DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

terça-feira, 18 de junho de 2013

Concílio Vaticano II


Prezados leitores do Teologia & Graça, segue alguns estudos a respeito da história do Concílio Vaticano II, segundo a obra Breve História do Concílio Vaticano II: (1959-1965), do historiador Giuseppe Alberigo. Espero que essa síntese possa auxiliar àqueles que estudam a História da Igreja Moderna, principalmente meus alunos da FAECAD. Segue abaixo um resumo dos capítulos da obra citada. Se houver apreciação dos leitores, publicarei o resumo que também fiz da Revista Concilium a respeito dos 50 anos do Concílio.

ALBERIGO, Giuseppe. O anúncio: esperanças e expectativas (1959-62). In ALBERIGO, Giuseppe. Breve história do Concílio Vaticano II: (1959-1965). Tradução de Clóvis Bovo. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2006, p. 7-47.

Giuseppe Alberico, professor emérito de História da Igreja na Faculdade de Ciências políticas da Universidade de Bolonha, reconstrói uma síntese do complexo itinerário, do espírito e dialética do trabalho conciliar de 1959 a 1965. No capítulo em epígrafe, concentra-se na hermenêutica e relato dos fatos até 11 de outubro de 1962. Seus objetivos são descrever as transformações que o Concílio introduziu no catolicismo, o modo como indiretamente afetou as demais igrejas cristãs, e a influência do pontificado de João sobre a política e a conduta da Igreja na sociedade. O texto assim está estruturado: introdução (p.7-15); Capítulo I – O anúncio: esperanças e expectativas (1959-62), distribuído nos seguintes locus: surpresa (p.17-22); resposta inesperada (p.23-26); concílio ecumênico? (p.26-29); Concílio: o que é isso? (p.29-32); Quem prepara o Concílio? (1959-1960) (p.32-36); A preparação oficial (1960-62) (p.36-40); Como funciona a assembleia (p.40-44); e, por fim, Preparação para o concílio? (p.44-47).

Para cumprir seus propósitos, inicia com a descrição do impacto que o anúncio de 25 de janeiro de 1959, de iniciativa do próprio papa, causou na cúria católica há menos de noventa dias de sua eleição como sucessor de Pio XII. Alguns contextos, todavia, apresentavam-se contrários à realização do Concílio: (1) a guerra fria entre os blocos ideológicos contrapostos – capitalista e comunista –; (2) a idade avançada do papa; e, (3) a falta de maturação para resolução dos problemas, como sugeriu Y. Congar. As respostas ao anúncio, no entanto, mostraram-se díspares: esperanças, expectativas e desconfiança, esta última caracterizada pela solidão institucional e pelas suspeitas das igrejas de que a Igreja romana estivesse planejando um monopólio ecumênico. Em 1959, no mês de abril, é que o papa João XXIII descreve que o escopo do concílio era (1) fazer crescer o empenho dos cristãos, e (2) dilatar os espaços da caridade. Uma comissão antepreparatória fora organizada para consultar todos os bispos a respeito dos temas que o concílio deveria apresentar, criando-se assim, um índice para manusear as mais de 1.500 páginas. O Concílio, portanto, não se tratava de união entre tradições cristãs divididas, mas era de cunho pastoral e de liberdade, onde os bispos seriam os protagonistas do evento. A assembleia foi cuidadosamente preparada a fim de receber mais de dois mil participantes heterogênios. O Concílio era uma convocação de todos os cristãos para a união e o “aggiornamento”. Giuseppe, conclui o capítulo com uma incerteza: o concílio era uma reunião insignificante de dignitários ou um evento de alcance mundial e de transição de época?






ALBERIGO, Giuseppe. Por uma consciência conciliar (1962). In ALBERIGO, Giuseppe. Breve história do Concílio Vaticano II: (1959-1965). Tradução de Clóvis Bovo. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2006, p. 49-80.

Gaudet mater Ecclesia, com esse refrão pronunciado por João XXIII, inicia-se o ato mais significativo da Igreja católica contemporânea. Como afirmara o próprio papa, o Vaticano II coloca-se “frente aos desvios, às exigências e às oportunidades da idade moderna” (p.50). Pretendia o Concílio proporcionar à Igreja uma abertura ao futuro por meio de uma atitude acolhedora e discernente. Era um reexame para encontrar os modos mais eficazes da presença da Igreja entre as pessoas e a sociedade.

O clímax do Concílio fora reservado ao debate a respeito do projeto sobre a Igreja, suscitando não poucas objeções à redação e ao pensamento que lhe deu azo. Nessa ocasião, os conciliares deram-se conta de que seus esforços possuíam valores muito mais amplos, uma vez que “empenhavam as pessoas a se abrirem para horizontes adequadamente vastos” (p.61). Entre os anos de 1962-1963 ocorre uma pausa para uma nova preparação do Concílio. O papa fora acometido de uma enfermidade, mas as comissões conciliares continuaram os seus trabalhos. Com De Ecclesia estava claro que o tema que caracterizava o Vaticano II era a Igreja. O concílio manifestou uma grande energia para discutir temas polêmicos, como por exemplo, o celibato eclesiástico, passividade dos fiéis e à desconfiança com respeito à ideologia socialista.



ALBERIGO, Giuseppe. O Concílio torna-se adulto (1963). In ALBERIGO, Giuseppe. Breve história do Concílio Vaticano II: (1959-1965). Tradução de Clóvis Bovo. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2006, p. 81-106.

O terceiro capítulo da obra em epígrafe trata mais especificamente do segundo período de trabalho do Concílio, cujo eixo principal é De ecclesia. Divide-se em: (a) Uma crise de crescimento (p.81-90); (b) Responsabilidade dos bispos e unidade das igrejas (p.90-98); (c) A missão é de todos (p.98-100); e, (d) A nova fisionomia do concílio (p.100-106). Nessa ocasião, Paulo VI destacou quatro objetivos do concílio: (1) exposição da teologia da Igreja; (2) renovação da Igreja e empenho pela unidade dos cristãos; e, por último (3) o diálogo com o mundo contemporâneo. O projeto e as discussões focavam cada um dos quatro capítulos, nos quais o projeto se articulava: (I) ministério da Igreja na história da economia da salvação; (II) constituição hierárquica da Igreja e seus bispos; (III) o povo de Deus, os leigos, e a participação de todos os batizados na missão; e, (IV) o chamado comum de todos os fiéis à santidade. As controvérsias de cada artigo, respectivamente, giravam em torno do (a) batismo como único requisito para pertencer a Igreja; (b) a relevância do sacerdócio comum dos fiéis dentro de uma igreja vista como povo de Deus; (c) dificuldade de caracterizar satisfatoriamente a vocação geral à santidade; e, (d) a colegialidade episcopal.

Essas propostas elencaram as mais calorosas controvérsias, agravadas pela dificuldade de se obter uma resposta imediata que, transcorridos quinze dias desde o primeiro anúncio, já se confrontavam duas teologias da Igreja e do episcopado, e circulavam muitas intolerâncias em relação à nomeação dos moderadores e pela confiança lhes concedida por Paulo VI. Contudo, afirmou-se a vontade do concílio em favor de uma profunda renovação da consciência eclesial. Entre os muitos personagens que se destacaram, consta a figura do cardeal alemão Frings e sua crítica ao Santo Ofício; do arcebispo indiano E.D’Souza e sua incisiva contra o poder centralizador da cúria romana. Ênfase à reforma litúrgica, a nova fisionomia do concílio, e o fato político externo que trouxe grande comoção à assembleia: o assassinato de J. F. Kennedy, em 22 de novembro de 1963.


ALBERIGO, Giuseppe. A Igreja é uma comunhão (1964). In ALBERIGO, Giuseppe. Breve história do Concílio Vaticano II: (1959-1965). Tradução de Clóvis Bovo. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2006, p. 107-147.

O quarto capítulo da obra em epígrafe destaca as escaramuças, avanços e altercações da terceira etapa conciliar. Este terceiro período levou a efeito o que fora amadurecido nas duas assembleias anteriores e fez a transição para os problemas do relacionamento da Igreja com o mundo. Cumpriu-se assim, o compromisso que o episcopado assumira em 20 de outubro de 1962 com a mensagem dirigida à humanidade. A seção distribui-se como segue: (a) Na metade do caminho (p.107-111); (b) 1964: uma agenda carregada (p.111-117); (c) Uma semana “negra” (p.118-127); (d) A Igreja está no mundo (p.127-142); (e) Resultados e incertezas (p.142-147).

Na primeira parte, o autor apresenta as modificações regulamentares que dificultaram os debates tornando-os menos proveitoso. Na segunda, descreve as diversas tarefas entregues aos conciliares, entre elas, temas outrora discutidos como De ecclesia, De oecumenismo, e De episcoporum munere, além de outros três assuntos: revelação, apostolado dos leigos e Igreja no mundo contemporâneo. Na terceira, ocupa-se com as controvérsias que trouxeram o descontentamento dos conciliares. Na quarta, destacam-se a constituição dogmática sobre a Igreja, especificamente, Lumen gentium, e os decretos Unitatis redintegratio e Orientalium ecclesiarum. Assim, muda-se a perspectiva da assembleia conciliar, com a valorização do concílio pelos bispos e pela passagem de uma direção euro-europeia para um “empenho e iniciativa” universais. Por último, o historiador assinala os resultados, os desafios e as incertezas dessa terceira etapa conciliar.




 ALBERIGO, Giuseppe. A fé vive na história (1965); Pela juventude do cristianismo. In ALBERIGO, Giuseppe. Breve história do Concílio Vaticano II: (1959-1965). Tradução de Clóvis Bovo. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2006, p. 149-202.

O quinto e sexto capítulos da obra em epígrafe tratam dos eventos finais do concílio (V) e da avaliação do autor a respeito das expectativas e resultados gerados pelo evento (VI). O quinto capítulo divide-se em: (1) A última pausa (1964-65) (p.149-157); (2) Há uma liberdade religiosa? (p.157-166); (3) A Bíblia e a Igreja (p.167-171); (4) Os cristãos vivem na história (p.171-180); (5) Encerramento do concílio (p.180-185).

Muito embora seja igualmente relevante o projeto sobre a igreja no mundo, o tema da paz, da liberdade religiosa e do judaísmo, na primeira parte destaca-se a canonização de João XXIII e a abertura dialógica de João VI com o marxismo. Na seção seguinte, há duas importantes intervenções do polonês Wyszynsky e do checo-eslovaco Beran, que exigem o direito da Igreja contra os nazistas e regime comunista. Na ocasião, tratou-se também da revelação e apostolado dos leigos, destacando-se o teólogo francês Chenu que defendera a relação entre o reino de Deus e a história e a necessidade de se “aprender a reconhecer aos sinais dos tempos como ‘lugares teológicos’”. Outro assunto de não menos importância foi suscitado pelo melquita libanês, Dom Zoghby, a respeito de um novo casamento do cônjuge inocente abandonado. Um tema com grande repercussão teológica para o scholar na modernidade foi a “inculturação” da mensagem evangélica, fora da “hegemonia greco-latina”. Na terceira parte, a constituição dogmática DV une a perspectiva teológica com a pastoral, acentuando a importância da Palavra de Deus na vida cristã. Na quarta parte, discute-se assuntos pertinentes à Igreja na contemporaneidade, como a liberdade religiosa e missões. Por último, no capítulo V, salta aos olhos a influência do concílio sobre aqueles que viveram a experiência conciliar como “um acontecimento espiritual profundo”: Léger, Lercaro, Motolese e Helder Câmara.

O capítulo VI apresenta o caráter e interesse do concílio não apenas para a Igreja Católica, mas para todo o povo de Deus. Para G. Alberigo, o concílio foi “obra-prima do episcopado católico e, em filigrana, do Espírito”. Assim, para o papa João o concílio era “um novo Pentecostes”. Fez a transição das concepções teológicas escolásticas para a modernidade e inseriu a Igreja em um novo caminho rumo ao ecumenismo, ao diálogo e a unidade, sem a exigência da uniformidade. Uma completa mudança de paradigma no curso da Igreja.


 Esdras Bentho é teólogo, pedagogo e mestrando em teologia pela PUC RJ.

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