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sexta-feira, 25 de maio de 2007

Introdução à Teologia do Antigo Testamento II


4. História da Teologia do Antigo Testamento
Os teólogos que se ocupam da Teologia do Antigo Testamento datam o início dessa disciplina em 30 de março de 17871, e atribuem a paternidade moderna da disciplina a Johann Philpp Gabler. Gabler discursou na Universidade de Altdorf, Alemanha, sobre “Da distinção correta entre as teologias bíblica e dogmática e da determinação adequada dos alvos de cada uma delas”. Nesta ocasião Gabler distinguiu a Teologia do Antigo Testamento da Teologia Dogmática e da Teologia do Novo Testamento. Atualmente acredita-se que a primeira obra a usar o título “Teologia do Antigo Testamento” saiu da pena de G. L. Bauer, publicado em Leipzig, Alemanha, em 1796, sob o título Teologia do Antigo Testamento (Theologie des Alten Testaments).

Entretanto, tanto Gabler quanto Bauer eram adeptos dos métodos racionalistas aplicados aos textos (racionalismo alemão), e destacaram como teologia, sobretudo, a abordagem sobre aquilo que eles compreendiam como elementos mitológicos ou lendários do Antigo Testamento. Tudo quanto não se podia explicar, como por exemplo, os milagres; e os eventos que uma mente racionalista não podia compreender, como a interferência divina na história do povo eleito, eram considerados por eles como mitológico ou lendário, ou como símbolos literários que representavam uma realidade política ou histórica.

A base da Teologia do Antigo Testamento nesse período centralizava-se, sobretudo no racionalismo alemão, do qual J.D. Michaelis (1717-1791) e J. D. Semler (1725-1792), foram responsáveis pela aplicação dos fundamentos e métodos racionais às Escrituras. Embora cressem na existência de Deus, aceitavam a doutrina do determinismo e deísmo que afirmavam que Deus não intervinha na história do homem.

Esses estudiosos eram anti-sobrenaturalistas, trabalhavam sob a pressuposição de que Deus não intervem na história do homem. Portanto, rejeitavam qualquer evidência que indicasse a presença de fatores sobrenaturais na história do povo eleito e da igreja. Tanto Gabler, Michaelis, Semler e os que vieram após ele aplicavam ao estudo do Antigo Testamento o método histórico-gramatical de interpretação. O método histórico-gramatical ou léxico-sintático, embora seja um ótimo método de interpretação, recebeu ênfase e pressuposições anti-sobrenaturalista, que negava a intervenção de Deus na história humana. Infelizmente, esse conceito, incapaz de traduzir a verdadeira teologia, influenciou teólogos e universidades cristãs em todo o mundo.

No excelente artigo de Dreyfus, “Exegese Acadêmica e Exegese Pastoral” (Exégèse em Sorbonne, exégèse em Église”, o rapsodo alerta que a crítica literária (hermenêutica crítica) ter-se-ia tornado um câncer no seio da exegese.4 Dreyfus considera as Escrituras uma obra com uma mensagem clara, e por isso mesmo, não é necessário uma pesquisa acadêmica com refinados métodos, basta ler com atenção e boa vontade para compreender a mensagem. Não somos escusados de frisar que as afirmações do teólogo francês é uma provocação dirigida a crítica literária, ao seu método puramente científico, que nada acrescenta a fé. A visão hermética das Escrituras deve ser reavaliada, e isso deve ser realizado através do equilíbrio entre teoria, prática e edificação.

Não somos escusados de frisar, contudo, que boa parte da Teologia do Antigo Testamento na Alemanha desenvolveu-se sob as tutelas da filosofia de Friedrich Schleiermacher (1768-1834), Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), e Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855).2 Embora, em certos aspectos, a Teologia do Antigo Testamento tenha se formado com as bases dos discursos filosóficos desses pensadores e de outros não registrados aqui, atualmente se discute os avanços e retrocessos propiciados por essas escolas filosóficas na formação de uma Teologia do Antigo Testamento.
Para percebermos a gravidade da situação da Teologia do Antigo Testamento dentro do contexto do racionalismo alemão, não é apenas necessário quanto também plausível, que perlustremos um pouco mais sobre o tema.

Nas bases ulteriores desse cenário surgiu Hermann Samuel Reimarus (1694-1768) com a defesa da religião natural e a rejeição da religião revelada. Segundo Reimarus, na obra lançada em 1754 (Tratado sobre as principais verdades da religião cristã), a razão é suficiente para provar a existência de Deus como criador do mundo e a imortalidade da alma. Segundo Reale, para Reimarus:


"Deus é o criador do mundo e da ordem do mundo, então o único milagre verdadeiro é a criação, sendo impossíveis os milagres proclamados pela religião positiva, porque Deus não tem por que mudar nem corrigir as suas obras. Apenas a religião natural é verdadeira e, como a religião bíblica é contrária à religião natural, então isso significa que a religião bíblica é simplesmente falsa."3


Essa consideração foi assimilada por muitos teólogos que procuravam conformar a Bíblia às concepções iluministas daquele período. Pouco tempo depois viria a ascensão do evolucionismo que acabaria agravando muito mais a situação das teologias bíblicas vigentes.


1 Cf. CRABTREE, A.R. Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro:JUERP, 1977,p.35; SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo:Vida Nova, 2001, p.29.
2 Schleiermacher foi um influente pastor em Berlim que, ainda hoje é considerado o pai da teologia moderna. Hege era um teólogo e filosofo que negava a limitação da razão e a considerava como a base das operações do Absoluto em todas as coisas. Kierkegaard, o “Dinamarquês Melancólico”, considerado o patrono do existencialismo.
3 REALE, Giovane; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do humanismo a Kant. 3.ed. São Paulo: Paulus. Volume 2, 1990, p.831.
4 DREYFUS, F. Reoulé-F. Exégèse em Sorbonne, exegese Église, apud SIMIAN-YOFRE, Horácio (et.al.). Metodologia do Antigo Testamento. Bíblica Loyola 28. São Paulo: Edições Loyola, 2000,p.13-18.

7 comentários:

Unknown disse...

Tenho acompanhado esse artigos sobre a teologia do antigo testamento, já estou aprendendo muitas coisa!
Fique na paz!

Anônimo disse...

Muito obrigado, pela sua contribuição à Teologia do Antigo Testamento. Suas observações são úteis e esclarecoras.
Willyan
Rio Grande do Sul

Anônimo disse...

Li o material de igreja e estou lendo o de teolologia do Antigo Testamento. Meus parabéns.
Celio Santos]
Manaus

Unknown disse...

Caro Ev. Esdras Bentho

Parabenizo-o pelo excelente post acerca da Teologia do Antigo Testamento.

Com o estrondoso aumento de instituições teológicas, é muito importante textos que descrevam as concepções clássicas, pois existe muita reverberação - que contribue, mas que também distorce, modifica, reproduz - e só faz piorar a discussão.

Pior de tudo, é que, a maioria das idéias, como colocado oportunamente em seu post, são sínteses do labor teológico sazonal, ou seja, simplesmente refletem o "espírito" de uma época, cujas ideologias passaram, mas retornam em nova roupagem em cada época.

Nessa "redescoberta", sempre surgem arautos da "reinvenção da roda", achando que estão tratando do que há de mais moderno na teologia. Textos assim, são como anticorpos para os estudantes de teologia, que estão tendo os primeiros contatos com a "Rainha das Ciências".

Boa discussão

Esdras Costa Bentho disse...

Prezado Pr. César Moisés, agradeço-lhe por suas palavras de incentivo e oportunas.
Creio que o método histórico-crítico, depurado dos pressupostos do intérprete, é uma excelente ferramenta à interpretação das Escrituras. No entanto, exegetas e teólogos têm usado inapropriadamente o método - alguns para justificar seus preconceitos; outros para apresentar sua cultura bíblica; mas alguns para contestar a fé evangélica.
Em recente viagem a Palestina, um conceituado literato, usou o método histórico-crítico afirmando que a batalha entre Davi e Golias não foi real, mas uma figura do poder dos hebreus contra os impérios da época e, assim conclui, hoje os palestinos são "Davi" e os judeus "Glias". A pressuposição do rapsodo era de que a batalha jamais ocorreu, sendo uma figura literária. Exemplos como esse ilustram o uso inapropriado do método na Teologia e História do Antigo Testamento.
Obrigado por suas palavras
Esdras C.Bentho

Anônimo disse...

Parabens muito bom seu Post,muito interesante!!!!Fik c paz d cristo!!!
Abs!
Faculdade Teológica

Anônimo disse...

Houve nos comentários um argumento referente à crítica que se faz ao relato da derrota de Golias e, portanto, gostaria de fazer uma pergunta citando a própria Escritura:

"Enquanto lhes falava, eis que o campeão filisteu, Golias, de Get, avançou para fora das fileiras do seu exército, proferindo o mesmo desafio {como nos dias precedentes}, que Davi escutou." (ISm 17:23)

"E recomeçando o combate contra os filisteus em Gob, Elcanã, filho de Jaare-Oreguim, de Belém, matou Golias de Get, que levava uma lança, cujo cabo era como o cilindro de tecedor." (IISm 21:19)

E como se faz? Ambos os textos se tratam de Golias de Get num combate contra os filisteus, porém, morto por pessoas diferentes. Em ISm Davi é quem mata Golias, já em IISm Elcanã é quem o mata. Como entender?

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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