A gestão educacional e sua relação com a formação dos professores deve ser observada conforme as reformas educacionais e políticas públicas para a educação no Brasil. De acordo com Ferreira, tratar da administração da educação no âmbito da formação de profissionais para a educação exige uma analise e reflexão sobre a formação desses profissionais [1]. Casassus afirma que o desenvolvimento sistemático da educação deve ser fundamentado na ação e no conhecimento especializados, de maneira que a tomada de decisão a respeito do que se aprende, sobre o que se ensina e sobre a organização mais adequada a essas práticas estejam de acordo com:
1. O progresso dos conhecimentos científicos e técnicos, de modo que as ações realizadas estejam fundamentadas na acumulação e na aplicação de conhecimentos, sejam eles específicos, sejam eles polivalentes;
2. O quadro de responsabilidades pre-estabelecidas, de modo que as ações sejam executadas com pleno conhecimento do que delas se espera e que, conseqüentemente, possam ser submetidas normalmente à avaliação de resultados por parte dos superiores, dos pares, dos envolvidos ou da comunidade;
3. Os critérios éticos que regem as atividades, de modo a aumentar a responsabilidade individual, a confiança da comunidade e a credibilidade da profissão; e
4. Os diversos contextos e características culturais, pois estes são os que dão sentido e conteúdo específico às ações [2].
Isto posto, espera-se que a gestão escolar seja capaz de atuar de forma a capacitar, aperfeiçoar e conceder ferramentas ao professor para atuar no contexto da realidade do mundo moderno, bem como das atuais necessidades de nossa geração. É necessário, portanto, que os educadores exerçam o múnus docente conforme o planejamento, a missão e a visão da escola como estabelecidos no Projeto Político Pedagógico.
A gestão escolar e o planejamento educacional: O objetivo de qualquer gestão escolar é que o aluno aprenda. Todo esforço converge para esse resultado: a aprendizagem do aluno. Todavia, nem sempre os professores atuam conforme a visão e o planejamento da instituição trazendo, às vezes, conseqüências negativas para a formação e aprendizado do alunato. Nalgumas ocasiões o professor nega o processo de planejamento por conta de sua desorganização; noutras, sua desmotivação é fruto da própria gestão educacional. De acordo com Vasconcelos, muitos elementos contribuem para a desmotivação do professor em relação à elaboração do planejamento educacional. Destaca-se, sobretudo, a exaustiva cobrança a que os professores são submetidos pelos coordenadores, orientadores e supervisores, a fim de que entreguem os planos em prazos curtíssimos. Além desse elemento, destacam-se, segundo o autor:
a) O fato de os planos serem entregues e engavetados;
b) O fato de a escola fazer seus projetos e estes ficarem esquecidos;
c) Escolas com textos belíssimos na sua filosofia, na agenda escolar, no regimento, e práticas bastante arcaicas e contraditórias;
d) Escola faz o projeto político-pedagógico; muda a direção (ou o governo), e o projeto é simplesmente arquivado;
e) Escola faz proposta pedagógica só porque a Delegacia de Ensino ou a mantenedora pediu “para cumprir lei” (projeto vitrine);
f) Planos copiados do livro didático, do colega (da mesma escola ou de outras), ou de um ano para outro;
g) Falta de interesse e motivação do professor que desistiu de combater as mazelas e os vícios do planejamento inflexível, autoritário, hierárquico e cerceador [3].
Porém, devemos destacar o fato de os professores desconfiarem do planejamento como um instrumento controlador e que cerceia a criatividade em sala de aula. Embora muitos educadores concordem com a idéia e necessidade do planejamento, os docentes percebem que o suposto planejamento é mera burocracia, formalidade e destituído de propósitos educacionais práticos.
Portanto, os fatores que atuam na desmotivação dos professores em relação ao planejamento podem ser classificados em:
1. Intrínsecos: Desinteresse do professor por sua profissão; desmotivação para solucionar problemas em equipe; falta de argumentação teórica para combater os elementos destoantes do planejamento, etc.
2. Extrínsecos: Impossibilidade de agir conscienciosamente; de ser sujeito ativo e capaz de controlar todas as fases do planejamento; cobrança por parte da supervisão para que o planejamento seja cumprido sem alteração e no prazo determinado, etc.
Uma gestão eficiente procurará dar significado ao planejamento. Para que isto seja possível é necessário que:
a) Haja a percepção por parte dos gestores e docentes da necessidade de mudança;
b) O planejamento seja re-significado, resgatando sua necessidade e possibilidade em dois níveis: geral e específico.
Conforme Vasconcelos, a significação do planejamento dependerá da dinâmica dos grupos. Pelo menos três dimensões básicas do planejamento devem ser consideradas: a realidade, a finalidade e o plano de ação. Segundo Vasconcelos, “o plano de ação pode ser fruto da tensão entre a realidade e a finalidade ou o desejo da equipe”. Para o autor “o planejamento só tem sentido se o sujeito coloca-se numa perspectiva de mudança” [4]. E, justamente aqui encontra-se os maiores desafios do planejamento. Uma vez que não é o planejamento que muda a escola, mas as pessoas – os sujeitos que refletem a respeito de sua práxis e formação –, o planejamento torna-se um hercúleo desafio, pois são as pessoas que devem mudar. E todo processo de mudança implica em desafios. Portanto, segundo a perspectiva do autor é preciso desejar mudar e comprometer-se com a transformação.
Para a completa efetivação do planejamento e sua relação com a gestão democrática da escola, Vasconcelos afirma que não há qualquer técnica, processo e instrumento de planejamento que faça milagre, mas o que existe são caminhos mais ou menos adequados. Todavia, não é apenas necessário como também plausível a valorização coletiva, a participação, o diálogo e a formação da consciência crítica para resgatar o lugar do planejamento na prática educacional. Afirma o autor que, a consciência, a intencionalidade e a participação são fundamentos marcantes para romper com o planejamento funcional, tecnocrático e normativo. Por conseguinte, é imperativo que o professor exerça a práxis reflexiva a respeito de sua prática, a fim de ser sujeito capaz de mudar a realidade que o cerca. É imprescindível que o professor re-signifique o planejamento como elemento indispensável ao processo ensino-aprendizagem, pois assim resgatará a necessidade e possibilidade do ato de planejar.
Notas bibliográficas
[4] Id.Ibid., p.37.
5 comentários:
A Paz do Senhor, Pastor Esdras
Uma das grandes problemáticas da gestão educacional, além dessas citadas, é que o gestor deixa de gerir resultados por investir apenas nele. Ele é o centro das atenções. Na EBD isso não fica muito longe, existem dirigentes de escolas preocupados em seu discurso final sem semear o ensino, não estão preocupados se os alunos vão dar frutos no caminho e na vida. Posto que, a posição eclesial é o combustível que rege sua pedagogia.
Por outro lado, há o desistímulo também quando não se entende que os resultados em conjunto só acontecem na caminhada da vida, não é um trofeu, não é conquista para um final de semestre; são pedras no caminho, que depois de retiradas, caem as lágrimas e brotam os sorrisos percebendo que a gestão deu certo pelo simples fato de apenas um no universo de tantos conseguiu recurar e retornar ao verdadeiro caminho. Na verdade estamos acostumados com uma gestão que traga resultados grandiosos, pois passamos a viver de números.
Excelente texto pastor.
Que as mãos do grande Eu Sou continuem sobre o senhor e sua familia.
Em Cristo,
André Silva
Olá meu caro
Muito boa essa postagem. Já sou seguidor e recomendo o seu blog no meu blog Para Onde Iremos Nós? - http:valdivannascimento.blogspot.com/
Se quiser podes fazer o mesmo
Que Deus continue te abençoando!
Kharis kai eirene
Prezado André Silva
O gesto educacional deve ser um profissional qualificado. Precisa ser ético, fraterno, humilde e líder, além de agregar competências para o pleno desenvolvimento de suas funções.
Ele deve ser um profissional qualificado, e qualificador. Embora não seja o centro das atenções, pois compartilha a liderança e a responsabilidade com seus colaboradores, é o principal timoneiro da instituição educacional, seja secular, seja religiosa.
Sabemos que o gestor escolar não domina todas as áreas do conhecimento pedagógico, razão pela qual precisa cercar-se de outros profissionais competentes, que lhe sejam conselheiros, orientadores, principalmente nas ciências ou áreas as quais o gestor não possui conhecimento, habilidade e competências.
Porém, como afirmava Paulo Freire, é preciso “partir”, mas saber como “partir”, isto é, “saber como fazer” é tão importante como “fazer”; não basta apenas “começar” é necessário “saber começar”.
Isto posto, é plausível que o gestor não apenas execute o planejamento, mas saiba como executá-lo, integrando a equipe docente.
O resultado, portanto, não é fruto do “estrelismo” e do purpurado gestor, mas de uma construção em conjunto: gestor, docentes, discente e comunidade.
Logo, a soberba, altivez, e o egoísmo desqualificam o gestor da educação.
Esdras Bentho
Kharis kai eirene
Obrigado Pr. Valdivan pela sua participação no Teologia & Graça, e também pela indicação. Farei uma visita ao seu blog.
Esdras Bentho
Prezado Pastor Esdras Bentho, quero parabenizá-lo pela Palestra no 3 Seminário da EBD em Rosa da Penha - ES. Posso garantir que a partir de hoje farei discipulos..e não tratarei as pessoas como meros alunos.
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