DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Rudolf Karl Bultmann: uma reflexão

1884-1976

O pensamento de Rudolf Bultmann, quer concordemos ou não com suas assertivas, ainda permanece vivo, seja por meio daqueles que abraçaram a teologia bultmanniana, seja através dos que vivem para combatê-la.

Recentemente, o Dr. Nicodemos, com a pujança literária que lhe é própria, usando um estilo semelhante ao de Luciano, criticou com veracidade e razão a concepção cristológica do teólogo de Marburg; concordo com meu conterrâneo nesse particular.

Não conheci pessoalmente a Bultmann. Meu primeiro contato com a teologia do insigne de Wiefelstede deu-se em julho de 1998 durante o período em que era aluno de hermenêutica do Dr. Esteven Kirschner, no Ceteol . Na memorável ocasião, precisava fazer uma resenha crítica do ensaio bultmanniano de 1957, Será possível a exegese livre de premissas? Para tal empreendimento li embevecido não apenas o texto em questão, como também o texto de 1950, O problema da Hermenêutica, no qual identifiquei a influência e dependência de Bultmann da metodologia das Geisteswissenschaften de Wilhelm Dilthey.

Foi o início de minha paixão e apreço pela hermenêutica e língua alemã, (embora a língua nunca tenha sido gentil comigo) incluindo Martin Heidegger (influência de meu professor Alexandre Carrasco, enquanto cursava no inverno de 1999 Filosofia da História - Univille), Gerhard Ebeling, e Hans-Georg Gadamer. Desde então, tornei-me ávido leitor e crítico da teologia do existencialista de Marburg.

Lendo os textos de Bultmann, senti-me desafiado! Suas concepções a respeito do milagre (Mirakel e Wunder) incomodam o teólogo pentecostal, bem como a “teologia da desmitologização” esvazia a essência teológica dos evangelhos e os preenche de existencialismo. Mesmo assim, senti-me mais privilegiado do que alguns amigos que estudaram em certo seminário cuja leitura dos textos de Bultmann era desestimulada ou quase proibida. Prefiro a perturbação do saber à ataraxia do não-saber! Contudo, não se engane, como afirmara um dos mais insignes teólogo metodista, Dr. B.P.Bittencourt (1969:15), “Bultmann é liberal, liberalíssimo”.

O leitor bultmanniano, ao que parece, reage à leitura: rejeitando o pensamento do autor; aceitando a teologia bultmanniana, ou então, inicia-se um diálogo-dialético com sua teologia. Acredite, a última opção é a melhor das duas primeiras.

Não concordo com a teologia da desmitologização que, segundo, P. Tillich (1999:232), deveria ser chamada de “desliteralização”. Trata-se, conforme minha opinião, de uma concepção equivocada tanto do conceito de mythos, quanto da linguagem teológica dos evangelhos.

Todavia, entendo que a desmitologização deve ser estudada – o que até o momento os estudos teológicos no Brasil têm dado nenhuma ou pouca importância – a partir do Denkweg, da Alētheia e do Mytho do Ser heideggerianos. Foi Heidegger quem estabeleceu modernamente o caminho da desmitologização daquilo que ele compreendia como “o mundo mítico das Escrituras”. A respeito disto escreveremos noutra ocasião.

Para encerrar, cito Bittencourt (1969:16 ) – este fora discípulo de Günther Bornkamm, que por sua vez era um ou o mais notável discípulo de Bultmann – que, a respeito de Bultmann registrou:

  • Há os que afirmam que, estudando Bultmann, perderam a fé, tornaram-se frios, tão frios quanto o tratamento dado ao material evangélico pelo grande teólogo de Marburg. Quando porém, vejo o grande varão de Deus, já quase nonagenário, de salva na mão, a levantar as ofertas no cuto de sua comunidade na velha igreja luterana de Marburg, fico a duvidar da sinceridade dos que o acusam de haver lhes destruído. E nem poderia sê-lo, pois ele, já quase nos umbrais eternos, continua fiel ao Senhor. Basta ler alguns dos seus sermões, (Weihnachten – Noite de Natal – por exemplo), para sentir-se o calor espiritual e a inspiração de sua mensagem.
Obs.: Veja neste mesmo blog outros textos a respeito de Bultmann.

Referências

BITTENCOURT, B.P. A forma dos evangelhos e a problemática dos sinóticos. São Paulo: Imprensa Metodista, 1969.

BULTMANN, R. Crer e compreender: artigos selecionados. São Leopoldo: Sinodal, 1987.
____ Milagre: princípios de interpretação do Novo Testamento. São Paulo: Novo Século, 2003.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Como Organizar o Evento Educacional da ED em 2010



Novembro, dezembro (2009) e janeiro (2010) são os meses em que as igrejas costumam elaborar suas atividades para o próximo ano. Entre as várias programações, os eventos relacionados à educação cristã, seja escola dominical, seja capacitação de obreiros, são especialmente importantes porque tratam da capacitação, aperfeiçoamento e preparação de ensinadores e obreiros para atuarem mais concretamente na missão educacional da igreja local.

Todavia, os organizadores precisam estar atentos para alguns elementos fundamentais, quais sejam:
1) Identificar a razão ou propósito do curso de aperfeiçoamento. Isto é, justificar sua importância e necessidade. Alguns eventos ocorrem sem que se conheça sua real importância e justificativa e, por conseguinte, torna-se mero evento no calendário das atividades anuais da igreja local. É importante que os articuladores estejam cônscios da real necessidade de se realizar mais um evento educacional.
2) Definir os objetivos gerais e específicos. É de bom alvitre que os organizadores estabeleçam os objetivos do evento. No objetivo geral se descreve o foco e propósito principal do evento, nos específicos, os diversos propósitos que, subordinados ao geral, especificam às várias áreas De abordagem do evento. Nos objetivos, geral e específicos, são delimitados a real abrangência e especificidade do evento.
3) Definir o público-alvo. É claro que todo evento congregacional destina-se à igreja em geral, entretanto, é preciso definir principalmente o público-alvo. Trata-se do público principal a qual o evento se destina. Nos eventos educacionais, geralmente o público-alvo são professores, superintendentes, candidatos ao professorado, seminaristas, etc. Isto posto, convida-se, principalmente, os professores da igreja local e, conseqüentemente, das congregações. Em vários eventos de Escola Dominical que tenho participado pelo Brasil, notamos não apenas a presença de cristãos de outras denominações como também de professores da rede pública e particular.
4) Definir os temas, geral e específicos, da conferência. O tema mais abrangente deve estar de acordo com o objetivo geral enquanto os mais demais temas aos objetivos específicos. É preciso ser muito cuidadoso! O tema precisa ser elaborado com elegância, mas sem pedantismo. Escrito em português escorreito e que comunique a visão educacional da equipe pedagógica ou organizacional responsável pelo evento. Os temas devem estar de acordo com a realidade da comunidade e dos professores. Evite tratar de assuntos que não estejam em sintonia com os objetivos gerais e específicos. Para obter algumas dicas de temas e saber como eles se relacionam com a estrutura organizacional do evento click aqui.
5) Definir os palestrantes. Essa etapa é muito importante. Um palestrante capaz, com formação e experiência na área a qual foi convidado a ensinar é um dos responsáveis pela satisfação dos professores e sucesso do evento. Às vezes, um bom conferencista, professor ou palestrante “cobre” certas deficiências organizacionais, noutras ocasiões, o sucesso do evento é medido pela capacidade ou insuficiência do professor convidado. Por isso, é importante escolher alguém com experiência na educação e formação de obreiros, com graduação teológica e pedagógica.
6) Solicite as cópia das disciplinas que serão ministradas durante o evento. É muito interessante quando o resumo, síntese ou palestra é distribuído para os participantes em forma de apostila, anais, ou livros. Isto permite que as idéias principais dos professores-conferencistas fiquem registradas para consulta posterior dos participantes do evento, além é claro, de valorizar a conferência. O material escrito também cumpre uma função didática muito importante e necessária aos eventos cujo foco principal é a educação. Solicite aos ministrantes que o texto esteja fundamentado teoricamente, com notas e referências bibliográficas.

7) Possibilite aos palestrantes os recursos didáticos necessários. Faz parte da gestão da conferência a organização dos recursos didáticos para serem usados no evento. Geralmente, os palestrantes levam seu computador pessoal com as apresentações das palestras, no entanto, sempre que possível, é melhor dispor tanto do computado quanto dos recursos didáticos.
8) Não faça o evento gratuitamente. Embora a conferência seja realizada pela e na igreja local, é sempre de bom alvitre cobrar uma pequena importância aos participantes do evento. Por incrível que pareça, as pessoas valorizam mais quando pagam para participar. Mesmo que a igreja ou Escola Dominical esteja disposta a assumir os custos do evento, cobre nem que seja uma taxa de adesão ou de inscrição.
9) Passagem, hospedagem e traslado dos professores. Caso os professores convidados para ministrarem na conferência não sejam da própria cidade, combine com eles a melhor forma de traslado (avião, ônibus, carro) para o evento. Faça reserva em algum hotel da cidade, e deixe alguém encarregado com o translado dos conferencistas para o local do evento. Evite hospedar os professores na casa de algum irmão, caso haja possibilidade de alocá-los em algum hotel. Os inconvenientes são muitos, tanto para os professores quanto para a casa hospedeira. De qualquer forma, não hospede os professores na casa de algum irmão sem antes combinar com ambos.
10) Combine antecipadamente a oferta dos palestrantes. Esse assunto é muito sensível, no entanto, necessário à organização do evento. Alguns palestrantes ofendem-se quando a igreja local lhe pergunta o “valor das despesas”. Outros já trabalham com preço fixo! Não importa a forma, combine antes para não haver surpresa. É justo que certa oferta seja dada aos palestrantes, no entanto, fuja daqueles que cobram um valor exorbitante da igreja. Infelizmente, muitas igrejas “pagam” uma fortuna para certos pregadores e cantores e, para os mestres, costumam apenas “ofertar”.
11) Faça a planilha de orçamento (cronograma físico-financeiro). Embora redundante, somos obrigados a dizer que todo evento educacional na igreja produz gastos que devem ser considerados “investimentos”. Na educação e formação de formadores não há gastos, mas investimentos. Por isso: a) elabore uma planilha de custos; b) descreva as formas de captação de recursos para a conferência; c) defina o valor ou taxa de inscrição; d) despesas com hotéis, traslado, refeições, etc.; e) gastos com propagandas, etc. Não seja surpreendido financeiramente. Daí decorre a necessidade de se organizar um curso pedagógico com antecedência.
12) Divulgação do evento. É imprescindível que o evento seja divulgado. Há muitas formas “acessíveis” de se divulgar com custo reduzido a conferência educacional da igreja local. Primeiro, façam vocês mesmos os cartazes e materiais de divulgação. Segundo, forme uma equipe responsável pela divulgação do evento. Terceiro use todos os recursos disponíveis (mala direta, e-mails, blogs, sites, etc.).
Seguindo essas regras básicas, o evento será um sucesso! Esperamos que essas “dicas” ajudem a igreja ou Escola Dominical a organizar seus eventos educacionais para o ano de 2010.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Céu Existe Verdadeiramente?

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Os homens preocupam-se tanto com os problemas, circunstâncias e prazeres da vida diária que não sobra tempo para pensarem aonde viverão após a morte. Muitos vivem setenta anos, alguns chegam até cem, sem interessar-se com a mais intrigante e importante questão da vida: Onde passarei a eternidade? Temos do nascimento até a morte para respondermos a essa pergunta, mas, infelizmente, a vida de alguns é ceifada tão repentinamente que não é possível respondê-la.
Nesta ensaio, estudaremos a respeito de um maravilhoso e lindo lugar preparado por Jesus para aqueles que dormem tendo-o como único e suficiente Salvador: o Céu.


I. DESCOBRINDO A VERDADE

1. Opiniões erradas a respeito do Céu.

O homem de nosso tempo defronta-se com muitas opiniões modernas a respeito do Céu. Uns afirmam que o céu é uma ilusão criada pela religião para atenuar o medo que as pessoas têm da morte. Alguns desses são os mesmos que dizem que a “religião é o ópio do povo”. Outros dizem que o céu é apenas o espaço infinito onde os astros se movem. Estes são os mesmos que acreditam apenas na razão, matéria e ciência. Um escritor renomado disse certa vez que o céu “é uma biblioteca infinita e o inferno é a ausência total de livros”. Muitos desses são os que inventam qualquer desculpa e palavreado de efeito para esconderem a descrença particular no Céu bíblico. Todavia, não são os filósofos, poetas e cientistas que têm a última palavra nesse assunto. Eles nunca estiveram no Céu e nem de lá desceram para afirmarem ou negarem a realidade do Céu. Portanto, como poderemos saber se o Céu existe verdadeiramente?

2. Os ensinos da Bíblia acerca do Céu.

Como você já sabe, a Bíblia Sagrada revela a vontade de Deus para os homens. Ela também descreve o Céu como um lugar real. Vejamos o ensino bíblico a respeito do Céu e o testemunho de pessoas que confirmam a existência desse maravilhoso lugar.

a) Jesus Cristo. Cristo é o único que tem autoridade para afirmar se o Céu existe ou não. Ele afirmou que “ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu” (João 3.13). Noutro texto disse: “eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6.38). Ainda no mesmo capítulo Jesus afirmou: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre” (6.51). Sabemos que o Céu existe porque Jesus o disse. Jesus é Deus, logo devemos crer no que Ele ensinou acerca do Céu. Para o Senhor Jesus o Céu é um lugar real. Portanto o Céu, de acordo com o ensino de Jesus, é o lar eterno e definitivo daqueles que o amam e o servem.

b) Paulo de Tarso. Paulo de Tarso era um judeu inimigo dos cristãos que se converteu alguns anos após a ressurreição de Jesus. Ele tornou-se apóstolo, escritor e pregador do evangelho. Numa das suas cartas, enviada para os crentes da cidade de Corinto, ele descreveu alguns de seus sofrimentos por amor a Jesus (2 Coríntios 11. 23-33). Em certos momentos, Paulo chegou bem próximo da morte (Atos 14.19). Todavia, o apóstolo relatou que em certa ocasião, num desses terríveis sofrimentos, ele foi ao Céu e ouviu e viu coisas que é impossível descrever com palavras humanas (2 Coríntios 12.1-10). Ele “foi arrebatado até ao terceiro Céu”, e o descreveu como o “paraíso”. De acordo com Paulo, o Céu é o Paraíso dos salvos em Jesus. Ele estava tão convicto da existência do Céu, o lugar dos que amam a Jesus, que disse: “Quero deixar esta vida e estar com Cristo [no Céu], o que é bem melhor” (Filipenses 1.23).

c) João, o apóstolo do Senhor. João foi um dos Doze Apóstolos do Senhor Jesus. Por amar ao Senhor foi preso na ilha de Patmos, pelo imperador Domiciano (98 d.C.). Nesta ilha, Deus revelou a João muitos eventos que ainda ocorrerão. Estas revelações estão escritas no livro de Apocalipse, último livro do Novo Testamento. João descreveu, assim como Paulo, o Céu como “o paraíso de Deus” (Apocalipse 2.7). Diferente de Paulo, que nada pode falar do que viu no Céu, João relatou tudo o que presenciou: o Trono de Deus, toda beleza celestial, e uma multidão de crentes de todas as nações que estavam vestidos de vestes brancas diante de Jesus (Apocalipse 4; 5.9). Portanto, o Céu é um lugar real, preparado para aqueles que amam ao Senhor Jesus.

II. COMPREENDENDO A VERDADE
Por meio do testemunho de Jesus, de Paulo e de João aprendemos que o Céu é um lugar real. Agora, compreenderemos seis verdades a respeito do Céu.

1ª Verdade: O Céu foi criado por Deus. A Bíblia tanto afirma que o Céu foi criado por Deus como também que o Céu é habitação do Senhor e dos anjos (Salmos 121.2; 124.8; 139.8). Ao ensinar os discípulos como orar, o Senhor Jesus afirmou que Deus está no Céu: “Pai nosso, que estás nos céus” (Mateus 6.9; 22.30; João 14.1-3). Assim, precisamos esclarecer que a Bíblia descreve três céus: o que está acima de nós, ou a atmosfera da terra (Mateus 6.26), o espaço onde estão os astros (Mateus 24.29) e o “paraíso” ou “terceiro céu” (2 Coríntios 12.2,4), que é a morada de Deus e dos anjos.

2ª Verdade: O Céu é um lugar de bem-aventurança para os crentes (João 14.2,3). O primeiro registro dessa verdade está em Gênesis 5.24. A Bíblia afirma que Enoque, um homem santo do Antigo Testamento, foi levado por Deus para o Céu. Em 2 Reis 2.11 também está escrito que Elias, um profeta de Deus, “subiu ao céu” milagrosamente. Um fato muito conhecido é o do ladrão que foi crucificado ao lado de Jesus. O Senhor disse-lhe: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23.43). O Céu é também uma demonstração do amor de Deus por você. Deus o ama, por isso criou o Céu para que você viva eternamente com Ele.

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3ª Verdade: O Céu é um lugar de alegria e adoração a Deus. De acordo com a Bíblia, no Céu não haverá qualquer tipo de tristeza, doença e morte. Em Apocalipse 21.4 lemos que “Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, pranto, nem clamor, nem dor”. Portanto, o Céu é um lugar de eterna alegria e adoração a Deus (Apocalipse 4.8-11). Hoje nossos corpos são afetados por muitas doenças e fraquezas, e com isto ficamos tristes e Adicionar vídeodesanimados. Todavia no Céu receberemos um corpo especial, incorruptível. Nunca ficaremos doentes, fracos ou tristes porque seremos semelhantes aos anjos do Céu (Lucas 20.35,36).

4ª Verdade: No Céu receberemos um Corpo Perfeito e Imortal. A Bíblia declara que no Céu receberemos da parte de Jesus um novo corpo. Deus transformará o nosso corpo mortal em corpo imortal, incorruptível e glorioso (Filipense 3.21; 1 Coríntios 15.51-53). Nossos corpos jamais se definharão e, assim, estaremos para sempre com o Senhor (Lucas 20.35,36).

5ª Verdade: O Céu é uma Santa e Perfeita Habitação. O Céu é um lugar que Deus preparou para aqueles que se tornaram santos quando aceitam a Jesus como seu único Salvador. O pecador, entretanto, não entrará no Céu, pois a Bíblia diz que não entrará “coisa alguma que contamine e cometa abominação e mentira, mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Apocalipse 21.27). Para morar no Céu é necessário que você se arrependa de seus pecados e aceite a Jesus como Salvador pessoal.

6ª Verdade: O Céu é um lugar onde os crentes servirão eternamente a Jesus. Não estaremos ociosos no Céu, muito pelo contrário. Conforme a Bíblia, serviremos a Deus e a Jesus, assim como os anjos servem (Apocalipse 22.3). Hoje servimos a Deus, mas nossa limitação impede-nos de servi-lo de modo mais amplo. Porém, no Céu estaremos revestidos de imortalidade e perfeição para oferecermos a Deus um serviço perfeito. Não desejas ir para este lugar maravilhoso? O que você deve fazer para viver eternamente no Céu?


III. APLICAND A VERDADE
Certa vez uma senhora que não acreditava na existência do Céu e nem do inferno perguntou a um pastor: “ -Qual o caminho para o inferno?” O pastor respondeu: “ - Eu não sei. Mas lhe garanto que, se a senhora continuar seguindo o seu próprio caminho facilmente chegará lá”.

A pergunta inversa também é oportuna: “Qual o caminho para o Céu?”. Na Bíblia encontramos resposta para as duas perguntas. Em Mateus 7.13,14 Jesus ensinou a respeito desses dois caminhos. Ele disse: “Entrem pela porta estreita porque a porta larga e o caminho fácil levam para o inferno, e há muitas pessoas que andam por esse caminho. A porta estreita e o caminho difícil levam para a vida [Céu], e poucas pessoas encontram esse caminho” (TNLH). A porta estreita e o caminho difícil representam o próprio Jesus. Ele declarou: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo” (João 10.9 TNLH). Noutra ocasião disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim” (João 14.6 TNLH).

sábado, 5 de dezembro de 2009

Pneumagiologia no Evangelho de Lucas




Na vida dos personagens do Evangelho

Além da cristologia apresentada por Lucas, ele dá uma especial proeminência a doutrina do Espírito Santo, isto mais do que Mateus e Marcos adicionados. Todas as principais personagens do Evangelho, como João Batista (1,15), Maria (1.35), Isabel (1.41), Zacarias (1.67), Simeão (2.25,26), e o próprio Jesus (4.1), todos tinham o poder do Espírito Santo para a obra. Essa ênfase sobre a vida no Espírito Santo é uma peculiaridade apenas do Evangelho de Lucas. O Espírito Santo é mais citado no Evangelho de Lucas do que em Mateus e Marcos, mesmo que as ocorrências nos dois sejam somadas, o mesmo pode se dizer a respeito do quarto Evangelho. No início do Evangelho, Lucas refere-se ao Espírito Santo como o “poder do Altíssimo” (1.35) e no final Ele é o “poder do alto” prometido (24.49), e no livro de Atos o Espírito Santo é “Deus presente e atuante em seu povo” (At 5.3-4).

Na vida de Jesus
Entre o início (1.35) e o final do Evangelho (24.49), o Espírito Santo é citado particularmente em relação à vida e obra do Senhor Jesus. O ministério de Jesus e o seu ensino são enfatizados em relação a dependência humana de Jesus do Espírito Santo para realizar a missão determinada por Deus. A vida inteira de Jesus era dirigida pelo Espírito Santo. Foi concebido pelo Espírito (1.35), batizado pelo Espírito (3.22), provado pelo Espírito (4.1), foi-lhe dado poder pelo Espírito para o seu ministério (4.14,18), exultante pelo Espírito (10.21), e esperava que seus discípulos completassem sua obra no poder do Espírito (24.49).
Outra peculiaridade significativa de Lucas é que mesmo quando este trata de assuntos congêneres aos Sinópticos, ele tece considerações singulares sobre a atividade do Espírito Santo no ministério de Cristo. Encontramos essa ênfase nos seguintes episódios:

a) Gestação sobrenatural de Jesus
Tanto Lucas quanto Mateus, narram sobre a gravidez sobrenatural de Maria como um fenômeno operado pelo Espírito Santo. Entretanto, Mateus descreve o fato concluído enquanto Lucas indica o processo pelo qual o ato foi realizado, com destaque singular para a ação do Espírito Santo:“Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra, por isso também o ente santo que em ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (1.35).

b) Tentação e regresso do deserto
Todos os Sinópticos narram a tentação de Jesus, mas somente Lucas acrescenta que Jesus estava cheio do Espírito Santo: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo Espírito, no deserto” (4.1). Somente Lucas registra que Jesus regressou para a Galiléia no poder do Espírito Santo: “ Então, Jesus, no poder do Espírito regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança” (4.14).

c) Alegria no Espírito Santo
Embora Mateus faça menção em 11.25-27 da exultação de Jesus ao Pai em relação aos humildes, apenas Lucas (10.21) registra que Jesus exultou no Espírito Santo: “Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra...”. O vocábulo grego “agalliaō” significa “extrema alegria”, “estar cheio de alegria”, mas esta alegria é “no Espírito Santo” (en tō pneumati tōi hagiō) que indica que esse estado não era procedente da natureza humana de Cristo, como se fosse um estado psicológico vulgar, ou muito menos uma reação química do soma (corpo). Trata-se, como a forma dativa
[1] acentua, uma alegria “no Espírito Santo”. Isto quer dizer que a natureza humana de Cristo estava extraordinariamente associada ao Espírito Santo; a alegria que Ele sentia era procedente do Espírito Santo, ao mesmo tempo em que era através do mesmo Espírito que essa alegria se expressava. Era “no Espírito Santo” e “pelo Espírito Santo”.

Ensino no Espírito Santo
O ministério de Jesus na Galiléia é o marco do desenvolvimento da missão didática e de poder de Jesus (4.14). Ao compararmos o relato dos Sinópticos (Mt 13.54-58; Mc 6.1-4; Lc 4.16-30), percebemos que apenas Lucas registra a leitura do rolo de Isaías (61.1,2) e a aplicação que Jesus faz da perícope a si mesmo na assembléia litúrgica reunida numa manhã de sábado em Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor” (4.18-19).
[2]
O retorno de Cristo a Galiléia é marcado pela imersão deste na unção do Espírito Santo: no batismo e no deserto – Jesus estava “cheio do Espírito Santo” (4.1), Jesus regressa a Galiléia “no poder do Espírito Santo” (4.14). Tanto a preposição en quanto o artigo , traduzido por “no”, estão no caso dativo que indica que Jesus foi guiado pelo próprio Espírito Santo à Galiléia – movia-se pelo e para o Espírito Santo conforme 4.1: “... e foi guiado pelo mesmo Espírito...”.
Em Nazaré, cidade da Galiléia, Jesus expõe o sentido real e histórico do texto e o seu cabal cumprimento: “Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (4.21). Jesus dispensa as rotineiras exposições do conteúdo profético da perícope e afirma que o anuncio das boas-novas aos pobres pelo Messias é uma realidade! Ele é o profeta de Deus.
Dois vocábulos preparam a trama desenvolvida pelo restante do versículo: ungiu e enviou-me, respectivamente procedente de chriō [3] (ungir) e apostellō [4] (enviado), dois termos comuns à descrição do ministério e ofício de Cristo: Ungido e Apóstolo (Hb 3.1. No Salmo 45.6-7 a unção é acompanhada por uma transmissão especial do kābôd, que concedia autoridade, força, honra e a capacidade de agir conforme o poder de Deus na vida de seu representante régio. A unção do Espírito em Jesus habilitava-o para agir como representante autorizado de Deus (apostellō) “para evangelizar os pobres”.
Assim sendo, a unção é combinada com a função de apóstolo. Jesus foi ungido para ser enviado “para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor”. Por diversas vezes, Jesus afirmou ser enviado pelo Pai (Mt 10.40; Jo 20.21; Gl 4.4).
Ele é o Cristo-Apóstolo de Deus a favor dos homens. Uma das principais funções do Espírito Santo é convencer o homem de que Jesus é o Ungido de Deus, pois: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo (Ungido) é nascido de Deus” (1 Jo 5.1). A primeira operação milagrosa de Jesus registrada no terceiro Evangelho está de conformidade com 4.18: a cura de um endemoninhado em Cafarnaum.
A temática precípua do ministério de Jesus segundo a narrativa lucana é que Jesus realiza os milagres através da ação do Espírito Santo. Para tornar essa assertiva incontestável é necessário acompanharmos a narrativa lucana concernente a atuação do Espírito Santo no ministério de Jesus. Apesar dos outros dois Sinópticos apresentarem a cura do endemoninhado mudo e a blasfêmia dos fariseus (Mt 12.22-32; Mc 3.20-30), apenas Lucas refere-se ao Espírito Santo através do hebraísmo “dedo de Deus” (daktylō Theou). A expressão é basicamente veterotestamentária, encontrada em diversos textos, especialmente em Êxodo 8.20 e Deuteronômio 9.10.
O primeiro texto refere-se ao contexto das pragas sobre o Egito no momento em que os magos anunciam a Faraó a incapacidade de realizar a praga dos piolhos mediante as ciências ocultas ou magia, referindo-se ao episódio como “o dedo de Deus”. O seguinte descreve a escrita das tábuas da Lei através do “dedo de Deus”. O termo hebraico 'etsba, literalmente “dedo” é um hebraísmo que se refere ao trabalho habilmente realizado: “Quando olho para os teus céus, obra dos teus dedos...” (Sl 8.3). O idiomatismo também se refere ao poder e a autoridade como algo foi realizado, apontando exclusivamente para o agente: “dedo de Deus”. O “dedo de Deus” é a expressão metafórica onde está em conluio a causa e o efeito: “Deu-me o Senhor as duas tábuas de pedras escritas (efeito) com o dedo de Deus (causa)”; “Então, disseram os magos a Faraó: Isto (pronome demonstrativo que aponta o efeito: a praga dos piolhos) é o dedo de Deus (a causa).
Esse semitismo é uma metonímia do vocábulo “mão”, outro termo que descreve o poder de Deus. A expressão pode ser traduzida por “poder de Deus”, visto estar inserido o poder ou a autoridade com que Deus realiza as suas obras.
Para compreendermos a tessitura do texto, a trama vívida que desenvolve as palavras de acordo com o ritmo análogo à emoção do literato, precisamos desdobrar a análise em dois movimentos principais: o primeiro da sinédoque e o último do contexto veterotestamentário. No primeiro caso, Lucas diferente dos outros Sinópticos, prefere a sinédoque “dedo de Deus” para substituir o agente pessoal do milagre, o Espírito Santo. O segundo alude ao evento libertador de Êxodo 8.15, onde os milagres de Moisés, inicialmente questionados e imitados através das magias, são finalmente reconhecidos pelos magos de Faraó como obra do “dedo de Deus”. Assim, a descrição lucana apresenta a narrativa correlata aos eventos pré-libertadores do Êxodo, em que Cristo é o novo Moisés que realiza as portentosas obras através do “dedo de Deus”, que no terceiro Evangelho equivale ao Espírito Santo (Hb 3).

Como Lucas identifica a humanidade de Jesus?

Nascimento
Lucas registra o fato de que Jesus é homem em sua essência. Comparado aos outros Sinópticos somente o terceiro Evangelho registra os fatos pré e pós-natal: apenas Lucas narra o cântico de Isabel a respeito da geração de Cristo no ventre de Maria (1.42), a circuncisão de Jesus (2.21), e a apresentação de Jesus no Templo.
Os termos usados por Lucas para descrever a humanidade de Jesus são traduzidos por “primogênito” (2.23) e “menino” (2.43). O primeiro, do grego “arsen”, significa literalmente “macho”, “viril” e o segundo “ho pais”, “o menino”[5] - termos enfáticos para descrever a natureza humana de Cristo.
Essa ênfase toda especial é completada no versículo 52: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. Os três vocábulos que movimentam a oração, sabedoria (sophia), estatura (hēlikia) e graça (chariti) tratam do crescimento e desenvolvimento humano e espiritual de Jesus.
O primeiro deles, sabedoria, faz eco à sabedoria de Cristo entre os doutores. O segundo, estatura, a estatura corporal e a maturidade de Jesus, e o último ao desenvolvimento espiritual de Cristo diante de Deus e dos homens. Este último versículo deve ser lido juntamente com o 40: “E o menino crescia, e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”.
O termo grego traduzido por “enchendo-se” (plēroumenon)[6] quer dizer que a aquisição da sabedoria por Cristo era continua, por isso, o versículo 52 afirma que “crescia Jesus em sabedoria”. Entretanto isto indica outra particularidade do Jesus humano - Ele possuía uma alma humana, limitada pelas próprias condições que a natureza humana impõe. Seu conhecimento era limitado e esforçava-se cada vez mais para adquirir sabedoria.

Notas

[1] O dativo grego é o caso do objeto indireto. Indica a pessoa a qual determinada ação é realizada ou a quem está sendo dirigida a ação. Costuma indicar “para quem” ou “por quem” a predicação ocorre, ou ainda “através de quem” ou “com quem ela ocorre”.
[2] Era direito de todo hebreu masculino adulto ler um trecho bíblico na sinagoga. A fama de Jesus como mestre itinerante permitiu que Jesus fizesse uma conseqüente homilia ou uma explicação do texto sem encontrar resistências do presidente da sinagoga.
[3] No grego literalmente “ungir”. O título “Cristo” procede desse termo.
[4] No grego literalmente “enviar”, “mandar como representante legítimo”.
[5] No grego arsen (macho) e ho pai (o menino).
[6] É um verbo que está no particípio presente passivo. O particípio é um adjetivo verbal que expressa a idéia de qualidade de ação. No tempo presente indica uma ação durativa e na voz passiva indica que o fato expresso pelo verbo é praticado pelo sujeito. Cf. BENTHO, Esdras Costa. Grego fácil e descomplicada. Santa Catarina: Verbum, 2003.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Leitura como Ato Político e Cognitivo

Leitura- Renoir

Neste ensaio ressaltamos, entre as várias construções do ato de ler, a leitura como ato político e como processo de crescimento cognitivo, e algumas possibilidades educativas para despertar novos leitores, estimular a leitura e o estudo de livros e da Sagrada Escritura desde a infância.

Ler como ato político

Paulo Freire (1987) afirmara que “a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo”. Na concepção freireana, ler é interpretar a si mesmo e ao mundo. Não se trata de mera decodificação de sinais gráficos e códigos lingüísticos, mas de apropriação de uma ação libertadora.

Ler é exercício de cidadania e de práxis do indivíduo no mundo. A verdadeira função da escrita e leitura é capacitar o sujeito a aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto em uma relação dinâmica que vincula linguagem e realidade, alfabetização e leitura, dizia Freire (1987).

A verdadeira leitura não é aquela que manipula mecanicamente o texto, mas a que implica em percepção crítica das relações entre o texto e o contexto do ledor.

Assim, portanto, a educação freireana prioriza a leitura e a alfabetização como um ato político libertador. A educação, assim como a leitura, não deve estar dissociada da realidade e do contexto dos aprendentes, muito menos ser alienante.

Quem lê deve ser capaz de interpretar o seu mundo, de pensar e cogitar sobre o lido, de criticar e repensar a leitura, de rever cosmovisões e construir novos caminhos.

Certo axioma atribuído a Albert Einstein diz que “a leitura após certa idade distrai excessivamente o espírito humano das suas reflexões criadoras. Todo o homem que lê de mais e usa o cérebro de menos adquire a preguiça de pensar.”

A crítica de Einstein não é contra a leitura, mas contra aqueles que usam a leitura como alienação e fuga. Talvez, Mario Quintana desejasse afirmar a mesma coisa quando escreveu que “os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”. Analfabeto não é aquele que não sabe ler, mas o que nunca se apropriou da função social e política da leitura e da escrita.

Nas palavras de Foucambert (1994), a leitura e a escrita são os instrumentos pelos quais o sujeito alcança a democracia e o poder individual que, segundo ele, “é a capacidade de compreender por que as coisas são como são” (p.123). Lê-se, portanto, para interpretar e transformar a realidade.

A leitura, nesse aspecto, traduz-se em direito individual e coletivo que acompanha a alfabetização de crianças, jovens e adultos. Não se dissocia a leitura da alfabetização e, portanto, ambos constituem-se em ato político. Sonia Kramer (2001) afirma que o acesso à alfabetização – enquanto desenvolvimento de uma postura reflexiva sobre a língua – à leitura e à escrita é direito assegurado que exige um projeto de toda sociedade para a democratização e a plena realização da justiça social.

Ler como processo de crescimento cognitivo

Atribui-se ao filósofo Sêneca o aforismo que afirma: “A leitura nutre a
inteligência”. Todavia, Machado de Assis, com a pujança e ironia que lhe são próprios, na Teoria do Medalhão (1882), recomenda ao seu estimado filho, Janjão, que se afaste das idéias, das leituras e atividades que exercitam o cérebro. Dizia ao mancebo que, ao dirigir-se à livraria, deveria ir não para aguçar as idéias através de excelentes leituras, mas para

[...] falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer cousa [...] uma tal monotonia é grandemente saudável. Com este regímen, durante oito, dez ou dezoito meses – suponhamos dois anos –, reduzes o intelecto, por mais pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina, ao equilíbrio comum. Não trato do vocabulário, porque ele está subentendido no uso das idéias; há de ser naturalmente simples, tíbio, apoucado, sem notas vermelhas, sem cores de clarim... (2001, p.15).

Crítico da sociedade de seu tempo, Machado desfere sua crítica ferina contra aqueles que usavam de artifício, sim, o artifício do medalhão, para manter as aparências numa sociedade hipócrita.

Contudo, o contrário é verdadeiro. A leitura estimula novas idéias, desenvolve a criatividade e o intelecto, além de alargar o vocabulário.

Mas para que isto seja potencialmente possível, é necessário, como afirma Solé (1988), de estratégias de leituras. Estratégias de leituras, segundo Solé, “são capacidades cognitivas ligadas à metacognição, que permitem uma atuação inteligente e planejada da atividade de leitura” (FERREIRA & DIAS, 2002, p.46).

Para o pleno desenvolvimento cognitivo do leitor, Solé (1998, p.70) afirma que: (1)
As estratégias leitoras precisam ser ensinadas; (2) O ensino de estratégias leitoras deve privilegiar o desenvolvimento de estratégias que possam ser generalizadas a outras situações e não se atenham a técnicas precisas, receitas infalíveis ou habilidades específicas.

Possibilidades de Estímulo à Leitura e à Formação de Novos Leitores

Da parte da Escola Dominical

1. Implantação de projetos de incentivo à leitura com a presença de autores, editores e educadores;

2. Implantação de uma biblioteca com literatura diversificada que atenda das crianças ao adulto;

3. Criação do “Clube da Leitura”;

4. Premiar os alunos e professores com literatura;

5. Criar feiras de livros, com vendas, trocas e doações.

Da parte da Família

1. Propiciar um ambiente doméstico que valorize a leitura, a cultura e os livros;

2. Estimular os filhos a montar uma pequena biblioteca que atenda exclusivamente o interesse da criança;

3. Ler e contar histórias para os filhos;

4. Levar as crianças, adolescentes, jovens e adultos às livrarias e bibliotecas;

5. Participar de feiras de livros;

6. Dar certa quantia em dinheiro para que o leitor compre o seu próprio livro;

7. Os pais devem ser os primeiros a ler;

8. Criar “cantinhos” de leitura para as crianças;

9. Instruir as crianças a reservarem um “tempinho” para a leitura;

10. Controlar o tempo gastos na televisão e dedicar mais tempo à leitura.

"A leitura deve ser para o espírito como o alimento para o corpo,
moderada, sã e de boa digestão."
(Marquês de Maricá)

Referências Bibliográficas
ASSIS, M. de. Teoria do medalhão. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.
FERREIRA, S. P. A. and DIAS, M. B.B. A escola e o ensino da leitura. Psicol. estud. [online]. 2002, vol.7, n.1, pp. 39-49. ISSN 1413-7372. Disponível em <<>> Consultado em 26 de out de 2009.
FOUCAMBERT, J.. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas,1994.
FREIRE, P. A importância do ato de ler. 18.ed.,São Paulo: Cortez Editora, 1987.
KRAMER, S. Alfabetização, leitura e escrita. Formação de professores em curso. São Paulo: Ática, 2001.
SOLÉ, I.. Estratégias de leitura. 6ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PATCH ADAMS: O AMOR É CONTAGIANTE

"UMA INTERFACE COM A LIDERANÇA CRISTÃ"


Ficha Técnica

Título: Patch Adams: o amor é contagiante.

Direção: Tom Shadvac.

Roteiro: Steve Oedekerk.

Produção: Estados Unidos, 1998, 115 min.

Gênero: Comédia dramática.

Elenco: Robin Williams, Daniel London, Monica Potter, Philip Sevmour Hoffman

Idioma: Inglês.

Sinopse Crítica

“Eu te amo sem saber como, nem quando e nem onde. Te amo simplesmente, sem complicações nem orgulho”. O trecho deste poema, extraído de uma das falas de Patch Adams, sintetiza o tema central de todo o filme: amar indistinta e indiscriminadamente a todos.

O filme em epígrafe retrata a vida do médico Hunter Adams, interpretado pelo ator Robin Williams. Após uma tentativa frustrada de suicídio em 1969, Hunter Adams se interna como voluntário em uma “Casa de Orate”, como diz Machado de Assis em O Alienista.

Todavia, Adams percebe que pouco é feito para restaurar os pacientes. É assim que, por acaso, começa ajudar alguns internos, auxiliando-os em sua recuperação. A partir de então, decide abandonar o sanatório para tornar-se médico, a fim de socorrer os necessitados e sarar os doentes. Todo médico parece ter um pouco de louco, e todo louco parece ter um pouco de médico. Seria muito bom se os médicos tivessem um pouco da loucura de Adams.

Ao sair da instituição, matricula-se na faculdade de medicina para dar início ao sonho de tornar-se um médico humanista. Na faculdade, entretanto, percebe a mesma frieza relacional presente no sanatório. Os médicos, observa Adams, tratam seus pacientes como “coisas”, “números”; falta-lhes não o amor pela ciência, mas a paixão pela vida!

Neste ponto crucial do filme, cuja ênfase desenvolve todos os demais conflitos e rupturas do personagem principal, facilmente se percebe uma crítica ao racionalismo e ao cientificismo.

Estes dois postulados da modernidade abandonaram a concepção de homem enquanto sujeito composto por feixes de emoções, crenças e utopias, e abraçaram uma das perspectivas nietzscheriana e darwinista, de que somente os fortes e capazes sobrevivem. A razão e a ciência que espoliam o indivíduo de sua afetividade, esperança, amor, justiça e utopia são perigos para a própria existência humana e sustentabilidade planetária.

As críticas existencialistas de Sartre concernentes à coisificação do homem na modernidade, e as argutas constatações do marxista Eric Hobsbawm a respeito da crise da contemporaneidade, ou da sociedade pós-industrial do sociólogo Alain Touraine, atestam uma modernidade cambaleante e presa pelos tentáculos da ganância, do individualismo e da frieza relacional, que sucateia a identidade do homem e põe em risco o planeta. Resta-nos, na perspectiva da modernidade tardia, um vazio relacional e uma grande inquietação a respeito do valor da vida humana. A verossímil constatação de Adams é a objetiva verificação dos críticos da modernidade.

Adams, contudo, diante do estado de inércia dos médicos e de outros acadêmicos, resolve agir contra o sistema que isola e particulariza o sofrimento do sujeito. Movido por um grande respeito à vida, inicia uma odisséia para conceder ao paciente alguns momentos de felicidade, satisfação e realização, mesmo que seja no instante último da vida. Para isto, emprega métodos pouco ortodoxos, no qual o sorriso, ou a gargalhada, são os eficientes remediadores do sofrimento e dor.

Particularmente neste caso, o sofrimento, a desesperança e a morte abrem espaço para reflexão. Sócrates, prestes a tomar cicuta, afirmara que a ocupação do verdadeiro filósofo é o tema da morte, a thanatologia. O poeta jacobino e pastor inglês John Donne, diante do sofrimento e morte de sua esposa, questiona o homem que se isola de seu semelhante e não considera a dor de outro a sua própria (“Nenhum homem é uma ilha”, dizia). Donne afirma em seu imortal poema: “a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. Talvez Adams fosse mais cônscio de sua mortalidade do que os seus pares. Longe de considerar-se divino, como propôs incorretamente o humanista e antropólogo, Edmund Leach, Adams parecia entender que a morte de cada paciente o aproximava mais ainda de seu divórcio com a vida. Sua humanidade, talvez, procedesse desta insofismável constatação.

Apesar da invectiva e da perseguição do diretor, Adams conquista à uma os profissionais e pacientes do hospital através de seu bom-humor, humanidade e crença na pessoa humana.

Não compreendido por seus pares, que o invejam, e pelo diretor, que o persegue, apesar de ele ser o melhor aluno da turma, Adams inicia um projeto, uma espécie de “hospital solidário”, sem os entraves da burocracia e do materialismo que envolvem os tratamentos de saúde. O projeto avança até que o assassinato de sua amada por um paciente lunático faz com que Adams recue um pouco de seu projeto. A cena, até então multicolorida, é tingida de tons cinzas e outonais. A mensagem é simples: o homem é imprevisível, e, apesar do bem feito a seu favor, possui a mesma natureza do escorpião. Esta parte lembra muito bem, o grito nostálgico de São Paulo quando afirmou aos cristãos de Roma: “Quem me livrará do corpo desta morte?”, dizia a respeito de sua natureza má que é mais forte do que sua vontade. O grito agonizante do santo apóstolo encontra sua resposta em Cristo.

O filme termina com Adams se formando com louvor e brincadeiras. Fica para o telespectador a inspiração para ousar, fazer a diferença, envolver-se em projetos sociais e cuidar de seu semelhante. Afinal, somos todos de um mesmo continente, como afirmara John Donne.


Aspectos relativos à liderança

Assim como Patch Adams, o pastor deve:

  • Estar cônscio de seu lugar e papel no mundo;

  • Investir em sua própria formação acadêmica e crescimento pessoal;

  • Ter um projeto e planejar sua partida, percurso e chegada;

  • Ser movido por sentimentos altruístas, humanitários e solidários que valorizem a pessoa humana e construa uma identidade positiva do sujeito;

  • Despertar e mobilizar as pessoas para a mudança e, junto, fazer o percurso;

  • Resgatar o direito e a cidadania das pessoas em seu entorno;

  • Ser agente de mudança e transformação;

  • Enfrentar os reveses, invejas e calúnias como necessários para testar nossa missão, visão, objetivos e comprometimento com nossos projetos.

  • Ser mediador de uma visão fraterna, mas terminantemente crítica.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Davi na Corte Real - Vivendo com Sabedoria

Este texto é uma pequena parte do livro: "Davi: as vitórias e derrotas de um homem de Deus", editado pela CPAD. Se você gostar desta síntese, adquira a obra e leia o texto na íntegra.

Introdução

Admitimos como hipótese de trabalho, que a sabedoria e prudência atribuídas a Davi fazem parte de um contexto vivencial (Sitz im Leben) mais amplo do que uma leitura superficial da Bíblia sugere.
Antes de o rei Davi tornar-se o homem mais poderoso de Israel, foi um homem comum, do povo. Viveu as máximas populares extraídas do cotidiano. Seus cânticos e orações eram extratos da realidade de sua gente, de seu povo.
Jó, os Salmos, os Provérbios e Eclesiastes são obras cujo eixo central é o coração humano. Essas obras tratam da experiência religiosa e social do povo hebreu. São literaturas enraizadas nas tradições, vivências e cotidianidade populares. E, de acordo com o biblicista Hermann Gunkel, “a literatura é uma parte da vida do povo e precisa ser compreendida a partir desta vida”[1].
Nesta mesma tradição segue o teólogo Carlos Mesters quando afirma que “na origem da Sabedoria está o povo, refletindo sobre a vida e procurando uma resposta para as perguntas: Como viver? Como fazer para sair-se bem na vida?”[2].

Lembremos que o rei Davi conhecia profundamente a sabedoria popular, as máximas entre seus soldados, e a sabedoria de seus conselheiros, conforme o Sitz im Volksleben (situação na vida do povo), para usar a expressão do próprio Gunkel. A validade dessa metodologia pode ser confirmada nas palavras do biblicista Rolf Rendtorff que atesta: “a dedução do Sitz im Leben permite reconhecer uma forma, descrever sua função e extrair disso critérios para a interpretação do texto”.
[3] Existe em cada texto um contexto histórico-social que alimenta a verve literária do hagiógrafo.


Estrutura da Sociedade Hebréia

No Antigo Testamento, a relação do sujeito dentro de seu grupo social correspondia à estrutura social que o cercava. Em nosso livro A família no Antigo Testamento: história e sociologia, explicamos com detalhes o funcionamento desses círculos comunitários.
a) O primeiro deles, bayît ’āb, representava o núcleo familiar básico, ou as pessoas de uma mesma casa (Gn 24.38,40; 28.21; 41.51; 46.31).
b) O segundo, formado pelo clã ou mishpāhâ, é a unidade familiar mais ampla liderada pelos mais velhos ou “anciãos”. Os anciãos, do hebraico zāqēn, faziam parte de uma categoria social entre os hebreus, conhecidos pelos sábios conselhos, prudência, vivência e capacidade para julgar situações embaraçosas (Êx 3.16,18; 12.21; 17.6; 19.7; Nm 11.24).
c) E por último, a tribo, do hebraico matteh, correspondia ao conjunto de clãs (1 Sm 18.18).
Durkheim classifica esse modelo social como solidariedade mecânica. Nesta, os indivíduos possuem sua identidade por meio da família, da religião, da tradição e dos costumes da tribo. Todos reconhecem e vivem os mesmos valores de acordo com a tradição ancestral, do qual a coletividade procede. Uma “família-tronco” perpetua-se em torno do chefe de família pela instituição de um “herdeiro associado”. Os indivíduos nesse modelo social vivem sob a coerção dos fatos sociais, ou das normas coletivas que obrigam o sujeito a agir conforme o costume e tradição local.[4]

A personalidade, o caráter, a sabedoria e os valores vividos por Davi, por exemplo, têm como fundamento sua formação na “casa de seu pai” ou bayît ’āb, e, conforme afirma Carlos Mesters, “o ambiente de origem da sabedoria é a educação familiar: os pais a fazerem com que os filhos abram os olhos para a realidade e vejam, de modo objetivo, as coisas da vida”
[5].
Em 1 Samuel 16, observamos nitidamente os elementos acima descritos. Deus ordena que Samuel proceda com a unção de um dos filhos de Jessé, o belemita, para o reino de Israel (v.1). Jessé é o chefe da casa (ver 1 Sm 18.2, 18; 22.1), enquanto Israel é a totalidade das famílias que formam a nação emergente (ver 1 Cr 16.28). Ao chegar a Belém, os anciãos dirigem-se ao profeta para o saudarem e inteirarem-se dos motivos da visita (v.4). Os fatos sociais estão presentes em todo tempo: o culto, o sacrifício, a ordem de apresentação dos filhos de Jessé, o modo como Samuel julga pela aparência, etc. Esses elementos constituem-se o Sitz im Leben que fundamentam nossa interpretação.

Os Sábios e o Gênero Sapiencial na Antiguidade

O estudo da sabedoria nas Escrituras Hebraicas não deve limitar-se apenas aos israelitas, mas incluir a sabedoria dos povos vizinhos que interagiam com o povo judeu. Os grandes impérios da antiguidade possuíam sua classe de sábios ligados tanto a religião quanto ao governo (Dn 1.20).
Os egípcios, babilônicos, assírios, fenícios, edomitas e muitos reinos do Oriente ufanavam-se de sua sabedoria e de seus sábios (Gn 41.8; Is 19.11,12; 47.10; Jr 49.7; 50.35; Ez 27.9; 28.3-6; Dn 2.48; 4.6; Ob 8; At 7.22).
Israel também possuía uma classe de sábios que, dado a sua importância, era citada juntamente com os profetas e sacerdotes (Jr 18.18; Is 29.14). Essa classe desenvolvia aforismos (Nm 21.27; Sl 105.22; Pv 24.23; Ec 12.9) e literatura de sabedoria prática, além de aconselhar os nobres (2 Sm 15.12; 16.20; 2 Cr 22.4; Ed 7.15; Pv 15.22; 24.6; Is 1.26, etc.). Na estrutura social hebraica os anciãos, zāqēn , eram os sábios conselheiros (Êx 3.16,18; 12.21; 17.6; 19.7; Nm 11.24; Sl 105.22). Esta composição social de sábios também era comum entre os moabitas e midianitas (Nm 22.7).[6]

Fohrer afirma que “a doutrina sapiencial tinha sua origem principalmente no Egito, onde era acima de tudo a moral de classe e a norma da vida dos funcionários do faraó”
[7] (ver Is 5.21; 19.11,12). A ética, a moral e a sabedoria prática proviam das classes que dominavam o saber da época. Nesses reinos havia uma linha muito tênue entre a sabedoria, a ciência, e a matemática com a astrologia, a feitiçaria e adivinhações (ver Gn 41.8; Êx 7.11; Is 44.25).

A Sabedoria no Antigo Testamento

Como anteriormente expendido, o tema da sabedoria no Antigo Testamento é vasto e profundo. Entre os vários vocábulos usados para descrevê-la, provavelmente, chokmâ, traduzido literalmente por “sabedoria”, seja o mais significativo. O termo procede de chākam, “ser sábio” ou “agir sabiamente”.

Sabedoria, como habilidade técnica. O primeiro emprego do termo chokmâ no Antigo Testamento refere-se à sabedoria como habilidade, capacidade e técnicas especiais para a realização de alguma coisa. Em Êxodo 28.2,3, pessoas “sábias de coração” (ARC), quer dizer “hábeis” em sua arte e ofício; capaz de confeccionar as vestes sacerdotais, conforme a recomendação divina. Esses profissionais foram cheios do “espírito de sabedoria”, isto é, de habilidade, capacidade estética e técnica para confeccionarem as vestes sacerdotais. No capítulo 31 de Êxodo, esses operários são identificados, trata-se dos artífices do Tabernáculo, Bezalel e Aoliabe (vv.6-11; 35.30-35; cf. 1 Rs 7.14).

Sabedoria como execução de governança e estratégias militares. Essa sabedoria é um desdobramento da anterior, uma vez que enfatiza a capacidade e habilidade na execução de governança e estratégias militares. Por duas vezes essa sabedoria é descrita em sentido negativo (Is 10.13; Ez 28.3-7). Todavia, encontramos vários textos positivos, como por exemplo, Gênesis 41.33-40 (chākām); Deuteronômio 34.9 e Isaías 11.1-5. No texto de Deuteronômio 34.9, a tarefa de conduzir o povo passara de Moisés para Josué. Este líder recebeu o “espírito de sabedoria”, isto é, a capacidade de governar e conduzir o povo de Israel. A sabedoria era estritamente necessária aos reis, líderes e encarregados dos assuntos pertinentes à governança, diplomacia, política e assuntos sociais.

Sabedoria, o agir com prudência e entendimento: A sapiência vétero-oriental atribuía singular importância à experiência cotidiana. As máximas ou provérbios, do hebraico māshāl, eram ditos sapienciais breves extraídos do Sitz im Volksleben (situação na vida do povo), e expressos através dos sábios [mestres] por meio de alegorias, enigmas, aforismos, parábolas, metáforas, ditos satíricos, motejos e, até mesmo, em forma de discursos.
[8]
O background que dava azo às máximas de sabedoria era o cotidiano da família, da tribo, e da comunidade local ou cidade. É claro que nem todas as experiências individuais e coletivas tornaram-se ditos breves de sabedoria, mas não se pode negar que a lista de provérbios dispostas em toda a Escritura Hebraica seja extraída pelos sábios ou mestres de Israel da cotidianidade campestre, citadina e palaciana (1 Sm 10.12; 19.24; Sl 32.9; 49.20; Pv 24.30).

Já o substantivo “prudência” traduz alguns termos hebraicos, entre eles:

a) ta‘am: significa “gosto”, “sabor”. O conceito procede da capacidade de distinguir os sabores por meio do sentido gustativo. O vocábulo é traduzido em Êxodo 16.31 por “sabor”, no episódio do maná, cujo “ta‘am, [era] como bolos de mel”. Daí passou à literatura com o significado de “discernir”, “julgar”, “ser capaz de julgar e discernir”. É com esse significado que é usado em 1 Samuel 25.33, traduzido por “prudência” (RA) ou “conselho” (ARC), no episódio que narra a sabedoria de Abigail.

b) śākal: emprega-se em 1 Samuel 18.5, com o sentido de “agir sabiamente”, “ter sucesso” ou “agir com prudência”: “E saía Davi aonde quer que Saul o enviava e conduzia-se com prudência”. De acordo com Louis Goldberg, śākal “designa o processo de pensar como uma disposição complexa de pensamentos que resultam numa abordagem sábia e bastante prática do bom senso”.
[9]
O vocábulo é usado mais uma vez em 1 Samuel 18.14: “E Davi se conduzia com prudência em todos os seus caminhos”. A RA traduz por “lograva bom êxito”, uma vez que acentua o resultado no lugar da causa. O “bom êxito” de Davi resultava de sua prudência ou sabedoria, não apenas diante dos homens, mas principalmente perante o Senhor, razão pela qual o “Senhor era com ele” (cf. vv.15,28).
Notas Bibliográficas (No texto original há 33 referências bibliográficas)

[1] Apud RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento: uma introdução. São Paulo: Academia Cristã, 2009, 123.
[2] MESTERS, Carlos. Deus, onde estás? Uma introdução prática a Bíblia. 9.ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1991, p.113.
[3] Id.Ibid.,p.125.
[4] DURKHEIM,E. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2001, pp. 92,93. Ver BENTHO, Esdras C. A família no Antigo Testamento: história e sociologia. 3.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
[5] MESTERS, Carlos. Deus, onde estás? Uma introdução prática a Bíblia. 9.ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1991, p.114.
[6] BENTHO, Esdras Costa. A família no Antigo Testamento: história e sociologia. 3.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp. 30-3.
[7] FOHRER, Georg. Estruturas teológicas fundamentais do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Paulinas, 1982, p.126.
[8] Quanto à classificação dos provérbios (históricos, metafóricos, parabólicos, didáticos, enigmáticos entre outros) veja BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. 10. ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.289-92.
[9] Goldberg, Louis. Verbete: śākal. In: HARRIS, R. L. (et al) Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1478.

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