DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ensaio à Exegese de 1 Coríntios 4

Introdução

Paulo, em 1 Co 4, retoma e conclui o assunto dos capítulos anteriores, especificamente 3.1-17. Para isto, emprega o advérbio houtōs (ou[toj - desta maneira; portanto), para ligar o assunto anterior a uma nova oração que exprime conclusão. Ele pretende encerrar o debate a respeito dos grupos partidários em Corinto, e apresentar os comportamentos que a igreja local deve adotar em relação aos obreiros da igreja. Sua assertiva é tão veemente que ele nega à igreja o direito de julgá-lo, assim como julgar os demais apóstolos. Contudo, orienta os crentes a respeito do correto relacionamento entre a comunidade e os seus líderes. O grupo que julgava-se iluminado e maduro e, com isto com o direito de submeter os apóstolos ao seu "tribunal" particular, é instado a olhar corretamente os líderes apostólicos.

Estrutura

O capítulo 4 é formado por três parágrafos: vv.1-5; 6-13; 14-21. No texto grego não há qualquer interrupção nas linhas de cada bloco, indicando que se trata de um só pensamento. O início de cada seção é marcado por um vocábulo que acentua o comentário da oração precedente: (v. 1) houtōs (ou[toj - desta maneira; portanto); (v.6) tauta (tau/ta - estas coisas); (v.14) ouk (ouvk - não, em tom litúrgico). Vejamos em perspectiva as estruturas.


1. vv. 1-5: Nesta seção, Paulo trata de dois assuntos em particular: o seu apostolado (vv.1,2) e o seu julgamento perante a igreja (vv.3-5). Nos vv.1,2 ele destaca dois termos. O primeiro acentua sua vocação: ministros (u`phre,taj- hypērétas), isto é, servo, ajudador (Jo 18.36 [serventuários]; At 13.5 [assistente]), e o segundo, suas responsabilidades: despenseiros (oivkono,moij - oikonómois), ou seja, mordomo, servo administrador (Lc 12.42; 16.1). O caráter do despenseiro é ressaltado, "fiel" (pisto,j - pistós), mas também sua mordomia, os "mistérios de Deus" (musthri,wn qeou/ - mystēriōn Theou), veja Cl 2.2, "mistério de Deus", Cl 4.3, "mistério de Cristo"; Cl 1.26,27. Paulo não reivindica qualquer proeminência entre os coríntios, mas enfatiza seu serviço (ministro) e sua responsabilidade (despenseiro).


No versículo 3, há mudança da terceira pessoa "nós" para a primeira "eu" – do geral para o particular. Paulo considera coisa de somenos importância o fato de os coríntios o julgarem, pois como ministro de Cristo quem o julga é Deus (v.4); nem ele mesmo se considera apto a julgar a si mesmo (v.3), mas espera que no tempo oportuno o Senhor julgue e galardoe cada um segundo "os desígnios do coração" (v.5).


2. vv. 6-13: Nesta seção, Paulo retoma mais uma vez a discussão iniciada em 3.5, apresentado que ele e Apolo servem de "figura" ou "esquema" (sch/ma - schēma), pois embora a igreja esteja dividida entre Paulo e Apolo, os dois, os dois ministros desfrutam de comunhão e serviço sacrifical a favor do Evangelho. Paulo critica a soberba dos coríntios (v.7): "Porque quem te diferença?", isto é, "Quem te julga superior?". Nos versículos 8-13, Paulo usa a "ironia retórica", apresentando o seu apostolado e contrapondo-o ao "reinado majestoso dos coríntios" (Broadman: 1987, p.370).


3. vv.14-21: Nesta seção Paulo apresenta-se como "pai" espiritual dos coríntios e solicita-os que sejam "imitadores" de seu pai espiritual...... (continua).

Crédito da imagem:

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Tempo: um ensaio à semântica neotestamentária


Introdução

Nos estudos proféticos é necessário distinguir os principais períodos e tempos de que tratam as Sagradas Escrituras. Ao lermos as páginas do Cânon Sagrado constatamos o uso de uma linguagem tanto histórica quanto profética que discorre sumariamente sobre os tempos, estações, dias, e assim sucessivamente. Muitos dos fatos que ocorrem dentro desses períodos são considerados sinais. Nos estudos proféticos, "sinal" é tudo aquilo que serve de advertência e, que possibilita prever ou reconhecer a aproximação de um acontecimento profético relevante.

No grego, o vocábulo sēmeion (shmei/on), traduzido por sinal [não confundir com sēmeron (sh,meron), isto é, "hoje", "neste dia"], tanto pode significar "atos milagrosos", quanto ‘sinalizar um evento profético’ (Mt 12.38; 24.3), podendo, às vezes, os dois sentidos serem combinados (At 2.19,22).

Quando a Escritura fala de "últimos tempos", "últimos dias", "sinais dos tempos", "tempos dos séculos" entre outros, a que se refere? Vejamos inicialmente a problemática apresentada por Jesus em resposta aos seus discípulos em Atos 1.7: "E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder". Antes de sua morte vicária e sacrifical Jesus respondeu aos fariseus em Mateus 16.2: "Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro [...] hipócritas, sabeis diferençar a face do céu e não conheceis os sinais dos tempos?". Em outra ocasião com os seus discípulos, estes lhe perguntaram: "Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?" (Mt 24.3).

Portanto, um resumo e organização dos principais termos e expressões usados nas páginas do Novo Testamento, possibilitará o entendimento sobre o sentido de tempo nas Escrituras.

1. Tempos Proféticos

a) Sinais dos Tempos (sēmeia tōn kairōn/shmei/a tw/n kairw/n). Mateus 16.3: “E pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis diferençar a face do céu e não conheceis os sinais dos tempos?”.

b) Tempo dos Gentios (kairoi ethnōn/kairoi. evqnw/n). Lucas 21.24: “E cairão a fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.”

c) Últimos Tempos (Hysterois Kairois/u`ste,roij kairoi/j). 1 Timóteo 4.1: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios”.

d) Últimos Dias (Eskhatais hēmerais/ evsca,taij h`me,raij). 2 Timóteo 3.1: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”.

e) Tempos da Restauração (Chronōn apokatastaseōs/cro,nwn avpokatasta,sewj). Atos 3.21:“o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio”.

f) Tempos e Estações (Chronōn kai kairōn/cro,nwn kai. tw/n kairw/n). 1 Tessalonicenses 5.1:“Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva”. [Dentro do contexto da epístola é provável que ‘tempos’ (chronōn - cro,nwn) se refira as etapas escatológicas em geral, enquanto ‘estações’ ou ‘tempos fixados’ (kairōn - kairw/n), a períodos específicos da escatologia referida por toda a epístola].

2. Tempo Histórico

a) Tempos Antigos (geneōn archaiōn/genew/n avrcai,wn). Atos 15.21: “Porque Moisés, desde os tempos antigos [literalmente gerações antigas], tem em cada cidade quem o pregue e, cada sábado, é lido nas sinagogas”.

b) Tempos Passados (Parōkhēmenais geneais/parwchme,naij geneai/j). Atos 14.16: “o qual, nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus próprios caminhos”.

3. Tempo Salvífico

a) Tempos dos Séculos (Khronōn aiōniōn/cro,nwn aivwni,wn). 2 Timóteo 1.9: “que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos [literalmente ‘tempos eternos’]” (Tt 1.2).

b) Tempos Eternos (Khronois aiōniois/cro,noij aivwni,oij). Romanos 16.25: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto”.

c) Tempos do Refrigério (Kairoi anapsykseōs/kairoi. Avnayu,xewj). Atos 3.19,20: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos [fixados] do refrigério pela presença do Senhor”.

d) Plenitude dos Tempos (Plērōma tou Khronou/plh,rwma tou/ cro,nou). Gálatas 4.4: “mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. (Ef 1.10)

4. Tempo "A Era Messiânica"

a) Últimos Dias (Eskhatou tōn hēmerōn/evsca,tou tw/n h`merw/n). Hebreus 1.1[2]:“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho”.

b) Últimos Tempos (Eschatou tōn Khronōn/evsca.tou tw/n cro,nwn). 1 Pedro 1.20:“ o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós”.

5. Tempo Natural

a) Tempos Estações [Frutíferas] (Kairous karpophorous/kairou.j karpofo,rouj). Atos 14.17: “contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração”.

b) Tempos Ordenados (Prostetagmenous kairous/prostetagme,nouj kairou.j). Atos 17.26: “e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos [literalmente ‘posto em ordem os tempos fixados’] já dantes ordenados e os limites da sua habitação”.

c) Tempos Fixados (Kairous/kairou.j). Gálatas 4.10: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos”.

Um dos sinais proféticos, a apostasia, fora descrita por Paulo em 1 Timóteo 4.1: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios”. É necessário observar que últimos tempos (hysterois kairois/u`ste,roij kairoi/j) nesse contexto, refere-se à palavra profética persuasiva comunicada pelo Espírito Santo. O uso de kairois no lugar de khronos designa um tempo do qual não podemos administrar ou evitar; ele é certo, determinado ou fixado por Deus e infalivelmente ocorrerá. É um tempo que somente Deus tem o controle. Neste caso específico, a apostasia antecederia os últimos dias (eskhatais hēmerais), ou seja, é um sinal que precede e demarca o final do tempo dos gentios (kairoi ethnōn), segundo Lucas 21.24: “E cairão a fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.”

Sejamos, pois, atentos aos sinais que Deus estabeleceu como sinalização da aproximação de sua vinda.

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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