CASTILLO, J.M. Deus e a nossa felicidade. São Paulo:
Edições Loyola, 2006.
José Maria Castillo desestrutura a ontoteologia com sua análise arguta a
respeito da revelação de Deus em Jesus Cristo. A partir da descontrução da
verdade proposicional “Jesus é Deus” reorienta a cristologia e a teologia sobre
Deus. A cristologia e a teologia são vistas de forma “descendente”. Ao contrário
da leitura tradicional, em que Deus e Cristo são apresentados como divindades
que transcendem o humano e a capacidade de compreendê-los, Castilho propõe a
transcendência em “linha descendente”.
A abordagem, convincente e arguta, propõe uma resposta à teodiceia, ao
problema do mal, a partir da encarnação de Jesus, de sua mais completa
humanidade. O autor critica as imagens que de Deus foram construídas na
recepção da Revelação pelos homens, muitas delas expressas nas diversas
confissões dogmáticas cristãs, e outras inseridas no imaginário popular pela
interpretação que a sociedade fez dos “representantes” de Deus. Essas imagens
distorcidas de Deus não apenas o põe como princípio explicativo de todo o mal
existente no mundo, mas foram usadas para justificar atrocidades cometidas
contra os fracos e indefesos.
Mantendo a tônica do mistério que circunda o Desconhecido, mas sem
mistificar o Transcendente, acentua com base em perícopes neotestamentárias a
real compreensão da humanidade de Jesus pelos evangelistas e por aqueles que o
acusaram de blasfêmia. A partir dessa leitura reconstrói o significado singular
da humanidade de Jesus e o Deus que é revelado em sua humanidade.
De modo inovador afirma que o Deus que é revelado em Jesus transcende a
condição humana em linha descendente,
numa humanização tão radical que
chega aonde nenhum ser humano chegou, nem pode chegar. Assim, o homem tem um
modelo de humanidade que não pode alcançar por si mesmo, mas necessita de um
Referente Último.
A humanização que transcende o humano é o ganho de um amor e solidade com o
sofrimento que superam e desterram todo ódio. O Deus que foi dado a conhecer em
Jesus é o Deus que, a partir do mistério da encarnação, não só diviniza o
homem, mas igualmente se humaniza e se funde com o humano, até o extremo de
dizer que tudo o que se faz ou deixa de fazer a qualquer ser humano, é a ele
mesmo que se faz ou se deixa de fazer. Ou quem acolhe, escuta ou despreza
qualquer pessoa deste mundo, é a Jesus, e definitivamente a Deus, a quem
acolhe, escuta ou despreza.
O Deus de Jesus é o Deus que se humaniza para que o ser humano supere a
desumanização que o ameaça. A felicidade do ser humano assim entendida implica
em três experiências fundamentais: do sentido da vida; da solidariedade com
todos; e da alegria e do prazer compartilhados no amor. O Deus da ontoteologia
está morto para Castillo!
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