O texto de 1 Coríntios 10.2,“e todos foram batizados em
Moisés na nuvem e no mar”, é parte da seção que se inicia no versículo 1 e
termina no 13. Nessa perícope, Paulo faz uma aplicação moral da doutrina do
capítulo 9, onde havia exortado a respeito da autodisciplina que o cristão deve
exercer para não ser desqualificado
(9.27, no grego adokimos, traduzido
na ARC por “reprovado”), assim como o faz o atleta grego (vv.24-27).
O capítulo
9, entretanto, integra os argumentos “a respeito das coisas sacrificadas aos
ídolos” iniciados em 8.1 (perì dè tõn
eidõlothýtõn). Observe que a partir do versículo 14 do capítulo 10, Paulo
retoma o tema da idolatria: fugi da idolatria. Logo, o capítulo 8 descreve a doutrina; o 9 a explica com base na liberdade e
disciplina cristãs; e o 10 a exemplifica
e a conclui. Essa interessante
construção argumentativa é chamada na exegese do Novo Testamento de argumentação simbulêutica.
Definido
assim a estrutura de nossa passagem, passemos rapidamente aos elementos textuais.
Paulo emprega a fórmula costumeira “não desejo que sejais ignorantes” (v.1), a
fim de chamar a atenção do leitor e introduzir um novo elemento à pregação,
seja prático, seja afetivo ou histórico (cf. Rm 1.13; 11.25; 2Co 1.8; 1Ts 4.13).
Não deixe escapar à vista a repetição proposital de “todos” (gr. pántes) nos versículos 1 a 4 – que
descreve a participação de “todos” os israelitas na experiência salvífica do
êxodo – e, da expressão negativa do versículo 5, “não se agradou da maior parte
deles”; que aponta para o comportamento pecaminoso da “maior parte” na economia
da salvação. A isto considere que a atitude negativa dos hebreus é condenada
entre os cristãos por meio da fórmula “e não” (gr. medè), nos vv.7-10. Acrescente o fato de que Paulo esclarece que os
eventos da história soteriológica dos israelitas servem como typos (v.6) ou prefigurações (typikõs,
v.11) para a Igreja.
A história tipológica de Israel, como afirmo na obra, Hermenêutica Fácil e Descomplicada
(CPAD), assume duplo caráter: antecipar
e advertir. Penso que agora estamos
aptos para compreendermos a pergunta. A expressão usada por Paulo identifica a
experiência israelita no êxodo como um tipo da prática cristã do Batismo e da Santa
Ceia do Senhor, nossas duas principais Ordenanças (vv.14-21). A nuvem, o mar, o
maná, a rocha e a figura de Moisés, elementos da epopeia israelita, são
considerados na perspectiva da doutrina das Ordenanças cristãs. A passagem pelo
mar Vermelho é tipo do batismo cristão; o maná e a água extraída da rocha são
símbolos do pão e do suco da vide; a rocha é o próprio Cristo; o batismo dos
israelitas em Moisés é figura do batismo dos fiéis em Cristo (vv. 1-4; cf.Rm
6.3; Gl 3.27).
Assim, a libertação dos hebreus do Egito e a saga pelo deserto
são experiências soteriológicas análogas, tipologicamente semelhantes, à
experiência cristã do batismo e da Santa Ceia do Senhor. Lembre-se, portanto,
que Paulo reconhece a veracidade dos fatos em Êxodo, mas emprega a exegese tipológica, o argumento moral e a anagogia para lograr êxito em sua exortação aos crentes coríntios. No
primeiro, ensina em que e como se deve crer nos eventos passados. No segundo,
explica como se deve viver diante desse esclarecimento. No terceiro, descreve o
caminho de nossa união com Deus.
3 comentários:
A paz do Senhor, pastor!
Ótima abordagem! Deus continue o abençoando!
Em Cristo,
JP
Meu prezado Pr. Esdras, li seu comentário. São palavras maravilhosas. Como o senhor é um estudioso, deve conhecer o comentário do NT de William Barclay. Se quiser publicar, ele comenta a passagem da seguinte maneira: Neste capítulo Paulo ainda está considerando o problema do consumo de carne que foi oferecida aos ídolos. O pano de fundo desta passagem é a presunção de certos cristãos de Corinto. Seu ponto de vista era o seguinte: "Fomos batizados e portanto somos um com Jesus Cristo, participamos do sacramento e portanto participamos do corpo e do sangue de Cristo, estamos em Cristo e Ele está em nós, portanto estamos completamente a salvo, podemos comer carne oferecida aos ídolos sem problemas; não há perigo para nós."
Assim, pois, nesta passagem Paulo adverte aos que falam com essa confiança, do perigo de confiar muito em si mesmos. E recorre à história para demonstrar o que pode acontecer com os que foram abençoados com os maiores privilégios. Retrocede aos dias em que os filhos de Israel eram nômades e peregrinos no deserto. As coisas mais maravilhosas ocorreram com eles naqueles dias. Tinham sobre si a nuvem para mostrar o caminho e proteger nos momentos de perigo (Êxodo 13:21; 14:19).
Poderiam atravessar em seco o Mar Vermelho (Êxodo 14:19-31). Estas duas experiências os uniram de maneira perfeita com Moisés, o maior dos caudilhos e legisladores, até poder dizer que foram batizados nele assim como os cristãos são batizados em Cristo.
Abraços!
A paz do Senhor pastor Esdras, tenho lhe enviado e-mails, preciso falar com o senhor sobre nossa palestra dia 29 de setembro. meu telefone da tim é 6947-5140.
Pb.
herlon Charles
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