta tarefa, além de classificar os Salmos em seus principais gêneros (hinos de louvor, lamentações nacionais, reais e messiânicos, lamentos individuais, ação de graças individuais, etc.), também inquiriu a respeito do contexto histórico, cultural e religioso do Saltério (Sitz im Leben), bem como do lugar dos salmos na vida do povo (Sitz im Volksleben).

A razão do emprego do método deve-se ao fato de que a criação de qualquer gênero literário pretende responder alguma situação específica do povo, ou ainda, atender certa necessidade da existência humana. Logo, o método é um excelente recurso ao estudo do vocabulário do Novo Testamento, pois vivifica o significado estático, gélido e impessoal dos vernáculos bíblicos.

Neste opúsculo despretensioso, também encontra-se implícito no texto algumas abordagens semióticas, baseadas na articulação entre as três camadas de sentido textual proposta pelos teóricos do discurso.

O primeiro é o semântico, que estuda as relações entre os termos e os diversos significados textuais. Nesta etapa verificamos o sentido, a morfologia intencional, e a significação, definido por Jacques Fontanille, como o “conteúdo de sentido atribuído a uma expressão a partir do momento em que essa expressão foi isolada (por segmentação) e que se verificou que esse conteúdo lhe é especificamente inerente (por comutação)”.[1]

O segundo é o sintático, etapa que procura compreender a estrutura do termo-chave e a relação semiológica deste com o restante do texto, da oração, da frase, ou do discurso. Busca-se compreender a função e disposição da palavra no texto e da oração no período.

O terceiro é o pragmático, que estuda o valor do signo no contexto do narrador e do leitor, bem como a forma como interpretamos e descrevemos os signos textuais. Perfazendo assim, três níveis de significação de um discurso de acordo com Algirdas J. Greimas: o fundamental, o narrativo e o discursivo.

Será evidente para aqueles que se aplicam ao estudo da semiologia que fitamos apenas alguns aspectos desses níveis da análise; não espere, por exemplo, encontrar o “quadrado semiótico” exemplificado. Porém, o leitor deve estar cônscio que ao adotarmos certos aspectos da semiologia neste estudo, não seguimos todos os pressupostos desenvolvidos pela filosofia estruturalista, principalmente quando esta nega os sujeitos e a referência extra-textual. O emprego da semiótica no estudo das Escrituras parte de minha percepção de que o futuro da hermenêutica bíblica está relacionado ao progresso dessa ciência.

Nosso objetivo ao articular esses métodos fora compreender o texto bíblico e o termo-chave de nossa pesquisa em sua dimensão lexical, cultural, bíblica e teológica com vistas à interpretação da identidade e natureza da ekklēsia neotestamentária.

Quanto à estrutura deste opúsculo, a obra está dividida em seis breves capítulos.

No primeiro, discutimos os diversos significados do termo ekklēsia no contexto secular e religioso, intermediando entre à compreensão clássica dos gregos em Homero e a religiosa dos judeus, através da Septuaginta, do Antigo Testamento, e dos livros apócrifos.

No segundo, descrevemos a distinção e relação entre a Igreja universal e a igreja local, acentuando-lhes o caráter pneumatológico e antropológico.

No terceiro, estudamos o vocábulo nas epístolas paulinas e nos Atos dos Apóstolos, com ênfase na identidade, natureza e símbolos das igrejas citadinas.

No quarto capítulo, nos ocupamos com a pesquisa do logion mateano de 16.18, incluindo uma breve pesquisa historiográfica desse perícope e sua interpretação entre os teólogos pentecostais.

No quinto, concentramo-nos nas epístolas joaninas, especificamente no problema de tradução e interpretação da identidade da igreja na segunda carta. Ousamos apresentar outra possibilidade, mas sem interesse em dogmatizar nosso ponto de vista.

No último capítulo, discutimos os vários sentidos de ekklēsia da modernidade à pós-modernidade.

Nossa sincera oração é que esta obra cumpra o propósito pela qual foi criada: atender as necessidades dos estudantes de teologia que desejam se aprofundar no sentido sincrônico e diacrônico de ekklēsia nas páginas do Novo Testamento e nos dias atuais.

Soli Deo Gloria

Esdras Costa Bentho

Inverno de 2009.


[1] FONTANILLE, J. Semiótica do discurso. São Paulo: Editora Contexto, 2007, p.31.

6 comentários:

Marcello de Oliveira disse...

shalom!

1. Nobre Pr "Ezra" desde já lhe parabenizo por tão excelente obra vinda de sua destra pena! Que o Eterno lhe alargue os horizontes!

2. O sr anda "sumido" do meu blog hein! Veja os dois novos textos:

As duas águias e os três ramos

Os 4 cânticos do Servo

abraços, Pr Marcello

P.s Se possível divulgue meu novo livro, que possui 20 exposições bíblicas, dentre as quais destaco:

Os títulos dos salmos

Sélah - o Misterioso sinal

Uma exegese do salmos 1

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado amigo, obrigado por suas calorosas e incentivadoras palavras. Estou um pouco sumido, pois estou fazendo pesquisas a respeito da Inserção da Criança na Educação Infantil. Trata-se de pesquisa quantitativa e qualitativa que exigem pesquisa de campo e análise de dados.
Isso dificulta bastante minha "presença" nos nos blogs.
Mas assim que puder farei uma visita.
Um abraço

ivair de oliveira disse...

Amado e querido pastor Esdra,a paz do Senhor Jesus.
Como sempre a cada dia que se passa´,mais inspirado você fica.Esse texto é muito bom e e grande edificação.
É bom quando se encontra homens comprometidos com Deus e sua palavra.Homens idoneos preparados para toda boa obra,e nisso eu vejo vecê.
Você é um homem de Deus e que a cada dia Deus derrame sobre sua vida o verdadeiro óleo da unção que é o Espírito Santo de Deus.Que a todo momento Deus venha lhe usar,para nos a graciar e nos presentiar com mensagens ungidas por Deus que estás na sua vida,pois O vemos pelas mensagens que você escreve.Eu tenho algumas salvas em meu PC,que são fonte de consultas em meus estudos e pregações,e o cito como fonte bibliográfico,pois honra pra quem tem honra e merece ser honrado.
Meu querido pastor e irmão em Cristo,eu gostaria se fosse pssível e não fosse incômodo para você me mandar por e-mail ou mesmo postando algo sobre a diferença do meditar no velho testamento e o meditar no novo testamento.
Isso com certesa seria uma enorme benção para mim e para muitos que gostaria de entender o verdadeiro sentido da palavra MEDITAR a luz das ecrituras.
Vindo de vecê então,umprofundo conhecedor das escriuras,queira eu ter um terço de quarto de um quinto da metade de um sxto do conhecimento que você tem,mas estou estudando.
Meu e-mail é:ivaird@hotmail.com
Uma grande abraço fraterno,no amor De Cristo.
Deus seja com sua vida.
SHALON ADONAY KARIS KAI EIRENE.

Elizeu Rodrigues disse...

Querido pr Esdras

Escrevo algo sobre igreja, do termo Ekklesia do NT. Como entendo que o termo, apesar de nunca tê-lo ouvido de alguém ou lê-lo em algum material de auxílio, trata-se "CHAMADOS PARA FORA" da RELIGIÃO. Jesus jamais veio fazer outra religião. Assim penso eu.

Fica na paz, pr

Unknown disse...

Pastor Esdras,

Estudar a Palavra é uma tarefa de veras estimulante. Quanto mais estudamos, mais descobrimos. Quanto mais rebuscamos, mais aprendemos. Quanto mais batemos, novas portas se abrem. O contante estudo da Palavra não nos torna repetitivos, e sim profundos. Posso dizer que a Bíblia é um compêndio finito de conteúdo infinito.

Uma nova obra sobre eclesiologia em língua portuguesa não será apenas muito bem vinda, mas ardentemente aguardada.

χάριϛ καὶ εἰρήνη

George Arrais
devocionaldominical.blogspot.com
twitter.com/hauvaiana

Déia Ribeiro disse...

Boa tarde,
Sou do Dep. de Marketing da Editora Mundo Cristão(entidade sem fins lucrativos) e estamos com o lançamento de uma bíblia desenvolvida exclusivamente para garotas pré-adolescentes, com conteúdo especial que as ajude a passar pela fase de transição que estão vivendo. Gostaria de verificar com você a possibilidade de que publique um artigo ou nota a respeito do nosso produto no seu blog, caso desejem envirei um texto pronto e imagens do produto.
E-mail: andreiaribeiro@mundocristao.com.br

Aguardo retorno.

Atenciosamente,

Andréia Ribeiro

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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