O termo teologia
origina-se do pensamento grego. O vocábulo é formado por dois substantivos, theós (qeo,j) e lógos (lo´´,goj), e significa um “discurso sobre Deus”. Os
primeiros teólogos entre os gregos foram os poetas, especialmente àqueles que,
como Hesíodo em sua Teogonia,
discursaram em verso e prosa a respeito da criação do mundo (mito cosmogônico)
e da gênese dos deuses gregos (mito teológico). Essa remota origem da palavra
esclarece algumas questões epistemológicas a respeito do saber teológico entre
os gregos.
Primeiro, a teologia era um discurso criativo que
procurava compreender o mistério que circunda o cosmos, a vida. Segundo, a
teologia era uma narração engenhosa que explicava a origem das divindades.
Terceiro, a teologia era uma narração contextualizada com a cultura e a vida,
que explicava o sucesso e o fracasso dos homens. Quarto, a teologia era um
saber que envolvia o conhecimento, os gêneros, os artifícios da genialidade e linguagem
humana. E, por último, a teologia era uma revelação mistagógica [1],
que conduzia o homem para dentro do mistério, da compreensão do símbolo, da
sacralidade do mundo, dando-lhe uma resposta a respeito do fim último.
Não existia, portanto, uma diferença entre teologia
e antropologia: Falar dos deuses implicava em discursar sobre os homens. Cedo
na história do pensamento grego, os teólogos poéticos souberam que o mundo dos deuses
(theoí) era distinto do universo dos
mortais (thanatoí), de tal modo que
os primeiros são imortais (athánatoi)
e bem-aventurados (eudaímones),
enquanto os homens são efêmeros (ephémeroi)
e infelizes (talaíporoi) [2].
A concepção grega de que a teo-logia é também uma anthropo-logia
foi apresentado pelo teólogo Rudolf Bultmann ao afirmar que “quando se pretende
falar de Deus, é preciso falar de si
próprio” [3]. Por conseguinte, tanto os gregos quanto os modernos
entenderam que, para saber “que é o homem”, é oportuno
interrogar-se a respeito de Deus. Para teologizar a respeito do homem e de
Deus, o totalmente Outro, Bultmann se fundamentará na antropologia heideggeriana.
Contudo, falar de Deus possui certos limites que entre outros inclui a própria
limitação humana. De acordo com ele
Falar de Deus como o totalmente
diferente faz sentido quando constatei que a verdadeira situação do homem é a
do pecador, que quer falar de Deus e não é capaz disso; que quer falar de sua
existência e também não é capaz. Teria que falar dela como a que é determinada
por Deus, e tem condições de falar dela como tal apenas como de uma pecaminosa,
ou seja, como de uma existência em que ele
não é capaz de ver Deus, diante da qual Deus se situa como o totalmente
diferente [4].
O conceito que se tem de Deus reflete na
explicação que se dá a respeito do homem. Heidegger entendia que o mundo é uma
conexão de coisas finitas criadas por Deus e somente a partir do conceito de
Deus é possível discutir e deduzir o que pertence ao ente na medida em que ele
é criação divina [5]. A origem do homem está em Deus e o sentido da
existência e da natureza real do ser humano encontra-se respectivamente nele. Neste
aspecto, tanto o teólogo quanto o especialista em qualquer ciência que tem o
homem como objeto deve considerar, como afirmou Andrés Queiruga, que “pelo
esquecimento de Deus, a própria criatura torna-se obscura”.6
O estudo da teo-logia conduz o teólogo necessariamente à pesquisa da antropologia-teológica, e vice-versa.
Esse movimento dialético somente é possível mediante a auto-revelação de um
Deus pessoal e de uma resposta-decisão da parte do homem, e se completa no
desprendimento encarnacional de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
Homem. Como afirma García Rubio
À diferença das religiões em geral, a
Boa Nova cristã proclama: não é o homem quem encontra a Deus mediante práticas
religiosas, mediante o esforço ascético ou qualquer outro tipo de “obras”, mas
é Deus quem assume a nossa existência, a nossa linguagem e a nossa história...O
texto de 2Co 8,9 ressalta, com muita simplicidade, este dinamismo do
desprendimento-encarnação (Jesus Cristo, muito rico, se fez pobre
voluntariamente)-serviço (para enriquecer-nos com sua pobreza) [7].
A teologia cristã entende, por conseguinte, que
somente é possível falar (lógos)
sobre Deus (theós) a partir da
revelação que Ele próprio faz de si mesmo e de suas obras ao homem. É Deus quem
se revela e se comunica com o homem e ao se revelar torna-se em parte
conhecido, em parte abscôndito. A revelação do nome de Deus a Moisés em Êx
3.13-15, por exemplo, tem elementos do mistério que circunda a manifestação que
Javé faz de si mesmo.
O Deus que se mostra, afirma P. Ricouer, é um
Deus escondido e a quem pertencem as coisas ocultas [8]. Deus se revela
por meio de um nome inominável! Se na
cultura judaica primitiva conhecer o nome de um personagem tornava-o disponível
ao talante do conhecedor; a revelação do Nome a Moisés demonstrava que o Senhor
não estaria à mercê da linguagem e disposição de seus adoradores. “Eu Sou” (Ehyéh asher ehyéh) não é um nome que
desvela sua natureza e essência incomunicável, mas que o coloca como o Deus da
Redenção do passado, do presente e do futuro. O que Ele é está oculto na
essência do que o Nome significa. Há, portanto, um segredo e uma comunicação,
um mistério e um desvelamento.
Notas
1. O termo
mistagogia procede do grego “mist”, que significa “mistério” e “agogia”,
“guiar,conduzir”. Mistagogia é conduzir o indivíduo para dentro do mistério.
2.VAZ, Henrique
C.L. Antropologia filosófica I. São
Paulo: Edições Loyola, 1991, p.28.
3. Grifo do próprio autor. Ver BULTMANN,
Rudolf. Crer e compreender: artigos selecionados. Rio Grande do Sul:
Editora Sinodal, 1987, p.50. É óbvio que o presente conceito não se deve
exclusivamente a Bultmann, mas o citamos como exemplo da teologia protestante.
4. Id. Ibid. p.52
5. HEIDEGGER, Martin. Introdução
à filosofia.
São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 264.
6.
QUEIRUGA, Andrés T. O Vaticano II e a teologia, in Alberto melloni; Christoph Théobald (orgs.) Vaticano II:
um futuro esquecido? CONCILIUM,
312-2005/4, Rio de Jneiro: Vozes, p. 24.
7.RUBIO, Alfonso G. Unidade na pluralidade: o ser humano à
luz da fé da reflexão cristãs. 4.ed., São Paulo: Paulus, 2011, p.19.
8. RICOEUR, Paul. Escritos e Conferências 2: hermenêutica. São Paulo: Edições Loyola,
2011, p.168.
4 comentários:
Olá, Pr. Esdras!
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Veja como é essa premiação e o motivo dela acessando o Belverede em http://belverede.blogspot.com.br/2012/11/belverede-recebe-premio-dardos-2012.html
Parabéns!
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Que Deus o abençoe!
Pastor Júlio Fonseca.
www.idagospel.com
Shalom!
Dr Esdras, quanto tempo meu amigo! Desejo-lhe as mais copiosas bençãos do Ribono Shel Olam.
Amado, o irmão teria alguma exegese sobre o batismo com o Espírito Santo? Podes me enviar algo sobre esta temática?
Grato, Pr Marcello de Oliveira
Les visito de El Salvador Centroamerica,desde mi blog www.creeenjesusyserassalvo.blogspot.com
COMPARTO MI TESTIMONIO PARA LA GLORIA DE DIOS.
RECIBAN MUCHISIMAS BENDICIONES DE NUESTRO PADRE CELESTIAL
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