A Teoria da Lacuna
A teoria da lacuna foi proposta inicialmente por C.H.Pember em 1876, na obra "As Idades mais Remotas da Terra e a Conexão delas com o Espiritualismo Moderno e a Teosofia”.[1]
- Gramática hebraica. Primeiro, a gramática hebraica não permite uma lacuna de milhões ou bilhões de anos entre os dois primeiros versículos de Gênesis. O hebraico tem uma forma especial, que indica seqüência e introduz aquela forma a partir de 1.3. Nada indica uma falta de seqüência entre 1.1 e 1.2; pelo que, os versículos devem ser interpretados em seu sentido óbvio e próprio. “O céu e a terra” é uma expressão consagrada em hebraico para designar o universo (Gn 2.1,4; 11.19,22; Sl 68.35; 114.15). O versículo 1 e 2a descreve o estado em que se achava o universo nos seus primórdios: a terra, informe e vazia (tohu-wa-bohu), era toda recoberta de águas (tehom, abismo cheio de águas), sobre as quais se estendia as trevas.
- Cultura. Em segundo lugar o autor sagrado falava de acordo com os matizes de seu tempo, para significar que anteriormente à ordem e à harmonia existentes no mundo, havia, de fato, o caos; este, porém, não constava de deuses ou monstros mitológicos como se costumava pensar na cultura mesopotâmica[4] dos quais um teria suplantado os demais e plasmados tanto o mundo visível como o homem; constava, ao contrário, dos elementos mesmos do mundo atual, os quais não tem existência indefinida nem eterna (como eterno é o único verdadeiro Deus), mas foram tirados do nada por um Criador. E, para descrever essa matéria dependente do Senhor, o hagiógrafo usou de termos que tinham ressonâncias nas mitologias orientais, onde significam divindades: assim bohu (vazio), lembrava Baaú, O caos personificado dos Fenícios; tehom (abismo oceânico, águas), o monstro Tiamat dos Babilônicos[5]; tais divindades pagãs eram sutilmente apresentadas pelo hagiógrafo como meras e impotentes criaturas.
Quanto ao estado preciso em que Deus suscitou a matéria, quanto às idades geológicas que esta atravessou, o autor nada quis dizer, pois isto é do domínio científico e não interessava diretamente a finalidade religiosa do livro sagrado[6].
Portanto, a teoria da lacuna, apresenta-se como uma teoria débil, sem qualquer valor teológico ou bíblico. Entre as diversas considerações do teólogo Willmington sobre a teoria em apreço ele conclui afirmando que ela não é científica, não é bíblica e não é necessária.[7]
O Tríplice Problema da Teoria da Lacuna
NÃO É CIENTÍFICA: Foi um intento do cristianismo de reconciliar o relato da criação com os longos períodos geológicos da teoria da evolução. A evolução, porém, não é científica e contraria a segunda lei da termodinâmica.
NÃO É BÍBLICA: A teoria descreve Adão andando sobre um grande cemitério de animais fossilizados, além é claro de admitir uma raça pré-adâmica.
NÃO É NECESSÁRIA: A interpretação mais natural de Gênesis 1.1,2 é tomada pelo seu valor literário e próprio, sem qualquer acréscimo ou subtrações. Gênesis 1.1 é uma declaração resumida da criação: No versículo 1 diz o que Deus fez; No versículo 2 nos diz como foi feito.
[1] Earth’s Earliest Ages and Their Connection with Modern Spiritualism and Theosoph. Nova York: Fleming H. Revell Co., 1876, p. 19-28.
[2] A Comissão Executiva das Assembléias de Deus nos EUA proibiram durante dois anos (1924-1926) a propaganda da Bíblia de Referência de Scofield no Pentecostal Evangel, devido aos comentários antipentecostais. Ver McGEE, Gary B., Panorama Histórico, in HORTON, Stanley M., Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.23.
[3] Segundo Pember e seus seguidores em Gênesis 1.1 Deus criou o universo completo e perfeito, e Satanás era o arcanjo que habitava e governava essa Terra pré-adâmica, um reino originalmente perfeito. Então, Satanás e os habitantes pré-adâmicos dessa Terra se rebelam contra o Criador de todas as coisas, de tal forma que ele e a primitiva população foram amaldiçoados e destruídos por uma inundação. Segundo os defensores dessa teoria os resultados dessa inundação são vistos em Gênesis 1.2. Alegam ainda que a expressão “sem forma e vazia” quer dizer “tornou-se sem forma e vazia” aludindo a expansão arruinada e devastada como resultado de um julgamento e que deve, portanto, ser interpretada como “uma ruína e uma desolação”.
[4] Muito menos de uma raça anterior aos céus e a terra que agora se vêem.
[5] BETTENCOURT, op.cit., p.47, chama atenção para o fato de que a raiz do nome Tiamat “thw (t)”, é a mesma que corresponde a tohu (informe), pertencentes à linguagem mitológica dos Ugaritas (thw (t) > tiamat, e thw > tohu).
[6] Id.Ibidem, p.47.
[7] WILLMINGTON, op.cit., p.39.
5 comentários:
Essa abordagem da Teoria da lacuna foi muito boa. Faço uma pergunta: A teoria da lacuna é tendenciosa ao evolucionismo teísta?
Pastor Esdras estamos esperando com expectativa santa, os artigos sobre pós-modernidade.
Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com
Caro Ev. Esdras
Esse texto, já lido como subsídio na página da CPAD, é extremamente esclarecedor e salutar.
Continue na vanguarda.
Boa discussão
Prezado irmão Gutierres Siqueira, C.H.Pember era contrário ao evolucionismo seja ele teísta ou ateísta. Apenas intencionava conciliar o criacionismo bíblico às pressuposições de seu tempo. Porém, ele extrapolou os limites do texto bíblico, adotando posições insustentáveis.
Quanto a Pós-modernidade, estou escrevendo vários artigos antes de postar.
Pastor César muito obrigado por suas palavras encorajadouras. Mas quem deve ser felicitado é o caro amigo - o mais novo assembléiano a ganhar o prêmio Arete de literatura cristã pela qualidade e originalidade de sua pena.
Sinto-me honrado com sua participação em nosso modesto blog.
O comentarista deve admitir que cometeu um erro grosseiro também ao afirmar que, segundo a teoria da lacuna de Pember, Satanás habitava a Terra junto aos supostos pré-adâmicos. Entretanto, ele só recebe este nome após a sua rebelião e queda. No caso teria de ser referido como Lúcifer e não como Satanás.
Já que se exige exatidão dos outros temos de ser exatos também.
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