DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sábado, 16 de outubro de 2010

Reflexões sobre o olhar


“Quem não compreende um olhar,
tampouco compreenderá uma longa explicação.”
(Mário Quintana)

Se vê de modo profundo, quando somos capazes de olhar a outrem e as coisas sem as amarras dos condicionamentos sociais, que tanto afastam os homens de seus semelhantes e de sua real identidade.

A construção social do olhar afeta diretamente o ser, o sujeito. Não se vê apenas com os olhos, mas com o tato, a audição, o sentir, a emoção! A leitura de si, do outro e do mundo é feita com maior profundidade quando intermediada pelos sentidos. Quando falta ao sujeito a capacidade ocular, ele aprende a ver além dos estereótipos sociais, pois vê com a emoção, a alma.

O que falta ao olhar, sobra à imaginação. O ver o invisível é olhar através da imaginação. A imaginação é um modo de construir a realidade. É fuga... é centro... é chegada. Parece que em certas ocasiões não se vê com os olhos físicos, mas com os da imaginação. A imaginação constrói a realidade por meio dos referenciais dos sentidos.

As imagens são sombras que inibem o olhar atento e profundo, uma vez que não se propõem a comunicar, mas a vender; não quer construir a história, mas esgotá-la na frivolidade do consumo.

São os excessos de imagens que impedem o indivíduo de ver e apreender as histórias que se configuram perdidas na relação com o outro.

O olhar atento e perspicaz, como afirma Baudelaire a respeito do homem moderno, “extrai o eterno do transitório, liberta o poético do histórico”.

O olhar é uma forma de construir a realidade e o mundo. O fotógrafo e o cineasta veem e constroem a realidade de modo distinto, mas complementar. O primeiro registra, congela e paralisa a realidade através de sua lente, que aprisiona um recorte da realidade. O segundo impõe movimento e interpretação à realidade, que está sempre em processo de mutação e, portanto, é impossível cercear.

Não se vê corretamente enquanto o olhar não for carregado e construído pela emoção. As emoções são constructos da realidade e percepção visual.

O ver é um modo de contemplar a realidade através da visão da alma, do interior. A visão interior é considerada superior à visão ocular, pois através dela não apenas se vê, mas também se escuta.

Escutar é ver com profundidade..., é ver com a alma, porque se enxerga além do invólucro subjetivo das aparências fugidias. Às vezes, a visão atrapalha o olhar atento. É assim que os indivíduos privados de sua visão veem com o tato, com o toque, com a aproximação, com o cheiro, com a mente. As imagens constituem-se figuras criadas pelo verbo: pela essência daquilo que são em vez daquilo que se apresentam.


Certa vez Molière disse que "deveríamos olhar demoradamente para nós próprios antes de pensarmos em julgar os outros".


Fragmentos de minha monografia de pós-graduação: Os vários olhares do formador: hermenêutica e subjetividade.

2 comentários:

numen disse...

Caro Esdras Bentho,
Peguei esse excerto do seu comentário no "O Tempora":
"Como acredito na inspiração e autoridade das Sagradas Escrituras, não temo dialogar com teorias que negam a minha crença, pois com elas descubro cada vez mais a excelência da causa que defendo".

Sabendo da sua tradição, assim como a minha, pentecostal assembleiana, fico feliz por encontrar vc entre as raras expressões que optam por respeitar a possibilidade de uma teologia sistêmica e, portanto, dialogal.

Paulo Silvano

Mel disse...

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."(Saramago)
Muito bom esse seu artigo, a demasia de imagem , dificulta que reparemos no outo .

TEOLOGIA & GRAÇA: TEOLOGANDO COM VOCÊ!



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