DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Metodologias de Ensino: uma análise crítica do fazer pedagógico na sala de aula


Resumo

Os métodos de ensino não são um fim, mas um meio pelo qual o professor logra alcançar os objetivos estabelecidos. O método, entretanto, por mais eficiente que possa parecer, não é mais importante do que o aluno. Ele deve ser empregado levando-se em consideração os paradigmas socioculturais e educacionais, os objetivos de ensino, a natureza do conteúdo, o nível do aluno, a natureza da aprendizagem, a realidade sociocultural do aluno, da escola e da comunidade em que estão adaptados. No uso dos métodos de ensino é indispensável que o professor conheça satisfatoriamente os conceitos teóricos que sustentam a metodologia empregada. Portanto, o melhor método de ensino sempre estará relacionado a esses conceitos e ao seu contexto fundante, bem como à relação dialética-dialógica entre o professor e o aluno.

Palavras-chave: método, procedimentos de ensino, Outro, olhar do formador.

Introdução

Ensinar, antes de tudo, é um ato mais reflexivo do que metódico. Um processo repleto de serpenteados, desvios e rupturas. Não se compara à marcha militar, mas ao borboletear alegre e colorido das festivas borboletas. O método dirige a aprendizagem por caminhos firmes, mas palmilhados, desarvorado e ermo até. O método não é um fim, mas um meio para atingir um epílogo que vai para além da fugacidade do ano letivo. O método passa, mas a relação professor/aluno permanece por toda vida.

1. Visa holística das Metodologias de Ensino

Peterossi e Fazenda com muita propriedade afirmaram que a “rigor não existe o método absoluto e eficiente”.[1] Todo método é uma trilha [2] e não um trilho sobre o qual o professor circula sem reflexão, transportando seus alunos à estação da Aprendizagem.

Não se usa um método absoluto e único em educação. Os processos que envolvem o ensino-aprendizagem, a educação e a formação do sujeito incluem, como asseverou Moura, “toda a teia de relações entre professor e alunos-alunos”, chamado pela autora de “metodologia de ensinagem”,

metodologia de ensinagem inclui muito mais do que a simples aplicação de uma técnica em determinado momento da prática pedagógica. Envolve toda a teia de relações entre professor e alunos-alunos que possibilita a realização do processo ensino-aprendizagem. Pressupõe a utilização de métodos, técnica de ensino, atividades e os diferentes recursos pedagógicos, ou como denomina Vygotsky os instrumentos psicológicos.[3]

O substantivo teia não se entende vulgarmente como aquilo que prende ou enreda, como pode considerar o leitor desatento pela fácil associação com o costume aracnídeo, mas a um conjunto de cadeias interconectadas e indissociáveis de relações entre os sujeitos. O sujeito como afirma Fernandes é

Constituído por diferentes vozes sociais, é marcado por intensa heterogeneidade e conflitos, espaços em que o desejo se inter-relaciona constitutivamente com o social e manifesta-se por meio da linguagem.[4]

Ensinar, portanto, é romper com a teia dos condicionamentos culturais e sociais. É pôr-se em movimento oposto à paralisia que se recusa à alteridade. É abrir-se ao colóquio dialético-dialógico.

Além de o professor conhecer a matéria a ser ensinada e os objetivos de ensino, Marques assevera que a consideração do professor em relação ao aluno é indispensável na escolha do método. De acordo com Marques “a escolha do método é determinada pela matéria a ser ensinada, pela maneira como o professor considera o aluno e pelos objetivos”.[5] Essa consideração necessariamente implica em um processo de desconstrução da visão míope que o professor tem de seu aluno.

Assim, para que o professor ensine, independente do método, é necessário que rompa, como afirmara Bakhtin, com as “fronteiras exteriores que configuram o homem”. [6] O olhar espacial do mestre, que configura o Outro[7] como mero recorte da realidade que o cerca, produz uma visão distorcida. Às vezes, encerra o sujeito no determinismo histórico e no fatalismo teleológico. As “fronteiras exteriores”, trata-se, segundo Bakhtin, de uma visão associada ao aspecto físico, transitório, circunstancial, metamórfico. Porém essa forma de “ver a outrem” se reduz na subjetividade do professor que, desatento, julga pela aparência fugaz, em constante mutação. Bakhtin salienta que

Apenas o outro pode, de maneira convincente, no plano estético (e ético), fazer-me viver o finito humano, sua materialidade empírica delimitada. Num mundo que me é exterior, o outro se oferece por inteiro à minha visão, enquanto elemento constitutivo deste mundo. A cada instante, vivo distintamente todas as fronteiras do outro, posso captá-lo por inteiro com a visão e o tato; vejo o traçado que lhe delimita a cabeça, o corpo contra o fundo do mundo exterior; no mundo exterior, o outro se mostra por inteiro à minha frente e minha visão pode esgotá-lo enquanto objeto entre os outros objetos, sem que nada venha ultrapassar o limite de sua configuração, venha romper sua unidade plástico-pictural, visível e tangível.[8]

Contudo, essa visão exteriorizada é reducionista, cega e incapaz de ir além do invólucro material que tanto “aproxima” como afasta o indivíduo do outro. Com este olhar, o professor apenas toca o aluno enquanto sujeito tátil, “objeto entre os outros objetos”, mas jamais lhe atinge a alma, o ser integral – emoção, vontade e intelecto. O docente que assim vê não é capaz de enxergar, uma vez que não fora educado a olhar além do invólucro da subjetividade.

Atenta ao olhar desagregador e reducionista do professor, Madalena Freira Welfort afirmara que “não fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos. Nosso olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira”.[9]

De acordo com a educadora é imprescindível que o professor eduque o seu próprio olhar; que deixe de ser míope e condicionado. Isto somente é possível se o próprio abandonar o “olhar cristalizado”, condicionado por uma cultura que desaprendeu a olhar com alteridade, compaixão e amor, no entanto, (des) aprendeu a ver o próximo como seu concorrente, rival. Esses estereótipos são formados culturalmente nas salas dos professores, nas reuniões docentes, nos corredores escolares, quando emitimos nossas flamejantes opiniões reducionistas a respeito de nossos alunos, rotulando-os com os estereótipos de uma sociedade excludente e competitiva, de dominadores e dominados. Da mesma forma o aluno em relação ao professor.

Percebe-se, portanto, que ensinar não é despejar conteúdos na mente do aluno e ignorar o seu coração e sua experiência de vida. O ensino realiza-se na relação dialógica entre professor e aluno, por meio de uma educação problematizadora que supere a contradição educador-educandos, como afirmava Paulo Freire.[10] Com essa mesma perspectiva afirmou Gramsci que “a relação entre o mestre e o aluno é uma relação ativa, de referências recíprocas, e portanto todo mestre é sempre aluno e todo aluno é mestre.”[11] Por conseguinte, o professor é um “guia amigável” da aprendizagem do aluno e, segundo Gramsci

a aprendizagem ocorre notadamente graças a um esforço espontâneo e autônomo do discente, e no qual o professor exerce apenas uma função de guia amigável, como ocorre ou deveria ocorrer na universidade. [12]

Diante do olhar que nega o Outro, qual método realmente eficaz?



[1] PETEROSSI, Helena. G.; FAZENDA, Ivani C.A. Anotações sobre metodologia e prática de ensino na escola de 1º grau. 3.ed., São Paulo: Edições Loyola, 1988, p.28.

[2] Etimologicamente, método de meta + o`do,j quer dizer “caminho a seguir”

[3] MOURA, T.M. de Melo. Metodologia do ensino superior: saberes e fazeres da/para a prática docente. 2 ed.rev. – Maceió;EDUFAL, 2009, p.24.

[4] FERNANDES, Cleudemar A. Análise do discurso: reflexões introdutórias. 2.ed., rev., atual. São Paulo: Editora Claraluz, 2008, p.35.

[5] MARQUES, Juracy C. A aula como processo. 2.ed., Brasília:Globo; Porto Alegre: INL, 1976, 149.

[6] BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p.57.

[7]Authier-Revuz refere-se ao Outro com inicial maiúscula em contraste com outro, que designa o exterior, o social constitutivo do sujeito, refere-se, segundo Fernandes, “ao desejo e sua manifestação pelo inconsciente, sob a forma de linguagem”. Ver FERNANDES, Cleudemar A. Análise do discurso: reflexões introdutórias. 2.ed., rev., atual. São Paulo: Editora Claraluz, 2008, p.31.

[8] Id.Ibid., p.57.

[9] WEFFORT, Madalena Freire (et. al.) Educando o olhar da observação. In: WEFFORT, Madalena Freire (et. al.) Observação, registro, reflexão. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997, p.10-36.

[10] FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.78-79.

[11] Apud ALVITE, M.M.Capelo. Didática e psicologia: crítica ao psicologismo na educação. 2.ed., São Paulo: Loyola, 1987, p. 23, Coleção “Educ-Ação” – 2.

[12] GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.124-125.

Um comentário:

Francisco Sulo disse...

Ótimo texto, pastor Esdras!

Sou professor e também compreendo que a relação professor/aluno vai para além da "educação bancária", termo que Paulo Freire utilizou para referir-se ao processo mecânico de "depositar" o saber na mente dos educandos, ignorando sua realidade social, econômica, política, psicológica, enfim, suas idiossincrasias e tudo o mais.

Aliás, o meu questionamento é: como a igreja deve lidar com o dilema "educação operada pelo Espírito Santo" e a educação que pode ser trabalhada levando-se em conta também cada aspecto do cristão que também é ser humano, inserido num contexto histórico cultural, social, econômico e político distinto.

Certa vez, na condição de superintendente de EBD, sugeri aos professores que a evasão poderia ser decorrente da nossa má formação, que não estaria alcançando os anseios de cada aluno, do ambiente de aprendizagem, da relação ou da utililidade do saber cristão no embate com o mundo, na contracultura, na ausência de sentido, etc. Fui ignorado, mas não esbravejei.

Enfim, estamos despreparados, acredito, para apologizar no mundo. O senhor lê Gramsci para subsidiar seu texto, mas o mesmo autor na biblioteca de muitos professores cristãos é um absurdo que não pode ser tolerado. E assim caminhamos sem elaborar uma sociologia cristã, uma pedagogia cristã, uma teoria política cristã, etc, ao mesmo tempo em que o mundo parece cada vez mais racional pela ótica do evolucionismo e materialismo para os jovens que não conseguem combater isso pelo que aprendem na EBD.

Temos uma grande missão pela frente.

A paz do Senhor!

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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