DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

terça-feira, 25 de maio de 2010

Identidade Antropológica da Igreja de Cristo


A igreja é constituída de pecadores redimidos por Cristo que, à semelhança de Isaías, está diante do Trono, mas treme em sua humanidade impura. A igreja deve reconhecer sua grandeza – ela é Corpo de Cristo – mas jamais pode se esquecer de suas limitações e fraquezas – o pecado ainda é uma realidade latente, não obstante sua transformação à semelhança de Cristo (Ef 4.13).

A identidade antropológica da ekklēsia não reduz sua grandeza, pelo contrário a traduz. De acordo com Pascal, a verdadeira religião é aquela que permite que conheçamos nossa mais íntima natureza, sua grandeza, insignificância e a razão para ambas; para o cientista e teólogo francês, a fé cristã é a única que tem esse conhecimento [1].

É na relação celíflua com o Logos que os membros da ekklēsia conhecem o verdadeiro propósito de sua criação, redenção e glorificação. Nesse inaudito e glorioso convívio a índole carnal cede para “o novo homem” (ton kainon anthrōpon) que “segundo Deus” (kata Theon) foi criado em verdadeira justiça (dikaiosynē) e santidade de vida (hosiotēs) (Ef 4.24).

Em Cristo, a ekklēsia vive e reflete a verdadeira humanidade, “o novo homem segundo Deus”; o poema (poima) que foi criado en Christō (Ef 2.10). Ao “ter sido feito semelhante aos homens” (homoiōthēnai), Jesus tornará os redimidos semelhantes (homoioi) a Ele (Hb 2.17; 1 Jo 3.2; Fp 3.21). Nenhuma instituição humana cumpre essa função, somente a ministração salvífica da Santíssima Trindade é capaz de transformar pecadores redimidos à semelhança do Filho de Deus, e convertê-los em Corpo de Cristo!

Não são os programas litúrgicos, as inúmeras festividades, o estatuto, as tradições, os bons costumes e as convenções sociais da igreja que transformam pecadores à imagem de Cristo, mas o relacionamento entre o homem e Deus através do sacrifício vicário de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da ação noutética do Santo Espírito.

Diante da realidade da igreja contemporânea mais e mais pessoas são agregadas ao rol da igreja local sem uma profunda transformação de natureza, caráter e vida. Mas há uma Igreja dentro da igreja. Assim como o trigo e o joio são coisas distintas embora cresçam juntos, assim também há muitos joios na igreja local que crescem com os trigos da Igreja universal, santa e uma.

Ainda que esta seja a natureza transformacional da ekklēsia – organismo espiritual, santo e universal – a igreja também vive suas limitações locais como corpo e membro uns dos outros. A natureza una, espiritual e santa do Corpo de Cristo opõe-se à realidade social, cultural e humana da igreja visível, principalmente enquanto estivermos in partibus infidelium, isto é, entre os infiéis. O sentido de opor neste caso não é o de “oposição”, “impugnação”, mas como no latim opponere, isto é, “pôr na frente”.

É possível, portanto, distinguir satisfatória e adequadamente a natureza da Igreja universal da local. Assim como é possível distinguir a Igreja, comunidade dos redimidos, da congregação de Israel no deserto. Bultmann afirma que a “pergunta pelo conceito de Igreja” é decisiva para o cristianismo [2]. E a resposta para essa pergunta acha-se principalmente nas páginas neotestamentárias.

Este texto faz parte de nossa mais nova obra, Igreja: Identidade e Símbolos que será lançada pela CPAD no início de Junho de 2010.



[1] PASCAL, B. Mente em chamas: fé para o cético e indiferente. Brasília: Editora Palavra, 2007. p. 173.

[2] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004, p.140.


3 comentários:

wally disse...

apz, amado pr. Esdras.

neste trecho

"Nesse inaudito e glorioso convívio a índole carnal sede para “o novo homem”", ao invés de "sede", não seria "cede" ?

não consegui entender o trecho, poderia esclarecer, por favor?

abs.

Esdras Costa Bentho disse...

Kharis kai eirene

Prezado Wally, obrigado por sua participação no Teologia & Graça.
Citarei todo o parágrafo:
"É na relação celíflua com o Logos que os membros da ekklēsia conhecem o verdadeiro propósito de sua criação, redenção e glorificação. Nesse inaudito e glorioso convívio a índole carnal cede para “o novo homem” (ton kainon anthrōpon) que “segundo Deus” (kata Theon) foi criado em verdadeira justiça (dikaiosynē) e santidade de vida (hosiotēs) (Ef 4.24)."
Trata-se do relacionamento do crente regenerado com Cristo. Uma vez justificado e regenerado o crente participa da própria natureza divina em Cristo, como afirma o apóstolo Pedro (2Pe 1.4), "participantes da natureza divina" (cf. 2Co 3.18). Quando usei e abusei dos adjetivos foi para resaltar que isto jamais fora experimentado à parte da revelação e relação do crente com o Logos Divino.

Obrigado pela observação "sede" e "cede", você está correto. Foi um cochilo, mas o amigo atento, obsservou. Já fiz a correção.

Ricardo Kane disse...

A paz do Senhor.
Sou estudante de teologia e tento manter um blog para os estudantes.
Estamos na baixada santista.
Gostaria de saber se o irmão poderia colaborar com o blog e enviar algum artigo seu para que pudessemos postar no blog.
Desde já agradeço.
O Senhor continue abençoando seu trabalho.
Nosso blog é www.faceteque.blogspot.com

Graça e paz.
Ricardo Rodrigues

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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