DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Rudolf Karl Bultmann: uma reflexão

1884-1976

O pensamento de Rudolf Bultmann, quer concordemos ou não com suas assertivas, ainda permanece vivo, seja por meio daqueles que abraçaram a teologia bultmanniana, seja através dos que vivem para combatê-la.

Recentemente, o Dr. Nicodemos, com a pujança literária que lhe é própria, usando um estilo semelhante ao de Luciano, criticou com veracidade e razão a concepção cristológica do teólogo de Marburg; concordo com meu conterrâneo nesse particular.

Não conheci pessoalmente a Bultmann. Meu primeiro contato com a teologia do insigne de Wiefelstede deu-se em julho de 1998 durante o período em que era aluno de hermenêutica do Dr. Esteven Kirschner, no Ceteol . Na memorável ocasião, precisava fazer uma resenha crítica do ensaio bultmanniano de 1957, Será possível a exegese livre de premissas? Para tal empreendimento li embevecido não apenas o texto em questão, como também o texto de 1950, O problema da Hermenêutica, no qual identifiquei a influência e dependência de Bultmann da metodologia das Geisteswissenschaften de Wilhelm Dilthey.

Foi o início de minha paixão e apreço pela hermenêutica e língua alemã, (embora a língua nunca tenha sido gentil comigo) incluindo Martin Heidegger (influência de meu professor Alexandre Carrasco, enquanto cursava no inverno de 1999 Filosofia da História - Univille), Gerhard Ebeling, e Hans-Georg Gadamer. Desde então, tornei-me ávido leitor e crítico da teologia do existencialista de Marburg.

Lendo os textos de Bultmann, senti-me desafiado! Suas concepções a respeito do milagre (Mirakel e Wunder) incomodam o teólogo pentecostal, bem como a “teologia da desmitologização” esvazia a essência teológica dos evangelhos e os preenche de existencialismo. Mesmo assim, senti-me mais privilegiado do que alguns amigos que estudaram em certo seminário cuja leitura dos textos de Bultmann era desestimulada ou quase proibida. Prefiro a perturbação do saber à ataraxia do não-saber! Contudo, não se engane, como afirmara um dos mais insignes teólogo metodista, Dr. B.P.Bittencourt (1969:15), “Bultmann é liberal, liberalíssimo”.

O leitor bultmanniano, ao que parece, reage à leitura: rejeitando o pensamento do autor; aceitando a teologia bultmanniana, ou então, inicia-se um diálogo-dialético com sua teologia. Acredite, a última opção é a melhor das duas primeiras.

Não concordo com a teologia da desmitologização que, segundo, P. Tillich (1999:232), deveria ser chamada de “desliteralização”. Trata-se, conforme minha opinião, de uma concepção equivocada tanto do conceito de mythos, quanto da linguagem teológica dos evangelhos.

Todavia, entendo que a desmitologização deve ser estudada – o que até o momento os estudos teológicos no Brasil têm dado nenhuma ou pouca importância – a partir do Denkweg, da Alētheia e do Mytho do Ser heideggerianos. Foi Heidegger quem estabeleceu modernamente o caminho da desmitologização daquilo que ele compreendia como “o mundo mítico das Escrituras”. A respeito disto escreveremos noutra ocasião.

Para encerrar, cito Bittencourt (1969:16 ) – este fora discípulo de Günther Bornkamm, que por sua vez era um ou o mais notável discípulo de Bultmann – que, a respeito de Bultmann registrou:

  • Há os que afirmam que, estudando Bultmann, perderam a fé, tornaram-se frios, tão frios quanto o tratamento dado ao material evangélico pelo grande teólogo de Marburg. Quando porém, vejo o grande varão de Deus, já quase nonagenário, de salva na mão, a levantar as ofertas no cuto de sua comunidade na velha igreja luterana de Marburg, fico a duvidar da sinceridade dos que o acusam de haver lhes destruído. E nem poderia sê-lo, pois ele, já quase nos umbrais eternos, continua fiel ao Senhor. Basta ler alguns dos seus sermões, (Weihnachten – Noite de Natal – por exemplo), para sentir-se o calor espiritual e a inspiração de sua mensagem.
Obs.: Veja neste mesmo blog outros textos a respeito de Bultmann.

Referências

BITTENCOURT, B.P. A forma dos evangelhos e a problemática dos sinóticos. São Paulo: Imprensa Metodista, 1969.

BULTMANN, R. Crer e compreender: artigos selecionados. São Leopoldo: Sinodal, 1987.
____ Milagre: princípios de interpretação do Novo Testamento. São Paulo: Novo Século, 2003.

12 comentários:

Lucivaldo de Paula disse...

Meu querido Pr.Esdras, muito boa essa reflexão.O seu blog Teologia e Graça nos enriquece muito.Meu querido Pastor, assistir o video sobre:os objetivos da Hermenêutica Bíblica essa rica ferramenta vai ficar quardada no meu arquivo como fonte de pesquisa.Pastor se tiver outras palestras em algum sites me de o endereço meu querido e amigo.Que Deus abençoe o senhor e sua familia.

Welington Bartels disse...

Pr. Esdras, fico feliz de encontrar no meio pentencostal uma teologia séria. Mais uma vez fico estupefacto com o enriquecimento exposto na tua reflexão.Vejo uma crítica de alguém
que conhece; o que é raro em nossa teologia pentencostal.Que Deus continue a te abençoar e por favor continue a nos graciar com estas enriquecedoras reflexões.

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene
Prezados irmãos, muito obrigado pelo apreço, carinho e incentivo!
Esdras Bentho

Thiago A. Silveira disse...

Olá Rev. Esdras,

eu fui iniciado em Bultmann quando tinha 15 anos (bem cedo!), por um amigo "teólogo", na ocassião ele emprestou-me um dos tomos da antiga edição de Crer e Compreender, e contou-me um pouco do programa hermenêutico de Bultmann. Mas foi na Faculdades EST que eu aprendi a admirar Bultman. Na EST eu conheci bultmanianos com charutos discutindo desmitologização. Estudei NT com o Dr. Uwe Wegner, que nos aconselhava a ler e ler "Die Geschichte der synoptischen Tradition", classico da Crítica da Forma. Em setembro do ano passado, Ulrich H. J. Körtner, da Universidade de Viena, palestrou na EST sobre a atualidade de Bultmann, deixando claro que é impossível estudar NT sem "compreender" Bultmann. "Crer" em Bultmann que é o problema, pois os pressupostos e as conclusões de Bultmann são incompatíveis com a fé cristã histórica, mas isso não significa rejeitar a priori Bultmann, concordo com você que o diálogo é a melhor opção. Parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Pr. Bentho, paz!

Quanto tempo hein?!
.
Amigo, concordo com sua orientação sobre estudarmos o pensamento bultmaniano por um diálogo-dialético....
Mas, me diga uma coisa:
.
Você concorda textualmente com o fragmento de Bittencourt?
.
Abraços!
.
Feliz 2010!

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene
Prezado amigo Thiago sua formação teológica é invejável, pois estudaste em uma ou talvez a mais importante faculdade de teologia da América Latina.
Execetuando o que deve ser excetuado, a importância da hermenêutica de Bultmann para a teologia do Novo Testamento assemelha-se a importância dos escritos de Heidegger, Gadamer e Ricouer para a hermenêutica contemporânea.
Conheci o Dr. Wegner no Ceteol e na comunidade luterana de São Marcos, Joinville, um homem e teólogo extraordinário.
Fico feliz com sua participação em nosso blog, estou preparando um texto a respeito do relacionamento de Heidegger com Bultmann na Universidade de Marburg e como o teólogo saudou a filosofia existencialista de Heidegger.
Um abraço
Feliz Ano Novo

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado amigo Zwinglio, faz, de fato, muito tempo, assim como eu, sei que o estimado professor assim que pode dá uma "bisbilhotada" no blog dos amigos.

Confio na informação do Dr. Bittencourt, uma vez que foi aluno de um dos discípulos de Bultmann e o conheceu pessoalmente. Mas quanto ao juízo que o próprio faz das consequências da teologia bultimanniana é um "dado aberto". Já conheci alguns seminaristas que abandonaram a "fé evangélica" em função da leitura dos textos de Bultmann, um deles inteligentíssimo e pentecostal. Mas
tenho ensinado a hermenêutica de Bultmann e não tenho conhecimento de que um de meus alunos tenham se enfraquecido na fé em função desses estudos. Há, no entanto, pessoas que saem do extremo da ortodoxia e abraçam o extremo do liberalismo teológico, isso tenho visto muito.
Quanto ao fragmento de Bittencourt citei apenas para equilibrar, por meio do testemunho de um brasileiro que o conheceu pessoalmente, os debates que já "lançaram o dito teólogo no Hades".
Meu antigo professor de Alemão, Hase, pentecostal na Alemanha, segredou-me que os discípulos de Bultmann entendiam da desmitologização de seu orientador, mas compreendia pouco as Sagradas Escrituras. Ele mesmo disse que "debatia e evangelizava" na Universidade com os discípulos de Bultamann na em fins da década de 60 e início da de 70.

Amigo, não sei se respondi sua pergunta; desculpe-me se fui evasivo.
Feliz Ano Novo!
Esdras Bentho

Abaixo cito o texto de Bittencourt para nosso leitores não recorrerem ao texto principal:

"Há os que afirmam que, estudando Bultmann, perderam a fé, tornaram-se frios, tão frios quanto o tratamento dado ao material evangélico pelo grande teólogo de Marburg. Quando porém, vejo o grande varão de Deus, já quase nonagenário, de salva na mão, a levantar as ofertas no cuto de sua comunidade na velha igreja luterana de Marburg, fico a duvidar da sinceridade dos que o acusam de haver lhes destruído. E nem poderia sê-lo, pois ele, já quase nos umbrais eternos, continua fiel ao Senhor. Basta ler alguns dos seus sermões, (Weihnachten – Noite de Natal – por exemplo), para sentir-se o calor espiritual e a inspiração de sua mensagem". (Bittencourt)

Lucivaldo de Paula disse...

Meu querido Pr.Esdras todos os dias visito o seu excelente blog.Fiquei sabendo que o senhor está de férias,então boas férias e um 2010 de muitas realizações para o senhor e familia.O senhor meu Pastor mora no meu coração. Deus te abençõe! A paz do Senhor!

MINISTÉRIO RELIGARE disse...

Graça e Paz Pastor Esdras

Sempre postamos em nosso blog textos próprios e de terceiros(irmãos em Cristo da blogesfera)que possam edificar nossos visitantes. Com seu conhecimento, gostaria de transcrever o artigo em questão citando o blog de origem e o autor, já que anteriormente também postamos a matéria do Reverendo Augustus que aborda Bultmann.
Gostaria também de uma sugestão sua , se for possível.Qual e onde o Reverendo me indicaria para fazer hoje um pós em teologia?

Unknown disse...

AMIGO QUANDO NÓS NOS PROPOMOS, A REFLETIR, SOBRE ALGO NÓS NÃO FALAMOS SOMENTE O QUE OS OUTROS, PENSAM.
SEU TEXTO SOBRE RUDOLF BULTMANN ESTÁ MUITO VAGO, OU MELHOR ESTA UMA PORCARIA
VOCÊ NÃO CONHECE NADA DO AUTOR...
VOCÊ NUNCA ESTUDOU BULTMANN VOCÊ SÓ OUVIU E MUITO MAL AINDA, TE VENDERAM PEIXE PODRE.
PAZ E GRAÇA: ALAOR COUTINHO

Esdras Costa Bentho disse...

Caro Alaor Coutinho, obrigado pela sua grande contribuição à discussão, cada leitor do blog sente-se honrado por sua educada e nobre participação.

Esdras Bentho

Neemias Raimundo disse...

Prezado pastor Esdras, foi enriquecedora a leitura desse texto.
No decorrer de minha caminhada sempre fui orientado a evitar o contato com esse "atribulado". Sendo minha curiosidade maior que o temor, fui em frente e não senti minha fé abalada nem esmorecida ao primeiro contato com seus escritos; ao contrário, me vi sendo contemplado com a possibilidade de abrir meus horizontes para o contraditório.
Confesso que o testemunho do Dr. Bittencourt me alegrou muitíssimo por saber que em idade avançada, Bultmann manteve sua fidelidade a Deus. Assim, concluo que entre a perturbação e a ataraxia, também sou adepto da primeira.

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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