DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Os Decretos Divinos e a Origem do Mal (VI)

Imagem extraída de: brunnodmontreall.spaces.live.com


O pecado tem sua origem no mundo angélico


O pecado já existia antes mesmo de se tornar uma realidade na experiência humana. O mal moral já havia afetado parte da hoste Angélica. A Bíblia não diz quando, mas afirma que ocorreu no princípio: “... porque o diabo vem pecando desde o princípio...” (1 Jo 3.8). A expressão ap’arkhês ho diábolos hamartánei, traduzido por “o Diabo vem pecando desde o princípio” (NVI); “o diabo é pecador desde o princípio” (TEB) ou “o diabo vive pecando desde o princípio” (ARA), denota que o pecado tem sua origem no plano metafísico.


O termo “princípio”(arkhês) não deve ser entendido como o “princípio da criação” ou a partir da queda do homem, trata-se da antiguidade do pecado, ou a partir do seu surgimento no mundo espiritual. Deus criou os anjos como seres pessoais e livres. Foram criados justos e santos até o dia em que se achou iniqüidade neles: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti” (Ez 28.15).


O tempo do termo grego hamartánei (presente do indicativo ativo), indica ação contínua, habitual ou costumeira, como se fizesse parte da natureza do ser. Logo, o diabo não só pecou (passado), ele peca (presente) e continuará a pecar (futuro). É provável que o apóstolo amado, João, esteja fazendo eco as palavras de Jesus registrada pelo próprio apóstolo em Jo 8.44: “...diabo...Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade...porque é mentiroso e pai da mentira”. Este, querubim, anteriormente justo e bom, degenerou-se tornando-se o pai da maldade e do caos. João em sua primeira epístola (2.13) refere-se ao diabo pela epítome “Maligno” (Cf. 1 Jo 3.12). Em 1 Jo 5. 18 o Presbítero o chama de “ho poneros, que é determinado pelo artigo masculino, não identificando apenas um ser qualquer que pratica a maldade, mas um ser pessoal já conhecido pela comunidade, sendo conhecido como “o Maligno” (Cf. Mt 13.19; Jo 17.15; Ef 6.16).


À luz destes textos compreendemos que o mal deve ser entendido não apenas no sentido natural, físico e moral, mas também como uma entidade pessoal. Esse título “Maligno” não se refere apenas ao caráter de Satanás, mas também à sua própria natureza maligna. O que provém dele não presta. O termo correspondente no hebraico (ra) quer dizer “maldade”, “mal”. O termo é usado em Gênesis 37.20 para designar um animal feroz ou perigoso. João usa o equivalente grego “poneros”, para afirmar que Satanás, a besta fera (Ap 13.2-4) não nos toca (1 Jo 5.18).


Entre os seus atos malignos encontramos: lança dardos inflamados contra os fiéis (Ef 6.16); enche os homens de sua maldade (Rm 1.29); introduz seus filhos entre os fiéis (Mt 13.18); e envia seus mensageiros para atormentar os homens (Lc 8.29;9.39,42).


O pecado neste ser foi o orgulho: “subirei ao Céu, acima das estrelas de Deus” e “serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.13,14). A raiz “lh” (“subir ou ascender” - adjetivo superlativo derivado do verbo subir) usada na declaração altiva de Satanás é a mesma para referir-se a ‘Elyôn (Altíssimo). Cada uma das afirmações “subirei, assentar-me-ei, subirei acima” é um trocadilho com o nome do Altíssimo. A criatura afirmava arrogantemente o desejo de ser semelhante ao seu Criador, através de um jogo de palavras (Is 14. 12-15).

O Problema Do Mal

O problema atual no estudo sobre o pecado prende-se em seu aspecto mais radical - a sua origem. Esboçar uma distinção entre algumas formas de mal pode ser útil ao estudo em apreço. Há diferenças essenciais entre o mal natural e físico, o mal moral, e o mal como entidade pessoal. Este último já analisamos sinteticamente no tópico anterior.

Continua...


NÃO SE ESQUEÇA: EM FEVEREIRO CURSO AVANAÇADO DE HERMENÊUTICA BÍBLICA E FILOSÓFICA.




9 comentários:

daladier.blogspot.com disse...

Postado no meu blog não só o comentário mas um post sobre o assunto, aliás, está bem divulgado em outros blogs também.
Se puder divulgue meu novo blog, no qual publico um livro sobre Jonas http://jonasolivro.blogspot.com. Estamos com ele todo pronto, mas vamos divulgar um capítulo após outro.

Anônimo disse...

Ótimo texto.

Mas, me diga: como pensar na corrupção do querubim da guarda ungido sem uma instigação externa da mesma? No kso de Adão (uso o substantivo para indicar a espécie humana), foi necessário um elemento insuflador do mal.

Outra pergunta: poderia Adão ter rebelado-se contra Deus sem a participação corruptora direta da antiga serpente?

Obs. Obrigado por ter visitado meu blog.

Abraços!!!

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene
Prezado Daladier, será uma satisfação divulgar o seu novo blog. Muito obrigado pela participação. Eu mesmo, já irei conferir o assunto. Certo pastor disse no púlpito que (não estou fazendo das palavras dele as minhas, apenas citando por curiosidade) quando chegarmos na Glória teríamos que nos desculpar com Jonas, pois ninguém é tão difamado quando ele entre os cristãos!!! Exageros à parte, irei conferir o texto.
Um abraço
Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Prezado Pr. Zwinglio, ter visitado o seu blog (http://www.przwinglio.blogspot.com) foi uma satisfação. Li o texto a respeito das mulheres no ministério, “A Apóstola Júnia”, e fiquei feliz com o rigor metodológico e a exegese crítica. Meus parabéns!

Quanto aos dois questionamentos feitos, uma resposta teológica não é apenas necessária quanto plausível. Porém, preciso respondê-las em três momentos. Estou com uma tendinite terrível que me impede de digitar longos textos sem pausas. Se o caro pastor permitir, gostaria de iniciar, considerando a interpretação a respeito da “identidade” do “querubim da guarda ungido” de Ezequiel 28.12-19. Há muitas interpretações conflitantes acerca da identificação deste “querubim” com Satanás. Tradicionalmente, desde Tertuliano, Orígenes, Jerônimo e Cirilo de Jerusalém (para citar alguns dos mais conhecidos), a exegese cristã tem identificado o citado como uma referência a Satanás, aliando a isso, o texto de Isaías 14.12-15. Teólogos modernos, do quilate de Walter Kaiser, por exemplo, assumem uma posição mais moderada, apesar de concordar com esta identificação. No entanto, outros, à semelhança do ortodoxo Gleason Archer, negam completamente essa possibilidade. A posição do intérprete, neste caso, define a exegese do texto. Se admitirmos a identificação, então temos diante de nós “uma revelação prévia, mas não tão esclarecedora a respeito do enigma da origem do mal”, entretanto, se o hermeneuta a nega, torna-se quase impossível discutir a origem do mal a partir desta perícope. Historicamente, como sabemos, o trecho é uma referência a Itobal II e o “príncipe” (28.2) e o “rei” (28.12) trata-se da mesma pessoa. Embora a hipérbole seja a linguagem adotada nalgumas descrições, o texto não trata a respeito de um mito – não há na literatura comparada do Antigo Oriente Próximo qualquer semelhança. Somos forçados, porém, pela urdidura do texto a considerar o sensus plenior, a relação entre inspiração e revelação e os aspectos históricos e culturais envolvidos.

Anônimo disse...

A Paz do Senhor, Pastor

Alguma chance do Senhor responder meu comentario abaixo, sobre Os Decretos Divinos e a Origem do Mal(4) ? rsrsrsr

Já Grato,

Joabe

Anônimo disse...

Estou a par das interpretações dadas ao texto q traz a terminologia "querubim da guarda ungido".

De fato, é uma referência q fas 'jus' às suas dificuldades interpretativas.

Apenas, gostaria de levantar a seguinte questão:

Visto -pelo menos até onde sei- q ñ há passagens paralelas onde o homem -espécie- é chamado de querubim, ñ seria mais cabível e menos, digamos, problemático, aceitar uma interpretação normal e objetiva sobre a que tipo de personalidade (angélica)
se refere o autor?

É evidente q pode-se levantar a questão das figuras de retórica...

Penso ser possível o autor estar usando o momento histórico para trazer à lume alguns detalhes da rebelião angélica, e isso de maneira consciente, com conhecimento explícito do q estava anotando, independente do contestável "sensus plenior".

Ou estou dizendo alguma bobagem?

Por fim, devo dizer-lhe q tenho muitas dificuldades com a aceitação do chamado "sentido mais completo"(Roy B. Zuck).

Tem mais: quero participar do curso de hermenêutica q vc irá oferecer em seu blog.

Abraços!!

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

1. Prezado Pr. Zwinglio, uma vez que o caro pastor já conhece às dificuldades inerentes ao texto analisado, poderíamos imediatamente tratar da pergunta principal. Entretanto, creio ser necessário, a guisa de introdução, e para facilitar os nossos blogueiros que ainda não discutiram o assunto com mais profundidade, continuar, em síntese, a explicar alguns dos elementos destacados na resposta anterior (o sensus plenior, a relação entre inspiração e revelação e os aspectos históricos e culturais envolvidos). Essas informações dirigem-se apenas aos nossos “blogueiros observadores”, uma vez que o irmão conhece, disso tenho absoluta certeza, os assuntos envolvidos. De fato, assumimos a mesma interpretação que o nobre amigo, só desejo explicá-la aos nossos irmãos.

2. O sensus plenior, literalmente, “significado pleno”, é a posição hermenêutica que admite que certos textos bíblicos possuem mais de uma referência, ou que o significado de certos textos são plenamente compreendidos quando são interpretados além do sentido histórico pretendido pelo autor humano. Embora alguns autores questionem, em função da imperícia de certos intérpretes e do equívoco de alguns professores que “forçam o sentido do texto”, este recurso hermenêutico, juntamente com os tipos, são elementos específicos da literatura bíblica – pois somente Deus, em sua soberania, pode assinalar uma pessoa, símbolo ou objeto como figura daquilo que ainda não é conhecido, mas que possui semelhanças irrefutáveis com aquilo/aquele que será manifestado ou que já se manifestou. No caso dos tipos, Melquisedeque (tipo) e Cristo (antítipo) e, no sensus plenior, a soberba, a glória e queda do rei de Tiro, Itubal II, revelam o mysterion a respeito da origem do mal. Sem o recurso do sensus plenior, acredito que perderíamos algumas particularidades do texto bíblico. Lembremos que muitos salmos davídicos possuíam um contexto histórico específico, situacional, e, no entanto, revelavam o sofrimento do Messias – os chamados salmos messiânicos. Estes, ao que parece, fazem parte do chamado sensus plenior – um sentido pretendido por Deus que está além dos objetivos do hagiógrafo. Este sentido está de acordo com a inspiração e a revelação bíblica.

3. Por meio da inspiração, tudo quanto o hagiógrafo (escritor sagrado) escreveu procede de Deus, sendo, portanto, inerrante, infalível, digno de crédito, irrefutável. Porém, na revelação, o profeta ou escritor sacro, recebe iluminação para a mente, capacidade para penetrar no incognoscível da história, a fim de revelar um conhecimento novo. Veja por exemplo a profecia de Miquéias a respeito do nascimento de Jesus em Belém de Judá. Muitos dos assuntos apontados pelo oráculo divino eram do conhecimento do profeta como observador e partícipe da história de seu povo, mas em determinado momento da profecia, Deus acrescenta ao cabedal de conhecimento do profeta: a informação do local do nascimento do Messias. (Estou deixando de discutir aqui as questões acadêmicas pertinentes ao significado/referente, significado/sentido, etc.) “Bom... e por aí vai...”. Assim sendo, a linguagem empregada para referir-se ao rei de Tiro, foge à forma comum, ao modo como a Bíblia especifica o indivíduo. Portanto, o texto em seu contexto tem uma aplicação e referência que vai além do agente histórico.

Continuo respondendo a questão fundamental: Como este querubim foi instigado ao pecado?

(Estou com tendinite e meu filho é quem está digitando o texto: sinceras escusas em não responder tudo imediatamente)

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene.

1. Prezado irmão Joabe, minha dificuldade em responder à sua pergunta, deve-se, em grande parte, de eu estar preparando o texto a respeito dos "Decretos Divinos e a Origem do Mal" e também de minha preocupação em atender as perguntas pertinentes ao assunto. Os blogs dos pastores Silas Daniel e Geremias do Couto abordaram o tema com muita propriedade, também o blog do Dr. Nicodemos, discutiu a matéria com maestria.

Porém, retorne ao capítulo IV dos Decretos Divinos para outras informações.

2. A respeito do livre arbítrio, os que o nega não podem sustentar essa premissa com base na filosofia, seja cristã seja secular, muito menos com base na experiência humana ou na Bíblia. Lembre-se, nenhum sistema moral será possível, a menos que o indivíduo seja considerado responsável pelas suas ações e decisões. Ninguém poderá ser julgado se não lhe foi dada escolha, e se agiu debaixo de pressão, vinda da parte de sua natureza perdida, por opressão do diabo ou por permissão de Deus.
O julgamento, em todas as sociedades humanas, baseia-se na premissa de que um homem poderia ter agido de outra maneira, se assim quisesse.

3. Se o prezado deseja discutir esse assunto além dos limítrofes aqui proposto, sugiro que leia um clássico a respeito do assunto: “O Livre Arbítrio” do renomado filósofo alemão ARTUR SCHOPENHAUER (1788-1860). Leitura indispensável para qualquer pensador e teólogo cristão que deseja discutir o assunto com mais propriedade. Há outra obras, mas cito apenas esta. Recomendo também a obra “Eleitos, mas livres” do apologeta N. Geisler, assim como a própria As Institutas, de João Calvino, comece pelo Livro I, Cap.II e (O Conhecimento do Homem e o Livre-Arbítrio), depois, o Livro/volume 4, Cap. XIV (Sobre a liberdade cristã), etc..

Um abraço

Esdras Bentho

Anônimo disse...

Parabens muito bom seu Post!!!!Fik c paz d cristo!!!
Abs!
Faculdade Teológica

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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