DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

domingo, 30 de setembro de 2012

Teologia: Uma Leitura Antropológica



O termo teologia origina-se do pensamento grego. O vocábulo é formado por dois substantivos, theós (qeo,j) e lógos (lo´´,goj), e significa um “discurso sobre Deus”. Os primeiros teólogos entre os gregos foram os poetas, especialmente àqueles que, como Hesíodo em sua Teogonia, discursaram em verso e prosa a respeito da criação do mundo (mito cosmogônico) e da gênese dos deuses gregos (mito teológico). Essa remota origem da palavra esclarece algumas questões epistemológicas a respeito do saber teológico entre os gregos.

Primeiro, a teologia era um discurso criativo que procurava compreender o mistério que circunda o cosmos, a vida. Segundo, a teologia era uma narração engenhosa que explicava a origem das divindades. Terceiro, a teologia era uma narração contextualizada com a cultura e a vida, que explicava o sucesso e o fracasso dos homens. Quarto, a teologia era um saber que envolvia o conhecimento, os gêneros, os artifícios da genialidade e linguagem humana. E, por último, a teologia era uma revelação mistagógica [1], que conduzia o homem para dentro do mistério, da compreensão do símbolo, da sacralidade do mundo, dando-lhe uma resposta a respeito do fim último.

Não existia, portanto, uma diferença entre teologia e antropologia: Falar dos deuses implicava em discursar sobre os homens. Cedo na história do pensamento grego, os teólogos poéticos souberam que o mundo dos deuses (theoí) era distinto do universo dos mortais (thanatoí), de tal modo que os primeiros são imortais (athánatoi) e bem-aventurados (eudaímones), enquanto os homens são efêmeros (ephémeroi) e infelizes (talaíporoi) [2].

A concepção grega de que a teo-logia é também uma anthropo-logia foi apresentado pelo teólogo Rudolf Bultmann ao afirmar que “quando se pretende falar de Deus, é preciso falar de si próprio” [3]. Por conseguinte, tanto os gregos quanto os modernos entenderam que, para saber “que é o homem”, é oportuno interrogar-se a respeito de Deus. Para teologizar a respeito do homem e de Deus, o totalmente Outro, Bultmann se fundamentará na antropologia heideggeriana. Contudo, falar de Deus possui certos limites que entre outros inclui a própria limitação humana. De acordo com ele

Falar de Deus como o totalmente diferente faz sentido quando constatei que a verdadeira situação do homem é a do pecador, que quer falar de Deus e não é capaz disso; que quer falar de sua existência e também não é capaz. Teria que falar dela como a que é determinada por Deus, e tem condições de falar dela como tal apenas como de uma pecaminosa, ou seja, como de uma existência em que ele não é capaz de ver Deus, diante da qual Deus se situa como o totalmente diferente [4].

O conceito que se tem de Deus reflete na explicação que se dá a respeito do homem. Heidegger entendia que o mundo é uma conexão de coisas finitas criadas por Deus e somente a partir do conceito de Deus é possível discutir e deduzir o que pertence ao ente na medida em que ele é criação divina [5]. A origem do homem está em Deus e o sentido da existência e da natureza real do ser humano encontra-se respectivamente nele. Neste aspecto, tanto o teólogo quanto o especialista em qualquer ciência que tem o homem como objeto deve considerar, como afirmou Andrés Queiruga, que “pelo esquecimento de Deus, a própria criatura torna-se obscura”.6

O estudo da teo-logia conduz o teólogo necessariamente à pesquisa da antropologia-teológica, e vice-versa. Esse movimento dialético somente é possível mediante a auto-revelação de um Deus pessoal e de uma resposta-decisão da parte do homem, e se completa no desprendimento encarnacional de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Como afirma García Rubio

À diferença das religiões em geral, a Boa Nova cristã proclama: não é o homem quem encontra a Deus mediante práticas religiosas, mediante o esforço ascético ou qualquer outro tipo de “obras”, mas é Deus quem assume a nossa existência, a nossa linguagem e a nossa história...O texto de 2Co 8,9 ressalta, com muita simplicidade, este dinamismo do desprendimento-encarnação (Jesus Cristo, muito rico, se fez pobre voluntariamente)-serviço (para enriquecer-nos com sua pobreza) [7].

A teologia cristã entende, por conseguinte, que somente é possível falar (lógos) sobre Deus (theós) a partir da revelação que Ele próprio faz de si mesmo e de suas obras ao homem. É Deus quem se revela e se comunica com o homem e ao se revelar torna-se em parte conhecido, em parte abscôndito. A revelação do nome de Deus a Moisés em Êx 3.13-15, por exemplo, tem elementos do mistério que circunda a manifestação que Javé faz de si mesmo. 
O Deus que se mostra, afirma P. Ricouer, é um Deus escondido e a quem pertencem as coisas ocultas [8]. Deus se revela por meio de um nome inominável! Se na cultura judaica primitiva conhecer o nome de um personagem tornava-o disponível ao talante do conhecedor; a revelação do Nome a Moisés demonstrava que o Senhor não estaria à mercê da linguagem e disposição de seus adoradores. “Eu Sou” (Ehyéh asher ehyéh) não é um nome que desvela sua natureza e essência incomunicável, mas que o coloca como o Deus da Redenção do passado, do presente e do futuro. O que Ele é está oculto na essência do que o Nome significa. Há, portanto, um segredo e uma comunicação, um mistério e um desvelamento.

Notas
1. O termo mistagogia procede do grego “mist”, que significa “mistério” e “agogia”, “guiar,conduzir”. Mistagogia é conduzir o indivíduo para dentro do mistério.
2.VAZ, Henrique C.L. Antropologia filosófica I. São Paulo: Edições Loyola, 1991, p.28.
3. Grifo do próprio autor. Ver BULTMANN, Rudolf. Crer e compreender: artigos selecionados. Rio Grande do Sul: Editora Sinodal, 1987, p.50. É óbvio que o presente conceito não se deve exclusivamente a Bultmann, mas o citamos como exemplo da teologia protestante.
4. Id. Ibid. p.52
5. HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 264.
6. QUEIRUGA, Andrés T. O Vaticano II e a teologia, in Alberto melloni; Christoph Théobald (orgs.) Vaticano II: um futuro esquecido? CONCILIUM, 312-2005/4, Rio de Jneiro: Vozes, p. 24.
7.RUBIO, Alfonso G. Unidade na pluralidade: o ser humano à luz da fé da reflexão cristãs. 4.ed., São Paulo: Paulus, 2011, p.19.
8. RICOEUR, Paul. Escritos e Conferências 2: hermenêutica. São Paulo: Edições Loyola, 2011, p.168.
 


4 comentários:

Eliseu Antonio Gomes disse...

Olá, Pr. Esdras!

Você conhece o prêmio Dardos? Se ainda não, saiba que foi indicado para recebê-lo.

Veja como é essa premiação e o motivo dela acessando o Belverede em http://belverede.blogspot.com.br/2012/11/belverede-recebe-premio-dardos-2012.html

Parabéns!

Honras e glórias ao Senhor.

Pastor Julio Fonseca disse...

Graça e Paz da parte de nosso Senhor e Salvador Jesus.
Eu sou o Pastor Julio Fonseca, da Igreja de Deus no Brasil – Município de Anhanguera /Goiás. E com muita alegria que venho até o irmão propor uma parceria. Atualmente mantenho o site IDA GOSPEL – www.idagospel.com, e com a graça de Deus, estou atingindo a marca de 2.600 visualizações média diárias. Mais como meu intuito na internet é única e exclusivamente evangelizar, fiz aquilo que o Senhor me chamou a fazer, pregar a palavra de Deus, e com o conhecimento que adquiri nestes quase 5 anos de blogagem, crie um player que busca se assemelhar a uma mine igreja e um culto normal. Entre em meu site e veja o player.
O que gostaria de propor é uma parceria de divulgação, aonde peço que o irmão coloque o player do culto online, e como forma de gratidão estarei divulgando o endereço do seu blog na home Page da Ida Gospel.
Meu ministério e evangélico pentecostal se quiser ver alguns dos cultos realizado em minha igreja basta acessar esse link: http://www.youtube.com/user/sobanners?feature=mhee
Quais as vantagens de se ter o player do culto no blog:
• A experiência com o player tem sido excelente, inclusive com tempo maior de permanência na página dos leitores do blog.
• Não estamos na internet apenas para ganharmos notoriedade mais para evangelizar, e o culto online é uma destas formas.
• Você disponibiliza um recurso único direcionado especificamente para o seu público, o que agrega valor a todo o seu conteúdo.
• O culto é atualizado automaticamente toda semana, o que o torna dinâmico e interessante.
• O player foi desenvolvido para ser o mais simples e prático possível, qualquer internauta consegue utilizar todo seu potencial.
Espero poder contar com a ajuda do irmão na evangelização e levar a palavra a Deus a todos que por mais longe que estiverem possam ter acesso a um culto, por meio da internet.
Fico no aguardo. Entre em contato caso aceite através do email idagospel2@gmail.com.
Que Deus o abençoe!
Pastor Júlio Fonseca.
www.idagospel.com

Marcello de Oliveira disse...

Shalom!

Dr Esdras, quanto tempo meu amigo! Desejo-lhe as mais copiosas bençãos do Ribono Shel Olam.

Amado, o irmão teria alguma exegese sobre o batismo com o Espírito Santo? Podes me enviar algo sobre esta temática?

Grato, Pr Marcello de Oliveira

Noemi disse...

Les visito de El Salvador Centroamerica,desde mi blog www.creeenjesusyserassalvo.blogspot.com
COMPARTO MI TESTIMONIO PARA LA GLORIA DE DIOS.
RECIBAN MUCHISIMAS BENDICIONES DE NUESTRO PADRE CELESTIAL

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



Related Posts with Thumbnails