DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015






CASTILLO, J.M. Deus e a nossa felicidade. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
 
José Maria Castillo desestrutura a ontoteologia com sua análise arguta a respeito da revelação de Deus em Jesus Cristo. A partir da descontrução da verdade proposicional “Jesus é Deus” reorienta a cristologia e a teologia sobre Deus. A cristologia e a teologia são vistas de forma “descendente”. Ao contrário da leitura tradicional, em que Deus e Cristo são apresentados como divindades que transcendem o humano e a capacidade de compreendê-los, Castilho propõe a transcendência em “linha descendente”. 

A abordagem, convincente e arguta, propõe uma resposta à teodiceia, ao problema do mal, a partir da encarnação de Jesus, de sua mais completa humanidade. O autor critica as imagens que de Deus foram construídas na recepção da Revelação pelos homens, muitas delas expressas nas diversas confissões dogmáticas cristãs, e outras inseridas no imaginário popular pela interpretação que a sociedade fez dos “representantes” de Deus. Essas imagens distorcidas de Deus não apenas o põe como princípio explicativo de todo o mal existente no mundo, mas foram usadas para justificar atrocidades cometidas contra os fracos e indefesos. 

Mantendo a tônica do mistério que circunda o Desconhecido, mas sem mistificar o Transcendente, acentua com base em perícopes neotestamentárias a real compreensão da humanidade de Jesus pelos evangelistas e por aqueles que o acusaram de blasfêmia. A partir dessa leitura reconstrói o significado singular da humanidade de Jesus e o Deus que é revelado em sua humanidade. 
De modo inovador afirma que o Deus que é revelado em Jesus transcende a condição humana em linha descendente, numa humanização tão radical que chega aonde nenhum ser humano chegou, nem pode chegar. Assim, o homem tem um modelo de humanidade que não pode alcançar por si mesmo, mas necessita de um Referente Último. 

A humanização que transcende o humano é o ganho de um amor e solidade com o sofrimento que superam e desterram todo ódio. O Deus que foi dado a conhecer em Jesus é o Deus que, a partir do mistério da encarnação, não só diviniza o homem, mas igualmente se humaniza e se funde com o humano, até o extremo de dizer que tudo o que se faz ou deixa de fazer a qualquer ser humano, é a ele mesmo que se faz ou se deixa de fazer. Ou quem acolhe, escuta ou despreza qualquer pessoa deste mundo, é a Jesus, e definitivamente a Deus, a quem acolhe, escuta ou despreza. 

O Deus de Jesus é o Deus que se humaniza para que o ser humano supere a desumanização que o ameaça. A felicidade do ser humano assim entendida implica em três experiências fundamentais: do sentido da vida; da solidariedade com todos; e da alegria e do prazer compartilhados no amor. O Deus da ontoteologia está morto para Castillo!

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