DÁ INSTRUÇÃO AO SÁBIO, E ELE SE FARÁ MAIS SÁBIO AINDA; ENSINA AO JUSTO, E ELE CRESCERÁ EM PRUDÊNCIA. NÃO REPREENDAS O ESCARNECEDOR, PARA QUE TE NÃO ABORREÇA; REPREENDE O SÁBIO, E ELE TE AMARÁ. (Pv 9.8,9)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

CONCEITO DE RELIGIÃO: AS DIVERSAS VIAS



1. Religião, uma definição complexa. Definir concreta e objetivamente o termo "religião" é uma tarefa difícil em virtude do caráter polissêmico do termo. Otto Maduro em sua obra Religião e Luta de Classes descreve com pesar as críticas recebidas em função de ter omitido uma definição do vocábulo em sua obra anterior, Marxismo e Religião. O Dicionário Crítico de Sociologia, de autoria dos sociólogos franceses Boudon e Bourricaud e publicado pela editora Ática, 1993, não define o termo embora trate sobre ele. Isto fez-me lembrar da aguda crítica de Charles Taliaferro, na obra Filosofia da Religião, ao afirmar que muitos filósofos da religião preferem as vantagens em demarcar o que se entende por religião em vez de definir o que é e consiste uma religião. [1] Até mesmo o respeitadíssimo sociólogo da religião, o alemão Joachim Wach, em sua obra Sociologia da Religião, afirma que uma definição de religião está fora de sua proposta, mas que é exeqüível compreendê-la como "a experiência do Sagrado." [2]

Segundo o sociólogo venezuelano, Otto Maduro, o termo religião é "um vocábulo situado histórica, geográfica, cultural e demograficamente no seio de uma certa comunidade lingüística e que é esta situação particular que dá o sentido ao vocábulo; um sentido rico, mas, no fundo, um sentido complexo, variável, multívoco e confuso."
[3] O sociólogo refere-se, provavelmente, à dificuldade de sustentar um definição do semema a partir de seu étimo e de seu contexto macrocultural. As línguas de origem indo-européias, por exemplo, não possibilitam, através do étimo, um conceito unívoco.

2. A via etimológica latina. Durante muito tempo os cristãos latinos sustentavam a definição de Cícero de que "religião" era procedente de re-ligio e deriva-se do verbo re-legere, ou seja, "reler ou interpretar ao pé da letra" que, por extensão, significa cuidadosa reconsideração e profunda concentração da mente em estudo que reclama respeito e reverência. Esta é, provavelmente, uma das razões pelas quais os cristãos latinos eram identificados como aqueles que liam os seus escritos e neles retornavam pela busca do sagrado.
Porém, Lactâncio, antigo escritor cristão, afirmou, contrariamente a Cícero, que o vocábulo procedia do verbo latino re-ligare, "tornar a ligar; amarrar de novo". De acordo com a hermenêutica de Lactâncio, religião tratava-se de "um religamento das relações entre o homem e Deus". Contudo, o teólogo presbiteriano B. Teixeira, em sua Dogmática Evangélica, contesta. Segundo o autor, o particípio de re-ligare dá um sentido de “pessoas piedosas, prestando culto e reverência a deuses”, o que está correlato com o significado do original grego. [4]


Mas as revisões continuaram e outros sugeriram que procedia de re-eligere, ou seja, "voltar a escolher", como se o homem voltasse a escolher em definitivo a vida em direção ao sagrado. A filósofa brasileira Marilena Chauí, define o termo religião também a partir do étimo latino. Para a autora religião procede de religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). Segundo a filósofa a religião é um vínculo entre o profano e o sagrado, isto é, a Natureza (água, fogo, ar, animais, etc) e as divindades que habitam a Natureza ou um lugar separado da natureza. [5] Mesmo ainda, o étimo latino não foi capaz de confinar um sentido específico e norteador.

3. A via etimológica helênica. O étimo grego também não favorece adequadamente uma definição plausível e definitiva de religião. O sentido provavelmente esteja além das definições léxico-sintáticas. Cabe aqui, portanto, a intervenção daquilo que Rudolf Otto declarou a respeito da religião, como sendo esta um mysterium tremendum et fascinosum, classificando-a como uma experiência difícil de ser definida pela ciência. O contexto bíblico, por exemplo, oferece variegadas significações, embora destaque o mysterium. No grego do Novo Testamento, o vocábulo thrēskeía é traduzido por “religião” em At 26.5, e “culto” nos textos de Cl 2.18; Tg 1.26.

O vocábulo é usado para classificar: a) os ritos e leis que regem uma sociedade religiosa (At 15.19; 18.15; 26.3); b) a ocupação na adoração e na disciplina religiosa (At 26.5); e, c) certos atos filantrópicos (Tg 1.26,27). Podemos observar em o Novo Testamento que "religião" pode ser compreendida em sentido objetivo e subjetivo.

O primeiro está relacionado ao culto, ritos e serviços dirigidos à divindade, neste caso chama-se latreia (latrei,a), ou culto (ver Rm 12.1). O segundo, thrēskeia ou religião (Tg 1.27), no sentido subjetivo chama-se pistis, "fé". Porém, o vocabulário grego é muito rico e usa eusebeia, "piedade", para incluir os dois sentidos anteriores (1 Tm 4.7,8). No contexto epistolar, portanto, thrēskeia significa tanto a religião real, como também à organização exterior, enquanto eusebeia indica uma relação mais pessoal e real com Deus. Isto posto, segundo o Novo Testamento, a religião relaciona-se às atividades que ligam o homem a Deus numa determinada relação (At 25.19; 18.15; 26.3,5; Tg 1.26-27).

Nas definições latinas observamos uma preocupação com o sagrado, mas na helênica com um "sistema complexo em torno do sagrado ou divino". Os dois conceitos em conjunto é muito mais apropriado do que um em detrimento ao outro. Há, contudo, uma direção nas várias definições neotestamentárias que parecem corroborar com a posição de Joachim Wach a respeito do caráter objetivo da experiência religiosa. Se a "Religião é a experiência do Sagrado" e a "experiência do sagrado" pode ser definida como a "experiência de qualquer pessoa com a divindade", logo, latreia e thrēskeia enquanto "serviço sagrado dedicado à divindade" estão ligados ao caráter objetivo da qual afirmou o sociólogo alemão. O aspecto subjetivo devido às suas implicações com a filosofia de Schleirmacher, a psicologia e a antropologia veremos em outro momento.

4. A via filosófica negativa. Na filosofia a religião não desfrutou ainda de uma definição unívoca. Os filósofos ocidentais a definiram de modo distinto e controverso. Uns criticaram negativamente a religião enquanto outros positivamente. Os que consideravam a religião negativamente era FEUERBACH – este considerava a religião uma invenção humana que se origina na fobia, no medo – ; KARL MARX – referiu-se à religião como "ópio para o povo", uma invenção da sociedade capitalista para explorar e um "instrumento de evasão para os oprimidos e de justificação para os opressores"
[6]; COMTE, o patrono do positivismo, ao descrever as vias do conhecimento humano (religiosa, metafísica e científica), classifica a religião como um estágio de ignorância, ultrapassada pela ciência; NIETZSCHE, que afirmara "Deus está morto", considerava a religião como um empecilho ao desenvolvimento dos super-homens; FREUD, criticou a posição dos filósofos anteriores e acreditava, segundo Mondin, que a religião era um "processo de sublimação de uma luta primordial entre os membros do clã doméstico" [7], Deus é apenas a projeção da culpa familiar e a religião a "neurose obsessiva universal da humanidade", isto é, "um delito coletivo"; HEIDEGGER, sustentava que a filosofia não pode falar positivamente a respeito de Deus e da religião.

5. A via filosófica positiva. A via positiva da religião também foi defendida por vários filósofos. HEGEL, por exemplo, definia a religião como "consciência da essência absoluta em geral". O filósofo Paulo Meneses explica que a definição hegelina na seção VII da Fenomenologia, envolve a religião natural (a consciência absoluta tomando consciência de si na natureza); a religião da arte (na forma de consciências-de-si humanas) e, a religião revelada, quando a própria essência absoluta se manifesta como humanidade.
[8] Mais adiante veremos outras opiniões favoráveis à religião.

6. Proposta sugerida por OTTO MADURO. Este define a religião sob o aspecto sociológico, porém reconhecendo as limitações que a mesma inclui: "Religião é uma estrutura de discursos e práticas comuns a um grupo social referentes a algumas forças (personificadas ou não, múltiplas ou unificadas) tidas pelos crentes com anteriores e superiores ao seu ambiente natural e social, frente às quais os crentes expressam certa dependência (criados, governados, protegidos, ameaçados etc.) e diante das quais se consideram obrigados a um certo comportamento em sociedade com seus 'semelhantes'."
[9]

Já BATTISTA MONDIN define a religião como: " o conjunto de conhecimentos, ações e estruturas com as quais o homem expressa reconhecimento, dependência e veneração em relação ao sagrado". [10]


O que é religião para você? Responda-nos.



Notas

[1]TALIAFERRO, Charles. Contemporary Philosophy of Religion. Oxford;Malden: Oxford University Press, 1998, p.21-23.
[2] WACH, Joachim. Sociologia da religião. São Paulo: Edições Paulinas, 1990, Coleção Sociologia da Religião, p. 25.
[3] MADURO, Otto. Religião e luta de classes. 2.ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1983, p.31.
[4] TEIXEIRA, Alfredo B. Dogmática Evangélica. 2.ed., São Paulo: Pendão Real, 1976, p.43.
[5] CHAUÍ, M. Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2001, p.133.
[6] MONDIN, B. O homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. 7.ed.,São Paulo: Paulinas, 1980, p.221.
[7] Id.ibid.,p. 223.
[8] MENESES, P. A fé e a ilustração em luta no mundo da cultura. In FILOSOFIA POLÍTICA, Série III, n.3, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002, p.13.
[9] MADURO, Id. Ibidi., 1983, p.31.
[10] MONDIN, B. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 10.ed.,São Paulo: Paulus, 1980, p.87.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Criacionismo, Evolucionismo e Teoria da Lacuna (Fim)



Agradecemos ao pastor, amigo, cartunista e exímio desenhista Flamir Ambrósio pela charge de abertura deste post. Flamir ganhou em 1995 o prêmio ABEC (hoje Areté) de melhor livro infanto-juvenil ("O Bebê dos olhos de Jabuticaba"). Flamir é um cristão que ama a Jesus.



Introdução

Muito obrigado a todos os que participaram de nossa pesquisa de opinião. Cerca de 87% dos participantes são a favor da inclusão do criacionismo no currículo do ensino Fundamental e Médio; cerca de 09% são contrários; e 4% são a favor de mais debate e, o que é mais interessante, ninguém é indiferente ao tema. A discusão a seguir não procura dirimir controvérsias, mas suscitar questionamentos a respeito da inclusão do ensino religioso e do criacionismo nos currículos escolares.

O caso Rio. No ano de 2000, o então governador do estado do Rio de Janeiro, Sr. Antony Garotinho, sancionou a lei que determinava o ensino religioso como parte integrante dos currículos das escolas públicas, reacendendo mais uma vez a polêmica entre criacionismo versus evolucionismo ou vice e versa. Muito embora o criacionismo não fosse o foco do debate, dado a importância do tema, foi também discutido. Por conseguinte, enquanto sucessora de Garotinho e governadora do Rio, Rosinha Mateus, reafirmou a posição de seu antecessor.
Parecia uma vitória dos evangélicos e protestantes. Porém, inúmeras controvérsias foram suscitadas, pois tanto os professores não confessionais quanto os confessionais entraram no debate. Entre os professores que declaravam algum credo, havia a disputa de qual dogma seria ensinado. O embate parava nas dissidências dogmáticas. Como sabemos as diferenças dogmáticas entre evangélicos e católicos são maiores do que as semelhanças. Aproveitando-se de uma brecha na LDB, o estado do Rio, separou os alunos por credos a fim de receberem o ensino correspondente. Um grande incômodo para a escola e os alunos. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em seu artigo 33, diz que cabe aos Estados decidir como e por quem serão dadas as aulas. Mas a separação dos alunos por credo não é mencionada. No entanto, essa separação por credo é um retrocesso às discussões e pesquisas a respeito do pluralismo e multiculturalismo. A escola precisa ensinar o educando a entender o seu mundo plural e não segmentá-lo.


O dogmatismo. Como todos sabem muito bem, “dogma”, do grego “dokeō”, significa “pensar, crer, supor” nos textos de Mt 3.9; Lc 24.37; 1 Co 3.18; Hb 10.29. Desde a Antiguidade Clássica até os dias de hoje, o sentido filosófico está relacionado às afirmações doutrinárias que expressam o ponto de vista oficial de um mestre, escola filosófica, religião ou denominação cristã.
Isto posto, um dogma religioso é uma confissão oficialmente formulada por qualquer assembléia eclesiástica, fundamentada sob a autoridade desse magistério. Esse sentido do termo está em harmonia com o uso filosófico da palavra, denotando proposição ou princípio que norteia a fé da comunidade cristã ou de qualquer instituição secular.
A expressão filosófica “dokein moí” significa não só “parece-me ou agradei-me”, mas também “determinei algo de modo que para mim é fato estabelecido”. Nesta acepção, o dogma é um entrave ao ensino religioso-cristão nas escolas públicas, em função de nós, os cristãos, estarmos divididos em diversas facções, ou como sociologicamente se diz, seitas.
O dogma é subjetivo e depende da interpretação do magistério eclesiástico, razão pela qual temos tantas teologias dogmáticas: Francis Pieper - luteranismo confessional; Augustus Strong - tradição batista, Lewis Chafer – dispensacionalista; S. Horton – pentecostalismo, etc. NÃO estou criticando negativamente essas diferenças, mas expondo como as mesmas dificultam o diálogo a favor de um ensino religioso-cristão, não confessional, mas bíblico. Porém, enquanto representante laica da sociedade, a filosofia própria da instituição escolar está comprometida com a ciência e não com o dogma de qualquer religião. Logo, a escola comporta o ensino religioso, mas não o dogma confessional. Por meio do diálogo é que reconheceremos as nossas diferenças, a fim de procurarmos os pontos de convergência dogmática. Se não formos capazes de vencer as nossas diferenças, jamais nos uniremos para transformar a sociedade secular. As diferenças são importantes para afirmar nossa identidade, mas também temos pontos comuns que são esquecidos pela acentuação das diferenças dogmáticas.

Catequização. Não somos escusados de frisar que, excetuando o que deve ser excetuado, no ensino religioso das escolas públicas do estado do Rio, o conteúdo das lições é definido pelas autoridades de cada religião e depois passa pela aprovação da coordenação. Embora o Ministério da Educação e Cultura (MEC) não autorize a catequização dos alunos, os professores em sua prática didática e pedagógica são constantemente tentados a tal ação.
De acordo com a lei, a instrução religiosa "é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo".
Como todos sabem, a catequização cristã faz parte da grande comissão de Mateus 28.16-20. No entanto, qual pai cristão gostaria que seu filho fosse catequizado involuntariamente por outras orientações religiosas? A recíproca também é verdadeira. A escola tem como visão produzir uma pedagogia multicultural e criativa em que não se reproduzam exclusões e padrões estereotipados. Lembremos que o multiculturalismo e pluralismo na sociedade brasileira é uma realidade que é confirmada e ensinada pela escola. Nós, os cristãos, precisamos reconhecer que na sociedade secular brasileira esse processo é sem retorno, cabe-nos, portanto, encarar e responder conforme a cosmovisão cristã. O diálogo e o respeito pelas diferenças dogmáticas são os instrumentos dessa ação apologética.

Criacionismo. O criacionismo deve ser ensinado nas escolas de ensino Fundamental e Médio? Minha resposta é sim. Em primeiro lugar, porque é uma tese sustentável e que faz parte do contexto histórico e das discussões entre os alunos do ensino Fundamental e Médio. Em segundo, há muitas obras científicas a respeito do criacionismo que justificam o ensino do mesmo nas escolas. Porém, isto não significa que a teoria evolucionista não deva ser ensinada na escola. Tratando-se de duas visões antagônicas a respeito da criação do mundo é útil ao aluno conhecê-las.
Lembro-me de que em uma das aulas da 5ª série, a professora ensinava a respeito do evolucionismo, quando então meu filho, Esdras Júnior e outros dois alunos evangélicos, interromperam a professora e a interrogaram acerca do criacionismo. A docente com muito respeito e “tato” pedagógico afirmou que cada um tem a sua própria teoria. Quando questionada qual era a teoria em que acreditava e defendia, ela não apresentou uma opinião pessoal, pois, segundo a mesma, não desejava influenciar os alunos com sua crença particular. Outra docente admitiu que, como historiadora, cria na ciência e, consequentemente, no naturalismo; preferiu não comentar o criacionismo, mas indiretamente sugeriu que o criacionismo é um ponto de vista religioso e não científico. Meu filho, no dia seguinte, levou a Bíblia como prova do criacionismo, mas a professora não quis estimular o debate. Atualmente, como observamos, é impossível omitir o criacionismo do banco das escolas; de uma forma ou de outra o debate surgirá. Mesmo que o criacionismo não seja um tema abordado no currículo da escola, conforme o interesse da classe, o professor pode utilizar-se da prática interdisciplinar (interdisciplinaridade) ou ainda dos projetos de trabalho ou de pesquisa para ensinar o criacionismo.

No entanto, pergunto: “Se o criacionismo for admitido nas escolas públicas, quem ensinará? Os professores de História, Geografia, Ciências e Religião estarão capacitados para ensiná-lo? Das muitas correntes do criacionismo bíblico qual delas será ensinada? Os autores dos livros didáticos de História, Geografia e Ciências serão imparciais na apresentação do criacionismo? Eles estarão dispostos a escrever a respeito? Você não acha que se nós desejamos o ensino do criacionismo nas escolas devemos refletir sobre essas e outras perguntas?

Portanto, o criacionismo deve ser ensinado nas escolas, mas é preciso que nos organizemos não apenas para que isso aconteça, mas também para que quando acontecer estejamos preparados para tal empreendimento.


Nos laços do Calvário,
Esdras Costa Bentho
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quinta-feira, 19 de julho de 2007

Criação, Evolucionismo e Teoria da Lacuna






















Após a enquete, discutiremos o criacionismo e o ensino religioso nas escolas. Não esqueça de comentar esse post.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Criação, Evolucionismo e Teoria da Lacuna (Epílogo)

O homem e a unidade da raça
A unidade da raça se refere ao conceito de que a humanidade procede de apenas um tronco ou ascendência. Se admitirmos, como deseja os poligenistas,[1] de que a raça humana procede de vários troncos ou de diversos casais em regiões distantes entre si, estaremos sangrando o texto bíblico, além é claro, de corroborar com a teoria evolucionista.

Entretanto, as Escrituras afirmam categoricamente a unidade da raça, concordando em cada uma de suas páginas, de que a humanidade procede de um único casal (monogenismo). Os dois conceitos a respeito da origem das raças são:

1. A teoria do polifiletismo (vários troncos ou ramos) que afirma que o gênero humano atual é procedente de vários troncos ou de vários casais independentes uns dos outros;

2. A teoria do monofiletismo (um único tronco ou ramo) que afirma que o ser humano é procedente de apenas um ramo. O monofiletismo divide-se em: monogenismo, que admite que o gênero humano procede de um único tronco ou casal e o poligenismo que admite a origem de muitos casais do mesmo tronco originários.


Os poligenistas afirmam que Deus criou o homem duas vezes – uma na Ásia e outra na América. O monogenismo encaixa-se perfeitamente no relato bíblico, pois a Bíblia afirma que toda a humanidade procede de Adão e Eva, enquanto o poligenismo, contradiz a unidade da raça tal qual afirmada pelas Escrituras. [2]

Vejamos:


ATOS 17.26: “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação”.


GÊNESIS 3.20: “E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos”.

Unidade genética e de Espécie Confirmada pelas Escrituras

Os textos de Atos 17.26; Gênesis 3.20 são claros ao afirmar a unidade da raça a partir do primeiro casal. Conseqüentemente, a narrativa mosaica da gênese da humanidade apresenta, clara e objetivamente, que as gerações seguintes, até ao período do dilúvio, estiveram em ininterrupta relação com o primeiro casal. Essa ascendência prova a unidade ontogenética, isto é, de que todos os homens procedem de uma mesma espécie, e a unidade filogenética, ou seja, de que todos os homens procedem de um mesmo casal.

Essas unidades, genética e de espécime, foram mantidas e transmitidas após o dilúvio, pela família de Noé: “... Sem, Cam e Jafé... São eles os três filhos de Noé; e deles se povoou toda a terra” (Gn 9.19).[3] Não somos escusados de frisar que, além destes itens, devemos acrescentar que o vocábulo “Adão”, inicialmente, era o nome de um indivíduo, e mais tarde tornou-se o nome genérico para referir-se a toda humanidade, isto é, procedentes ou descendentes de Adão. Por fim, a unidade da raça confirma a queda e salvação universal do homem, através de Adão, cabeça federal da raça humana (Rm 5.12, 19; 1 Co 15.21,22).

Unidade das Raças Confirmada pela Ciência
A ciência apresenta pelo menos cinco argumentos a favor da unidade da raça: Da História, da Fisiologia, da Filologia, da Psicologia e da Tradição ou Etno-Cultural. Vejamos:

1. O Argumento da História: As tradições da raça dos homens apontam decisivamente para uma origem e uma linhagem comuns na Ásia Central. A história das migrações do homem tende a mostrar que houve uma distribuição partindo de um único centro
.[4]

2. O Argumento da Fisiologia ou Ciências Naturais: A opinião comum dos especialistas em fisiologia comparada é que a raça humana constitui tão somente uma única espécie. As diferenças que existem entre as várias famílias da humanidade são consideradas simplesmente como variedades dessa espécie única. A ciência não assevera positivamente que a raça humana descende de um único par, mas não obstante, demonstra que pode muito bem ter sido este o caso e que provavelmente o é.
[5]


3. O Argumento da Filologia: O estudo das línguas da humanidade indica uma origem comum. As línguas indo-européias têm suas raízes em um idioma primitivo comum, um velho remanescente do qual ainda existe o sânscrito. Além disso, há prova que mostra que o antigo idioma egípcio é o elo de ligação entre a língua indo-européia e a semítica.
[6]


4. O Argumento da Psicologia: A alma é a parte mais importante da natureza constitucional do homem e a psicologia revela claramente o fato de que as almas dos homens, quaisquer que sejam as tribos ou nações a que pertençam, são essencialmente idênticas. Têm em comum os mesmos apetites, instintos e paixões, as mesmas tendências e capacidades e, acima de tudo, as mesmas qualidades superiores, as características morais e mentais que pertencem exclusivamente ao homem.
[7]

5. O Argumento da Tradição ou Étno-Cultural: Temos o chamado “Gênesis Caldeu” com seu relato da criação, as tradições da queda nos países orientais, de longevidade, do dilúvio e da torre de Babel. Estas são apenas algumas das coisas conhecidas por muitas raças em diferentes partes do mundo e elas têm um valor definitivo para provar a unidade da fonte da qual as tradições emanaram. Todos esses argumentos, do ponto de vista científico, ajudam a confirmar nossa conclusão quanto à unidade da raça.

Wiley e Culbertson resumem os postulados da ciência a respeito da unidade da raça e a sua origem comum, apontando os seguintes itens que sustentam o monogenismo:

  • 1) Semelhança de características físicas encontradas em todos os povos;

  • 2) Semelhanças de características mentais, tendências e capacidade;


  • 3) Princípios semelhantes, básicos, para todas as línguas;



  • 4) Uma vida religiosa básica e comum e unidade de vida religiosa.[8]


O Naturalismo e a Origem das Raças

Uma vez observado a afirmação das Escrituras a respeito da origem das raças (monofiletismo, monogenismo), resta-nos investigar o que a arqueologia e a paleantropologia afirma sobre o mesmo fenômeno. Segundo o conceito de certos cientistas, o polifelitismo é a conseqüência extrema da evolução das espécies. Julgam os adeptos do naturalismo que a passagem de uma espécie para uma outra muito mais superior, se faz geralmente em ramos ou populações, e não em apenas um casal. Nessa perspectiva a origem das raças e o número de famílias ou ancestrais do homem moderno é vastíssima.

Na perspectiva evolucionista, o Homo sapiens, é muito diferente dos seus ancestros. Evoluiu a partir do Ardipithecus ramidus (Ardi, na língua etiópia, significa chão e ramidus, raiz). Este espécime foi descoberto em 1994, pelo antropólogo Tim White, da Univerdade da Califórnia, e viveu 4,4 milhões de anos atrás. Este evoluiu para o Australopithecus anamensis, (4,2 milhões de anos) descoberto no mesmo período pela paleantropóloga Meave Leakey, mulher do caçador de fósseis Richard Leakey, a quem se atribuii ter encontrado o Macaco da África Oriental.

A Verdade sobre os "Achados" Fósseis dos Evolucionistas


1. Homem de Neandertal. Foi encontrado em 1865, no vale de Neander, próximo de Dusseldorf, Alemanha, por Johann C. Fuhlrott. A princípio foi retratado como uma figura subhumana, brutal e semi-ereta. Atualmente se crê que o homem de Neanderthal (do grego neo, “novo” e andros, “homem”), foi autentico ser humano que sofreu de raquitismo crônico, causado por deficiência de vitamina D. Esta condição produziu o atrofiamento dos ossos e a conseqüente deformação destes. Caminhava ereto e não se distinguia dos homens atuais. É classificado como Homo sapiens, isto é, totalmente humano.
cientic.com/tema_dna_txt2.html

2. Homem de Java
Chamado de Pithecanthropus erectus, foi encontrado em Triunil, Java em 1891, pelo médico holandês, Eugene Dubois. O “achado” consistiu de apenas uma parte do esqueleto. Um ano depois, foram descobertos um outro pequeno osso da coxa e um dente a dezesseis metros da caverna. Dubois acreditava que todos os ossos eram provenientes da mesma criatura. A criatura foi datada como possuindo meio milhão de anos. E todos os evolucionistas creram no Pithecanthropus erectus, entretanto, pouco antes de sua morte Dubois confessou que o Homem de Java era os restos de um enorme macaco.

3. Homem de Piltdown: Também conhecido como Eanthropus dawsoni (homem de Dawn). Foi encontrado em 1912, em Piltdow, Inglaterra, por Charles Dawson. O “achado” consistia de um esqueleto e alguns dentes. Em pouco tempo as autoridades mundiais evolucionistas afirmaram que haviam encontrado um autêntico elo na evolução do homem. Foi datado como possuindo entre 500 a 700 mil anos. O doutor Arthur Smith Woodward, eminente paleontólogo do Museu Britânico, eo
doutor Henry Fairfield Osbon, paleontólogo do Museu Americano de História Natural, se ufanaram e comemoraram o “achado”. Entretanto, um certo Dr. Weiner, de Oxford, notou que os dentes do Homem de Piltdown, pareciam estar gastos de uma forma que não era comum a um símio. Alguém havia limado o dente do “achado”. Através de um Medidor Geiger e outros instrumentos, não conhecidos no tempo de Dawson, verificaram, que os fósseis datavam de 50 anos em vez de 500 mil anos, e que era de um macaco e não de um ser humano. Descobriu-se reforçando a desconfiança de Weiner que os ossos de Piltdown era uma fraude. O esqueleto havia sido imergido em uma substancia que continha ferro, a fim de dar ao “Homem de Piltdown” a aparência de antigo. De modo que o “homem” não era nada mais do que restos de uma criatura recente que falsamente foi ajeitada para se passar por um elo perdido. Um excelente video que apresenta os detalhes históricos dessa farsa é: Dias que Abalaram o Mundo 2, editado pela BBC, e disponível pela ediatora Abril. www.impacto.org.br/t02002.htm

4. Homem de Pekin: Foi encontrado em 1912 e 1937 por David Bolak, em Pekin, China. O descobrimento consistia de 30 caveiras e 147 dentes. Estes retos desapareceram em 1941 quando os ossos estavam sendo transportados de Pekin por um destacamento dos Estados Unidos para protege-los da iminente invasão japonesa. Atualmente alguns crêem que estes ossos eram simplesmente os restos de alguns macacos de tamanhos avantajados que os trabalhadores de uma pedreira haviam matado para saciar a fome.

5. Nebraska man: Conhecido também como o “homem- macaco- ocidental”. Foi encontrado no oeste de Nebraska em 1922 por Harold Cook. Na verdade o que de fato encontrou foi um dente, e imediatamente foi declarado pelo doutor Henry Fairfield Osborn, do Museu Americano, como o glorioso elo perdido. Puseram o achado na mesma raiz da linhagem humana. O doutor William K. Gregory, guardião do Museu Americano de História Natural e professor de paleontologia na Universidade de Columbia, o qualificou como “um dente de um milhão de dólares”. Sir Grefton Elliot Smith, do periódico, London Illustrated News, solicitou a um artista imaginativo que ilustrasse, a parti daquele dente, o rosto e o corpo daquele ser de mais de seis mil séculos. Nesse período, o professor William Jenning Bryam, defensor das Escrituras, foi ridicularizado por famosos evolucionistas, dirigidos pelo professor evolucionista H.H.Newman, por não aceitar a “prova científica” da evolução das espécies. Em 1927, porém, para a inimaginável vergonha dos evolucionistas, se descobriu que o dente correspondia a uma raça de porcos desaparecidos.

9. Macaco da África Oriental: Também conhecido como Zinjanthropus. Foi encontrado por Louis S.B. Leakey em Olduva, Zâmbia, em 1959. A descoberta consistiu de uma parte d
o crânio e uns fragmentos de ossos. O “descobrimento” foi noticiado na National Geographic, que havia patrocinado Leakey. Seu achado foi datado com uma antiguidade de quatro milhões de anos, fazendo do homem da África o “elo” mais antigo que era conhecido até então. Antes de morrer, Leakey, afirmou que seu alardeado descobrimento não era outra coisa que uma variação do Austropithecus (macaco meridional) encontrado em 1924. A partir de um crânio, três representações diferentes,confira. www.sedin.org/HF/HF05.html







[1] O poligenismo adota diversas origens da espécie humana: (1) antropóide - grupo de símios catarríneos do Velho Continente que compreende os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos, bem como algumas espécies fósseis. São desprovidos de cauda e ocasionalmente bípedes - (2) catarrinos - superfamília da ordem dos primatas, subordem de antropóides, caracterizada pelo septo nasal estreito e narinas voltadas para baixo e 32 dentes. São os macacos afro-asiáticos. Cf.MESQUITA, Antônio Neves de. Povos e nações do mundo antigo: uma história do Velho Testamento. 6ª ed., Rio de Janeiro: JUERP, 1995, p.23-4.

[2] Cf.BETTENCOURT, Estevão. Ciência e fé na história dos primórdios. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1955, p.109.

[3] Sendo essa abordagem apenas sugestiva, orientamos aos interessados que leiam sobre a origem das raças segundo a perspectiva do texto bíblico de Gênesis 9.19, que pode ser encontrado em diversas obras evangélicas que tratam de Geografia Bíblica, ou comentários bíblicos sobre o texto.

[4] BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho Publicações, 1990, p.189.
[5] Id.Ibidem, p.189.

[6] Op.cit., p.189.
[7] Op.cit., p.189.
[8]WILEY, H.Orton & CULBERTSON, Paul T., Introdução à teologia cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990, p.176.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Criação, Evolucionismo e Teoria da Lacuna



Criacionismo
O criacionismo, tal como compreendido pelas Escrituras, é a crença de que Deus formou o homem do pó da terra. E que o homem não se originou do acaso, mas da vontade e atividade do Deus-Oleiro.

Teorias Criacionistas
Embora a Escritura seja clara concernente à origem do Universo e do homem, e afirme categoricamente que estes procedem da ação divina, muitos teólogos procurando conformar o relato religioso com o científico acabam produzindo labirintos teóricos que obscurecem a simplicidade do texto bíblico.

Vejamos os dois grupos pelos quais se dividem o criacionismo.

O CRIACIONISMO DIRETO

Acredita que o homem originou-se como descrito em Gênesis 2:7. Adão foi feito do pó da terra e Eva de sua costela, mediante atos especiais de criação divina.

Fundamentos da teoria

O criacionismo direto acredita que existem evidências paleontológicas referentes ao desenvolvimento das espécies e que o relacionamento do homem com esse processo é justificado em várias bases:


1) - Através da “teoria do dilúvio”:
argumentam que as repercussões catastróficas do dilúvio de Noé justificam os materiais fósseis;


2) - Por meio da “teoria da lacuna ou dos intervalos”:
argumentam com base em Gênesis 1.2, que o ato inicial da criação foi seguido de uma catástrofe global que justificam as realidades geológicas como presentemente observadas e isto foi seguido, por sua vez, por um novo ato de criação que produziu a terra como a conhecemos agora. Não há meios de comprovar essa teoria na Bíblia.


O CRIACIONISMO PROGRESSIVO

Afirma que Gênesis 1 narra em breves registros, os atos criadores sucessivos de Deus - do primeiro ao sexto dia. Acredita que o Universo foi criado através de vários estágios a partir do ato inicial, até o aparecimento do homem (Gn 1.27), que é visto como um novo estágio da criação divina.

Fundamentos da Teoria

Reconhece certos desenvolvimentos evolutivos dentro de cada espécie principal; admite intervalos entre as espécies indicando atos criadores sucessivos, desenvolvimentos estes que podem não ter ocorrido na ordem precisa de Gênesis 1 que, em qualquer caso, diferem de Gênesis 2. Timothy Munyon afirma que os adeptos do criacionismo progressivo “acreditam que Deus criou vários protótipos de plantas e animais, em etapas diferentes e parcialmente coincidentes, a partir dos quais os processos de microevolução produziram a variedade de flora e fauna que observamos hoje”.

O ENSINO DAS ESCRITURAS


A
Bíblia descreve duas narrações da criação do homem. A primeira em Gênesis 1.26,27 e a segunda em Gênesis 2.7. Não são duas descrições antagônicas e precisam ser entendidas uma à luz da outra. Em Gênesis 1 o homem é descrito como ser existencial e moral, enquanto em Gênesis 2 ,o objetivo é a história pessoal do homem.

O narrador do capítulo 1 é um narrador universal, ele conhece a história pessoal do homem (capítulo 2), tanto que em 1.27 a mulher é descrita como criada segundo à imagem de Deus, ainda que no capítulo 2 ela seja descrita como criada por Deus, mas procedente diretamente do homem. Pela narrativa criacional no capítulo 1, mulher e homem são descritos como seres que ocupam perante Deus as mesmas responsabilidades e possuem os mesmos atributos morais e naturais.

Em Gênesis 2.7 o Criador trabalha à semelhança de um oleiro, que do barro forma o corpo do homem, como há de formar o dos irracionais (v.19). Todavia a produção do homem não termina como a dos animais, com a formação do corpo: o Criador sopra em suas narinas para lhe dar a vida: “e o homem tornou-se alma vivente”. O termo hebraico “nepesh” ou “alma vivente” é um
termo que possui diversos sentidos nas Escrituras e deve ser entendido de acordo com o significado sugerido pelo contexto e pelos matizes e gênio da linguagem semítica.

De forma alguma o texto refere-se à alma como elemento distinto do espírito e corpo, como entendido em 1 Ts 5.23, mas sim, a totalidade da vida humana como mortal sobre a terra. Observando os textos de Gn 6.17; 7.15,22 chegar-se-á à verossímil conclusão de que “alma vivente” na Almeida, no texto em apreço, refere-se ao “sopro ou hálito de vida” que simplesmente designa a vida. Alguém é dito viver na medida em que respira, e o Deus-Oleiro, em Gênesis 2.7, comunica a vida pelas narinas porque por estas é que o homem respira: “Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes retiras a respiração, morrem, e voltam ao pó. Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra “ (Sl 104.29,30 cf Jó 34.14-16).

Os hagiógrafos não vêem qualquer controvérsia ou paradoxo nas duas narrativas. Em Gênesis 1 é descrito o homem racional e moral, que pensa, age, determina a sua vontade a fazer aquilo que esteja coerente com a sua natureza moral e natural, enquanto em Gênesis 2 é descrita a manifestação dessa natureza que o distingui dos seres irracionais.


Filologia Bíblico-Antropológica

A filologia antropológica do Antigo e Novo Testamentos jamais identifica o homem como procedente de uma ordem inferior de vida. Tantos os hebreus quanto os escritores neotestamentários usaram termos que descrevem o homem como ser único, singular, especial. Vejamos:

1. Hebraico

a) - adam: Refere-se tanto a homem como ser “da terra” quanto a humanidade, homens e mulheres, ou ao homem como ser terreno ou mortal (Gn 1.26). Igualdade e diferença são notáveis no texto em apreço: distinção dos demais seres criados e teomorfia em relação à Divindade. Provavelmente seja o termo mais importante da antropologia-bíblica, ocorrendo cerca de 562 vezes. Nota-se um jogo de palavras muito fino: do solo ou da “adamâ” é tirado um ser chamado “adam”, homem. Para a mentalidade semítica dos hagiógrafos, as relações entre palavras são relações entre os seres designados; se pois, o homem deve viver sobre a terra (adamâ), cultivar a terra e se tornar um dia poeira da terra (Gn 2.15;3.17-19), é lógico que se chame “adam”.

b) - ’Îsh:
Indivíduo do sexo masculino (Gn 2.24). O termo aparece por cerca de 2.160 vezes no conteúdo do Antigo Testamento. É possível que haja uma correspondência semântica, ainda que seja discutida pelos hebraístas e filólogos entre os vocábulos homem e mulher. O termo mulher ou esposa, “’îshshâ”, provavelmente se deriva de “’îsh”, “porquanto do varão foi tomada”. Há os que advogam a correspondência assonântica ou paranomástica entre os termos, e os que negam. Entretanto, o texto é implícito em afirmar que o homem e a mulher são destinados a se completar mutuamente, sob o ponto de vista tanto físico quanto psíquico, pois tornam-se “uma só carne”.

c) - ’enôsh:
Raça humana como mortais, isto é, como seres finitos ou temporais (Gn 6.1). Encontra-se cerca de 44 vezes nas Escrituras Veterotestamentárias e o significado primário é “humanidade” (Jó 28.13; Sl 90.3; Is 13.12). O termo designa a condição fraca e vulnerável do homem. Particularmente esse conceito parece sobressair nas comparações que são feitas entre o homem e Deus (Jó 33.12; Sl 9.19.20). Entretanto, o sentido de “espécie humana” também é evidente nos textos de Jó 28.13; 36.24 e Salmos 90.3.

d) - Geber:
O termo hebraico geber, procede de uma raiz hebraica cujo conceito é “forte”, “ser forte”, “poderoso”. O vocábulo distinto do termo genérico adam e ’îsh, representa o homem na sua robustez, ou na sua maturidade. É usado cerca de 66 vezes nas Escrituras Hebraica, dentre eles Êxodo 10.11. O contexto imediato refere-se a afirmação de Moisés para que fosse permitido a saída de todo o povo, desde os mais jovens, até o mais maduros. Faraó, entretanto, assinala a ida somente dos indivíduos maduros ou em sua robustez. Segundo Oswalt, giber “descreve a humanidade em seu nível máximo de competência e capacidade”. Um termo cognato é “gibbôr”, que tipicamente é traduzido por homens fortes, guerreiros.

2- Grego

a) - Aner:
Homem na idade madura, ou na idade de se casar. É esse o sentido especializado usado em Marcos 10.2,12, traduzido por marido, em Apocalipse 21.2, por noivo. Raramente o termo é traduzido por pessoa, como ocorre com anthrÇpos. Nesse sentido, tanto o termo “geber” quanto o termo “aner”, refere-se ao indivíduo capaz de tomar decisões. “Aner” é oposto ao infante, neófito, indivíduo incapaz de agir com maturidade (Lc 1.27; 1 Co 13.11). Um outro termo correlato é andrós, isto é, “homem” ou “varão”.

b) - Anthropos:
Anthropos, segundo a visão dos filósofos gregos refere-se ao homem em seu sentido ético-filosófico, acentuando todas as suas características personalógicas opostas aos irracionais. É o indivíduo capaz de pensar e tomar decisões, que encontra impingido em seu ser atributos morais e naturais que distingue a sua existência dos demais seres criados. Anthropos, ainda se refere ao indivíduo em busca de sua auto-realização, capaz de procurar e buscar um
sentido superior ao temporal (Mt 4.4; Tg 3.7).

c)- Arsen:
O vocábulo arsen é cerca de 7 vezes nas páginas do Novo Testamento. Duas das sete refere-se ao episódio a respeito do divórcio, e conseqüentemente, da sexualidade humana (Mt 19.4; Mc 10.6). No terceiro caso, o termo é traduzido por “primogênito” na ARA, “primogênito do sexo masculino” na NVI, e “menino primogênito” na TEB (Lc 2.23), sentido este que pode traduzir perfeitamente Apocalipse 12.5,13. Em Romanos 1.27 e Gálatas 3.28, arsen é traduzido por homem , para diferencia-lo do sexo feminino. Arsen, denota o homem com forte conotação sexual: macho, viril, homem.



sábado, 23 de junho de 2007

Criação, Evolucionismo e Teoria da Lacuna

d) Obra de ConsumaçãoTal qual a obra da criação (1.1-2), diz respeito ao mundo inteiro: o autor refere que Deus descansou de todas as suas obras e abençoou o sétimo dia de descanso (2.1-3). [1] Segundo as Escrituras a criação ocorreu em seis dias sucessivos:
Dia Texto Tema
Primeiro Dia (1.2-5): Criação da Luz
Segundo Dia (1.6-8): Separação das Águas
Terceiro Dia (1.9-13): Criação da Vida Vegetal
Quarto Dia (1.14-19): Criação do Sol, da Lua e das Estrelas
Quinto Dia (1.20-23): Criação dos Peixes e das Aves
Sexto Dia (1.24-31): Criação dos Animais da Terra e do Homem
Sétimo Dia (2.1-3): Deus Descansa.


Uma minuciosa investigação revelará que as palavras forma e vazia, são os conceitos precípuos da história da criação. Os atos do 1º, 2º e 3º dia ocupam-se especificamente do verbo formar, enquanto o 4º, 5º e 6º dia do conteúdo pleno dessa forma.

FORMA CONTEÚDO PLENO

1º Dia Luz e Trevas 4º Dia Luzeiro do Dia e da Noite
2º Dia Mar e Céus 5º Dia Criatura das Águas e dos Ares
3º Dia Terra Fértil 6º Dia Criaturas da Terra
[2]

Existe uma grande simetria entre o 3º e o 6º dia, pois se referem a produção de dois, e não de um só gênero de criaturas. Oito são, pois, as produções ou obras que o hexaémeron narra distintamente.


II – Evolucionismo e Criacionismo.

1. Evolucionismo

O Progresso do evolucionismo deve-se em grande parte:

1. Ao problema moral.
2. Ao desejo do homem iluminista de contrapor-se às concepções religiosas da época. 3. A aceitação da evolução como um dogma filosófico.

Com o abandono da filosofia clássica, o progresso do racionalismo e o desejo premente do iluminismo de lançar em águas abissais a Idade das Trevas, o homem secular elaborou para si teorias e novas cosmovisões do mundo. Foi a época do progresso da civilização, que se livrava das pegajosas teias da Idade Média. Neste percurso, surge o racionalismo, o cientificismo, o positivismo, o humanismo, e também, o evolucionismo.

Se o evolucionismo ficasse apenas no campo da perquirição científica, seria apenas uma teoria que necessitaria de comprovações; e com certeza, as inúmeras fraudes de restos fósseis empreitados pelos adeptos da teoria, já a teria relegado ao logro científico. Contudo, não é o que aconteceu! Isto porque o evolucionismo é mais do que uma hipótese ou teoria científica é um dogma filosófico.

1.2. SinopseO evolucionismo não é uma teoria nova. No corredor da história da filosofia grega encontramos entre os filósofos aqueles que elaboraram teorias das quais podemos considerar como a gênese do darwinismo.
a) O naturalista Tales de Mileto[3], por exemplo, postulava certo grau de evolução das espécies a partir das águas, pois constatava que todos os seres vivos são de natureza úmida.

b) Heráclito de Éfeso [4], outro naturalista pré-socrático, afirmava “que tudo se move”, tudo escorre”, e que nada permanece imóvel e fixo, mas ao contrário tudo muda e se transmuta, sem exceção. Muito tempo depois da teoria evolucionista ter passado de uma ou de outra forma pela consideração de filósofos como Aristóteles, Leibniz, Herder, Hegel[5] e até mesmo pelo avô de Darwin[6], o naturalista Erasmus Darwin, é que surge Charles Darwin.


1.3. Charles Darwin e a origem das espécies.
Charles Darwin nasceu em 1809 em Shrewsbury na Inglaterra e morreu em 1882. Estudou em Cambridge e dedicou sua vida ao naturalismo. Em 1831 viajou nas ilhas do Oceano Atlântico e Pacífico, esteve também no Brasil, pesquisando sobre as espécies e anotando os informes colhidos. Somente em 24 de novembro de 1859 é que a obra de Darwin, “A Origem das Espécies”, que divulgava entre outras coisas, a antiguidade da terra em milhões de anos e a teoria sobre a origem e evolução das espécies, foi lançada.

Nessa obra, Darwin afirmava que a vida evoluiu de organismos unicelulares para o seu estado mais elevado, o ser humano, através de uma série de transformações biológicas complexas que ocorreram durante milhões de anos; e que o ancestro mais próximo do homem era os símios. O livro de Darwin foi recebido como nitroglicerina sobre o conceito criacionista e ortodoxo do mundo de então. Não se necessitava mais de um agente metafísico para responder ao homem de onde ele veio.
[7] Foi nessa perspectiva que o evolucionista Sir Julian Huxley, expressou no centenário darwiniano em Chicago, em 1959: “Na evolução não há lugar para o sobrenatural. A terra e seus habitantes não foram criados, eles evoluíram...A evolução é a base de todo o nosso pensar”.[8]

1.4. A Reação da Igreja

A igreja se posicionou de vários modos em relação a teoria evolucionista. Para se conformar aos grandes períodos da antiguidade da terra, o erudito escocês, George H. Pemper, formulou a teoria da terra caótica ou da lacuna. Os teólogos liberais criaram a “teoria das fontes”, abordaram as Escrituras com a ênfase da “história das religiões comparadas” e com a aceitação do “naturalismo como uma visão filosófica do mundo”. Negaram o nascimento virginal de Cristo, a natureza divina de Cristo, e até mesmo a ressurreição corpórea do Senhor. Por outro lado, a reação da ortodoxia não demorou. Foram reafirmadas as doutrinas fundamentais das Escrituras, especificamente o criacionismo e a origem divina do homem.[9]


1.5. Evolucionismo Ateísta e Teísta

As teorias acerca da criação do homem são as mais variadas possíveis. As duas teorias principais são: O Criacionismo e o Evolucionismo.
A teoria evolucionista que defende a hipótese do desenvolvimento inferior de vida até a evolução em seu estágio completo como observamos atualmente, está dividida em dois grupos:

  • Evolucionismo ateísta:
    Essa forma de evolução é conhecida também como evolução naturalista. Ela defende através da seleção natural, ou seja, da “sobrevivência dos mais fortes e aptos”, que as diversas espécies e formas de seres chegaram a ser o que são através de uma evolução do acaso. Basicamente, quase todos os tipos de documentários sobre a origem das espécies, dinossauros e do homem vinculados na mídia são dessa categoria. O evolucionismo ateísta defende que o homem evoluiu de um antepassado parecido com o macaco, mas não indica a época definida em que se deu o último passo do processo. Nega totalmente a existência de Deus como Ser Supremo ou como a Causa Primeva da Criação. Nega as Sagradas Escrituras como Revelação de Deus, e não aceita a criação do homem como parte da vontade divina. É materialista e fatalista.
    [10]

    Evolucionismo teísta:Ao contrário do ateísta, é pseudocristão ou apenas cristão nominal. Segundo a crença do evolucionista teísta Deus foi a causa primeva da matéria, criou-a em um estado que fosse ela mesma capaz de auto evoluir ou transformar-se até o seu estágio definitivo – o homem. Embora concebam a existência de Deus como a “causa” primeira da criação, impugnam a natureza e os atributos de Deus. Aceitam a hipótese de que os homens evoluíram de uma forma inferior de vida impressa na matéria pelo Criador. Sua forma de interpretação bíblica é liberal e simbólica. Isto posto, o evolucionismo teísta é improdutivo como teoria teológica, pois propõe o mesmo modelo da evolução ateísta, acrescentando apenas que Deus é o agente que criou a matéria da qual tudo evoluiu. Essa forma de evolucionismo, assim como a anterior, é insustentável à luz das Escrituras.
    [11] É provável que o mentor epigênico[12] da evolução, Darwin, tenha sido um evolucionista teísta.

1] Id.Ibidem, 1955, p.38.
[2] KIDNER, Derek. Gênesis: introdução e Comentário.São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1991, p.43.[3] Tales de Mileto foi o pensador que se atribui o princípio da filosofia grega. Era procedente da Jônia, e viveu provavelmente nas últimas décadas do século VII a.C. Ele sustentava que a água é o princípio (arkh‘) ou a origem de todas as coisas. O princípio é aquilo do qual todas as coisas derivam.
[4] Viveu entre os séculos VI e V a.C.
[5] Uma visão resumida dos conceitos pré darwiano de cada um desses filósofos e também de outros não alistados confira CHAMPLIN, R.N.; BENTES, J.M. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. V.2 (D-G). São Paulo: Editora Candeia, 1991, p.609.[6] No século XVIII, o avô de Darwin e o cientista francês Comte de Buffon, acreditavam que quando uma planta ou um animal adquire do seu meio ambiente um caráter novo, pode transmiti-lo à sua progênie, resultando em mudanças que explicam a evolução. Cf. Veio o homem a existir por evolução ou por criação? New York, U.S.A.: International Bible Students Association, 1967, p. 12.
[7] Caberia aos filósofos seguintes darem sua contribuição à antropologia: Marx, com sua teoria do homem econômico, Freud (homem instintivo), Kierkegaard (homem angustiado); Haidegger (homem existente), Gadamer (homem hermenêutico), Luckmann (homem religioso), e assim sucessivamente.
[8] Times de Nova Iorque, EUA, 29 de novembro de 1959 apud Veio o homem a existir por evolução ou por criação? New York, U.S.A.: International Bible Students Association, 1967, p. 7.
[9] Informações detalhadas sobre alguns aspectos relacionados a teoria da lacuna e da teoria das fontes, confira: EPOS. Antigo Testamento I. Mod. I.V.6. Santa Catarina: Faculdade Teológica Refidim, 2002, p.17-30;43-45.
[10] O fatalismo é a filosofia ou a doutrina que admite que o curso da vida humana está, em graus e sentidos diversos, previamente fixados, sendo à vontade ou a inteligência impotente para dirigi-lo ou alterá-lo. O homem está destinado a morte e ao caos.
[11] Confira outros detalhes sobre o evolucionismo teísta in BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz Para o Caminho, 1992, p.162.
[12] Isto é, um teorista que se ocupa em apresentar as mudanças que ocorrem durante o processo de desenvolvimento dos seres.

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