DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Da experiência à razão: a compreensão pneumatológica em Santo Agostinho.

 Introdução
Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho, é considerado um dos grandes filósofos cristãos da era patrística (sécs. I – VIII d.C.) e o teólogo mais profícuo e importante para a teologia do Ocidente. Nasceu em 354, na cidade de Tagaste, província romana no norte da África. Filho de Patrício e de santa Mônica, tornou-se maniqueísta e professor de oratória em Catargo. Por influência de santo Ambrósio começou a ler o epistolário paulino; não muito tempo depois foi batizado juntamente com seu filho Adeodato e seu amigo Alípio.
Após a morte de sua mãe retornou para a África, período que marca sua vida contemplativa e seus estudos. Seu conhecimento tornou-se notório e, afamado, foi sagrado bispo de Hipona em 395 d.C. Nesta diminuta cidade dedicou-se ao exercício poemênico e ao labor teológico no campo da exegese e da sistemática, bem como da filosofia e da alma humana. Mesmo após sua morte em Hipona, no dia 28 de agosto de 430, o legado agostiniano permanece vivo, necessário e plausível à teologia do século XXI. Agostinho, Bispo de Hipona, Padre da Igreja Latina e Doutor da Igreja (Doctor Gratiae) era um teólogo que se fez pastor; um filósofo que se tornou místico; um poeta que se descobriu polemista; um escritor que lia a Escritura; e um orador que ouvia a voz do Espírito!
Correntes pneumatológicas anteriores a Agostinho
1. Ortodoxa
As duas grandes preocupações da ortodoxia antes do pensamento pneumatológico agostiniano referem-se à economia da salvação e ao mistério de Deus. Para a ortodoxia “é da natureza do Pai, do Filho e do Espírito que depende a realidade da salvação trazida aos homens”. Destacam-se nesse período os seguintes teólogos:
a) Irineu de Lião (U c.202) – Padre Grego: Denomina o Espírito Santo como a “sabedoria de Deus”. Junto com o Filho, o Espírito constitui as duas mãos pelas quais o Senhor criou o homem. Ele desvela a economia salvífica na qual a humanidade é consumada em Cristo como cabeça da criação e é renovada segundo a imagem de Deus na Igreja pelo Espírito. Afirmava que “onde está a Igreja, aí está o Espírito de Deus. Onde está o Espírito de Deus, aí estão a Igreja e toda graça” (Adversus haereses).
b) Tertuliano (U c.220) – Padre Latino: Empregou o termo Trindade e desenvolveu a teologia trinitária da Igreja Latina. Foi o primeiro a defender o papel autônomo do Espírito como uma Terceira Pessoa distinta do Pai e Filho.
c) Orígenes (U c.254) – Padre Grego: Afirmava que o Espírito é um ser consubstancial a Deus e não uma força ativa procedente de Deus. Baseado em 1Co 12,11, afirmava que se o Espírito atua e distribuiu os dons segundo à sua vontade, Ele não pode ser uma força impessoal ou mera manifestação. Segundo Orígenes, o Espírito trabalha na vida do crente, mas sua eficácia chega somente aos santos ou aos batizados para que vivam em boas obras e permanecem em Deus.
d) Atanásio (U c.373) – Padre Grego; Basílio Magno (U c.379); Gregório de Nissa (U c.394) e Gregório Nazianzeno (U c.390) – Padres Capadócios: O Espírito é visto em relação à controvérsia ariana que negava a divindade do Filho e consequentemente do Espírito. Para eles, o Espírito é da mesma substância do Pai e do Filho e procede do Pai através do Filho. É o Espírito do Pai e também do Filho. Portanto, o Espírito é Deus.
2. Heréticas
Até meados do séc. IV a divindade do Espírito não foi posta em questão, mas à medida que a divindade do Filho fora colocada em dúvida a do Espírito também passa a ser questionada. O Espírito é Deus ou uma força divina? Ele é da mesma natureza de Deus? De que forma ele procede já que não é gerado?, interrogavam.
a) Arianos: Aécio e Eunômio, da segunda geração dos arianos, desenvolveram a partir de 357 o conceito de que o Espírito é a primeira criatura do Filho, assim como o Filho é do Pai. O Espírito é inferior ao Filho assim como o Filho é inferior ao Pai.
b) Trópicos (359-360): São ortodoxos quanto ao Filho, mas afirmam que o Espírito não é consubstancial ao Pai e ao Filho.
c) Pneumatômacos: O Espírito é apenas uma força; um instrumento criado por Deus para agir no homem e no mundo. A natureza do Espírito é inferior à natureza do Pai e do Filho.
3. Da experiência à razão: o contributo de santo Agostinho
1. Situação em santo Agostinho: Quando o Bispo de Hipona entra no cenário das controvérsias pneumatológicas, a fórmula trinitária já havia sido largamente discutida pelos padres conciliares e definida pelos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381). Todavia a questão passara da conciliação lógica da Trindade e da unidade divinas à sua conciliação propriamente metafísica. Era necessário desenvolver uma teologia a respeito da fé trinitária.
a) De fide et symbolo (393): Comenta que a doutrina do Espírito ainda não fora, até sua época, estudada com a mesma abundância que a das outras Pessoas. A pneumatologia tem, por conseguinte, seu próprio estatuto e não se deve chamar o Espírito de Pai e nem de Filho, mas de Espírito Santo.
b) De Trinitate (399-419): Desenvolve um estudo particular e profundo de cada uma das Pessoas divinas, amplia o conceito de pessoa herdado dos estoicos e acrescentado à Trindade e coloca na Terceira Pessoa da Trindade uma doutrina original, descobrindo propriedades absolutas e irrepetíveis no Pai e no Filho. Substitui o termo grego hypostasis pelo correspondente latino persona (cf p.86-90). O que caracteriza a Pessoa divina, segundo o rapsodo, “é a maneira pela qual ela se revela, o que não pode ser diferente do que ela é na sua realidade” (p.87). Cada pessoa possui um caráter único. Assim, alguns dos atributos que são comuns entre o Pai e o Filho e não os distinguem são propriedades da essência. O Pai não é Pai senão do Filho, o Filho não é Filho senão do Pai, mas o Espírito é Espírito de ambos (Pai: Mt 10,20;Rm 8,11; Filho: Gl 4,6 Rm 8,9). O Espírito é comum ao Pai e ao Filho, a santidade comum, o amor e a unidade. Essa comunhão é consubstancial e coeterna. O Espírito é Espírito e amor das duas primeiras pessoas, procede delas, mas principalmente do Pai. O Espírito é chamado de Dom de Deus, sendo este título também uma propriedade do Espírito quando nos é dado. O Espírito, por conseguinte, é o princípio da unidade da Igreja, pois Ele reúne o Povo de Deus na unidade. O centro da eclesiologia pneumatológica agostiniana é: communio sacramentorum (sacramento de comunhão), obra de Cristo, e societas sanctorum (sociedade santa).
2. O dogma da Trindade: Agostinho aborda o tema com recursos metodológicos da hermenêutica bíblica de seu tempo. Sistematicamente demonstra a igualdade e a unidade presentes entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo nas suas atuais relações intradivinas. Com o conceito de pessoa aplicado ao Espírito, Agostinho o distingue do Pai e do Filho, mesmo que para isso empregue recursos psicológicos pelo fato de não conseguir traduzir o mistério adequadamente.
3. O Espírito Santo como Um da Trindade: Não há qualquer subordinação, acidente ou diversidade, entre as Pessoas da Trindade. Ele reconhece que é mais fácil falar da relação entre o Pai e o Filho do que evidenciar a relação do Espírito com ambos sem que se perca a sua singularidade. Caracteriza, portanto, as propriedades de cada Pessoa e acentua que o Espírito é presente (donum; ver p.95-97; termo que se refere também à missão do Espírito (p.94; e sua denominação como amor; p.96) do Pai e do Filho e é comunhão (communio) entre ambos. O Espírito é igual em tudo ao Pai e ao Filho, consubstancial, coeterno na unidade da Trindade. Deus revela-se, por conseguinte, sempre trinitariamente.
4. Procede do Pai e do Filho – Filioque: Duas dificuldades são suscitadas: a origem do Espírito e o conjunto das relações recíprocas das três pessoas. Agostinho afirma que o Espírito procede do Pai e do Filho. “Como Espírito de Deus e de Cristo, como dádiva do Pai e do Filho, como amor que une a ambos, o Espírito procede do Pai e do Filho”, conclui (cf. p.92-94).
5. O Espírito Santo e a Igreja na visão de Agostinho: Três características do Espírito são apresentadas como sendo semelhantes à missão que o Filho delegou à Igreja: communio, caritas e donum (comunhão, caridade e dom); mostrando assim, que é o Espírito que conduz a Igreja nos caminhos de Cristo.
Conclusão
A contribuição agostiniana à Teologia do Espírito Santo destaca-se não apenas por sua profundidade, mas também pelo fato de ele repensar conceitos e vocábulos que já em seu tempo havia perdido a pujança e, por isso, não respondia as novas indagações do seu tempo. O teólogo reconhece em diversas ocasiões os limites da linguagem e dos sentimentos humanos para expressar adequadamente o mistério. Embora a semântica do mistério trinitário agostiniano tenha os seus limites, a Teologia Trinitária avançou muitíssimo depois de sua arguta contribuição, sempre regada de sentimento, reverência e humildade.

(Roteiro de estudo apresentado na aula de Pneumatologia no curso de Mestrado em Teologia da PUC, RJ. Baseado no texto original de KUZMA, Cezar Augusto. Da experiência à razão. A compreensão pneumatológica em Santo Agostinho in TEPEDINO, Ana Maria (org.) Amor e discernimento: experiência e razão no horizonte pneumatológico das Igrejas. São Paulo: Paulinas, 2007, p.73-9.)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Caim e o misterioso sinal


 “Gênesis 4.15 diz que Deus pôs ‘um sinal em Caim para que não o ferisse qualquer que o achasse’. Que sinal é esse?”

Caim, esse enigmático! Os mistérios rondam a figura controversa do personagem. Por que o sacrifício oferecido não agradou a Javé? Qual o sinal de Caim? Afinal, quem era a mulher com que se casou? 

Da exegese histórico-crítica à fundamentalista, todos tentam decifrar sem sucesso os segredos que pairam sobre sua figura cripta. Até mesmo Saramago, ganhador de vários prêmios literários, entre eles, o Nobel de Literatura (1998), ensaiou uma resposta mordaz ao dilema cainita no livro “Caim”. É impossível ler Gênesis 4 e ficar indiferente às nuanças do relato. 

Apesar da dificuldade em responder objetivamente a pergunta-chave, é possível uma aproximação com os elementos fundantes do texto? Acredito que sim, embora a resposta talvez não dilua todas as incertezas. 

Suponho que o leitor já conheça a narrativa bíblica a respeito do fratricídio e sabe que o “sinal” foi para proteger Caim em vez de condená-lo (v.15). O sinal, no hebraico ’ôth (semeion na lxx), é usado no Antigo Testamento mais frequentemente como um termo teológico para descrever “sinais pactuais”, como os concertos noético (Gn 9.12-17) e abraâmico (Gn 17.11), ou “sinais milagrosos”, como as pragas (Êx 4.8). Nalgumas vezes possui sentido comum (Gn 1.14; Nm 2.2), mas seu uso predominante é teológico. 

O “sinal de proteção” continuará como tema recorrente na Escritura, como por exemplo, (a) o sangue nos umbrais das portas (Êx 12.13); (b) à marca na testa (Ez 9.4); e (c) o selo na testa dos 144.000 (Ap 7.3). Na Antiguidade o sinal/selo sobre alguém ou objeto designava a coisa selada como propriedade de alguém e, portanto, intocável por outros (Ct 4.12; 8.6; Dn 6.18; 12.4; Ef 1.13). Assim, o sinal de Javé expressa propriedade, proteção e segurança contra assassinato. 

Assente o conceito teológico de ’ôth, sinal, passemos para sua interpretação concreta. O que era o sinal? Na história da interpretação da perícope, diversas posições foram adotadas. 

Comecemos pelo livro apócrifo “O Primeiro Livro de Adão e Eva”. No capítulo 79.18-25 diz que o sinal era tremer e sacudir ininterruptamente. Em suma, outras posições adotadas por diversas escolas foram: cor negra, tatuagem e alguma forma de sinal sobre Caim. 

Não é necessário perder tempo com a primeira posição, visto que a origem da cor negra segundo o literato estaria ligada aos descendentes de Noé. A segunda seria um tipo de marca na testa de Caim que o identificaria como protegido por Javé e ao mesmo tempo traria sobre si a ignomínia e a culpa de seu pecado. 

A Bíblia nunca disse que o sinal estava sobre a testa de Caim, mas pelo fato de a marca aparecer noutros contextos na fronte dos protegidos de Javé, imediatamente relacionaram o sinal cainita a esta parte. O terceiro procede de uma possível releitura do v. 15. Enquanto as versões costumam traduzir “e pôs...um sinal” esta escola traduz “apontou...um sinal” e outra “estabeleceu...um sinal”. O sinal não estaria em Caim, mas sobre ele, como no caso do arco-íris em 9.12. Deus apontou alguma espécie de sinal para Caim em vez de marcá-lo. A pergunta ainda continua aberta!

Publicado no Jornal Mensageiro da Paz, edição de dezembro.

Pr. Esdras Costa Bentho
É paraibano, Teólogo, Pedagogo, Professor na FAECAD, Mestrando em Teologia pela PUC, RJ e autor dos livros Hermenêutica Fácil e Descomplicada (CPAD), A Família no Antigo Testamento (CPAD) e Igreja Identidade e Símbolo (CPAD).

domingo, 30 de setembro de 2012

Teologia: Uma Leitura Antropológica



O termo teologia origina-se do pensamento grego. O vocábulo é formado por dois substantivos, theós (qeo,j) e lógos (lo´´,goj), e significa um “discurso sobre Deus”. Os primeiros teólogos entre os gregos foram os poetas, especialmente àqueles que, como Hesíodo em sua Teogonia, discursaram em verso e prosa a respeito da criação do mundo (mito cosmogônico) e da gênese dos deuses gregos (mito teológico). Essa remota origem da palavra esclarece algumas questões epistemológicas a respeito do saber teológico entre os gregos.

Primeiro, a teologia era um discurso criativo que procurava compreender o mistério que circunda o cosmos, a vida. Segundo, a teologia era uma narração engenhosa que explicava a origem das divindades. Terceiro, a teologia era uma narração contextualizada com a cultura e a vida, que explicava o sucesso e o fracasso dos homens. Quarto, a teologia era um saber que envolvia o conhecimento, os gêneros, os artifícios da genialidade e linguagem humana. E, por último, a teologia era uma revelação mistagógica [1], que conduzia o homem para dentro do mistério, da compreensão do símbolo, da sacralidade do mundo, dando-lhe uma resposta a respeito do fim último.

Não existia, portanto, uma diferença entre teologia e antropologia: Falar dos deuses implicava em discursar sobre os homens. Cedo na história do pensamento grego, os teólogos poéticos souberam que o mundo dos deuses (theoí) era distinto do universo dos mortais (thanatoí), de tal modo que os primeiros são imortais (athánatoi) e bem-aventurados (eudaímones), enquanto os homens são efêmeros (ephémeroi) e infelizes (talaíporoi) [2].

A concepção grega de que a teo-logia é também uma anthropo-logia foi apresentado pelo teólogo Rudolf Bultmann ao afirmar que “quando se pretende falar de Deus, é preciso falar de si próprio” [3]. Por conseguinte, tanto os gregos quanto os modernos entenderam que, para saber “que é o homem”, é oportuno interrogar-se a respeito de Deus. Para teologizar a respeito do homem e de Deus, o totalmente Outro, Bultmann se fundamentará na antropologia heideggeriana. Contudo, falar de Deus possui certos limites que entre outros inclui a própria limitação humana. De acordo com ele

Falar de Deus como o totalmente diferente faz sentido quando constatei que a verdadeira situação do homem é a do pecador, que quer falar de Deus e não é capaz disso; que quer falar de sua existência e também não é capaz. Teria que falar dela como a que é determinada por Deus, e tem condições de falar dela como tal apenas como de uma pecaminosa, ou seja, como de uma existência em que ele não é capaz de ver Deus, diante da qual Deus se situa como o totalmente diferente [4].

O conceito que se tem de Deus reflete na explicação que se dá a respeito do homem. Heidegger entendia que o mundo é uma conexão de coisas finitas criadas por Deus e somente a partir do conceito de Deus é possível discutir e deduzir o que pertence ao ente na medida em que ele é criação divina [5]. A origem do homem está em Deus e o sentido da existência e da natureza real do ser humano encontra-se respectivamente nele. Neste aspecto, tanto o teólogo quanto o especialista em qualquer ciência que tem o homem como objeto deve considerar, como afirmou Andrés Queiruga, que “pelo esquecimento de Deus, a própria criatura torna-se obscura”.6

O estudo da teo-logia conduz o teólogo necessariamente à pesquisa da antropologia-teológica, e vice-versa. Esse movimento dialético somente é possível mediante a auto-revelação de um Deus pessoal e de uma resposta-decisão da parte do homem, e se completa no desprendimento encarnacional de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Como afirma García Rubio

À diferença das religiões em geral, a Boa Nova cristã proclama: não é o homem quem encontra a Deus mediante práticas religiosas, mediante o esforço ascético ou qualquer outro tipo de “obras”, mas é Deus quem assume a nossa existência, a nossa linguagem e a nossa história...O texto de 2Co 8,9 ressalta, com muita simplicidade, este dinamismo do desprendimento-encarnação (Jesus Cristo, muito rico, se fez pobre voluntariamente)-serviço (para enriquecer-nos com sua pobreza) [7].

A teologia cristã entende, por conseguinte, que somente é possível falar (lógos) sobre Deus (theós) a partir da revelação que Ele próprio faz de si mesmo e de suas obras ao homem. É Deus quem se revela e se comunica com o homem e ao se revelar torna-se em parte conhecido, em parte abscôndito. A revelação do nome de Deus a Moisés em Êx 3.13-15, por exemplo, tem elementos do mistério que circunda a manifestação que Javé faz de si mesmo. 
O Deus que se mostra, afirma P. Ricouer, é um Deus escondido e a quem pertencem as coisas ocultas [8]. Deus se revela por meio de um nome inominável! Se na cultura judaica primitiva conhecer o nome de um personagem tornava-o disponível ao talante do conhecedor; a revelação do Nome a Moisés demonstrava que o Senhor não estaria à mercê da linguagem e disposição de seus adoradores. “Eu Sou” (Ehyéh asher ehyéh) não é um nome que desvela sua natureza e essência incomunicável, mas que o coloca como o Deus da Redenção do passado, do presente e do futuro. O que Ele é está oculto na essência do que o Nome significa. Há, portanto, um segredo e uma comunicação, um mistério e um desvelamento.

Notas
1. O termo mistagogia procede do grego “mist”, que significa “mistério” e “agogia”, “guiar,conduzir”. Mistagogia é conduzir o indivíduo para dentro do mistério.
2.VAZ, Henrique C.L. Antropologia filosófica I. São Paulo: Edições Loyola, 1991, p.28.
3. Grifo do próprio autor. Ver BULTMANN, Rudolf. Crer e compreender: artigos selecionados. Rio Grande do Sul: Editora Sinodal, 1987, p.50. É óbvio que o presente conceito não se deve exclusivamente a Bultmann, mas o citamos como exemplo da teologia protestante.
4. Id. Ibid. p.52
5. HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 264.
6. QUEIRUGA, Andrés T. O Vaticano II e a teologia, in Alberto melloni; Christoph Théobald (orgs.) Vaticano II: um futuro esquecido? CONCILIUM, 312-2005/4, Rio de Jneiro: Vozes, p. 24.
7.RUBIO, Alfonso G. Unidade na pluralidade: o ser humano à luz da fé da reflexão cristãs. 4.ed., São Paulo: Paulus, 2011, p.19.
8. RICOEUR, Paul. Escritos e Conferências 2: hermenêutica. São Paulo: Edições Loyola, 2011, p.168.
 


TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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