DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

domingo, 4 de abril de 2010

TEOLOGIA PENTECOSTAL E A PEDRA DE MATEUS 16.18*


Os teólogos pentecostais, desde o primeiro período de formação da teologia pentecostal estadunidense e brasileira, mantiveram-se reticentes com o estudo crítico do Novo Testamento, principalmente com as asseverações que suspeitavam da originalidade, autoridade e inspiração das perícopes bíblicas. De um lado, questionavam o liberalismo teológico e, de outro, a tradição e o dogmatismo católico concernente a Mateus 16.18.

A aproximação do pentecostalismo com o método histórico-crítico sempre esteve em busca do enlace e do divórcio. Atualmente, contudo, há mais aproximação dos teólogos pentecostais com o estudo crítico da Bíblia, mas a leitura é cuidadosa e crítica [1].

Modernamente, a posição da teologia pentecostal a respeito do logion mateano ainda é controversa. A ênfase não recai sobre a identidade da igreja mateana, mas principalmente acerca da posição de Pedro no cristianismo primitivo. Três correntes ainda se mantêm estabelecidas entre os teólogos pentecostais clássicos:

(1) a de que Jesus é a Pedra – interpretação tradicional –;

(2) a de que a pedra é a confissão de Pedro – interpretação reformada –;

(3) a de que Pedro é a pedra – interpretação moderna.

A primeira é uma herança do fundamentalismo teológico. Porém, as outras duas interpretações jamais negaram a verosimilidade desta asseveração, pelo contrário, estão cônscias de que o problema exegético de Mateus 16.18 não se resolve através do dogma, mas da análise, hermenêutica e exegese.

A segunda, origina-se de uma releitura exegética de Mateus 16.18 e da constatação das dificuldades gramaticais e contextuais em manter a interpretação anterior; razão pela qual busca-se na história da exegese do texto, um equilíbrio entre a primeira e segunda interpretação.

A terceira, apesar de ainda encontrar resistência da parte de alguns teólogos pentecostais brasileiros, ocupa mais e mais os centros de formação dos pastores e teólogos assembléianos [2]. Essa última posição é fruto do amadurecimento acadêmico, da aproximação com as línguas originais e com a erudição bíblica protestante [3]. Os biblicistas pentecostais desta última escola não apenas aceitam a originalidade do logion mateano como também reconstroem o contexto original a partir do cenário vívido da narrativa e da língua aramaica.

Contudo, esta corrente admite, assim como as anteriores, que não é Pedro O fundamento da Igreja, mas Cristo, entretanto, avança na interpretação histórico-gramatical em relação às outras. A figura histórica de Pedro é interpretada de acordo com sua confissão, “homem-confessante”, em vez de em seu caráter e suposta posição no cristianismo primitivo, “homem-rocha”. Assim, mesmo que essa escola admita através da gramática e do contexto que a “pedra” de Mateus 16.18 seja a “pessoa-confessante” de Pedro, não admite a proeminência deste sobre os apóstolos e o senhorio petrino sobre a igreja. Esse personagem é interpretado como primus inter pares, assim como exige o macro contexto das Escrituras. Portanto, em cada uma das três correntes, aceita-se como fundamento inquestionável e inabalável que Cristo Jesus é o Edificador da igreja e a Rocha sob a qual a Igreja está fundada.

Alguns teólogos ortodoxos de várias tradições, no entanto, preferem ficar à margem da pesquisa historiográfica e tão-somente aceitar a inspiração verbal e plenária como fato e fim de toda controvérsia (Jo 16.13; 2 Tm 3.16; 1 Pe 1.12; 2 Pe 1.21). **

NOTAS

* Para uma discussão mais profunda, veja nossa mais nova obra: Igreja – Identidade e Símbolo, lançamento em maio de 2010, pela CPAD.

** Confira o texto do Dr. Waldir Luz a respeito da "pedra" de Mt 16.18 no blog do Daladier:http://daladier.blogspot.com/2007/08/propsito-de-pedro.html

[1] Veja, por exemplo, a aproximação feita pelo teólogo pentecostal estadunidense Anthony D. Palma, com o método histórico-crítico, crítica da redação e histórico-salvífico in O Batismo no Espírito Santo e com fogo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, pp. 11, 28, 37, etc. Os teólogos pentecostais brasileiros ainda são mais reticentes com o método histórico-crítico do que os americanos.

[2] A referência exclusivamente aos teólogos assembléianos deve-se ao interesse cada vez mais crescente da denominação (AD) em desenvolver uma teologia mais acadêmica e crítica. O mesmo não ocorre com outros herdeiros do pentecostalismo clássico e muito menos com os neopentecostais. A editora oficial da denominação, CPAD, é a principal responsável por essa transformação à medida que publica obras de referência, como por exemplo, o excelente comentário exegético de autoria de renomados teólogos pentecostais estadunidenses modernos (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003).

[3] O Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento, editado pela CPAD em 2003, faz parte desta última escola.

19 comentários:

Anônimo disse...

a paz pastor esdras

eu continuo com a primeira
(01)a de que jesus e a pedra,

sobre a confiçao de pedro, que jesus realmente e o filho de Deus e que jesus edifica a sua igreja, ate poque se aigreja fosse edificada em um simples mortal, ela nao subsistiria, mais foi edifica em cristo

e as portas do inferno nao prevalece contra ela,(igreja)

fica na paz
helio costa

Gilson disse...

Estamos lotados de interpretações particulares, para carimbar doutrina e costumes denominacionais. Por exemplo:
Há um versículo inteiro que Jesus jamais falou e hoje virou dogma, receita e até doutrina, principalmente nas AD.(tanto na CGADB como CONAMAD). É o de Mateus 17:21 "Mas, essa casta de demônios só saem com oração e jejum". Como sei disso? Não precisei nem consultar os textos mais antigos (copias) em grego coinê para saber que jamais foram registradas tais palavras de Jesus, e sim por comparação com assuntos semelhantes e situações afins chega-se a esta conclusão pois o Próprio Jesus não iria se contrariar com doutrina particular invocando método ao invés de Sua autoridade.
Em Lucas 9 e 10 Jesus envia seus discípulos para curarem toda sorte de doenças e expulsarem todos os demônios onde fossem.
Ora, se eles não fizeram nem um jejum como está provado em Mateus 9:14-17, quando o próprio Jesus diz que seus discípulos NÃO JEJUAM e até a crucificação de Jesus a situação não mudou, como então Jesus os lançaria em uma missão perigosa, visto que não estavam “blindados ou sem poder” do jejum?

Para melhor compreensão em Efésios 6:12-18 – As armas espirituais usadas contra todos os demônios (inclusive essa casta rasteira de Mateus 17, Paulo não deixa nenhuma de fora), ONDE ESTÁ A CITAÇÃO DO JEJUM ??
Estará entre linhas? Escondida em baixo de alguma das armas? Quem sabe?
Vamos deixar de falsas interpretações e separar Verdade de mandingas santas e espiritualizações fora de Cristo, de Seu Nome e Autoridade acima de quaisquer coisas.

daladier.blogspot.com disse...

Prezado Pr. Esdras,
A propósito deste assunto, sugiro a leitura do post do artigo do renomado Dr. Waldyr Carvalho Luz, sobre este assunto.

http://daladier.blogspot.com/2007/08/propsito-de-pedro.html

Abraços!

Anônimo disse...

caro irmao gilson a paz

nao sei o porque o irmao tanto luta, contra o jejun,
o irmao sita
(É o de Mateus 17:21 "Mas, essa casta de demônios só saem com oração e jejum".)

na verdade o que esta escrito em mt7,21 e
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.

nao entendi sua colocaçao,

por falar em oraçao e jejun para meditaçao do irmao.
Atos dos Apóstolos
14:23 E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.

Lucas
2:37 E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia.

Ester
9:31 Para confirmarem estes dias de Purim nos seus tempos determinados, como Mardoqueu, o judeu, e a rainha Ester lhes tinham estabelecido, e como eles mesmos já o tinham estabelecido sobre si e sobre a sua descendência, acerca do jejum e do seu clamor.

jonas 3,5
E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor.

jonas3,7 E fez uma proclamação que se divulgou em Nínive, pelo decreto do rei e dos seus grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê alimentos, nem bebam água;

Neemias
1:4 E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.

Mateus
4:2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome;
(SE ATE JESUS JEJUOU QUEM SOU EU PARA NAO JEJUAR?)

Mateus
6:17 Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,

Mateus
9:15 E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.

tem uns 200 versiculos emque poderia citar ao irmao referente ao jejum

fique na paz
helio costa

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Hélio, a maioria dos protestantes e pentecostais adotam e aceitam, como o amigo, a primeira opção. As duas últimas também aceitam e mantêm a proposição de que a Igreja foi edificada por nosso Senhor Jesus Cristo.
Agora, o irmão não acha que o pronome pessoal e a autoridade conferida a Pedro no versículo 19 não contradiz a afirmação de que Pedro não é a pedra de Mt 16.18?

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Gilson, não é a primeira vez que o irmão ataca o "jejum". Me pergunto se combater a pratica do jejum entre os cristãos é ou não relevante. Desde os primórdios do cristianismo, o jejum tem sido considerado uma "virtude teologal". Até mesmo o Didache, um manual catequético do primeiro século da era cristã, trata do jejum como um elemento presente no cristianismo primitivo.

Mas a respeito da pedra de Mt 16.18,qual a posição interpretativa do irmão?

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Daladier, não li ainda o artigo do Dr. Luz, mas o farei. Acredito, no entanto, que o referido teólogo e helenista tenha feito uma excelente exegese que conformou-se à tradição e ao mesmo tempo à exegese da perícope.

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezada Crislaine, obrigado. Fui em seu blog e deixei até mesmo uma mensagem!!

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado irmão Hélio, obrigado por sua contribuição. Vejamos agora a resposta de nosso irmão Gilson. De fato as evidências bíblicas parecem esmagadoras, mas tem aquela da consagração do Templo de Jerusalém, "se o meu povo....jejuar..."

Esdras Bentho

Eber Tardelli disse...

Pr. Esdras, tenho lido alguns de seus textos, percebo uma riqueza teológica muita vasta, tem sido de grande valia ao meu ministério.

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Eber, é uma honrar contar com sua participação no Teologia & Graça. Esse espaço lhe pertence!!!

Esdras Bentho

Cristão Reformado disse...

Graça e Paz Pr. Esdras,

Interessante este artigo, a algum tempo atrás vi um irmão defender exatamente a terceira interpretação, na época devido a "preconceito teológico" não dei muita importância, mas tenho aprendido a confrontar minhas crenças com as Escrituras, e certamente esta perícope é de difícil interpretação.

Em Cristo,

Ednaldo.

PS. Desculpe por ontem minha conexão com o facebook caiu e não pude continuar a conversa.

Eliseu Antonio Gomes disse...

Amado

Sempre considerei seu blog o melhor conteúdo assembleiano, de brasileiro para brasileiros. Agora, com esta "nova estampa", mudada para melhor, conseguiu se superar! Parabéns pela mudança no visual do seu blog. Bem melhor!

Que Deus o abençoe sempre mais!

Abraço.

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Ednaldo, sou adepto da terceira posição, mas não oriento a ninguém que a siga sem que a pessoa faça uma exegese do texto bíblico. Sei que essa posição não é admitida nos círculos mais ortodoxos do fundamentalismo. Todavia, as justificativas lexicais apresentadas por algumas escolas não são convincentes. E não estou falando de exegetas incapazes com as línguas originais, muito pelo contrário. O grande helenista Taylor, bem como o presbiteriano Dr. Waldir Luz admitem que "petros" no texto em questão significa "fragmento de rocha". Meu conhecimento do grego neotestamentário não se aproxima nem do rascunho dessas duas mentes privilegiadas, mas minhas pesquisas levam-me por caminhos diferentes.

Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Eliseu, muito obrigado por suas palavras de incentivo. Espero que o Teologia & Graça seja uma bênção à blogsfera cristã.


Um abraço
Esdras Bentho

Esdras Costa Bentho disse...

À propósito, alguém sabe de onde procede o sentido de "petros" como "fragmento de rocha", em vez de corresponder ao equivalente Cefas, no aramaico?

Esdras Bentho

Antônio Reis disse...

Paz
Vejamos o que Colin Brown nos diz sobre esse assunto: “Parece mais provável que Jesus a palavra original usado para petra "e" Petros "era o aramaico" kepa ", e que a diferença no grego foi devido à conveniência de dar a Peter uma forma masculina da palavra rocha. Embora "petros" pode significar uma rocha isolada ou pedra e "petra" uma massa de rocha viva, as duas palavras poderiam ser usadas de forma intercambiável. “
Um outro aspecto que gostaria de destacar é a questão gramatical pois como você colocou visão teológica tem se polarizado entre católicos e protestantes, a utilização do pronome demonstrativo Greco nesta contrução é taute o que nos da a idéia de proximidade, será que se Jesus estivesse referindo se a Pedro não usaria o grego ekeinos, dando uma idéia mais clara que Pedro seria a petra e não ele.
Antonio Reis

Antônio Reis disse...

Paz
Alan Richardson que viveu entre 1905-1975, tem utilizado este conceito sobre petros ser fragmento de pedra, algumas obras importantes em inglês tem citado este autor.há uma publicação deste autor em português do ano de 1966, introdução a teologia do novo testamento, mas é mais provável que outra obra dele com o titulo de A dictionary of Christian theology tenha esta possível informação.

Antonio Reis

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezados, principalmente àqueles cujs comentários não foram respondidos. Estou com algumas atividades que estão me impedindo de responder prontamento aos amigos.
Me desculpem!!!

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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