O TRABALHO NA PERSPECTIVA CRISTÃ
I- O TRABALHO (EC 2.17-24; 6.7)
1. Civilização industrial e o trabalho (Jr
22.3,13; Am 8.4-6; Tg 5.4). Na civilização industrial, o homem está a serviço do
sistema de produção e distribuição. O trabalho nessa perspectiva é uma
atividade racional que se propõe a produzir bens para o consumo, satisfação das
necessidades e felicidade do indivíduo, e progresso da civilização. Nesse
aspecto, é valorizada a pessoa que trabalha e a que tem capacidade de consumir
os bens produzidos. O ter vem à
frente do ser. As instituições da
sociedade industrial preparam e modelam o homem para fazer dele um
“trabalhador”. O interesse não está no homem, em sua completa humanização, mas
em sua capacidade de produzir e consumir cada vez mais. O indivíduo é preparado
para ser “trabalhador”, “consumidor” em vez de um ser pleno, realizado e
consciente. A exclusão social de um sem-número de pessoas, a situação
desumanizante de milhões de trabalhadores nos países de Terceiro Mundo, as
injustiças sociais e trabalhistas que lhes são cometidas, e o sucateamento das
reservas naturais atestam a crueldade e desumanização da qual os trabalhadores
e o mundo são vítimas.
2. Perspectivas
bíblica e humana (Gn 2.4-15, 19; 1.28). O conceito bíblico do trabalho é
muito distinto dos povos mesopotâmicos, e mais tarde também dos gregos. Na
epopeia de Atra-Hasis, por exemplo, o trabalho é um castigo imposto aos homens para
que os deuses inferiores sejam libertos dos sofrimentos advindos das atividades
extenuantes. Entre os gregos, Hesíodo
afirmava que no paraíso os seres humanos deviam viver, assim como os deuses,
livres de trabalho e labuta, pois a própria natureza proveria o necessário para
a subsistência do homem. Todavia, na ótica bíblica, o trabalho realizado pelo
homem reflete o exemplo do próprio Deus (Gn 2.1-3; Jo 5.17) e a efetivação do
mandato dele (Gn 2.15). No hebraico, o termo usado para
descrever a “obra” ou o “trabalho” de Deus (mela’khto)
em Gênesis 2.2 é o mesmo para falar do “serviço” ou “trabalho” de José (Gn
39.11). O homem trabalha no paraíso com um
propósito específico: “lavrar e o guardar” (Gn 2.5,15). O trabalho,
portanto, é um meio de o ser humano desenvolver sua criatividade,
potencialidade, transformar o mundo em cultura (“lavrar e guardar”) e realizar-se
como humano, na plena efetivação da imagem de Deus no homem (Gn 1.26-28). Não é
um modo de exploração dessas competências, mas do pleno aperfeiçoamento delas.
Mediante o trabalho, o homem administra responsavelmente o mundo criado por
Deus. O trabalho, contudo, deixa de ser lúdico para se transformar em peso
quando o homem afasta-se do caminho proposto pelo Senhor (Gn 3.19). Primeiramente, a Bíblia afirma a responsabilidade do homem em
cuidar do jardim (Gn 2.15), e somente depois, após o pecado e expulso do Éden,
do extenuante trabalho do “suor do rosto” (Gn 3.17-19). Assim, não é o trabalho
que é amaldiçoado, mas a terra: “Maldita é a terra por causa de ti” (Gn 3.17). Junto
ao trabalho, Deus estabeleceu o descanso (Gn 2.2; Hb 4.4; Êx 23.12; Ec 5.12) e
o direito de usufruir do fruto de suas mãos (Ec 3.13; 9.7-10). Afirmou certa vez Jó que “o homem nasce para o trabalho”
(5.7).
3. O trabalho em o Novo Testamento (Ef
6.5-9). Jesus
valorizou o trabalho, sendo ele próprio um carpinteiro (Mt 13.55; Mc 6.3). O
Deus encarnado assumiu a cultura e o trabalho como expressões de dignidade
humana e empregou diversas profissões de seu tempo como símbolos do Reino de
Deus (Mt 13). Seus apóstolos também eram trabalhadores (Mt 4.18-20; 9.9; 1Co
4.12) e ressaltaram a dignidade do trabalho (Rm 4.4; 1Co 9.6; 1Tm 5.18; 2Tm 2.6),
porquanto todo trabalho, sem exceção, tem a mesma dignidade. Contudo, combateram
aqueles que deixavam de trabalhar por causa da iminente Vinda de Cristo (1Ts
4.11; 2Ts 3.10-12), e os que faziam do evangelho
uma fonte de lucro, evitando assim, o trabalho braçal (1Tm 6.5). Ambos se eximiram de suas responsabilidades materiais
esperando com isso agradar a Deus, seja ao esperar o seu retorno iminente, seja
dedicando-se à pregação itinerante. Paulo, no entanto, repreende-os aberta e
severamente (1Ts 4.11; 2Ts 3.10).
II- ambiente de trabalho (Gl 5.22)
1. Ambiente de trabalho saudável. É no ambiente de
trabalho que se realiza boa parte das atividades profissionais. Independente de
qual seja a profissão e o lugar de trabalho, a pessoa passa mais tempo com os
demais profissionais do que com a própria família. Isto é suficiente para que
cada profissional se dedique a cultivar um ambiente de trabalho saudável, onde
seja possível a valorização do indivíduo, o respeito às diferenças, e a
solidariedade. A má qualidade no ambiente de trabalho é responsável por muitos
problemas: exclusão, isolamento, individualismo, estresse, frustrações, falta
de entusiasmo, desmotivações e improdutividade. Coisas que afetam a saúde
psicofísica da pessoa. É responsabilidade de todos
cultivar um ambiente de trabalho saudável!
2. Construindo
ambientes saudáveis (Rm 12.18; Mc 9.50; 1Pe 3.11). Infelizmente, a
construção de um ambiente de trabalho saudável não depende exclusivamente de
você. É responsabilidade de todos! Ele é construído na relação cotidiana dos
profissionais e não poucas vezes esbarram nos valores e interesses do outro, que são diferentes dos seus (Mt 5–7) e, às vezes, da
própria empresa. Todavia é necessário desenvolver uma relação de confiança, respeito,
cooperação, cordialidade, imparcialidade e solidariedade, sempre respeitando a
dignidade alheia e as diferenças (Rm 12.17-21; Pv 25.9-10).
3. Lidando com os conflitos (Pv 15.1,18;
Ec 4.4). Os
conflitos fazem parte das relações humanas e da vida em sociedade. Ele surge
todas as vezes que os interesses, opiniões e tendências de alguém do grupo são
incompatíveis com os do outro. É preciso que haja maturidade, paciência,
compreensão e rapidez das partes para resolver os conflitos, uma vez que eles
provocam rusgas nos relacionamentos e geram sentimentos negativos e
prejudiciais, tanto para o profissional quanto para a organização (Pv. 3.29;
27.9; Mt 5.22-25; Ef 4.26). As diferenças estarão
sempre presentes em qualquer ambiente de trabalho, os desacordos também. Não são
necessariamente as diferenças e os desacordos que afetam a harmonia no
trabalho, mas como o profissional lida nessas e com essas situações. A postura,
o tom de voz, o modo de falar e de se comportar devem refletir segurança e
maturidade quando tais situações surgirem. Os conflitos existem e podem
contribuir para a resolução de problemas e maturidade afetiva dos
profissionais.
III- OS
superiores NO TRABALHO (Ef 6.5-9)
1. Relacionamento equilibrado. No trabalho,
principalmente quando se está iniciando a carreira, o profissional ou aprendiz
precisa lidar com alguns superiores: diretor, chefe, gerente, encarregado,
outros. De modo geral, cria-se no ambiente de trabalho tanto uma relação
profissional quanto de amizade, sendo necessário distinguir a ambas. Seja,
portanto, diligente (Pv 22.29), humilde (Pv 25.6-7) de comunicação precisa (Pv
25.11), e trabalhando com satisfação (Ef 6.7). Não seja
bajulador, puxa-saco, mas saiba elogiar os colegas e chefes sem exagerar (Pv
15.23). O bajulador é o profissional que elogia exageradamente aos superiores
para obter algum benefício pessoal no ambiente de trabalho. Essa atitude pode
prejudicar a imagem profissional entre os colegas, mesmo que funcione com
certos chefes vaidosos. O bajulador procura manipular o outro e suas decisões
com elogios. Todavia, o elogio sincero demonstra a vontade do profissional de
estabelecer laços de confiança e reciprocidade (Sl 12.2; Pv 10.31; 12.6,18).
2. Obediência aos princípios divinos. A Bíblia ensina o
cristão à obediência de coração aos superiores (Rm 13.7), como se estivesse submetendo-se
ao próprio Cristo (Ef 6.5,7), porque esta é a vontade de Deus (Ef 6.6).
Dificilmente alguém crescerá em sua profissão tomando atitude de insubordinação
aos seus líderes. Estes, no entanto, devem liderar sem ameaças ou revanchismo,
sabendo que Deus não faz acepção de pessoas (Ef 6.8-9).
3. Relacionamento com chefe incompetente. Essa é uma
realidade em muitas profissões e empresas, lamentavelmente. O incompetente é inseguro,
desconfiado, imaturo e invejoso e, às vezes, de difícil relacionamento. O que
fazer? Procure trabalhar em parceria com ele; não o desonre; não comente as
falhas dele com outros; suporte resignado os agravos. O chefe incompetente pode
desestabilizar a equipe, colocar um contra o outro, abafar os talentos dos
profissionais e ser responsável pelo mal ambiente de trabalho.
Conclusão
O relacionamento
do cristão no trabalho deve ser impulsionado por uma atitude de temor e
obediência aos princípios da Palavra de Deus e de respeito e cooperação com os
colegas de profissão.
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